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Análise: Cursed to Golf (Multi) — Acertando tacadas em um imprevisível roguelite no além

Seja o melhor golfista do plano sobrenatural para voltar à vida em um desafiador torneio no purgatório.


Imagine que você está prestes a obter a maior conquista de sua carreira esportiva e, no instante em que vai realizar esse feito, o destino lhe prega uma peça daquelas e você morre segundos antes da glória que almejou durante anos de sua vida. Essa é a bizarra premissa de Cursed to Golf, desenvolvido pela Chuhai Labs e distribuído pela Thunderful Games para PC e consoles.

Por um triz

A premissa de Cursed to Golf tem início na etapa final do torneio de golfe mais importante do mundo. Nosso protagonista está liderando o campeonato e já está no último buraco, prestes a se consagrar campeão e obter a glória máxima do esporte. Eis que o destino começa a mexer os pauzinhos e um temporal começa a se formar nos céus do campo onde está ocorrendo a competição.


No momento em que prepara a tacada final que lhe garantirá o título, um raio cai e fulmina a vida de nosso quase campeão. Acordando em um local desconhecido, nosso amiguinho então descobre que foi vítima do acaso e acabou no além, mas que seu destino ainda não está totalmente definido.

Um rufião moribundo chamado de Escocês o recebe e então explica que ele está em um local intermediário entre os dois planos definitivos do além-vida: o purgatório do golfe. Por conta disso, ainda há uma chance de nosso camaradinha voltar à vida, mas isso não será uma tarefa fácil, mesmo para um exímio golfista como ele.


Para tal, ele precisará vencer todos os 18 buracos do purgatório para ter a oportunidade de voltar ao mundo dos vivos e, quem sabe, ainda se tornar o vencedor do torneio que quase o sagrou campeão do mundo. Ah, sim! Ainda há um detalhe: os campos de golfe do purgatório são os mais estranhos e imprevisíveis que já existiram neste ou em quaisquer planos de existência conhecidos pela humanidade.

Cada tacada conta, literalmente

Cursed to Golf coloca o jogador no papel do pequeno grande golfista em uma árdua tarefa de vencer todos os 18 buracos do purgatório em uma experiência roguelite cheia de surpresas e desafios. Munido de tacos que lhe dão a possibilidade de realizar tacadas cheias de técnica e estilo, nossa missão é, literalmente, sobreviver para conseguir chegar até o final.

No golfe tradicional, o objetivo do jogador é colocar a bola no buraco com o menor número de tacadas possível. No purgatório, as regras são um pouquinho diferentes, pois quanto menos tacadas o jogador realizar, maiores são suas chances de sobreviver. Isso acontece pois o jogador possui um número limitado de vezes em que pode lançar a bola pelo campo, podendo ser acrescido com o uso de cartas de habilidades especiais que adicionam mais tacadas ao contador ou acertando a bola em ídolos pelo campo de jogo.

A tarefa é teoricamente simples, mas na prática se mostra extremamente trabalhosa e desafiadora, pois o elemento de roguelite do game se mostra justamente nos campos de cada buraco do purgatório. Cada partida traz campos gerados de forma procedural, tornando nossa jornada “além-golfística” bem mais complicada. A única exceção a essa regra são os buracos onde são travados duelos contra os chefes do purgatório, sendo o Escocês — sim, aquele que nos recebeu amigavelmente após a morte — um dos antagonistas de nossa jornada.


Além dos típicos obstáculos de um campo de golfe, como trechos de grama alta, poças de água e bancos de areia, os campos do purgatório trazem outras situações bem atípicas, como lançadores de bolas, teletransportadores e até bombas. São perrengues que trazem um tom extra de humor e estratégia ao gameplay, e muitas vezes rendem algumas jogadas inusitadas. Se isso já não fosse suficiente, alguns dos buracos são amaldiçoados e ativam algum tipo de mecânica extra por tempo limitado, como deixar a bola maior, inverter a tela ou retirar os ídolos que adicionam tacadas ao contador.

Jogar golfe sobrenatural também permite uma técnica extra para movimentar a bola após uma tacada realizando giros na bola para fazer com que ela role ou quique levemente para alguma direção. O controle desse truque não é tão preciso, mas, ainda assim, é útil e pode ajudar bastante em algumas tacadas mais difíceis.

Outra regra que só se aplica a esta modalidade de golfe é o uso de cartas de habilidade. Ao percorrer os campos do purgatório, é possível coletar novas cartas por meio de pacotes que são coletados ou comprados na lojinha do Escocês. As habilidades são variadas e adicionam vantagem no gameplay, como adicionar mais tacadas ao contador (como já citado), voltar uma jogada, fazer a bola parar imediatamente ao tocar o chão, simular jogadas ou alterar a direção da bola em pleno ar.


