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Análise: Coffee Talk (PC/Switch): uma pausa para o café

Visual novel busca oferecer um momento de descanso para as pessoas estressadas com sua rotina.


Diante das realidades estressantes do dia-a-dia, muitas vezes queremos e precisamos tirar um tempo para relaxar. Servir como esse momento de descanso é a proposta de Coffee Talk. Desenvolvido pela Toge Productions, trata-se de um jogo sobre oferecer bebidas quentes e escutar as conversas dos clientes, além de aproveitar uma atmosfera tranquila.

Bebidas quentes para escapar do estresse


Seattle, 2020. Humanos, elfos, orcs, vampiros e outras raças convivem em relativa paz após muitos anos de conflitos. Em um cantinho underground, um café chamado Coffee Talk abre apenas às noites para oferecer aconchego e silêncio a quem perambula pela cidade em busca de um lugar para se distrair.

Cabe ao jogador na pele do barista montar a bebida dos clientes utilizando os ingredientes que tem disponíveis. Cada cliente tem um pedido, que pode ser bastante específico (como um “Teh Tarik”) ou amplo o suficiente para que qualquer bebida seja válida.

Há uma boa variedade de bebidas para servir, e 30 delas são receitas reais registradas no caderno de receitas quando o jogador escolhe os ingredientes corretos para fazê-las. Além disso, o jogo permite fazer artes em latte em algumas bebidas. Com uma física um tanto estranha, eu pessoalmente achei a proposta de desenhar na superfície das bebidas desnecessária e um tanto frustrante, mas é apenas algo opcional.

Na questão das bebidas, também é importante destacar que fazer a escolha correta de bebida é, em geral, muito simples. O jogador muito provavelmente terá que fazer esforço para errar e assim ver uma mudança no roteiro. Afinal, os diálogos no jogo só mudam de acordo com as bebidas servidas, mas a variação é muito pequena, sendo apenas algumas consequências no final dos personagens causadas pelas escolhas do jogador.

Os clientes não se importam se suas bebidas estão erradas e, como o jogo não mostra dinheiro, não há nenhuma consequência negativa direta para o jogador. De fato, o jogo é todo movido em torno dos clientes, que estão ali mais para compartilhar suas histórias do que efetivamente pela bebida. Suas histórias de vida são simples, mas é fácil sentir empatia pelas suas questões envolvendo família, relacionamentos e trabalho. Mesmo com raças fantásticas, trata-se em essência de relações interpessoais universais.

Um pouco além do texto


Além do modo história, o jogo também conta com um modo livre, no qual o jogador pode experimentar à vontade para descobrir novas receitas, e um modo Time Attack, no qual há um limite de tempo que pode se estender cada vez que um cliente é atendido corretamente. A experiência realmente importante é a história, mas é divertido montar estratégias para atender rapidamente os clientes, cujos pedidos vão ficando cada vez mais complicados.

Infelizmente, no presente momento, há alguns pequenos errinhos de escrita nos pedidos do Time Attack. Especialmente os mais complicados, como “menos doce, extra amargo, quente, nada frio”, podem dar um nó na cabeça. Afinal, se você não colocar nada doce, o jogo deveria considerar que está “menos doce”, não? Depois de um tempo é fácil fazer as associações corretas, mas a escrita errada e dúbia traz complicações desnecessárias.

As artes de personagens inspiradas em animes dos anos 90 são bonitas e detalhadas, dando vida ao contexto de fantasia. O café também ganha vida com os pequenos detalhes da decoração, o lado de fora (com chuva, carros e pessoas passando) visível através da janela e a movimentação de câmera durante as conversas. Em particular, momentos de discussão entre as pessoas no café ganham destaque, ocupando a tela quase toda para dar enfoque ao conflito, o que realmente os torna mais dramáticos.


Após certos momentos, alguns personagens também mudam a sua imagem na rede social Tomodachill (uma piada com o termo japonês para “amigo” e o verbo “relaxar” em inglês). Ela serve apenas para ver o perfil dos personagens e medir uma espécie de amizade que sobe de nível cada vez que o jogador serve a bebida correta para o cliente, mas essas alterações de ilustração de perfil têm algumas raras ocasiões que adicionam um valor contextual ao enredo. No celular também é possível ler algumas matérias de um jornal local, acessar o caderno de receitas e mudar a música.

Com estilos que variam entre jazz e lo-fi, a trilha sonora do jogo é toda baseada no conceito de relaxar e aproveitar o momento. Nesse sentido, Coffee Talk cumpre bem o que propõe. Uma pausa para o café, um momento para relaxar e ver pessoas comuns abrirem o seu coração sobre o que as aflige em conversas simples e honestas. É um lembrete de que o espaço mundano do cotidiano ainda tem muito a oferecer para as narrativas dos jogos. No entanto, a falta de variedade no desenrolar da narrativa reduz bastante o valor da experiência para quem não quer apenas um ambiente escapista de relaxamento.

Prós

  • Diálogos cotidianos simples e honestos;
  • Trilha sonora relaxante;
  • Boa diversidade de bebidas para descobrir;
  • Artes inspiradas em animes dos anos 90 bonitas e detalhadas;
  • Modo Time Attack é surpreendentemente divertido.

Contras

  • Variações mínimas da narrativa não justificam rejogá-lo;
  • Erros de escrita nos pedidos do Time Attack.
Coffee Talk - PC/Switch - 7.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Toge Productions

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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