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Análise: The Crown of Wu (Multi) — O rei macaco merecia coisa melhor

Em uma releitura de uma história clássica, ajude Sun Wukong a recuperar sua coroa, sem largar o controle no meio do caminho.

O conto Jornada ao Oeste é um expoente da literatura oriental. Inclusive, ele é um dos Quatro Romances Clássicos da China. Imagine a responsabilidade de adaptá-lo às mídias atuais. Já houve versões em filmes, desenhos e seriados, então não seria surpreendente os games também tentarem a sorte. 

The Crown of Wu tenta revitalizar a narrativa, misturando elementos clássicos e modernos de maneira interessante, mas com diversas falhas de execução.

O rei macaco perdeu a coroa e o rumo

Neste jogo, controlamos o rei macaco Sun Wukong, que está em busca da sua coroa roubada. Para seguir sua missão, ele deve resolver enigmas, combater diversos inimigos e passar por sessões que envolvem saltos e plataformas.

Esses ingredientes são essenciais e, quando bem implementados, criam ótimos jogos, mas The Crown of Wu deixa essa fórmula descompensar em diversos momentos e o vilão disso é a jogabilidade.

As áreas de plataformas e puzzles até que são bem boladas, mas controlar os saltos é algo bastante impreciso. Utilizar o salto simples parece pouco e o duplo parece demais. Foi difícil para mim encontrar um meio-termo em diversos momentos.

Além disso, algumas plataformas contam com bordas inferiores, mas, se elas podem ser tocadas, já são outros quinhentos. Algumas possuem “física” e até servem para pegar impulso e chegar em lugares distantes. Já outras, geralmente encostas de montanhas, inexistem. Pisar nelas é o mesmo que passar direto para um abismo infinito.

Entretanto, a pior parte fica com o combate. Sun Wukong conta com uma barra de vida e uma de fôlego, que dita os movimentos que podemos fazer, como esquivar, correr e atacar com o bastão. Há um quê de soulslike aqui, já que o fôlego do rei macaco acaba rápido, nos obrigando a pensar muito bem antes de sair descendo a porrada. Temos que estudar o movimento dos inimigos e o cenário em que estamos para fazer a melhor abordagem possível.

Na teoria é lindo, mas a movimentação do protagonista é lenta, o que nos leva a morrer infinitas vezes até conseguirmos ou desistirmos por exaustão. E nesse meio-tempo, aparece outra coisa chata: as telas de loading demoradíssimas.

As batalhas contra os chefes seguem a mesma tônica descrita acima, mas algumas delas se destacam positivamente por nos fazerem interagir com o cenário para expormos a fraqueza do inimigo e aí sim atacarmos.

É uma pena, pois as partes de enigmas isoladas são bacanas, fazendo o jogador pensar além do quebra-cabeça principal, procurando pistas por todo o espaço para progredir. É como se fosse um lampejo do que todo o jogo poderia ter sido, se bem trabalhado.

Não vejo, não falo, não escuto

Infelizmente, também faltou dar aquela polida bacana em The Crown of Wu. Durante minha jogatina, ocorreram vários bugs sonoros e visuais que conseguiriam tirar qualquer jogador do sério.

Como citei acima, nem todo o ambiente é palpável, e podemos passar reto por lugares que parecem ser “pisáveis”. Só que esse defeito não se limita ao chão. É possível também entrar em paredes e ficar preso em buracos no meio do caminho. E não adianta pular, pois o salto duplo simplesmente para de funcionar quando os encontramos. A solução? Reiniciar o jogo.

A parte sonora também deixa a desejar, principalmente pelo protagonista ser mudo. Até somos guiados pela voz de um ancião, que aparece em totens e balões de fala, mas nada além disso. Outro ponto é que a música apresenta algumas falhas, parecendo um fone de ouvido com defeito, dando alguns estalos.

Para não dizer que só há pontos negativos, acionar os monólitos pelo caminho desencadeia trechos da história com ilustrações muito bonitas. Seria legal ter acesso a elas no menu de colecionáveis, mas não há essa possibilidade.

Tá na hora do rei passar o trono

The Crown of Wu não é a primeira nem a última adaptação de Jornada ao Oeste que aparecerá nos games, então não há necessidade de jogar ele só pelo valor histórico. Infelizmente, a falta de polimento visual e a movimentação molenga estragaram o que poderia ser uma reprodução bem divertida e justa de um clássico literário.

Prós

  • Algumas batalhas de chefes são bem pensadas;
  • Os enigmas exigem boa exploração do cenário como um todo;
  • Algumas ilustrações bacanas;
  • Uma maneira interessante de se contar uma lenda famosa.

Contras

  • Saltos imprecisos;
  • Movimentação de combate muito lenta;
  • Diversos bugs visuais e buracos invisíveis;
  • Falhas na performance sonora;
  • Protagonista mudo;
  • Telas de loading demoradas.
The Crown of Wu — PC/PS4/PS5 — Nota: 4.5
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Ives Boitano
Análise feita com cópia digital cedida pela Gammera Nest


é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no seu twitter @carlos_duskman
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