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Análise: City of Beats (PC) nos desafia a atirar no ritmo da música em um modesto roguelike

Este título indie tenta inovar ao misturar tiroteio e ritmo, porém acaba ficando no básico ao explorar pouco as possibilidades.


Música e tiros se encontram em City of Beats, um roguelike de ação controlado por duas alavancas. Aqui, o ritmo dita a cadência das balas e dos perigos, transformando os combates em uma experiência fortemente apoiada em elementos sonoros. O conceito é inusitado, mas a execução é mais conservadora do que parece, resultando em um jogo que diverte por algum tempo e que logo desaparece da memória.

Em tiroteios regidos pelo ritmo

No futuro, os humanos partiram da Terra, que agora é habitada por androides. Em uma das cidades do planeta, a harmonia foi quebrada por Zeitgeber, uma IA que almeja dominar tudo à força. Para isso, a entidade corrompeu robôs, que se tornaram agressivos e perigosos. Para evitar o pior, um grupo contrata um androide atirador para dar fim a Zeitgeber.

Essa é a desculpa para nos convidar a atirar em tudo que aparece no caminho. As mecânicas são as já conhecidas do gênero twin-stick shooter: uma alavanca move o personagem e a outra controla a mira. Fora as balas básicas, há um tiro especial poderoso, no entanto é necessário cuidado, pois abusar dele pode superaquecer o androide e desativar suas armas. Para evitar os ataques, há um movimento de deslizar combinado com um escudo que reflete projéteis.


O que torna City of Beats único é a grande influência da música nos combates. Ações diversas, como os projéteis e movimentos dos inimigos, seguem a batida da música, trazendo um aspecto rítmico ao tiroteio. Além disso, o tiro especial do herói só é ativado em compassos específicos, ou seja, não adianta apertar o botão de qualquer jeito. Por causa disso, se torna essencial prestar atenção nos sons para saber quando escapar ou atacar.

As partidas são estruturadas em combates rápidos nos quais precisamos derrotar todos os inimigos para prosseguir. O mapa, que muda a cada tentativa, tem múltiplos caminhos e cada estágio tem recompensas diferentes, como habilidades especiais, dinheiro ou eventos — planejar a rota é essencial para chegar longe. Ao sermos derrotados, precisamos começar a jornada desde o início, no entanto podemos utilizar alguns itens para fortalecer o androide, facilitando um pouco as tentativas futuras.



Na batida frenética do futuro

Uma característica que sempre presto atenção em jogos de tiro com duas alavancas é a agilidade da ação. City of Beats acerta nesse aspecto com combates frenéticos e com balas para todo o lado. Para sobreviver, é imprescindível se mover constantemente e atirar com precisão, tarefa que logo fica complicada com o desafio intenso — conseguir sair ileso de um encontro difícil é bem recompensador.

Os elementos rítmicos adicionam uma camada de complexidade ao jogo. No começo parece um pouco irrelevante não agir de acordo com a trilha sonora, mas quando a quantidade de inimigos aumenta e o caos se instaura, torna-se crucial acompanhar o ritmo da música para sobreviver à dificuldade crescente. Além de atacar em momentos específicos, muitos chefes e oponentes só ficam vulneráveis em trechos específicos da música, então ficar atento aos sons se torna essencial para conseguir escapar na hora certa. No início é um pouco intimidador, mas logo entrei no ritmo e consegui usar os elementos sonoros a meu favor.


A aventura de City of Beats acontece em um planeta tomado por máquinas, então a ambientação aproveita essa premissa. O mundo futurista tem ares cyberpunk com chuva constante, cenários escuros e projéteis com cores neon, resultando em um contraste visualmente apelativo. A trilha sonora é repleta de faixas do gênero eletrônico, com elementos sonoros que acompanham a ação, fazendo com que a experiência audiovisual seja imersiva.

Preso em limitações sonoras

O tiroteio de City of Beats é competente, porém o jogo peca em uma das piores características que podem afligir roguelikes: a pequena diversidade de situações. O mapa tem eventos diferentes a cada partida, mas a variedade de combates e eventos é tão pequena que parece que estamos fazendo sempre a mesma coisa. Além disso, uma vez terminada a aventura, há poucos motivos para continuar jogando, pois pouco muda.


Pelo caminho, coletamos melhorias para o androide que expandem e modificam as suas habilidades. Alguns dos upgrades aumentam características, como tempo de invencibilidade durante as investidas ou maior taxa de críticos. Já outros alteram as armas ou tiros alternativos. Contudo, a maioria das melhorias são muito conservadoras, impossibilitando montar combinações diferentes de poderes e estratégias a cada partida. Há três tipos de armas disponíveis, mas elas não são suficientes para trazer variedade.

Por fim, as mecânicas de ritmo acabam tendo pouco impacto no geral. Há incentivos para agir na hora certa, como disparar os tiros especiais instantaneamente e alguns inimigos cujos escudos desaparecem somente em trechos específicos da música. Mas no calor da batalha, na maior parte do tempo, você acaba esquecendo disso e agir sem seguir a trilha sonora funciona perfeitamente bem. A ideia é interessante, mas a execução acabou ficando um pouco irrelevante.



Uma composição breve e efêmera

City of Beats aposta em elementos musicais para criar uma aventura de tiro e ação diferente. Esquivar e atirar no ritmo da trilha sonora deixa as batalhas imersivas, e o alto desafio e andamento frenético tornam a experiência eletrizante. Fora isso, seu mundo esbanja estilo com sua música eletrônica e cores neon. No entanto, a pequena variedade de situações e uso tímido nas mecânicas rítmicas impedem que o jogo se destaque. Em suma, City of Beats é um roguelike razoável, mas pouco memorável.

Prós

  • Tiroteio ágil e de bom desafio;
  • Elementos musicais adicionam nuances aos combates;
  • Ambientação futurista interessante com muita cor e música eletrônica.

Contras

  • Variedade reduzida de situações;
  • Customização limitada das habilidades do protagonista;
  • Mecânicas de ritmo oferecem pouco impacto.
City of Beats — PC — Nota: 7.0
Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela Freedom Games

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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