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Análise: NEO: The World Ends with You (Multi) chega ao Steam como uma excelente nova entrada na franquia

Sequência do jogo de DS evolui a fórmula do original em uma experiência magistral de ação.

em 30/11/2022
Originalmente lançado para Switch e PS4 em julho de 2021, NEO: The World Ends with You chegou ao Steam este ano. A obra é uma sequência do RPG de ação The World Ends with You (DS), um clássico cult que chegou a ser relançado para mobile e Switch. Transportando o estilo pop do original para o mundo 3D, NEO não apenas é uma carta de amor para os fãs de TWEWY como também uma experiência sólida de seu gênero.

Ouvindo o chamado

NEO: The World Ends with You conta a história de Rindo Kanade, um jovem rapaz que vivia tranquilamente como um estudante comum. Um dia, enquanto passeava pelas ruas de Shibuya com seu colega Tosai Furesawa, mais conhecido como Fret, ele recebe um broche e começa a notar coisas estranhas.

A verdade é que, sem que eles percebessem, os dois foram transportados para uma dimensão paralela chamada UG, uma abreviação para “underground”. Quem jogou o original deve se lembrar, mas a área nada mais é do que uma espécie de camada especial habitada pelos mortos e pelos ceifadores (Reapers) que comandam um jogo de alta periculosidade no qual eles devem lutar para ter a honra de receber o seu maior desejo.

Enquanto em The World Ends with You, Neku Sakuraba participava do Reapers’ Game com a ajuda de um parceiro por vez, as regras de NEO trazem à tona o conceito de equipes. Para sobreviver à disputa, Rindo e Fret tentam conseguir mais membros para a sua equipe, o que parece ser especialmente importante considerando a presença de um grupo aparentemente imbatível conhecido como Ruinbringers.

Conforme Rindo e Fret vão engatinhando no jogo e aprendendo as regras, o jogo vai apresentando aos poucos o contexto atual do UG em Shibuya e elementos de lore expandidos. Alguns pontos da história remetem a eventos do original, mas a obra consegue sustentar uma narrativa própria em que esse conhecimento prévio apenas valoriza mais a experiência.

Sobrevivendo a Shibuya

O Reapers’ Game é uma disputa que ocorre durante sete dias in-game, forçando Rindo e sua equipe a explorar Shibuya em busca de pontos, novas informações e potenciais aliados. Para fazer isso, os personagens contam com poderes especiais que permitem a eles mergulhar na consciência de outras pessoas.

Vale destacar que cada aliado possui uma habilidade, sendo Fret capaz de lembrar as pessoas ao formar imagens de coisas esquecidas, por exemplo. Em geral, elas são úteis em momentos específicos da trama ou para quests opcionais. Infelizmente, uma personagem que entra tarde na equipe acaba tendo a sua habilidade pouco valorizada. Ela é capaz de explorar áreas no alto de prédios, o que poderia enriquecer a exploração, mas acaba servindo apenas para alguns poucos momentos.

Porém, o gameplay não envolve apenas andar para um lado e para o outro realizando missões e tentando ajudar as pessoas de Shibuya. Conforme explora as várias ruas do movimentado bairro de Tokyo, o jogador poderá encontrar criaturas chamadas Noise (ruídos, em português). Com formas que muitas vezes se assemelham a animais, esses seres causam sérios problemas para as pessoas e são atraídos muitas vezes pelos participantes do Reapers’ Game.

Curiosamente, a maior parte das lutas contra elas na série é opcional. Fora trechos da história, só é possível vê-las e entrar em batalhas após ativar uma espécie de sentido especial que paralisa o tempo e permite ver os pensamentos das pessoas. Além disso, após um certo ponto do jogo, é possível liberar novas dificuldades e reduzir o seu nível intencionalmente. Enquanto o ajuste de dificuldade afeta a qualidade dos broches que podem ser obtidos, o ajuste do nível da equipe e a possibilidade de atrair múltiplos inimigos para batalhas consecutivas são formas de aumentar a chance desses itens serem obtidos.

Os broches são itens com funções variadas dependendo do seu tipo. Há aqueles que servem apenas para serem reembolsados ou trocados por outros itens, mas na maior parte das vezes eles servem como forma de ataque. Cada personagem só pode equipar um deles por vez e cada broche está associado a um ataque que possui características específicas como elemento, marca, input e estilo de combate.

O elemento define se um ataque será mais efetivo ou mais fraco contra um determinado inimigo, enquanto a marca pode aumentar a sua força se o jogador estiver usando roupas com essa habilidade passiva. Porém, o mais relevante é compreender o padrão de cada golpe, que incluem ataques corpo-a-corpo, golpes de longa distância, cordas para prender o inimigo, bombas cronometradas, efeitos restaurativos de HP e buffs.

Em especial, NEO TWEWY explora o conceito de equipe fazendo com que o jogador pense nas melhores combinações possíveis de broches. Dependendo do inimigo, ter alguém capaz de restringir os seus movimentos com cordas pode ser fundamental para que o resto da equipe foque no ataque, por exemplo.

