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Análise: MLB The Show 23 (Multi) faz uso da história do esporte para ser marcante

Alterne entre ser a estrela atual do beisebol e reviver momentos fundamentais da história das quatro bases.

Por mais que os esportes mirem cada vez mais no futuro, olhar para o passado pode render lições importantes e de uma riqueza sem tamanho. MLB The Show 23 fez exatamente isso e, além de fazer as melhorias anuais de praxe, se aproveitou do legado do beisebol para dar uma aula sobre as estrelas do passado.

Se quiser ganhar, vai ter que ralar

A estrutura da jogabilidade foi herdada do jogo anterior, o que é ótimo. Eu tinha criticado anteriormente o sistema de rebatidas, que parecia um pouco aleatório. Entretanto, agora o jogador poderá se preparar no modo treino, no qual ele pode fazer o arremessador que ele quiser repetir o mesmo tipo de lançamento inúmeras vezes. Isso é ideal para pegar o trejeito de cada tipo de bola e assim tentar “prever” o movimento com uma rebatida certeira.

A precisão nos arremessos também está mais aguçada. Agora, além de recebermos as instruções do apanhador, temos um indicativo na tela da força e da direção da queda da bola. Isso nos leva a calcular melhor a trajetória do arremesso e a variar mais entre nosso repertório de jogadas.

Mas isso não quer dizer que a inteligência artificial lhe dará algum refresco. Realizar tanto home runs quanto strike outs nas dificuldades medianas exige uma concentração maior na linguagem corporal dos oponentes. Um exemplo básico: eu, que sou bem amador, consegui ganhar partidas nas dificuldades medianas de maneira mais apertada do que em MLB The Show 22, no qual era fácil realizar um ou outro home run e sair do sufoco.

Essa melhora na CPU é ótima para quem curte a simulação, e em nenhum momento desampara quem está iniciando e está disposto a aprender o jogo como um todo. Só que aqueles que gostam de uma disputa mais leve e descompromissada talvez se sintam desmotivados a persistir até evoluírem suas habilidades.

As marcas do passado são as bases do presente

Os modos de jogo de MLB The Show 23 foram mantidos, e com melhoras sensíveis, mas bastante interessantes. March to October nos coloca no comando de qualquer time da liga em seu período após a temporada regular. Nele podemos escolher calouros, tentar negociações ousadas e até melhorar o desempenho da equipe, fazendo com que os especialistas parem de nos olhar como azarões e nos levem a sério como um real candidato a campeão.

O Franchise te coloca como o cara que gerencia as decisões, decide quem fica, quem vai e quem ganha um aumento de contrato. Neste modo, as partidas são simuladas com base na sua administração. Em Road to the Show, criamos o nosso avatar para se tornar uma lenda entre as bases e, desta vez, contamos com o recurso bacana de escanear nosso rosto em um aplicativo disponível gratuitamente.

Quanto ao Diamond Dynasty, ele também passou por leves alterações. A principal é a de ter um sistema de recompensa base, para premiar a todos igualmente, e assim dando chances de conseguirmos cartas boas mesmo sem passar horas a fio abrindo pacotinhos aleatórios.

Já o principal destaque entre os modos de jogo este ano com certeza é o The Negro League. Muito mais que apenas um modo de missões, trata-se de uma aula cultural não só sobre o esporte, mas sobre a sociedade. Com animações e trechos narrados por Bob Kendrick, presidente da Negro League Baseball Museum, revivemos a carreira de oito lendas daquela época em algumas partidas icônicas.

A Negro League foi uma liga independente que existiu entre as décadas de 1920 e 1950, formada apenas por atletas afrodescendentes. Naquela época a segregação racial era algo muito forte na sociedade norte-americana como um todo e jogadores negros não eram permitidos em nenhum tipo de ambiente frequentado majoritariamente por pessoas brancas, e isso incluía agremiações esportivas.

