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Análise: The Chant (Multi) é amigável aos que possuem medo de jogos de terror

The Chant traz enredo pouco explorado em jogos de terror e tem como inspiração a jogabilidade de títulos da franquia Resident Evil.


The Chant, título desenvolvido pela Brass Token e distribuído pela Prime Matter, tem como principais gêneros de terror, ação e aventura em terceira pessoa. O jogo traz uma narrativa focada em um culto macabro no qual devemos enfrentar criaturas de outro mundo para salvar os amigos de Jessica Briars. 

O título tem fortes inspirações em jogos da franquia Resident Evil, mas será que ele é competente o suficiente para conquistar jogadores casuais? É isto que irei responder nesta análise.

Uma ilha cercada de mistérios

O ano é 1972 e um ritual está a acontecer na Ilha da Glória. Babs, filha do líder do culto, não se sente confortável com o mal que está prestes a ser libertado por seu pai e decide fugir. Todos os membros presentes no ritual vão então à caça de Babs, que consegue fugir.

A história salta após isso para os dias atuais, onde conhecemos Jessica. A convite de sua melhor amiga Kim, ela decide ir à Ilha da Glória passar um tempo no retiro espiritual Ciência Prismática. As duas amigas se sentem culpadas pela morte da irmã de Jessica, que foi um afogamento acidental.

Jessica então tenta achar um jeito de se curar deste trauma junto de Kim, porém o que deveria ser um retiro espiritual acaba se tornando um pesadelo. Não só para as duas amigas, mas também para os outros membros do retiro espiritual.

Os membros do retiro espiritual de Ilha da Glória

O título nos apresenta personagens importantes que servirão como meio de avançarmos na narrativa. Cada um deles possui um cristal prismático que servirá para acessarmos certas áreas do jogo. Jessica Briars, nossa protagonista, foi convidada para a Ilha da Glória por Kim depois de uma tragédia compartilhada na adolescência fazer com que elas se separassem. Ela e sua amiga, Kim Mallari, estavam distraídas enquanto a irmã de Jessica se afogava de forma agoniante. Este evento traumatizante fez com que elas se sentissem culpadas.
As amigas Kim e Jessica.
Tyler Anton herdou a Ilha da Glória de sua mãe e está pronto para receber um pequeno grupo de seguidores para uma jornada transformadora na Ciência Prismica. Ele tem um relacionamento com Hannah Wilson, uma garota otimista que age mais pela emoção do que pela razão. Ela se sente orgulhosa da comunidade que está ajudando a criar junto de Tyler promovendo seus ensinamentos.
O casal Hannah e Tyler.
Sonny Sonti, vê na Ciência Prísmática uma chance de encontrar um significado maior e deixar para trás um padrão de promessas quebradas e autodestruição. Já Maya Kalani, vista por todos como a mãe do grupo, ainda tem suas próprias cicatrizes para enfrentar e acredita que esse retiro seja seu primeiro passo para a cura. Todos estão ali com um único propósito: se curar de seus tormentos.
Os membros Maya e Sonny.

Mente, corpo e espírito

Estas serão as três estatísticas com as quais devemos nos preocupar durante a jogatina. A estatística da mente quando afetada fará com que Jessica tenha um ataque de pânico. Há duas formas de isso acontecer: ao ser sugada por inimigos ou ao pisar em áreas possuídas pela penumbra que suga sua mente dela aos poucos. Quando a mente esvazia Jessica não consegue realizar nenhum ataque aos inimigos, o que acaba facilitando o avanço das criaturas. Para recarregar a mente de Jessica temos de coletar e fazer uso de lavanda ou meditar, embora meditar descarregue a estatística de espírito.


A estatística corpo é relacionada a barra de vida então quando Jessica é atacada por algum inimigo ela é afetada. Nesse caso, o único meio de recuperarmos a vida é coletando e fazendo uso de gengibre. Alguns inimigos terão ataques tão eficazes que nem com a barra de vida cheia será possível escapar da morte. Uma boa dica que deixo de antemão é o uso da esquiva, ela é eficaz e ajuda muito no combate.

Por fim temos a estatística de espírito que é bem importante pra jogatina pois concederá a Jessica poderes especiais referentes aos cristais prismáticos que iremos colecionar conforme prosseguimos com a história. Para enchermos a barra de espírito temos de coletar e usar o cogumelo espiritual.

