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Análise: Little Noah: Scion of Paradise (Multi) é um roguelite de ação leve e acessível

Crie e modifique livremente combos neste título de plataforma com foco no público casual.


Roguelikes são conhecidos por, às vezes, apresentarem conceitos complexos e muitas nuances a serem dominadas, o que pode afastar alguns. Little Noah: Scion of Paradise vai no caminho oposto e oferece uma aventura roguelite descomplicada e casual cujo maior destaque é a versatilidade na montagem de combos. Essas decisões, em conjunto com o visual colorido, resulta em um jogo acessível e agradável. No entanto, a simplicidade acaba sendo também o seu maior revés.

Explorando ruínas com a ajuda de alquimia

Noah Little é uma alquimista excepcional que viaja pelo mundo em uma aeronave em busca de seu pai desaparecido. Um dia, ela se depara com imensas ruínas flutuantes e, curiosa, decide investigá-las. Não foi uma boa escolha: um estranho gato surge, a chama  de invasora e derruba a nave com uma tempestade.

Presa no continente voador, Noah agora precisa explorar calabouços em busca de mana para consertar sua aeronave. Além disso, as ruínas parecem esconder um mistério importante. No processo, ela encontra um homem hostil que parece conhecer seu pai desaparecido. Diante disso, a alquimista tentará encontrar respostas e, para isso, ela contará com a ajuda do gato Zipper, que se torna um aliado depois do desentendimento inicial.


Noah explora calabouços em uma aventura de ação e plataforma 2D. Para enfrentar os monstros do local, a garota invoca Lilliputs, seres espectrais com diferentes habilidades ofensivas. Alguns deles desferem golpes de curto alcance, já outros são capazes de lançar feitiços ou executar movimentos diferenciados, como puxar oponentes distantes. Os aliados são organizados em uma fila e atacam em sequência, o que permite montar diferentes combos. Também é possível posicionar os Lilliputs em um espaço separado para executar técnicas especiais.

Alguma magia misteriosa faz com que as masmorras mudem a cada tentativa, como é de praxe de roguelikes. Ao ser derrotada, Noah perde todos os equipamentos e aliados coletados, sendo necessário recomeçar a jornada desde o início. No entanto, há progressão: os itens são convertidos em mana, que é utilizada para consertar a aeronave e desbloquear novos recursos. Há muito o que liberar, como poções para recuperar a vida, trajes elementais para a heroína e melhorias para as características dos Lilliputs.



Montando combos em um sistema versátil

Em suma, Little Noah: Scion of Paradise é bem tradicional. No controle da heroína, o objetivo, na maioria das vezes, é derrotar todos os inimigos da sala para poder avançar. Os combates têm ritmo acelerado: além de golpear rapidamente, a protagonista é capaz de saltar novamente no ar e se mover rapidamente com uma investida. Os controles são bem responsivos, trazendo agilidade à ação.

De longe, minha característica favorita de Little Noah é usar os Lilliputs para atacar. Há boa variedade de tipos de golpes, o que oferece muitas opções na hora de montar os combos. No começo eu me concentrei em usar aliados simples para acertar monstros próximos, porém, aos poucos, fui experimentando. Em uma tentativa, por exemplo, lançava os inimigos para longe com um golem para, em seguida, acertá-los com um laser. Já em outra partida, foquei em feitiços variados a longa distância. Também fui capaz de fazer sequências mais elaboradas: jogava os oponentes para cima, usava uma investida para me aproximar e atacar algumas vezes e, em seguida, finalizava com alguma técnica especial.


O sistema é flexível e há incentivos para mudar de estratégia no meio do caminho: certos inimigos têm defesas ou ataques específicos que exigem outras abordagens. Para contornar isso, basta abrir o menu e alterar a ordem dos Lilliputs a qualquer momento. Além dos aliados, encontramos pelos calabouços acessórios com efeitos diversos e, com um pouco de planejamento, é possível montar sinergias.

Fora a ação ágil, Little Noah cativa com sua atmosfera vibrante. Os cenários são bem coloridos e, em conjunto com o estilo chibi, que retrata os personagens com cabeças grandes em relação ao corpo, traz identidade e charme ao mundo do jogo. Destaco também as belas ilustrações e o design de personagens característico de Akihiko Yoshida (de NieR, Bravely Default e Final Fantasy Tactics). Além disso, a dupla Noah e Zipper têm seu carisma explorado em diálogos divertidos, por mais que a história em si não seja lá grande coisa.



Alguns percalços nos labirintos

É fácil perceber que Little Noah: Scion of Paradise tem um foco mais casual com seus sistemas menos elaborados em comparação com outros representantes do gênero. Essa é uma decisão acertada, pois torna o título bem acessível, mas, no entanto, a simplicidade é também a sua maior falha, principalmente para aqueles que buscam maiores desafios.

A aventura se concentra em combates e não há nada de errado nisso, pois eles são interessantes e variados. Porém, a criatividade dos mapas deixa a desejar: a maior parte das salas consiste em arenas simples com algumas poucas plataformas, sem diferenças notáveis entre os vários biomas. Por causa disso, as partidas ficam um pouco parecidas demais entre si. Existem alguns elementos para tentar trazer variedade, como desafios no estilo “complete a sala sem levar dano”, lutas opcionais contra monstros poderosos e pequenos trechos de plataforma, porém não são suficientes para diferenciar as tentativas.


Outro ponto questionável diz respeito às habilidades de Noah. O sistema de montagem de combos é singular e há muitos acessórios para modificar características da heroína. No entanto, a variedade não é suficiente: depois de algumas partidas, é possível já ter visto a maior parte das possibilidades na montagem de conjuntos de habilidades, trazendo sensação de mais do mesmo.

Por fim, faltam incentivos para continuar jogando depois de terminar a trama. Isso se dá pela ausência de modificadores para partidas futuras, recurso muito comum em roguelikes que ajuda a trazer diversidade. A dificuldade também é problemática, pois as melhorias progressivamente abaixam o desafio — a única opção é escolher o nível “difícil” no começo da história. Por sorte, os desenvolvedores já confirmaram que uma atualização futura adicionará conteúdo post game, como desafios mais complicados.



Um passeio agradável

Little Noah: Scion of Paradise é um roguelite carismático e com ideias singulares. O combate envolve com sua ação ágil e com seu sistema que permite misturar ataques e feitiços para montar combos — parte da graça é explorar as várias possibilidades e combinações. Além disso, há muitas opções para desbloquear e a atmosfera colorida transborda carisma.

A simplicidade de alguns conceitos deixa claro que o foco é uma experiência mais casual, por mais que haja opções para jogadores que gostam de desafios mais intensos. Mesmo assim, alguns problemas atrapalham a longo prazo, como desenho de níveis básico demais e variedade limitada de conteúdo. A promessa é que esses pontos negativos sejam melhorados no futuro.

No mais, Little Noah: Scion of Paradise é uma experiência leve e divertida. Não é tão elaborado quanto outros roguelites, contudo executa muito bem o que se propõe a fazer.

Prós

  • Ação acelerada e com controles precisos;
  • Grande variedade de opções na hora de montar combos e ataques;
  • Ciclo de jogo ágil e com vários desbloqueáveis;
  • Visual colorido agradável.

Contras

  • Diversidade limitada de ataques e modificadores;
  • Desenho de níveis básico demais;
  • Ausência de incentivos para continuar jogando após vencer uma partida.
Little Noah: Scion of Paradise — PC/PS4/Switch — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Cygames

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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