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Análise: Chained Echoes (Multi) é um agradável RPG e uma das melhores surpresas de 2022

Uma carta de amor aos RPGs da era 16-bits, o título surpreende de forma muito agradável.

Pergunte à maioria dos jogadores qual é o melhor título de 2022 e você provavelmente ouvirá respostas titânicas, como Elden Ring (Multi), God of War: Ragnarök (PS5/PS4) e Horizon: Forbidden West (PS5/PS4). Até aí, tudo normal, mas, caso você tenha um apreço especial por RPGs da era 16-bits, permita-me lhe apresentar Chained Echoes (Multi). Sem exageros, talvez este se torne um dos seus jogos favoritos do ano — confira o porquê em nossa análise a seguir.

Do Kickstarter para o mundo, com sucesso

Desenvolvido pelo exército de um homem só de Matthias Linda, Chained Echoes é claramente um projeto passional de seu criador. Validado por uma campanha bem-sucedida na plataforma de financiamento coletivo Kickstarter em 2019, aqui está um daqueles títulos que não demoram para mostrar suas influências, mas que, ao contrário de produzir uma imitação barata, as utilizam para construir algo novo e verdadeiramente impactante.

Assim, jogar Chained Echoes traz uma sensação familiar, já vista em títulos retrô de qualidade como Shovel Knight (Multi) e Undertale (Multi). Que bom, então, que, após seu longo desenvolvimento, finalmente podemos ter contato com a versão final desta obra, lançada para PC e consoles.

RPG com “R” maiúsculo

Elaborado como uma carta de amor aos muitos RPGs clássicos da chamada Era de Ouro do gênero — as décadas de 1980 e 1990 —, Chained Echoes apresenta ao jogador a história de Glenn, um mercenário que habita o continente chamado Valandis, onde a guerra não tem mais fim há gerações.

Seguindo o manual dos role-playing games, Glenn logo se verá envolvido nesse conflito, acompanhado de uma equipe especial composta por figuras distintas, como o mercenário Kylian, a princesa Lenne e o músico Victor. Cada um dos personagens (mais de dez podem compor seu grupo, sendo que alguns são recrutados de forma opcional) possui suas próprias motivações para se unir ao protagonista, e descobri-las conforme o jogo avança é parte da diversão proporcionada pela história.

Isso porque, desde os seus primeiros momentos, Matthias Linda mostra que não tem medo de subverter expectativas quanto à narrativa. Se tudo parece começar de forma calma até demais, não é preciso muito tempo para que o público perceba que aqui está um jogo que, sobretudo, se leva a sério em sua proposta.

De mortes e traições a mechas e responsabilidades do gerenciamento de um reino, há de tudo um pouco neste título, mas sempre de uma forma coesa e, principalmente, coerente com a proposta.

Pisando no pedal de Overdrive

Durante a jornada de Glenn e seus amigos, o jogador irá conhecer cenários variados, como vastas planícies, cidades submersas e calabouços esquecidos. Embora nada disso represente uma novidade em si, a forma com que Chained Echoes lida com as convicções do gênero acaba chamando a atenção a longo prazo.

Um exemplo emblemático é o seu sistema de combate, que, apesar de ser por turnos, consegue ser ágil e estimulante sem negociar a camada densa de estratégia que define os bons RPGs táticos. De longe, a grande responsável por isso é a mecânica Overdrive, com o qual toda ação de seu grupo altera o indicador de uma barra dividida em três cores (amarelo, verde e vermelho).

Manter o cursor sobre a área verde significa que a sua equipe estará no estado de Overdrive, no qual vocês causam mais dano e recebem menos. Apesar de tentador, neste modo é preciso tomar cuidado redobrado com suas ações, pois qualquer descuido pode levar à etapa de Overheat, na qual todo dano sofrido em combate é aumentado.

Na prática, o sistema de Overdrive traz uma interessante dinâmica de risco e recompensa a Chained Echoes, que, sem entrar no campo dos spoilers, conta com alguns momentos realmente desafiadores. Some a isso implementações de qualidade de vida, como a ausência de encontros aleatórios, grande velocidade de movimento no mapa e cura automática após um combate, e temos aqui um RPG tão acessível quanto profundo para aqueles que buscam de fato um desafio.

Arte em pixels

Tanto a história cativante como o divertido sistema de combate são complementados por uma ótima direção de arte, posta em movimento pela estética em pixels que certamente agradará em cheio os fãs mais nostálgicos de um tempo que não volta mais na indústria dos videogames.

Dos desenhos dos protagonistas e inimigos aos cenários e itens, todo o trabalho visual aqui impressiona, especialmente acompanhado pela trilha sonora digna de elogios do jovem compositor Eddie Marianukroh, que aparenta ter estudado a fundo o estilo de Nobuo Uematsu, o gênio musical por trás de Final Fantasy.

Abordando os aspectos técnicos, para esta análise experimentei Chained Echoes em meu desktop e não encontrei nenhum tipo de bug ou crash ao longo das sessões de jogo. Aliás, convém lembrar que, com recomendações bem modestas de hardware, este é um daqueles títulos com 98% de chance de funcionar no notebook da sua família ou em outro PC mais antigo que tiver.

O único ponto negativo (e um dos motivos pelos quais não concedi a nota máxima) é a ausência de suporte a português brasileiro, fazendo com que seja necessário que você domine algum dos quatro outros idiomas suportados para entender perfeitamente a história e as nuances dos personagens. 

Uma pena, mas considerando que Chained Echoes foi desenvolvido por uma única pessoa, é até compreensível. Fica a esperança, porém, que, com o sucesso desta obra, futuramente tenhamos uma equipe dedicada à tradução para nosso idioma. A comunidade brasileira entusiasta de RPGs certamente agradeceria.

O renascimento da era clássica de RPGs?

Uma carta de amor aos RPGs de console que marcaram a vida de tantos jogadores no passado, Chained Echoes acerta ao entregar uma aventura digna de suas referências, podendo ser considerado desde já um clássico moderno. Seus personagens carismáticos, a excelente trilha sonora e sua trama instigante desde o início certamente agradarão aos fãs do gênero que buscam algo novo que remeta com sabedoria ao passado. Assim, para todos os efeitos, não se permita enganar: apesar de aparentemente pequeno, aqui está um dos grandes títulos de 2022.

Prós

  • A história do jogo aborda sem problemas temas como morte e guerra, provendo reflexões enquanto exibe suas reviravoltas dignas do número de personagens jogáveis;
  • Captura a estética retrô com sucesso, provendo um verdadeiro espetáculo visual;
  • A trilha sonora assinada por Eddie Marianukroh é um show à parte;
  • Sistema de combate divertido, tornado dinâmico por conta da mecânica Overdrive;
  • Bem otimizado.

Contras

  • Ausência de suporte ao português brasileiro;
  • Poderia contar com múltiplos finais, como algumas de suas referências.
Chained Echoes — PC/Switch/PS5/PS4/XBO/XSX — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Deck13

é bacharel em Produção Cultural pela UFF e estudante de Comunicação Social pela FSMA. Na infância, ganhou um Super Nintendo dos pais e, desde então, nunca mais deixou o mundo dos games. Ainda sonha em ser um Mestre Pokémon.
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