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Análise: Coffee Talk Episode 2: Hibiscus & Butterfly (Multi): de volta a um café confortável com não-humanos

O retorno de Coffee Talk evolui consideravelmente a qualidade da narrativa para uma experiência marcante e especial.

Quando o primeiro Coffee Talk foi lançado em 2020, eu cheguei a fazer uma análise sobre o jogo e mencionei que a experiência era relaxante, mas ficava devendo uma narrativa mais envolvente. Com Coffee Talk Episode 2: Hibiscus & Butterfly, a equipe da Toge Productions acertou a mão em mostrar como esse mundo de fantasia pode ser especial, trazendo novas histórias cotidianas emocionantes, evoluções consideráveis para os personagens já conhecidos e mantendo a atmosfera tranquila do original.

Em busca de conforto em um mundo caótico

Seattle, 2023. Em um mundo no qual raças diferentes de “não-humanos” coexistem, uma sociedade moderna muito similar à nossa se desenvolveu. Com as pessoas cada vez mais dependentes das tecnologias, o café underground Coffee Talk continua suas atividades em pleno vapor.

Coffee Talk é um estabelecimento noturno especial que só serve bebidas quentes sem álcool. Apesar de ser relativamente pouco conhecida e atuar apenas em um horário restrito, a loja possui uma atmosfera aconchegante que cativou vários clientes ao longo do tempo. Para quem de fato entra nesse lugar, é como se tivesse algo mágico que os deixa à vontade para falar muito mais do que normalmente fariam, mesmo sem o popular efeito desinibidor do álcool.

Cabe ao jogador servir o que esses clientes querem. Em geral, a maior parte das pessoas já tem um pedido específico em mente, seja pelo nome ou pelos ingredientes específicos. Porém, em algumas raras ocasiões, eles podem estar mais abertos para múltiplas receitas diferentes. De forma geral, os pedidos são tranquilos, mas há algumas escolhas desnecessariamente convolutas como ter que servir uma bebida no final do jogo igual a uma do início, exigindo uma memória monstruosa.

Acertando ou falhando na elaboração da bebida ideal, o jogador avança a narrativa. Curiosamente, a escolha impacta significativamente o desenvolvimento dos indivíduos, que podem não apenas demonstrar insatisfação ou reduzir suas visitas, como também ser encaminhados para “finais ruins” que não resolvem adequadamente os seus problemas individuais.
O que chama a atenção em especial na narrativa é a forte presença de críticas sociais que revelam mais a fundo detalhes sobre o mundo em que o jogo passa. Há discussões interessantes, especialmente nas partes do enredo relacionadas ao sátiro Lucas e à banshee Riona. Mesmo os velhos conhecidos trazem tramas que avançam significativamente o seu desenvolvimento como personagens, seja por relações abusivas de trabalho, seja na descoberta de si em um mundo de relacionamentos afetivos virtuais muito superficiais.

No pano de fundo disso tudo, temos uma ambientação de fantasia moderna muito instigante. Em uma sociedade de múltiplas raças fantásticas, vemos um mundo profundamente humano, tanto nos seus momentos mais acolhedores quanto nos elementos mais sórdidos como preconceitos e a dificuldade de aceitar o outro diferente de si.

Bebidas quentes para relaxar

Além da campanha principal, que nos permite voltar a qualquer dia anterior para refazer nossas ações, temos um modo Free e um Time Attack. No primeiro, o jogador pode fazer qualquer tipo de bebida, liberando novas receitas para ver no menu a qualquer momento. Já no segundo temos uma experiência arcade em que precisamos atender a pedidos consecutivos o mais rápido possível.

Assim como era no jogo anterior, o Time Attack é especialmente interessante,  começando com uma dificuldade banal e depois exigindo um conhecimento mais avançado das receitas possíveis. Infelizmente, na build do jogo à qual tive acesso, um bug impedia o uso do celular após servir o primeiro cliente no Free ou no Time Attack. Ou seja, como a lista de receitas é um aplicativo mobile, fiquei em uma posição bem desfavorável para servir rapidamente bebidas a partir dos seus nomes, como “The Grinch” ou “Blue Marshmallow”.
Em comparação com o jogo anterior, Episode 2 traz mais variedades de bebidas, com especial ênfase na adição do hibisco e “fada azul” (Blue Pea) como novas bases alternativas além de café, chá, leite e chocolate. Ainda, a rede social Tomodachill foi expandida para incluir uma aba Stories, que é apagada diariamente, em adição aos perfis individuais dos personagens. Apesar de uma forma interessante de ver um pouco da vida dos habitantes dessa Seattle fictícia fora da loja, essa aba é pouco explorada pelo jogo, mantendo Tomodachill como um conceito muito simplório de rede social e que traz até pequenas contradições para a trama principal.

Por fim, vale destacar que o aspecto audiovisual do jogo é muito agradável. As ilustrações de personagens e os vários detalhes do fundo da loja (como as pessoas passando pela rua) são muito agradáveis, mantendo o estilo colorido e detalhado inspirado em animações japonesas dos anos 90. A trilha sonora que tende ao lo-fi também ajuda a dar um tom confortável e relaxante à atmosfera da loja.

Além do escapismo

Com uma narrativa consideravelmente melhor que a de seu antecessor, Coffee Talk Episode 2: Hibiscus & Butterfly consegue ir além da experiência confortável de servir bebidas quentes a estranhos. Tanto os novos personagens como os velhos conhecidos apresentam histórias interessantes que dão a ver um mundo muito instigante de fantasia moderna e formam uma verdadeira família com seus laços. Uma fácil recomendação para quem busca uma boa experiência cotidiana em jogos.

Prós

  • Diálogos cotidianos bem construídos oferecem uma janela para a vida dos personagens, suas dificuldades e desejos;
  • Ambientação de fantasia moderna instigante;
  • Trilha sonora relaxante;
  • Boa diversidade de bebidas para descobrir;
  • Artes inspiradas em animes dos anos 90 bonitas e detalhadas.

Contras

  • Rede social simplória;
  • Alguns pedidos desnecessariamente convolutos enquanto outros são explicados demais;
  • Bug no Time Attack que impede o uso do celular.

Coffee Talk Episode 2: Hibiscus & Butterfly - PC/PS4/PS5/Switch/XBO/XSX - 8.5
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Chorus Worldwide


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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