Por fim, o desafio maior no torneio fica por conta dos duelos contra os chefes. Os campos onde jogamos contra esses exímios talentos do além são a única exceção à regra da aleatoriedade do campo, sendo sempre a mesma rota a se seguir para tentar botar a bola no buraco antes deles para vencer. Durante essas etapas, um tipo especial de ídolo atordoa o adversário, impedindo que ele realize uma tacada e tenha chance de pegar a dianteira na partida. Uma vantagem válida, visto que os chefes jogam de forma quase perfeita,deixando esta parte do jogo bem difícil.

Sorte X habilidade

Se por um lado Cursed to Golf cativa com uma ótima combinação de direção de arte caprichada, trilha sonora empolgante, personagens carismáticos e um gameplay simples, por outro lado pode causar uma certa frustração por conta de seu alto grau de desafio. Precisei de muitas partidas para conseguir derrotar o Escocês, primeiro chefe do jogo, e então chegar à segunda zona do purgatório.

or conta do elemento roguelite de geração aleatória das rotas de jogo, houve muitos momentos em que tive a sorte de pegar alguns buracos menos complicados e chegar rapidamente ao duelo contra o primeiro chefe. Diferente de outras situações em que eu já estava passando por apuros no terceiro buraco e preferi encerrar a run para tentar a sorte em uma nova partida.

Apesar de alguns dos buracos contarem com mais de uma opção para “encaçapar” a bola, dando uma espécie de colher de chá com o luxo de dar ao jogador a chance de escolher o que quer fazer, muitas vezes me peguei numa sinuca de bico achando que o lado que escolhi jogar minha bola foi o menos difícil, mas no fim das contas acabei perdendo… de novo! Não existe nenhum tipo de checkpoint para amenizar a frustração de ter que recomeçar tudo outra vez ao perder, e chega uma hora que a gente já fica com preguiça de voltar mais uma vez ao primeiro buraco.


Sim, é uma característica comum nesse gênero de jogo, mas senti que ele pega pesado bem rápido e pode assustar principalmente quem não está muito acostumado ou mesmo nunca se aventurou nesse gênero. Por ser um gênero que eu particularmente gosto bastante, chegou uma hora que eu já estava ficando irritado por estar jogando pela décima vez e ainda não ter conseguido nem mesmo derrotar o primeiro chefe.

Um ponto que realmente não ajuda é a câmera, que é muito limitada e prejudica bastante principalmente na hora de realizar algumas tacadas longas. É possível trocar para um ângulo mais aberto, mas apenas para visualização do mapa, para ver onde estão alguns dos pontos de interesse e as rotas para um ou mais buracos, não sendo possível deixar esse ângulo ativo na hora de dar uma tacada. Por conta dessa limitação visual, somos obrigados a dar verdadeiras tacadas no escuro e torcer para que o ângulo em que lançamos a bola tenha sido o ideal, o que nem sempre acontece, ajudando a dar aquele ar de “eita, joguinho difícil”.


A técnica milenar de “depois eu volto” deu certo novamente, pois de cabeça quente realmente eu não ia conseguir avançar no game. O jogo é charmoso, divertido e desafiante, mas ainda requer uma boa dose de paciência para ser apreciado.

Podia ser um Eagle, mas acabou no Birdie

Cursed to Golf é uma divertida experiência roguelite que traz uma pegada de golfe nova, divertida e desafiadora. Charmoso e com um gameplay simples, a dificuldade já acentuada poderia ser amenizada graças a um uso mais eficiente da câmera do jogo e um sistema de checkpoints que estimulassem o jogador a querer terminar o game sem precisar passar por tantos perrengues.


Prós

  • Ótima apresentação, com arte caprichada, personagens carismáticos e trilha sonora divertida;
  • Para um jogo de golfe, o gameplay é bem simples;
  • As cartas de habilidades e os obstáculos dos buracos rendem jogadas imprevisíveis e muitas vezes impressionantes.

Contras

  • A dificuldade é bem acentuada, principalmente nos duelos contra os chefes;
  • O controle limitado da câmera atrapalha muito;
  • A tradução para o português possui diversos erros.
Cursed to Golf — PC/PS5/PS4/XSX/XBO/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PlayStation 5
Revisão: Ives Boitano
Análise feita com cópia digital cedida pela Thunderful Games

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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