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Análise: Neon White (PC/Switch) apresenta uma competição frenética no paraíso

Jogo de ação mistura parkour e FPS em uma experiência viciante de gameplay.

Neon White
é um jogo desenvolvido pela Angel Matrix e publicado pela Annapurna Interactive e foi lançado no dia 16 de junho de 2022 para PC e Switch. A ideia da obra é uma experiência de ação frenética em primeira pessoa, mas cujo formato de gameplay exige o domínio total dos recursos limitados à sua disposição como em um puzzle.

Um paraíso fajuto

Tudo começa com a chegada do seu personagem ao paraíso. Porém, você não está lá para desfrutar do descanso eterno e sim para exterminar os demônios que ameaçam dominar o local totalmente. Assumindo o papel de um Neon, um assassino a mando dos crentes, cabe a você competir contra os outros de sua classe para ver quem consegue cumprir melhor a missão e talvez aproveitar um pouco dos deleites divinos.

O jogador assume então o papel de Neon White e conhece um pouco alguns dos outros assassinos. Algumas das figuras em particular chamam a atenção do protagonista pois parece que ele as conhece de algum lugar apesar de ter perdido as suas memórias. Conforme passa um tempo no paraíso, ele terá a chance de interagir com os demais personagens e descobrir aos poucos o que aconteceu enquanto ainda estava vivo.

Sendo honesto, o ponto mais fraco de Neon White é a sua história. Em poucas palavras, é fácil associar o que é apresentado à sua narrativa ao termo “cringe” que se popularizou na internet. As camadas de ironia e as piadas sem graça apenas tornam as tentativas de caracterização e as explicações em um show de horrores que muitas vezes dá vontade de virar os olhos. A obra parece bastante uma fanfic do mangá e anime Bleach que troca os elementos orientais por um contexto judaico-cristão, mas ainda tenta usar ironia como se isso melhorasse a sua escrita apesar dos clichês evidentes.

Nesse sentido, também vale destacar a tradução em português cuja qualidade oscila bastante. Há alguns erros ocasionais e pequenos momentos em que a tradução acaba soando muito literal, mas há também alguns maneirismos como o estilo de fala do Neon Yellow que são escolhas bem adequadas.

O desafio de pensar e agir rapidamente

Apesar das minhas críticas à história, devo confessar que o gameplay é profundamente viciante. Trata-se de um jogo de ação dividido em múltiplas fases curtas em que o jogador tem como objetivo derrotar todos os demônios e alcançar o ponto final. Há algumas áreas que mudam essa lógica um pouco, mas elas são raras.

Porém, existem soluções ótimas para resolver as fases e os recursos que podem ser obtidos são bastante limitados, uma limitação que deixa o jogo com uma cara de “puzzle” mais do que de um jogo de ação. É muito comum que uma ação errada implique na necessidade de começar tudo novamente por se tornar impossível avançar até a área final. Essa restritividade na solução das áreas pode ser bastante incômoda para alguns jogadores, porém se torna um desafio viciante para outros.

A necessidade de dominar totalmente os recursos disponíveis faz com que o jogador tenha que avaliar bem o contexto e as opções que o jogo já introduziu até aquele momento. Neon White irá começar as áreas sem nada além de sua espada (inútil para lidar com muitas situações) e terá que obter cartas de alma para avançar. Essas cartas funcionam como armas novas com munição limitada, permitindo ao jogador destruir os inimigos à distância.

Além de atacar, essas cartas podem ser destacadas para liberar novas formas de movimentação. Por exemplo, a pistola amarela libera pulos extras, a arma vermelha permite se transformar em um meteoro que vai para qualquer direção e uma outra azul claro gera uma tirolesa para alcançar grandes altitudes. Saber utilizá-las bem é fundamental para avançar e o jogo faz questão de apresentar as habilidades pouco a pouco, aumentando gradativamente o desafio.

Outro aspecto que acaba fazendo o jogo remeter mais a um puzzle é o posicionamento dos inimigos e armadilhas das fases que são todos pensados de uma forma que o jogador associa a uma lógica ideal específica. Nas fases mais próximas do final, o jogo inclusive abusa disso criando situações em que o reflexo inicial do jogador leva a soluções incorretas. Um bom exemplo disso são os Mimics, cuja aparência é similar a tesouros, mas espalham uma chuva de balas ao serem derrotados.

Alcançando o topo

Um detalhe crucial da experiência das fases é que simplesmente terminar uma área não é o suficiente. Ao final, o jogador será avaliado com quatro possíveis medalhas: bronze, prata, ouro e ás. Para alcançar uma posição melhor, o jogador precisa ser o mais rápido possível. Essa mecânica e o tamanho pequeno das fases servem como incentivo interno para o formato de speedrun.

Em particular, a obra faz questão de exigir um certo esforço do jogador cobrando um determinado ranking para avançar a história. Para melhorar a sua pontuação, é necessário obter ouro nas áreas. Com isso, mesmo se o jogador quiser jogar de forma mais casual, ele ainda terá que ficar repetindo algumas áreas, especialmente no início.

Além das medalhas, obter boas pontuações é uma forma de liberar outras vantagens, como dicas de atalhos e a visualização do fantasma da jogada anterior para poder comparar a sua performance em tempo real. Ou seja, tudo é pensado para incentivar o jogador a repetir várias e várias vezes uma área até dominá-la para que ele possa competir com outros no leaderboard online.

Ao terminar qualquer fase, o jogador também passa a poder visualizar o presente escondido daquele lugar. Esses itens são formas de se tornar mais íntimo dos personagens que White parece já conhecer e tentar recuperar um pouco as suas memórias. As suas localizações não são nada triviais, então obter os presentes também é um interessante teste de habilidade.

Por fim, gostaria de destacar a trilha sonora da banda Machine Girl. Há uma excelente variedade de músicas que são bastante joviais e ajudam no tom frenético da experiência. Ao mesmo tempo, algumas delas conseguem refletir um tom de estranheza e caos adequado para os elementos mais sombrios do contexto do jogo.

Ação frenética do início ao fim

Neon White é um jogo que consegue tratar a agilidade e a ação como peças de um quebra-cabeças viciante. Apesar de poder ser um pouco inconveniente para quem só quer uma experiência mais casual, aprender a agir da melhor forma possível oferece uma grande sensação de recompensa ao jogador. Para quem gosta de gastar horas melhorando gradualmente o seu tempo em fases de plataforma, trata-se de um jogo altamente recomendado.

Prós

  • Ação frenética estilo parkour+FPS em que o jogador precisa aproveitar as cartas à sua disposição o máximo possível;
  • Desafios que exploram muito bem a espacialidade das fases e conseguem ser viciantes para jogadores mais hardcore em busca de speedruns;
  • Trilha sonora primariamente jovial e cheia de energia.

Contras

  • História boba que parece uma fanfic judaico-cristã de Bleach;
  • Recursos limitados e necessidade de derrotar todos os demônios reduzem as possibilidades de solução das fases consideravelmente;
  • Necessidade de alcançar rankings ouro para avançar a história dificulta a experiência para jogadores casuais.

Neon White — PC/Switch — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Heloísa D’Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela Annapurna Interactive


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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