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Análise: Kamiwaza: Way of the Thief (Multi): roubando com estilo no Japão feudal

Jogo de PS2 sobre um ladrão honrado e suas peripécias chega ao Ocidente no PC, PS4 e Switch.

Kamiwaza: Way of the Thief
é uma edição remasterizada de um jogo de PS2 nunca antes lançado no Ocidente. Desenvolvido pela Acquire com um formato similar a Way of the Samurai, o jogo de stealth traz uma curiosa proposta, mas acaba sofrendo com várias questões de apresentação.

Um ladrão honrado volta à ativa

Kamiwaza conta a história de Ebizo, um ladrão que acaba largando a vida de crime para criar sua filha adotiva honestamente. Porém, anos depois, a menina acaba desenvolvendo uma doença rara cujo tratamento é muito caro. Para poder salvá-la, Ebizo se vê em um beco sem saída e terá que voltar ao seu velho “trabalho”.
Cabe ao jogador realizar várias missões para conseguir dinheiro e comprar o remédio de sua filha. Ebizo se vê constantemente correndo de um lado para outro da cidade como parte de uma associação de ladrões que também fornece para ele informações e serviços essenciais.
 
Durante boa parte da gameplay, Ebizo tem duas opções principais de como gerenciar o que rouba. Por um lado, ele precisa ganhar dinheiro para salvar sua filha, podendo vender os itens no comércio dentro do esconderijo dos ladrões. Por outro, ele também pode ajudar seus vizinhos necessitados depositando os tesouros em uma caixa, atuando como um Robin Hood e melhorando a sua reputação.
Desse modo, há diversas possibilidades e as ações possuem consequências. Por exemplo, caso Ebizo seja visto roubando, cartazes explicando a sua aparência são espalhados pela cidade e há cenas de história mostrando a população o reconhecendo. Para evitar isso, é possível contar com múltiplos disfarces.
 
Andar com eles pelas ruas ou com uma sacola cheia de itens roubados pode chamar a atenção dos outros moradores, alertando os guardas. Com mais tempo em atividade, esses pequenos equívocos podem acumular, fazendo com que a cidade seja mais patrulhada e a população comum perceba que Ebizo é um ladrão notório.
Apesar do elemento de moralidade e consequências abrir espaço para discussões sérias, vale destacar que o tom do jogo é primariamente cômico. Há vários detalhes que são claramente pensados para ser ridículos, tanto no desenrolar da história quanto especialmente nas mecânicas da gameplay.

Uma complexa teia de ações “estilosas”

Kamiwaza é um jogo de stealth, ou seja, um título de ação em que o jogador é incentivado a ser furtivo para resolver os desafios. Nesse sentido, o ideal é permanecer despercebido de todas as formas possíveis e a campanha oferece várias mecânicas para isso. Porém, a principal mecânica é bastante extravagante: com o Just Stealth, o jogador precisa apertar o botão de esquiva na hora exata em que é visto.
Durante esse momento de escapar da área de visão do inimigo, que não é mostrada para o jogador, é possível também aproveitar para roubar alguma coisa. A ideia é que, apesar de se tratar de um jogo de stealth, o jogador é incentivado a fazer movimentos extravagantes, ganhando pontos de estilo pela ação, o que também impacta a sua capacidade de roubar pessoas e objetos. Os pontos de estilo podem ser revertidos em novas habilidades e disfarces.
 
Dessa forma, o jogo reforça a sensação de não se levar tanto a sério, incentivando o jogador a pensar em mecanismos para ser mais exagerado e roubar coisas maiores e mais caras com frequência. Essa noção de estilo também está presente na forma de entregar os objetos roubados, sendo possível chutar a sacola de itens nas caixas de entrega para ganhar pontos adicionais.
 
Apesar de divertido, trata-se de um jogo que mistura muitos elementos para fazer uma teia complexa de ações, mas várias delas fazem pouco sentido e a sensação geral é a de estar jogando um pacote remendado. Por exemplo, não é possível roubar as pessoas pelas costas, apenas atacá-las para que elas se virem. Além disso, os objetos possuem uma barra similar a uma stamina, resistindo ao roubo, um fator que pode ser minimizado fazendo movimentos de estilo que nada têm a ver com o item em si.
Sem boas explicações de todos os detalhes e com mecânicas que chegam a ser contraintuitivas, a experiência de Kamiwaza pode ser desnecessariamente convoluta. Além disso, o sistema de missões tende a ficar repetitivo rapidamente, forçando o jogador a voltar às mesmas poucas áreas para a exploração.
 
Outro elemento negativo da experiência é que, apesar de ser um título lançado para os consoles atuais, o título se mantém com vários defeitos visuais advindos de seu lançamento original de PS2. Em especial, os personagens possuem um formato muito rígido que deixa clara a sua formação a partir de blocos de polígonos em vez de um formato mais humano e arredondado. As texturas também são outro aspecto claro que poderia ser melhorado, mas é possível dizer que de forma geral, os gráficos são datados.

Um jogo de retalhos

Kamiwaza: Way of the Thief
é um jogo de stealth curioso que parece ser uma colcha de retalhos. Explorar os sistemas e ver as consequências das suas ações é divertido, mas a complexidade é desnecessária, as mecânicas são mal explicadas, as missões acabam sendo muito repetitivas e a remasterização precisava de um pouco mais de esforço. Para quem curte muito o gênero e quer uma experiência mais descontraída, é possível se divertir tendo em mente as ressalvas.

Prós

  • Tentar explorar o sistema de Just Stealth é divertido;
  • Ações do jogador tem consequências visíveis no mundo ao seu redor.

Contras

  • Gráficos datados, especialmente nos modelos de personagens;
  • Boa parte das mecânicas é complexa e mal explicada;
  • Sistema de missões acaba ficando repetitivo rapidamente.
Kamiwaza: Way of the Thief — PC/PS4/Switch — Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela NIS America


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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