Ao todo teremos acesso a 6 cristais prismáticos, cada um pertence a um membro do retiro espiritual e possui uma energia negativa (poderes especiais) armazenada que será eficiente no combate aos inimigos. Veja a seguir a função de cada um dos cristais prismáticos:
  • Prisma azul (ícone de ampulheta): proporciona clareza e compreensão ao usuário, a energia negativa armazenada no prisma pode retardar temporariamente os inimigos
  • Prisma laranja (ícone de vento): projetado para promover a positividade e absorver a negatividade. A energia negativa armazenada no prisma envia inimigos voando para trás com grande força. Surte dano extra toda vez que um inimigo causa impacto.
  • Prisma amarelo (ícone de espigões): pode ser usado para alimentar a sua ambição e confiança, a energia negativa armazenada no prisma levanta espinhos prejudiciais do chão em todas as direções ao seu redor.
  • Prisma verde (ícone de Mandanúcleo): é famoso por promover a transformação e um despertar espiritual, a energia negativa armazenada no prisma vomita um enxame de criaturas Mandaphores famintos em direção a um único alvo. Quando o alvo morre, os Mandanúcleos restantes procuram outro.
  • Prisma vermelho (ícone de mãos): promove o poder da influência, a energia negativa armazenada neste prisma levanta cultistas torturados da escuridão e agarra alvos terrestres na área para enraizar e causar danos ao longo do tempo.
  • Prisma índigo (ícone de pessoa desaparecendo): é usado para diminuir a ansiedade e estabelecer vínculos, a energia negativa desse prisma altera seu plano físico tornando-o intangível e invisível por um curto período de tempo. Ele é desativado temporariamente ao atacarmos algum inimigo.

Os meios de combate variados em The Chant

O jogo tem como principal meio de combate o ataque corpo-a-corpo e por isso não fornecerá armas de fogo, os ataques serão realizados através de “armas” feitas a base de plantas. Ao redor do mapa teremos plantas disponíveis para ser coletadas, e feito isso teremos de acessar a roda de criação com o intuito de criá-las. Conforme são usadas elas acabam se desgastando, fazendo com que ao longo da jogatina tenhamos de construir mais. Os inimigos presentes no jogo são variados e cada arma presente tem como principal função ser eficaz contra eles. Veja a seguir cada uma das armas e suas funções:
  • Vara de sálvia: um pacote de sálvia. Causa dano extra a uma multidão de inimigos e tem uma grande área de efeito.
  • Vara de bruxa: um pacote de artemísia. Causa dano extra em criaturas sombrias e regenera a estatística espírito em cada impacto.
  • Chicote de fogo: um feixe flamejante de galhos espinhosos. Causa dano extra a inimigos físicos não sombrios e dano adicional a inimigos cobertos de óleo essencial.
Outro meio de atacarmos os inimigos será usando projéteis e armadilhas, que são armas secundárias e assim como as principais terão de ser criadas a base de plantas coletadas ao redor do mapa. Quando um inimigo brilha intensamente, quer dizer que ele está carregado e não pode ser ferido por ataques corpo-a-corpo. Você pode interromper o ataque usando projéteis e armadilhas. O jogo nos fornece 3 destas armas secundárias: 
  • Sal: jogue para interromper os inimigos ou coloque no chão. É uma armadilha eficaz em atordoar inimigos não voadores.
  • Óleo essencial: jogue para desacelerar e danificar os inimigos ao longo do tempo. Amplifica o dano da arma chicote de fogo. É uma armadilha feita para atordoar os inimigos, pois eles recebem dano ao longo do tempo.
  • Óleo de fogo: explode em uma grande área com chamas que se espalham de vítima para vítima e deve ser jogado a uma certa distância.

Caso você não tenha uma arma Jessica poderá usar o empurrão, que causa dano mínimo a inimigos básicos e pode ser aprimorado na árvore de habilidades como um empurrão perfeito. Esse aprimoramento atordoa temporariamente pequenos inimigos se cronometrado pouco antes de seus ataques regulares atingirem.

Ao longo da jogatina iremos enfrentar sapos gigantes, humanos possuídos usando máscaras de animais, plantas, etc. O título possui também um inimigo muito semelhante ao Nemesis de Resident Evil. Jessica tem medo de moscas, então um enxame delas em forma de sua irmã irá nos perseguir, o que faz com que o encaramos ou com que corramos.


