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Análise: Miasma Chronicles (Multi) tem experiência sólida que vai agradar os fãs de RPG tático

Novo jogo do estúdio de Mutant Year Zero tropeça na história, mas encontra força no seu gameplay.


É realmente recompensador ver novos estúdios ganhando espaço na indústria de games, principalmente por ser um mercado com marcas tão fortes e consolidadas. Miasma Chronicles é o retorno da equipe da The Bearded Ladies para o universo do RPG tático distópico. 

A desenvolvedora sueca por trás de Mutant Year Zero, aclamado jogo do mesmo gênero, cada vez mais se consolida como um grande player do gênero. Utilizando-se da experiência acumulada pelos devs nos últimos trabalhos, Miasma Chronicles é a empreitada da TBL para criar seu próprio universo distópico com pintadas de Star Wars, Cyberpunk e Fallout.

Miasma: a mancha da humanidade



A origem da palavra “miasma” revela boa parte da trama e suas implicações. Nas histórias gregas, pessoas que cometiam um crime como assassinato eram impregnadas com um miasma, uma mácula, que prenunciava a morte.

É com essa ideia que nasce o mundo do game. Uma terra em um futuro pós-apocalíptico que foi infectada por uma força chamada Miasma, algo que corrompe e mata tudo que toca. Isso levou a sociedade à beira da extinção e tornou o mundo inabitável em boa parte.

A história acompanha Elvis e seu irmão robô Diggs na busca pela sua mãe, Bha Mahdi, uma guerreira que prometeu ao filho contar, um dia, todos os segredos sobre o miasma. Ela o deixou com a tarefa de atravessar um portal miasmático que fechava a cidade dos protagonistas em busca de sua localização.




Elvis também tem uma misteriosa luva que o permite controlar o miasma e usá-lo contra seus inimigos, seja controlando suas mentes, seja os atacando com uma tempestade furiosa.

A partir dessa premissa, o jogo constrói um mundo extremamente interessante, com suas próprias facções, regras e peculiaridades,como os sapos mutantes adoradores do miasma, os Editores, ordem secreta que lembra muito os Jedi de Star Wars ou os gananciosos corporativos da Primeira Família, antagonistas do jogo.

É uma pena que boa parte dessa construção se manche com péssimas escolhas de diálogos, que flutuam entre o empolgante e o vergonhoso, e seu roteiro que toma boas viradas, mas falha em uma construção sólida do roteiro, o que transforma decisões importantes em ações simplórias e desleixadas, dando pouco peso narrativo para o jogador.

Combate tático + exploração livre



Um dos trunfos de Miasma Chronicles é dar liberdade para o jogador explorar os cenários de forma livre, quase como um jogo em terceira pessoa, e se ater ao tático apenas nos combates. A possibilidade de usar a furtividade, algo que foi muito bem recebido em Mutant Year Zero, está de volta para a alegria dos fãs.

Existe mérito em saber usar taticamente a furtividade pra eliminar o máximo de inimigos antes de entrar de fato em uma luta; às vezes contando com uma estratégia bem planejada, outras com a sorte de uma bala com 20% de chance de acertar o crítico. O combate é sólido e tem aquele diferencial viciante que só o estilo tático traz. O uso de poderes miasmáticos pra mudar os rumos da batalha é uma ótima pedida pra apimentar ainda mais os tiroteios. 




A única coisa que pode desagradar alguns jogadores é sua dificuldade. Mesmo no modo padrão, em algumas batalhas você é emboscado por um batalhão três vezes maior que sua party. Nesses momentos o pico de dificuldade sobe muito. Sem falar na missão final que beira o absurdo de dificuldade para um modo “padrão”. Mas nada a nível de um souslike. Só deve afastar os jogadores mais impacientes.

A árvore de habilidades e a variedade no arsenal podem decepcionar os mais exigentes. Cada personagem conta com uma opção limitada de melhorias que não são tão diferentes assim. Os poderes miasmáticos são o verdadeiro brilho, mas seu uso é bem restrito. É possível que os jogadores passem mais da metade do game usando a mesma arma, já que, mesmo tendo poucas versões, as armas boas custam muito na economia do jogo. A saída é usar da boa exploração pra encontrar alguns tesouros.

Um mundo belo e maculado



Se por um lado a produção deixa a bola cair quando o assunto é roteiro, por outro a direção de arte não vacila e constrói um mundo completamente destruído, mas que tem sua beleza intrínseca. A construção de cada área do jogo é feita com muito empenho. Você viaja a pântanos esquecidos, prédios completamente dominados pela natureza, instalações futuristas, comunidades nômades do deserto, dentre vários outros locais.

A adição de robôs, terminais e notas espalhadas pelo mundo conta fragmentos da lore, conectando o que você vê em jogo com os acontecimentos do passado daquele mundo. Apesar de a exploração livre ajudar muito a apreciar a vista, é notável a falta de uma liberdade maior no modo de movimentar a câmera, que só fica no âmbito do movimento horizontal.

Apenas o começo

Miasma Chronicles é uma ótima pedida para quem ama um bom combate tático aliado a uma construção de mundo original e promissora. Fica claro que é apenas o primeiro capítulo da nova IP da The Bearded Ladies. A empresa tem em suas mãos o que pode se tornar sua principal franquia. Apesar de tropeçar em sua construção narrativa, os pontos altos da trama são cativantes e os personagens tendem a melhorar com o tempo. Todo o resto já é terreno dominado pela desenvolvedora: bons combates e uma direção de arte primorosa.

Prós

  • Ambientação e direção de arte distópicas e futurísticas;
  • Combate tático envolvente;
  • Mundo e lore com ideia original bem construída.

Contras

  • Diálogo e narrativa instáveis, tropeçando sempre no risível;
  • Crashes foram constantes durante a análise;
  • Pouca variedade de armas.
Miasma Chronicles — PS5/XBX/PC — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela 505 Games 

Redator publicitário em tempo integral e amante de games nas horas vagas. Provavelmente aprendi a segurar um controle mais rápido do que uma mamadeira. Cresci com os maiores clássicos da Big N como Zelda, Mario e Pokémon. Hoje aproveito os pequenos momentos de descanso da vida corrida para me perder em Hyrule, em uma Tóquio pós-apocalíptica ou em um mundo de encanadores e cogumelos.
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