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Análise: McPixel 3 (Multi) é uma comédia pastelão em formato de videogame

Piadas e referências são o destaque deste título indie simplório e despretensioso.


De vez em quando é bom sair da caixinha e experimentar algumas coisas diferentes na hora de jogar videogame. Tem dias que estamos numa vibe mais hardcore, com jogos mais intensos e competitivos, e em outros só queremos algo mais casual, como uma partida de futebol ou umas voltas em um jogo de corrida.


Minha voltinha em busca de coisas diferenciadas desta vez me levou a McPixel 3. Aquele típico jogo em que você assiste o trailer e não entende nada do que está acontecendo, mas é justamente isso que te chama a atenção. Vamos ver onde amarrei meu burro desta vez.

O cara errado no lugar errado

No game assumimos o papel de McPixel — creio que seja esse o nome do cara, mas enfim… —, um sujeito que está sempre nos lugares mais inusitados nos momentos mais inoportunos. A função do cidadão é se livrar das enrascadas em que se meteu interagindo com quaisquer objetos ou pessoas do cenário para, digamos, resolver o puzzle da cena.

A dinâmica do jogo tem uma certa inspiração nos jogos da série WarioWare, da Nintendo. Explico: McPixel pode andar livremente pela cidade em busca dos pontos de interesse que dão acesso aos minigames. Ao encontrar um deles, o jogador entra em um ciclo de cenas em que dispõe de alguns segundos para interagir com o que conseguir para criar uma piada. São situações inspiradas em diversos universos da cultura pop, como filmes, séries de TV e, claro, videogames.


Não vou entrar em muitos detalhes sobre o roteiro das cenas para não estragar a surpresa de quem vai jogar. Compensa muito descobrir as referências de cada um, o que rende algumas boas risadas durante a jogatina. Esse é um dos pontos altos da experiência.

Cada cena possui mais de um final, mas apenas um é o, digamos, verdadeiro para aquela cena. Achou a resposta certa? Bom! Achou a errada? Melhor ainda! A maioria rende momentos cômicos que remetem a uma comédia mais ácida e cartunesca. Algo que remete a alguns pastelões do cinema e televisão, como a série britânica Monty Python e os filmes de Mel Brooks.

Se você tem essas referências, já deve ter uma noção do tipo de humor que o game traz. Para se ter uma noção melhor, a classificação indicativa do game no Steam é 14 anos, ou seja, não é o tipo de jogo adequado para seu sobrinho, filho pequeno, ou mesmo você, jovem, que está lendo esta análise. É um tipo essencialmente produzido para um público mais adulto.


Saudosismo visual e gamístico

A arte de McPixel 3, como já deve ter ficado bem óbvio, traz uma arte pixelada bem característica da época dos consoles 8 e 16-bit. Não é tão elaborado como outros jogos atuais que trazem essa pegada, mas também não chega a ser tão simplório como aparenta ser. A escolha, a meu ver, é a ideal para dar uma potencializada no humor — e amenizar um pouco o exagero de algumas cenas que trazem um tom mais violento.


A jogabilidade é inspirada nos antigos adventures point and click para PC, em que apenas o mouse é necessário para sair clicando nos objetos da tela. O uso de controles, e até mesmo suporte para telas de toque, também está disponível para quem preferir. No PC, alguns segmentos exigem o uso do teclado, então a questão do tipo de controle para jogar se torna um critério pessoal para cada jogador.

O objetivo do jogo é encontrar o máximo de conclusões para cada cena, o que rende moedas que são usadas para desbloquear as novas etapas da campanha. Entretanto, cada cena possui apenas um “final verdadeiro”, aquele que, no roteiro, é o que conclui de verdade aquela cena.


Sendo assim, não é tão vantajoso encontrar a solução de cara, visto que ela também não é óbvia em mais de 90% dos casos. É um fator que nos estimula a jogar novamente cada cenário para que possamos sempre ter o bolso cheio de moedas para depois sair explorando a cidade em busca da próxima etapa que nos renderá mais uma rodada de comédia politicamente incorreta e interativa.

Reprise é legal, mas uma hora cansa

Apesar de ser um título com jogabilidade bem simples e trazer uma proposta bastante interativa, a experiência de McPixel 3 tropeça em um calcanhar de Aquiles chamado repetição. Dependendo da complexidade da cena que estamos jogando, o jogador fica preso no ciclo de cenas até que encontre a solução daquela etapa.

Conforme avançamos para as etapas mais à frente no game, as situações em que nosso “herói” se mete começam a ficar cada vez mais elaboradas, exigindo que o jogador, por vezes, pense fora da caixa. Muitas vezes a solução definitiva é algo tão fora do comum, aquela ação que nunca passaria pela nossa mente, que acabamos quase quebrando a cabeça de verdade — na tela da TV ou monitor — para descobrir o que temos que fazer.


A exigência de moedas para desbloquear as novas etapas é uma via de mão dupla. Estimula a jogatina para quem gosta de jogar com o intuito de completar o jogo, mas também cria uma situação chata e desnecessariamente obrigatória para quem só está ali pela casualidade.

Em determinados momentos me vi obrigado a voltar para cenas já concluídas para obter moedas suficientes para destravar uma etapa nova. Foi divertido rejogar algumas fases para poder ver mais do que cada cenário tinha para mostrar que acabou ficando para trás, mas ainda assim é uma etapa que vai atrasando nosso progresso até a conclusão do jogo.

Bizarro e divertido

McPixel 3 é uma bela pedida para quem busca algo mais casual e leve para seus momentos de jogatina. Com um humor predominante e por muitas vezes exagerado, este título indie tem uma vibe única e despretensiosa que rende boas risadas e um pouco de trabalho para quem deseja completá-lo. Dá pra jogar comendo pipoca, mas cuidado para não sujar seu controle com manteiga.



Prós

  • Direção de arte em pixel art bem feita e animada;
  • Situações cômicas rendem uma jogatina divertida;
  • Jogabilidade extremamente simples.

Contras

  • A exigência da conclusão integral de muitos desafios quebra a proposta mais casual do título;
  • A complexidade de alguns cenários atrasa o progresso.
McPixel 3 — PC/XSX/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Camila Cerineu
Análise feita com cópia digital cedida pela Devolver Digital

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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