Foi com esse intuito que foi criada a Negro League, que quebrou barreiras não só no beisebol, mas na sociedade do país como um todo. Testemunhamos isso através de fatos narrados por Kendrick e jogos dos grandes Satchel Paige, Jackie Robinson, Buck O’Neill, Hank Thompson, Hilton Smith, John Donaldson, Rube Foster e Martín Dihigo.

Por mais que um modo de missões focadas na carreira de uma estrela em específico já tenha se tornado algo esperado, poder vivenciar algo tão rico historicamente através de um game é simplesmente perfeito. Todos os jogadores desse modo foram retratados com seus uniformes da época, maneirismos, trejeitos e até os tipos de arremessos ganharam as alcunhas dadas pelos seus criadores.

Até mesmo o público recebeu roupas baseadas naquela época, para aumentar a sensação de um “documentário jogável”. Além disso, algumas partidas específicas “quebram a regra” da formação do campo, como na vez em que Satchel Paige pediu para todos seus companheiros se ajoelharem próximos da zona de arremesso, pois ele iria liquidar os batedores rivais sozinho.

Para quem ainda deseja partidas mais simples, estão de volta as opções de duelos locais e em rede, para até seis jogadores, com direito a crossplay entre todas as plataformas nas quais MLB The Show 23 está disponível. Por fim, e mais por gracejo, foi incluído o Retro Mode, no qual temos que nos preocupar apenas em arremessar e rebater com um único botão, como era na época dos 8 bits.

É a mesma cara, mas ainda tá bacana

Um dos pecados de The Show 23 foi o de manter a mesma estrutura visual do seu antecessor para praticamente todos os menus. Inclusive, só dá para diferenciar um do outro na tela de abertura pela foto de Jazz Chisolm Jr., o atleta da capa deste ano. Seria bacana pelo menos ter mudado o padrão de cores para diferenciar, mas ainda assim não é algo tão grave.

Já as transmissões das partidas continuam um show à parte — e eu juro que esse trocadilho não foi intencional. Além dos diversos replays para as jogadas principais e home runs, existem alguns momentos específicos em que há ângulos mais “dramáticos”, como quando um rebatedor está a um strike de ser eliminado ou o arremessador está no último strike out para encerrar a entrada.

Outra adição bacana foi a de comemorações específicas de jogadores e times após a vitória ou alguma jogada, nas quais eles arremessam o bastão para longe ou gesticulam para a torcida. Um dos exemplos mais bacanas é a dança em círculo da equipe dos Seattle Mariners após um triunfo.

Toda essa multitude de cortes, ângulos e expressões, aliados à dupla de comentaristas Jon “Boog” Sciambi e Chris Singleton, realmente eleva o nível da simulação de uma partida acompanhada pela televisão. Infelizmente o problema de uma mesma frase ser repetida diversas vezes ainda continua, mas não da mesma maneira que no jogo anterior.

Uma mexida que valeu o campeonato

MLB The Show 23 deixou a preguiça de lado e, em vez de só atualizar elencos e trocar a capa, fez melhorias discretas, mas que beneficiaram bastante a experiência de quem queria algo mais completo. A adição de um modo focado na Negro League foi a jogada que colocou o título da franquia como um dos melhores já feitos sobre o esporte.

Prós

  • Todos os modos de jogo receberam melhorias consideráveis;
  • É possível colocar seu rosto em um personagem editável de maneira prática e gratuita;
  • The Negro League é um modo que ensina história enquanto se joga;
  • A jogabilidade está ainda melhor de ser assimilada;
  • Inclusão de comemorações características de certos jogadores e times.

Contras

  • Não é um jogo muito amistoso para novatos ou quem quer um passatempo mais leve;
  • O grinding de Diamond Dynasty ainda pode ser penoso para alguns;
  • Mesma identidade visual do jogo anterior;
  • Sem textos em português.
MLB The Show 23 — PS4/PS5/Switch/XBO/XSX — Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Ives Boitano
Análise feita com cópia digital cedida pela Sony

é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no seu twitter @carlos_duskman
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