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Análise: LEGO Bricktales (Multi) te dá liberdade, mas limita sua visão

Construa pontes, escadas, pirâmides e até lojinhas para seguir na jornada de reerguer o parque do seu avô sem ter uma crise de raiva com a câmera.

em 18/10/2022
Por mais que seja legal ter temas famosos e reproduções fiéis de marcos da cultura pop, a premissa de brincar com lego sempre foi dar asas à sua criatividade com um punhado de blocos que podem virar uma casa, um robô ou o que mais sua cuca permitir. Assim, LEGO Bricktales é um jogo que foge da identidade das franquias e se volta mais para o entretenimento central dos cubos de plástico: construir com a imaginação.

Não preciso do manual

Nosso querido avô administra um parque de diversões que está perdendo público. Para que o parque volte a ser frequentado, ele constrói uma máquina que te envia a diferentes lugares, como uma floresta, um deserto, uma cidade grande, uma ilha no meio do Caribe e um mundo medieval. A missão do nosso personagem é coletar os Cristais da Felicidade em cada um desses lugares para restaurar as atrações do parque.

Como não poderia deixar de ser, cada uma dessas ambientações são totalmente feitas em pecinhas de plástico, mas sem o contumaz polimento estético visto nos jogos com nomes Star Wars e Marvel, nos quais elementos de segundo plano são mais realistas, como árvores, avenidas e prédios. Isso evoca a sensação de cada um desses setores ser um grande diorama de quatro ou cinco partes, e casa perfeitamente com a proposta do jogo.

A progressão é feita de maneira simples, totalmente focada nos quebra-cabeças que você encontra pelo caminho. Sempre nos deparamos com uma área inacabada, falha ou objeto que precisa ser restaurado. É aí que entra a parte da construção.

Sempre que achar o sinal da chave-inglesa, devemos construir algo que precisa respeitar algumas regras, sinalizadas na parte superior da tela. Haverá um número determinado de peças variadas para concluir o trabalho, mas não é necessário usar todas de fato. Assim que cumprirmos com os requisitos, basta realizar um teste. Se o objeto não desmontar quando os robozinhos passarem, o enigma está resolvido e podemos seguir para o próximo.

Que fique claro que solucionar um desses problemas também não requer finesse nenhuma. Se você precisa construir uma ponte, por exemplo, e for possível fazer isso apenas empilhando os blocos do ponto A ao ponto B, será tão válido quanto bolar uma estrutura trançada que envolva placas de variados tamanhos e extremidades. Entretanto, após alguns enigmas solucionados, o jogador começará a pensar melhor em como resolvê-los.

O que importa é levar em consideração a resistência de cada projeto, pensando no peso do nosso assistente ao realizar os testes. É necessário pensar se uma cadeira de tirolesa será estável, se a ponte não se romperá no meio ou se a estátua, que funciona como um portal, não se quebrará ao girar. Essas sutilezas dão um tempero bem interessante aos projetos antes de sair colocando tudo de qualquer jeito.

Essa liberdade sempre foi a alma de LEGO e está muito bem traduzida nesses trechos de montagem. Infelizmente, eles não fogem de ser repetitivos após a quinta escada construída, pois a finalidade é sempre a mesma, mesmo com os diferentes motivos por trás de cada planta.

Quanto à exploração dos cenários, ela também tem seus próprios puzzles, com alavancas, válvulas e baús escondidos. Em cada um dos locais, você ganha uma nova habilidade, que vai desde detectar objetos ocultos a quebrar obstáculos pelo caminho.

Ponto cego

Chegou a hora de falar do grande vilão do jogo: a câmera. Se um jogo te oferece livre exploração, é importante ter essa liberdade quando você bem entende, mas não é assim que as coisas funcionam.

Quando estamos nas fases, a visão é de cima e em um eixo diagonal, e não é possível controlá-la. Então, ao passar por uma porta ou debaixo de uma construção, por exemplo, o cenário gira automaticamente, como se a câmera estivesse travada. A única maneira de ter domínio é se pausarmos o jogo. Aí, temos total liberdade para girar o diorama, dar zoom e checar cada canto. Assim, é totalmente anticlimático ter que ficar parando toda hora só para poder relembrar qual pedaço ainda precisa ser descoberto.

Além disso, sempre que o ângulo muda, há uma queda de performance. O personagem se locomove dando “soquinhos”, mas isso cessa assim que há uma nova mudança de ambiente.

Esse problema não apresenta nenhuma melhora quando estamos na tela de construção. Nós sabemos o que precisamos construir, o limite que deve ser respeitado (marcado com linhas pontilhadas) e as peças que temos à disposição, mas isso não é o bastante. Mesmo podendo escolher o plano que queremos enxergar livremente, surgem pontos cegos durante as obras de modo constante, nos levando a refazer alguns objetos mais vezes do que realmente seria necessário.

Há uma pequena confusão com os botões, já que comandos similares controlam o ângulo das peças e o deslocamento da câmera. É inevitável tentar girar a construção como um todo e acabar criando uma área de difícil visualização.

Entendam que, para um jogo que concede tamanha liberdade a quem está no comando, não poder escolher o melhor ângulo de visualização diminui muito a imersão, pois a criatividade vai dando lugar à irritação e, consequentemente, à frustração.

Lembra da queda de performance citada antes? Ela também acontece aqui. Ao realizarmos o teste da construção, um robozinho tem que percorrê-la do início ao fim para ter certeza que é seguro prosseguir. Entretanto, quando o objeto é muito complexo ou usa muitas peças, de novo há a sensação de lentidão, com tudo travando de maneira bizarra e voltando ao normal como se nada tivesse acontecido.

Gostinho de infância

LEGO Bricktales tem seus pecados, alguns deles fatais, mas também seria injusto reduzi-lo aos seus defeitos sem reconhecer o principal: finalmente temos um game que passa a mesma sensação de brincar com os tijolos reais. Dificilmente essas falhas serão corrigidas, mas quem sabe um lançamento posterior torne a experiência plenamente satisfatória.

Prós

  • Existe a liberdade de solucionar cada puzzle como quiser;
  • Os ambientes são 100% feitos de blocos e bem criativos;
  • A física envolvida nas construções de cada objeto é muito bem aplicada.

Contras

  • A câmera dificulta a visualização em diversos momentos;
  • Só é possível observar um cenário todo ao pausar o jogo;
  • Diversos momentos de queda de performance e lentidão;
  • Após um tempo, as construções se tornam um pouco repetitivas.
LEGO Bricktales — PC/PS4/PS5/Switch/XBO/XSX — Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Raquel Nascimento Everton
Análise feita com cópia digital cedida pela Thunderful Publishing

é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no seu twitter @carlos_duskman
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