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Impressões: Songs of Conquest (PC) é um envolvente e elaborado RPG tático

Lançado em Acesso Antecipado, este título indie surpreende com mecânicas sólidas e parte técnica bem produzida.


Songs of Conquest resgata conceitos clássicos de estratégia por turnos e os combina com gerenciamento e expansão de reino em uma experiência RPG singular. Além de inúmeras mecânicas elaboradas que remetem a outros exemplares do gênero, como Heroes of Might and Magic III, o título indie envolve com ótima parte técnica e ambientação construída com esmero. Lançado em Acesso Antecipado, o jogo impressiona com seu alto grau de polimento.

Desbravando e lutando em um universo fantástico

No mundo de fantasia de Songs of Conquest, quatro facções estão em constante conflito: os cavaleiros Arleon, a tribo de Rana, os necromantes Loth e os mercenários Barya. Tática, capacidade de adaptação, expansão constante dos territórios e desenvolvimento de novas tecnologias são algumas das ações utilizadas por cada grupo para tentar dominar a situação. Além disso, existem também os Portadores, comandantes que possuem a habilidade de extrair essência mágica de suas tropas para conjurar feitiços.


Em cada partida, controlamos um ou mais Portadores e precisamos desbravar mapas a fim de completar diferentes objetivos, como derrotar um grupo inimigo ou tomar o controle de alguma localidade. Cada área é dividida em uma grade de hexágonos e só podemos nos mover uma determinada quantidade de espaços por turno. Pelo caminho, encontramos equipamentos, recursos e tropas, e certas estruturas ativam efeitos diversos, como aumentar temporariamente o poder de ataque ou o número de movimentos.

Os combates contra grupos de inimigos acontecem em uma área reduzida e lembra um RPG tático por turnos de ritmo acelerado. Além de atacar e mover, precisamos ficar atentos ao terreno: ataques desferidos de locais altos são mais poderosos. Podemos dividir as tropas em diferentes batalhões, o que abre opções táticas — às vezes, é melhor ter mais unidades um pouco mais fracas em vez de um único conjunto poderoso.


Um detalhe importante é o sistema de magia, que é único e complexo. Por turno, cada unidade gera pontos de energia, que podem ser utilizados para conjurar feitiços diversos. A essência recebida é determinada pelo tipo da tropa: infantaria gera orbes de Ordem, criaturas sombrias provêm energia do Caos, guerreiros habilidosos emanam Destruição. A gama de encantamentos é vasta e as magias avançadas exigem combinações de essências diferentes. Sendo assim, é importante levar esses detalhes em conta na hora de montar um grupo para maximizar as possibilidades de uso de magia.

Fora isso, há um elemento de construção de reino em Songs of Conquest. Em muitos dos mapas, podemos desenvolver uma pequena cidade com construções de efeitos diversos. Fazendas, por exemplo, geram ouro e recursos a cada turno; já um acampamento militar disponibiliza novas tropas. É possível potencializar os efeitos das edificações ao expandi-las ao custo de recursos. Há também construções que liberam melhorias avançadas, porém elas exigem a existência prévia de outros tipos de edifícios. Como o espaço é limitado, precisamos pensar com cuidado como desenvolver o reino.



Estratégia repleta de nuances

Fiquei impressionado com o equilíbrio entre simplicidade e complexidade de Songs of Conquest. Os turnos em si são ágeis e intuitivos, bastando poucos cliques para avançar pelo mapa e gerir o império. Mas por trás disso, há regras elaboradas que tornam as jornadas bastante envolventes. O resultado é um jogo que, em um primeiro momento, parece ser bem tranquilo, porém é essencial entender as nuances para poder sobreviver.

Um exemplo dessa abordagem está nos combates. Nos primeiros mapas, basta utilizar as tropas sem pensar muito para dizimar os inimigos, no entanto, rapidamente isso muda: além de grupos mais diversos, os oponentes também passam a ter acesso aos feitiços. Com isso, fui forçado a pensar com cuidado no que fazer, às vezes dividindo as minhas tropas em diferentes unidades para receber mais mana para desferir as magias. Gostei de testar as possibilidades dos combates, por mais que tenha sofrido bastante no processo.