Não inova, mas segue bem a receita de um jogo do gênero

O título possui alguns puzzles para realizarmos: em certo momento teremos de redirecionar feixes de luz para um farol ou procurar ingredientes para criar um solvente de plantas. A narrativa irá nos propor diálogos opcionais em certas ocasiões, sendo que estes parecem não afetar diretamente a história, tendo em vista que seu progresso será linear.


Um sistema de árvore de habilidades está à nossa disposição, e conforme conseguirmos XP poderemos aprimorar uma das habilidades da protagonista. Ao todo temos 12 atributos diferentes que podem ser atualizados ao longo da jogatina. Todas estas atualizações são focadas nos 3 principais aspectos diferentes de Jessica: Mente, corpo e espírito.


Ao explorarmos os arredores da Ilha da Glória conseguiremos informações sobre as criaturas que vivem ali, e essas serão armazenadas num bestiário que pode ser acessado facilmente dentro do menu do jogo. Além do bestiário, também iremos coletar cartas, bilhetes, anotações e vídeos que explicam um pouco do universo de The Chant. Cada cantinho presente no jogo terá algum arquivo para coletarmos.


Há também um inventário que será necessário na hora de conseguir coisas como: chaves, combinar itens, acessar arquivos etc.


Uma boa pedida para jogadores que possuem medo de jogos de terror

Tive acesso a The Chant antes de seu lançamento e a experiência não foi das melhores. Eram bugs gráficos, legendas em inglês se misturando com português e meu controle simulando as funções de um mouse. Esses problemas só foram resolvidos com a chegada do patch de Day One, o que tornou a experiência bem mais aproveitável. Um dos problemas persistentes mesmo após o lançamento é o atraso no carregamento das texturas e alguns pequenos travamentos durante a jogabilidade ou ao carregar uma cutscene após uma tela de loading.

Exemplo de bug visual antes do patch de Day One.
Os gráficos e direção de arte são realistas, porém nada espetaculares. Exploram bem a visão do que é uma ilha com cara de retiro espiritual: vemos cabanas rústicas, vegetação etc. Foi feito aqui também um bom trabalho na captura de movimentos de atores reais para os personagens, mas passa bem longe de algo já mostrado em jogos como The Quarry ou Detroit: Become Human. O estúdio que o produziu é pequeno, então não dá para exigir um jogo AAA.

Mesmo tendo uma jogabilidade linear eu senti falta de um mapa, me pouparia algumas horas as quais passei perdido andando de um lado para o outro. Mapas são bons em jogos do gênero, ainda mais pelo fato de termos de ir atrás de chaves para abrir certas áreas, coletar consumíveis, etc. 

Confesso que em alguns momentos me irritei com a dificuldade imposta pelo jogo. Houveram momentos nos quais achei que não iria conseguir avançar. O jogo é limitado em relação à consumíveis e sofri caçando em toda a área explorável plantas para recuperar vida ou criar armas. Ou seja, fique esperto em relação a isso, e em combates use muito a esquiva quando um inimigo vier atacar com tudo.

The Chant é mais um daqueles jogos que não reinventam, mas divertem. Seu enredo traz algo diferente do que temos visto em alta ultimamente no gênero terror. Aqui não há nada de mansões mal-assombradas, adolescentes sendo idiotas ou inimigos grandiosos. O foco da produção é trazer uma história diferente acompanhada de alguns elementos sobrenaturais. Por estar sendo vendido como um jogo de terror o achei fraco neste aspecto. Recomendo para aqueles que não gostam de sangue, violência ou de tomar sustos. Ele é de certa forma amigável para os que não possuem mais familiaridade com o gênero de terror.


Prós:

  • Amigável para aqueles que não costumam se aventurar em títulos de terror;
  • Enredo interessante e pouco explorado em jogos;
  • Jogabilidade mescla exploração, combate e puzzles de forma satisfatória;  
  • Combate corpo-a-corpo diferenciado e balanceado;
  • Direção de arte nos transporta com êxito para a trama;
  • Menus e diálogos localizados em português do Brasil.

Contras:

  • Não há um mapa para ajudar na localização;
  • Diálogos opcionais parece não impactar o enredo;
  • Faltou um certo polimento em relação às texturas na versão PC;
  • Pequenos travamentos na jogabilidade e em cutscenes podem atrapalhar a experiência.
The Chant — PS5/XSX/PC — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Prime Matter

Poderia estar dando um rolê na Epoch, ou participando do torneio Mortal Kombat, e quem sabe escapando de alguns zumbis, mas estou aqui, feliz por estar escrevendo sobre games.
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