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Impressões: The Iron Oath (PC) é um promissor RPG tático em um elaborado mundo de fantasia

Este título indie tem boas ideias, mas precisa de refinamento para alcançar seu real potencial.


Em The Iron Oath, administramos uma guilda de mercenários em uma jornada por um reino repleto de perigos e complicações. O jogo mistura administração de recursos, exploração de calabouços e combate por turnos para criar uma experiência tática elaborada. Lançado em Acesso Antecipado, o título impressiona com sua ambientação e suas mecânicas, porém muitas de suas ideias precisam de maior desenvolvimento para que ele possa se destacar no gênero.

Sobrevivendo em uma terra tomada por perigos

No passado, o reino de Caelum contava com o apoio direto de deuses, mas depois de um evento misterioso eles desapareceram completamente. Depois disso, a região passou a ser assolada por monstros, que espalham o terror por onde passam. Para piorar, uma vez por década surge um dragão negro que destrói regiões e espalha uma doença que corrompe os humanos.

É um cenário desolador, mas com o qual a humanidade aprendeu a lidar. Grupos de guerreiros estão espalhados por todo o reino e ajudam a manter longe monstros e outros perigos, desde que sejam pagos para isso. Nesse contexto, comandamos uma guilda de mercenários que precisa se reerguer após ter sido vítima de uma traição que a deixou à beira da falência.


Para sobreviver no mundo de The Iron Oath, precisamos administrar com cuidado a nossa companhia. Há muito o que fazer: contratar novos guerreiros, comprar e melhorar equipamentos, assinar contratos em busca de lucros, e mais. É raro um mercenário não voltar machucado e cansado de uma missão, o que exige hospedá-lo em hospitais ou casas de repouso para que se recupere. Praticamente tudo custa altas somas de dinheiro, o que nos força a pensar com cuidado como gastar os recursos.

Em boa parte das missões, somos desafiados a explorar calabouços em uma experiência mais próxima de um RPG tradicional. Nesses momentos, até quatro heróis desbravam as masmorras, que contam com várias rotas, eventos aleatórios e combates. A tensão é constante, pois não sabemos que tipo de atividade os espaços escondem, os itens de recuperação são escassos e efeitos negativos diversos surgem caso demoremos demais. Sendo assim, o ideal é ser rápido para evitar problemas.

As batalhas são por turnos e acontecem em áreas divididas em hexágonos. Os heróis têm dois tipos de ataques: os básicos, que têm uso livre, e os especiais, que só podem ser ativados algumas vezes por missão. O posicionamento é importante, pois cada técnica tem alcance diferente. Além disso, é possível cercar inimigos para aumentar a taxa de acerto crítico e também empurrar unidades para armadilhas espalhadas pelos cenários — é necessário atenção, pois os oponentes também são capazes de executar essas estratégias.

Administração e incursões em um mundo em constante mudança

De longe, a ambientação é o maior destaque de The Iron Oath. Além do belo visual em pixel art, o jogo aposta em um reino elaborado, com vários elementos que afetam a progressão da jornada. Inúmeras facções exercem sua influência pela terra de Caelum, e as missões disponíveis dependem da nossa relação com elas — completar favores e tarefas aumenta o nível de confiança; só tome cuidado para não irritar casas rivais. O mundo é dinâmico, mudando drasticamente com o passar dos anos: cidades desaparecem ou crescem; catástrofes naturais mudam a topografia; facções entram em guerra, mudando completamente a política.


O ciclo de jogo, que alterna entre a administração da guilda e a exploração de calabouços, funciona de maneira satisfatória. Passamos a maior parte do tempo nas missões que até são interessantes, mas logo se revelam básicas demais. Há um tom constante de tensão durante as incursões, pois os recursos são escassos e boa parte dos eventos pode resultar em punições. Com isso, deslizes podem ser fatais e resultar em falha.

No entanto, as masmorras são um pouco sem graça, pois a quantidade de atividades é bem reduzida e sua duração é longa demais, o que resulta em um ritmo arrastado. Além disso, a mecânica de introduzir novos efeitos negativos conforme o tempo passa desestimula investigar minuciosamente os locais, ainda mais com recompensas desinteressantes, como simples poções ou equipamentos fracos. Torço para que esses aspectos sejam melhor desenvolvidos, pois a base já é sólida.



Em combates brutais até demais

O combate por turnos de The Iron Oath empolga com sua combinação de estratégia, posicionamento e gerenciamento de personagens. No lançamento em Acesso Antecipado, The Iron Oath conta com seis classes que já oferecem muitas opções táticas. O Pyrolancer é um guerreiro capaz de controlar o fogo, o que o permite atingir vários inimigos simultaneamente ou criar armadilhas flamejantes. Os Guardians oferecem suporte com feitiços de cura e defesa. Já os Stormcallers são feiticeiros versáteis, porém lentos e frágeis.

Com os movimentos e as habilidades das classes, é possível montar algumas táticas interessantes. Em uma luta, criei uma armadilha de chamas e depois usei o chute de um guerreiro para empurrar o inimigo até ela. Já em outra batalha, bloqueei o movimento de um monstro para que um mago tivesse tempo de conjurar uma magia poderosa. Em outra situação, cerquei um inimigo para que um aliado conseguisse acertar uma habilidade cuja taxa de acerto era menor. Os cenários também oferecem elementos e armadilhas que expandem as possibilidades, assim como árvores de habilidades para os heróis.


Porém, com o tempo, as limitações ficam aparentes. Para começar, as classes têm habilidades parecidas demais entre si, o que tira um pouco da identidade delas. A mesma coisa acontece com os inimigos, deixando as batalhas de uma mesma área um pouco repetitivas. Por fim, alguns sistemas não funcionam muito bem, como o de escolher atributos ao subir de nível (o melhor é sempre escolher as duas características especiais da classe) e o de equipamentos (eles são caros, têm durabilidade limitada e seus atributos pouco fazem diferença).

A dificuldade também é um pouco punitiva demais. É comum heróis errando ataques com 90% de taxa de precisão, enquanto os inimigos sempre acertam tudo. Há uma mecânica de feridas que debilitam diferentes características dos personagens, porém isso é completamente desbalanceado: as fraturas são recebidas muito facilmente e são custosas de curar.


Todos esses detalhes são justificáveis, afinal essa é uma versão inicial. Enquanto os conceitos funcionam, acredito que necessitam de muitos ajustes, alguns até mesmo profundos, para que os combates e a administração de personagens fiquem de fato interessantes. Felizmente isso deve mudar no decorrer do tempo, pois os desenvolvedores já prometeram mudanças significativas nas próximas semanas.

Uma base boa, mas que ainda precisa de muitos ajustes

The Iron Oath usa conceitos consagrados para criar um bom RPG tático. O combate nos desafia a criar estratégias com seus elementos de posicionamento de unidades, classes com diferentes características e sinergias entre habilidades. Já a administração da guilda de mercenários e a exploração de calabouços parecem simples em um primeiro momento, mas há nuances importantes a serem dominadas. Fora isso, o mundo encanta com ótimo visual em pixel art e ambientação de fantasia medieval.

Os conceitos do jogo são sólidos, no entanto ainda há muito a ser melhorado. As masmorras têm ritmo arrastado, o combate precisa de maior diversidade, mecânicas envolvendo as classes e elementos da dificuldade necessitam ser revisitados e retrabalhados. No mais, The Iron Oath já se mostra promissor e tem os elementos necessários para se tornar ainda melhor com o passar do tempo.

Revisão: Ives Boitano
Texto de impressões produzido com cópia digital cedida pela Humble Games

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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