Um ponto que não apreciei tanto foi a exploração. Cada mapa tem inúmeros pontos de interesse, porém boa parte deles não é muito relevante — uma fazenda que dá madeira, uma mina que provê ouro, uma placa capaz de aumentar o alcance do movimento por um turno. Além disso, as áreas são atulhadas deles, o que torna essas interações um pouco banais. Por fim, a movimentação é um tanto custosa, sendo necessário gastar inúmeros turnos para alcançar locais distantes. Mesmo assim, desbravar as regiões raramente é enfadonho.

Já a parte de administração de reino apresenta os elementos clássicos, como expansão de construções e estruturas para melhorar unidades. Em um primeiro momento, não há muito o que pensar, bastando construir um quartel para gerar novos soldados. Porém, com o avançar das partidas, é importante adaptar o desenvolvimento para as necessidades — em um mapa, por exemplo, precisei alterar o foco das minhas pesquisas para conseguir unidades capazes de aguentar os feitiços ofensivos de um Portador inimigo.


Para deixar as coisas mais interessantes, aparecem outros Portadores em certos estágios. Além de serem oponentes formidáveis, eles  desbravam o mapa coletando recursos, atacando nosso reino e nos perseguindo para iniciar combates. Com isso, as partidas assumem uma dinâmica mais estratégica, afinal precisamos pensar com cuidado os próximos passos para não deixar o inimigo ganhar muita vantagem.

Deslumbres e adversidades em um belo mundo em pixel art

O lançamento em Acesso Antecipado de Songs of Conquest impressiona com o alto grau de polimento que já lembra uma versão final. O jogo conta com duas campanhas com histórias elaboradas, e uma terceira é prometida para o futuro. Há um modo multiplayer online para até quatro jogadores simultâneos com uma comunidade bastante ativa. Por fim, é possível construir mapas em um editor intuitivo. A quantidade de conteúdo é notável, e a desenvolvedora promete disponibilizar um construtor de campanhas no futuro, o que expandirá ainda mais as opções do jogo.

Tecnicamente, o jogo é extremamente competente com seu belíssimo visual em pixel art. Os mapas, em especial, são deslumbrantes com seus inúmeros elementos e efeitos de luz, além dos diferentes biomas. Já a câmera mais aproximada dos combates traz dinamismo à ação — a estilosa e dramática animação que aparece ao derrotar o último inimigo do combate é um dos destaques. Surpreendentemente, o título já está localizado para o português em uma boa adaptação, por mais que um ou outro termo ainda não esteja traduzido.


Mas, como é de praxe, ainda há muito o que melhorar, afinal o jogo foi lançado em Acesso Antecipado. Para começar, acredito que certos conceitos precisam ser melhor explicados ou até mesmo simplificados. O sistema de magia, por exemplo, é bem criativo, mas, na prática, é um pouco confuso e obtuso. Outro ponto que acredito que merece uma revisão é a parte de informações das tropas em combate: a vida, a previsão de dano e outros detalhes são difíceis de entender, o que atrapalha as decisões estratégicas. Alguns menus também precisam passar por alterações por serem pouco intuitivos.

Também torço para que o ritmo da campanha seja melhor trabalhado, com menos mapas que exigem inúmeros turnos para se locomover de um lugar para outro. Por fim, naturalmente, há necessidade de balanceamento da dificuldade — no meu tempo com o jogo, foram várias as vezes em que o desafio apresentou picos desagradáveis. Esses problemas possivelmente serão revisados durante o período de Acesso Antecipado.



Uma mistura de gêneros que já é notável

Songs of Conquest combina RPG, estratégia e administração de reinos em uma experiência envolvente. O jogo sabe balancear ritmo ágil com mecânicas repletas de nuances, o que resulta em partidas densas e surpreendentes. Mesmo estando em Acesso Antecipado, o título impressiona com polimento impecável, visual charmoso e vasta quantidade de conteúdo, incluindo até mesmo um multiplayer online bem robusto.

Naturalmente, ainda há arestas a serem aparadas, como detalhes na interface, balanceamento da dificuldade e alguns conceitos que carecem de clareza. Contudo, essas questões problemáticas podem ser facilmente resolvidas no decorrer do desenvolvimento. No mais, Songs of Conquest já é excelente e tem um futuro promissor pela frente.

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Texto de impressões produzido com cópia digital cedida pela Coffee Stain Publishing


é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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