Porém, há ainda uma implicação mais importante: o jogador deve usar inputs simultâneos e entender muito bem o timing dos ataques de seus aliados para poder tirar o máximo de proveito das batalhas. Enquanto esse conceito já estava presente no jogo original que brincava com a tela de toque e os botões como formas de comando, NEO TWEWY brinca com equipes de vários personagens simultâneos para não perder o elemento caótico de multitarefas na transição para os botões.

Cada broche está associado a um botão específico do controle (ou teclado) e o ritmo de cada golpe pode ser bastante diferente. Alguns envolvem segurar o botão para carregar, outros implicam em apertar rapidamente de forma consecutiva, e há ainda os que continuam ativos enquanto o jogador pressiona e ficam mais fortes com o tempo.

Cada broche também pode levar o inimigo a abrir um cronômetro que faz com que o combo com o golpe de outro aliado encha um pouco da barra de Groove. Com ela cheia, é possível ativar ataques especiais poderosos, facilitando bastante alguns combates. Graças a esses elementos, é fundamental planejar bem a montagem da equipe e entender como encaixar os seus poderes em combos longos e estilosos.

Além dos broches, o jogador também tem acesso a roupas que podem ser equipadas para fortalecer os atributos dos personagens e ativar habilidades passivas. Vale destacar que o aumento de nível implica em ganho de HP, mas os atributos só são fortalecidos quando os personagens param para comer em alguma lanchonete ou restaurante. Batalhas contra os Noise servem então como um exercício que reduz a saciedade da equipe, permitindo assim um ciclo de treinamento eficiente caso o jogador queira fazer grinding.

Em um determinado ponto da história, o jogador ganha a habilidade de voltar em dias anteriores. Isso permite fazer quests opcionais deixadas de lado e melhorar o desempenho em ocasiões específicas como as disputas por território entre os grupos. Infelizmente, apesar de isso garantir que os complecionistas nunca perderão a chance de fazer tudo que o jogo tem a oferecer (e há uma boa quantidade de conteúdo opcional), na prática é necessário voltar ao início daquele dia. Mesmo com a opção de acelerar a passagem dos textos, isso pode se mostrar bastante incômodo em algumas ocasiões.

Pequenas coisas para ficar três minutos aplaudindo

Além de todos os elementos que mencionei acima, é fundamental pensar em como NEO TWEWY consegue representar muito bem um estilo japonês pop, respeitando o seu antecessor. Enquanto The World Ends with You era um título 2D, a nova obra usa técnicas de cel shading para criar o seu estilo anime e consegue fazer com que o seu mundo passe essa sensação de estar explorando uma animação mesmo com os elementos de profundidade visual.

Para a construção de uma ambientação tão vibrante, o jogo também conta com o fundamental papel da trilha sonora. As músicas aqui presentes incluem ritmos como J-Pop, rock, rap e várias outras que dão vida a Shibuya, representando de forma ímpar a sua cultura jovem. Além disso, o jogo conta com remixes de trilhas de TWEWY que reforçam a sensação de estar de volta ao lar para os fãs do original.

Apesar de todos os elementos de alta qualidade do jogo, gostaria de destacar dois pequenos defeitos. Primeiramente, durante meu tempo com o jogo encontrei alguns bugs. Não vi nada muito drástico, mas tive situações em que um personagem ficou impossibilitado de atacar por algum defeito no seu posicionamento, um crash em um momento aleatório e aparentes problemas de câmera. Por fim, para um jogo de PC, é normalmente esperado que o jogo conte com configurações gráficas mais detalhadas do que simplesmente a resolução, já que isso pode auxiliar os jogadores a terem experiências melhores com o produto.

Um novo tornado no mundo dos RPGs de ação

NEO: The World Ends with You é um excelente exemplar de RPG de ação que consegue evoluir os conceitos de gameplay do seu antecessor com um sistema de combate caótico focado em múltiplos inputs simultâneos. Embora conte apenas com um sistema muito básico de configurações gráficas, a obra é fortemente recomendada para qualquer fã do gênero.

Prós

  • Combate que explora múltiplos inputs simultâneos em uma evolução sagaz do conceito de gameplay do seu antecessor;
  • Trilha sonora vibrante com vários estilos japoneses representativos do contexto jovem da obra e remixes do jogo anterior;
  • Visual vibrante e colorido tanto em 3D quanto em 2D faz um papel fundamental para a “atmosfera de anime” da obra;
  • Grande capacidade de customização da equipe com os broches de inputs variados, roupas com habilidades especiais e sinergias de combinações específicas;
  • Dificuldade customizável que pode ser explorada pelo jogador como forma de obter pins mais poderosos;
  • Boa quantidade de conteúdos opcionais com quests que permitem ajudar várias pessoas de Shibuya.

Contras

  • Opções gráficas muito básicas para um jogo de PC;
  • Necessidade de rejogar um capítulo desde o início para fazer quests opcionais deixadas de lado;
  • Mecânica de exploração de uma das personagens é subutilizada;
  • Pequenos bugs.
NEO: The World Ends with You — PC/PS4/Switch — Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Heloísa D’Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela Square Enix


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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