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Análise: Card Shark (PC/Switch): trapacear faz parte do jogo

Um charmoso indie sobre enganações e trapaças nas cartas e nas altas rodas sociais.

Trapaças não são bem vistas no mundo dos jogos e isso inclui o universo dos videogames. Ainda que não seja exatamente louvável, é preciso admitir que o mundo da trapaça profissional é um universo fascinante. Card Shark é uma bela aventura indie que gira em torno do perigoso e sedutor universo das artimanhas, enganações e intrigas à mesa de jogo.

Um período iluminado

A aventura se passa na França do século XVIII, um período histórico de intensa agitação política, cultural e social, em que dogmas religiosos, políticos e morais começaram a ser questionados. 

O protagonista é um jovem pobre e mudo que serve bebidas em uma taverna. Maltratado pela sua patroa, sua vida não parece ter muita perspectiva até o dia em que ele serve vinho a um senhor distinto. Esse senhor revela ser o Conde de Saint-Germain, uma figura histórica real, conhecido por ser uma pessoa enigmática, fascinante e também um renomado trapaceiro. 


O conde oferece ao rapaz a oportunidade de ganhar um dinheiro extra e, com isso, ensina-lhe um truque simples que garante ao nobre a vitória no jogo contra um capitão da guarda. Infelizmente, a noite termina com a dona da taverna morta e o jovem acusado pelo seu assassinato. 

Para sua sorte, o Conde em pessoa decide tomar o jovem como seu protegido e lhe ensina uma série de técnicas que permitirão ganhar muito dinheiro. Ao longo de sua aventura, o protagonista encontrará figuras famosas da vida real e ficção, como o filósofo Voltaire e o ex-mosqueteiro Henri d'Aramitz.

Paralelamente à sua ascensão às mesas de jogo mais ricas, uma conspiração acontece nos bastidores, e suas habilidades poderão ajudar a mudar os rumos da França. Essa rota perigosa, porém fascinante, lhe dará acesso aos mais nobres salões da alta sociedade francesa… ou à morte na forca.

Não é um jogo de cartas

Ao contrário do que parece, Card Shark não é um jogo de cartas. A minha expectativa era de que seriam partidas em que poderíamos trapacear para obter vantagem nos resultados; o foco, porém, está unicamente na execução das trapaças, na forma de manobras e comandos que devem ser feitos de forma precisa dentro de um limite de tempo. Se os truques foram executados corretamente, a vitória é automática, sem a necessidade de que realmente joguemos uma partida de cartas contra os adversários.


Os truques são interessantes e espelham técnicas usadas por trapaceiros profissionais na vida real. Em termos de mecânica, tratam-se de minigames de destreza, que envolvem quick time events e comandos que devem ser utilizados na ordem correta. Alguns truques também exigem observação dissimulada e memorização de cartas.

Após aprender uma técnica nova, o jogador deve treiná-la algumas vezes, para, só então, engajar numa partida real em que apostamos dinheiro. Quanto maior a aposta, menor o tempo disponível para executar o truque antes que seu adversário o perceba. Esse sistema permite ao jogador controlar a relação de risco e recompensa.


São vinte e oito técnicas progressivamente mais complexas, cada qual com sua própria mecânica, o que torna o gameplay variado e divertido, sempre com novos truques para aprender ou combinar em variações engenhosas. 

O conceito é brilhante, mas tem algumas falhas de execução. As regras para fazer os comandos nem sempre são claras e um único movimento incorreto costuma arruinar toda a sequência, o que é um pouco frustrante. 

Salve-se quem puder

O problema mais sério de Card Shark está no sistema de salvamento do progresso na campanha. O jogo salva automaticamente seu progresso de tempos em tempos, sobrescrevendo o estado anterior, sem criar pontos de restauração mais antigos, além de não oferecer a possibilidade de criar saves manuais.

Portanto, pode acontecer de você ficar preso em um ponto em que um erro o colocou em uma situação difícil, como uma rodada em que não haverá tempo suficiente para executar os comandos necessários. Como o jogo é salvo automaticamente em um único slot, não há como voltar em um ponto mais antigo para desfazer essa situação, e a única saída será recomeçar toda a campanha do início.


No PC é possível efetuar comandos através de teclado e mouse ou através de controles. Eu achei muito melhor jogar com controle do que com teclado e mouse, e o próprio jogo recomenda essa configuração. A transição entre controle e teclado e mouse é instantânea e pode ser feita a qualquer momento, ao contrário do que acontece na versão para Switch, conforme relatado na análise do meu colega Ivanir.

Uma observação é que os controles na versão para PC são sensíveis demais. Qualquer micro movimentação na alavanca analógica ou no cursor do mouse é detectada como um comando por parte do jogo, o que pode causar jogadas erradas involuntárias. No momento em que escrevo essa análise não existe opção de regular a sensibilidade.


Durante uma jogada, meu polegar esquerdo esbarrou na alavanca direcional, selecionando uma carta errada em um momento crítico, causando a morte do meu personagem. Eu entendo que trapaceiros andam no fio da navalha, mas achei a punição demasiada para um único comando errado durante uma longa sequência de ações.

A versão para computador não apresentou os problemas de travamento relatadas no Switch, e o desempenho seguiu fluido durante toda a campanha.

Charme Barroco

Card Shark chama a atenção por sua bela estética, com artes criadas por Nicolai Troshinsky que referenciam o estilo gráfico da época. A trilha sonora em estilo barroco também ajuda muito a colocar o jogador no clima da Europa do século XVIII.

O enredo é bastante misterioso e envolvente, com uma narrativa muito bem contada. Por esse motivo, é muito positivo que esteja disponível uma localização em nosso idioma, possibilitando que brasileiros possam apreciar a trama.


Ás de Ouros

Card Shark é um jogo charmoso e interessante, com um enredo misterioso e muito bem narrado, entremeando fatos históricos com ficção. Os gráficos estilosos e a música bem trabalhada ajudam o jogador a entrar no clima da França do século XVIII e, apesar de alguns problemas técnicos, as mecânicas variadas ajudam a transmitir a sensação de perigo e fascinação da trapaça profissional e intrigas à mesa de jogo. 

Prós

  • Direção artística bela, com gráficos e música que ambientam o jogador no contexto;
  • Vinte e oito técnicas para aprender, com dificuldade progressiva;
  • Enredo intrigante, com fatos e personagens históricos reais;
  • Boa localização para o português brasileiro.

Contras

  • Não permite criar pontos de salvamento manualmente;
  • As regras para fazer os comandos nem sempre são claras.
Card Shark - Switch/PC - Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Devolver Digital


é engenheiro eletrônico e tem uma filha fofinha que tenta morder os controles do papai. Curte jogos de luta, corrida e ação.
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