Jogamos

Análise: Kao the Kangaroo (Multi) tenta apelar para um carisma que não tem e tropeça em coisas básicas

O mascote retorna do limbo dos jogos plataforma, tentando se manter em forma para acompanhar a atual geração.

Kao pode não estar nas mais doces lembranças dos gamers de antigamente, mas ele não é uma carinha tão nova assim. O canguru até teve títulos que atraíram relativa atenção nos anos 2000, mas, diferente de Crash, Spyro e outros mascotes tridimensionais, seu legado ficou mais próximo do ostracismo que da nostalgia.

Para comemorar seus 20 aninhos, a Tate Multimedia decidiu reviver na franquia e lançou um reboot de Kao the Kangaroo para todos os consoles atuais, tentando reviver o espírito divertido que a série mirava, com visuais coloridos e o bom e velho estilo plataforma 3D — sim, mais um.

“Kaozando” pela ilha

Não dá para esperar muito da história do jogo: após o sumiço do pai e da irmã, Kao sai em busca do paradeiro deles, contando com a ajuda do mestre Walter e das Luvas Eternas, um item mágico que já pertenceu ao seu pai. É algo bem simples e leve, que combina bem com o estilo de jogo.

No quesito plataforma, Kao the Kangaroo não decepciona, mas também não inova muito. Sua curva de dificuldade é bastante suave, de maneira que jogadores novatos conseguem finalizá-lo em algumas horas, com direito a coletar todos os segredos. Cada ambiente até aprimora o nível dos obstáculos, inserindo paredes de escaladas e sessões de plataforma mais extensas, mas nada assustador.

O ponto alto fica por conta da jogabilidade, que é simples e responsiva. Nosso marsupial pode correr, pular, planar e quicar com a cauda no chão, além de socar os adversários pelo caminho de maneira fluida e contínua. Quando aparece um grande grupo de inimigos, é bastante satisfatório arrebentar todos com porradas bem-dadas, e algumas sessões de pulos mais justos e precisos são bem satisfatórias.

Os ambientes também são chamativos e bem-estruturados, típicos do gênero. Não importa se estamos na Ilha Hopaloo, na Selva Faminta, nas Montanhas Geladas ou na Ilha da Eternidade: cada fase consegue impor sua personalidade de maneira agradável e natural.

As lutas contra os chefes também desempenham um bom papel. Por mais que elas incluam diversos clichês, como monstros gigantes, rebatida de projéteis e até desmantelar ilusões para encontrar o inimigo real, isso ajuda a dar uma variada na monotonia que seria a sequência "esquivar da investida, bater quando ele ficar tonto, repetir”.

Quanto aos colecionáveis, temos uma infinidade de itens com funções diferentes: as letras KAO espalhadas por cada fase — referência mais do que declarada a Donkey Kong — liberam novos trajes; os pergaminhos revelam informações sobre os personagens; e as Fontes Eternas servem como desafios extras. O único artefato que não tem finalidade específica são os diamantes azuis, que apesar de fazer parte da porcentagem de conclusão do jogo, não têm outra função de fato.

Por fim, a aventura possui legendas em português e, apesar de isso não ser nada extraordinário, devemos dar o devido mérito para o uso criativo e bastante oportuno do termo “Jabiraca”.

Em meio ao “kaos”

Bom, já falei das coisas boas de Kao the Kangaroo, mas infelizmente preciso listar também as ruins, que não são poucas. A câmera, por exemplo, consegue arruinar alguns momentos em que a concentração do jogador é exigida, como em setores ascendentes com plataformas dispostas de maneira mais espaçada ou que exigem a ativação de mecanismos. Não foram raros os momentos em que ela girou para um lado totalmente oposto ao que eu precisava e apareceu uma parede do nada.

Outro problema frequente é a pane sonora e visual que acontece a esmo em diversos momentos. A trilha sonora por si só já não possui um grande destaque, mas muitas e muitas vezes ela some do nada e se mantém escondida até o término da fase. Em outras ocasiões, como nas lutas contra os chefes, ela volta apenas após a conclusão, fugindo totalmente do clímax da batalha.

Isso não diz respeito só às músicas, mas também aos efeitos sonoros de pancadas e bombas, que ficam ausentes em momentos em que quebramos caixas ou derrubamos algum inimigo; no caso da bomba, que faz uso de um tic-tac, também acontece desse som aparecer sem ter nenhum bomba pelo caminho.

A dublagem também faz parte do destaque negativo. Além do forte sotaque australiano forçado do protagonista, ela “vaza” para fora das cutscenes em determinados momentos, o que influencia no atraso da música, que por sua vez volta a sumir depois de executada por alguns segundos.

A parte visual do problema está no sumiço das informações da tela de maneira aleatória. O hud com nossos corações, vidas, moedas e poderes desaparece e volta quando bem entende, após morrermos algumas vezes. Isso atrapalha principalmente em conjunto com os poderes, que têm limite de uso e são indicados pela cor das nossas luvas. Para agravar a situação, nem sempre que temos poderes a luva brilha, e o contrário também acontece, o que causa uma confusão ainda maior quando a tela fica “limpa”.

Por fim, Kao the Kangaroo tem situações de softlock. Para quem não está familiarizado, são momentos em que o jogo te prende em algum lugar, seja por bug ou qualquer outro motivo, e o jogador precisa reiniciar a fase ou voltar ao menu para aí sim prosseguir. Isso ocorreu comigo por três vezes, duas na mesma fase, As Cavernas de Lava, próximo do fim. Por mais que os locais sejam simples, a duração média deles é um pouco longa, o que desmotiva demais recomeçar o mesmo lugar só por causa desse problema.

A volta do que não foi

Kao the Kangaroo é o típico jogo que povoa a área cinza do “é ruim, mas é bom”. Ele tem características que chamam a atenção, ao mesmo tempo que tem problemas chatos e incômodos. Quem sabe com um patch de correção bem generoso ele se torne mais atrativo e consiga finalmente seu lugar ao sol em meio aos mascotes virtuais.

Prós

  • Fases divertidas;
  • Jogabilidade bem fácil de dominar;
  • Grande número de colecionáveis;
  • A palavra “Jabiraca” empregada de maneira adequada.

Contras

  • Diversos erros de performance na trilha e nos efeitos sonoros;
  • A dublagem não convence;
  • Situações de softlock nos obrigam a recomeçar as fases;
  • A câmera atrapalha o ritmo da jornada;
  • Elementos da tela somem do nada;
  • Confusão em alguns elementos visuais.
Kao the Kangaroo — PC/PS4/PS5/Switch/XBO/XSX — Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Davi Sousa
Análise feita com cópia digital cedida pela Tate Multimedia


é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no seu twitter @carlos_duskman
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google