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Análise: Slipstream (Multi) é a experiência arcade que a gente não sabia que sentia falta até jogar

Reviva os bons tempos da virada da década de 80 para 90 com um delicioso título de corrida que traz tudo de melhor da época.

O tanto de jogos de corrida sofisticados que existem hoje nos mostra o quanto a indústria evoluiu. Categorias esportivas, como Fórmula 1 e Nascar, têm reproduzidas o máximo da sua experiência da vida real, e os modelos esportivos de carros de rua também não ficam de fora. Até podemos pilotar carros envenenados em pistas de ruas cheias de detalhes e exuberância, só que às vezes a diversão pode estar em algo mais despretensioso.

Evocando a aura de clássicos absolutos dos arcades de corrida, como Out Run e Top Gear, Slipstream vem para mostrar que menos é mais com uma receita simples, mas bastante satisfatória, produzida pelo estúdio brasileiro Ansdor. Ele já havia sido lançado para PC em 2018, mas agora chega para PlayStation 4, Xbox One e Switch com diversas melhorias e correções.

Derrapando na correnteza

A jogabilidade de Slipstream é bem clássica: escolhemos um dos cinco carangos disponíveis, cada um com seus atributos, e entramos em uma disputa para chegar em primeiro lugar. O diferencial é que, para ganhar um boost extra de velocidade, temos que fazer uso do vácuo deixado pelos nossos adversários. Além disso, a derrapagem nas curvas é essencial para não sermos ultrapassados.

Começamos as corridas sempre nas últimas posições e devemos ultrapassar todo o pelotão da frente em até quatro voltas. Para que essa tarefa se torne mais fácil, temos que fazer uso dessa vantagem do vácuo, nos colocando sempre atrás do carro que está à nossa frente. Assim que possível, fazemos a ultrapassagem e buscamos nossa próxima vítima.

Mas o que acontece quando estamos em primeiro lugar? É aí que entra outro elemento-chave, para o bem ou para o mal: o tráfego! Sim, a pista não possui só corredores, mas também algumas pessoas desavisadas que saíram de casa sem ter noção de que entrariam no meio de uma corrida intensa.

Apesar dos carros de passeio não terem o mesmo comportamento dos veículos que são seus adversários, também é possível se aproveitar do vácuo deles para aumentar a vantagem para o segundo lugar quando se está na ponta. Entretanto, eles também podem ser um empecilho bastante irritante, principalmente nas curvas, já que eles realizam as tangentes de maneira lenta, o que rende diversas batidas e perdas de posição quando estamos no meio de um drift. Pelo menos os não competidores possuem máquinas bem diferentes de quem está na disputa, o que ajuda a evitar confusões, em partes.

Um ponto contra está no modo como a percepção do jogador é afetada pelo radar. Em vez de termos um mapa que exibe toda a nuance do trajeto, só está disponível um radar de aproximação. Ele mostra a quantos metros estão os carros nas posições anterior e posterior à nossa. Se os números estiverem verdes, significa que nossa vantagem está aumentando; se estiverem em rosa, é porque estamos sendo alcançados ou deixados para trás. Nosso bólido é sinalizado por um pontinho rosa, e os verdes são quaisquer outros elementos, tanto corredores quanto quem está passeando, o que pode gerar um certo caos.

Não poder visualizar o trajeto como um todo, ou pelo menos um trecho, também dá um pouco de trabalho para quem está pegando o jeito com o drift. Para realizá-lo, temos que entrar na curva, dar um toque no freio e imediatamente retomar a aceleração para que o carro comece a deslizar. Assimilar isso com uma curva que pode aparecer de repente resulta em algumas batidas desastrosas (e até divertidas), e leva um certo tempo para se acostumar tanto com essa mecânica quanto com o caminho de cada circuito.

Essa questão não é duradoura, já que as pistas são curtas, com voltas que duram em média um minuto, e ainda é possível ativar o drift automático, apenas mexendo o analógico sem frear. Porém, essa alteração tem o custo de uma pequena perda de velocidade ao entrar nas curvas, então vai do jogador decidir se vale a pena fazer a troca.

A dificuldade geral das partidas pode ser definida com base no comportamento dos carros adversários (se eles poderão atingir sua velocidade máxima ou não) e na intensidade do tráfego (leve, média, ou pesada). Pode parecer pouca coisa, mas combinar diferentes níveis de interferência com a possibilidade dos seus oponentes poderem chegar no limite do velocímetro cria um desafio caprichado e complexo, que vai render boas horas de diversão. 

Nostalgia revitalizada

Se tem um ponto em que Slipstream é praticamente impecável, é na sua apresentação. Ao mesmo tempo que ele evoca os grandes clássicos dos 16-bits, seu visual é composto por modelos muito bonitos, tanto para os carros quanto para as fases. Os 20 cenários são bastante diferentes, mesmo que alguns deles utilizem palmeiras ou prédios iguais. O fato é que cada ambiente foi desenhado para ser único ao ponto de você lembrar deles só de ler o nome da pista.

A parte sonora também não fica atrás e traz composições que misturam a vibe retrô com a qualidade das mixagens atuais. Mesmo em provas longas, as músicas ficam na sua cabeça e parece que se fundem perfeitamente com o ato de dirigirmos em uma praia, uma geleira, no meio das luzes noturnas da cidade, em um cemitério ou na Lua (sem exageros).

Os modos de jogo também fazem um uso perspicaz dessa escolha de design. Além das Copas, que são basicamente um grupo de cinco corridas, cada uma com quatro voltas e ganhando quem fizer mais pontos, temos a possibilidade de emendar um circuito no outro, o que faz o ambiente mudar como se estivéssemos em uma grande viagem.

Um detalhe dessas copas, quatro ao todo reunidas no modo reunidas no modo Grand Prix, é que podemos escolher se iremos customizar o carro ou correr com as versões básicas, sem alterações. É um toque legal, mas a diferença real na pilotagem dos carros é pouca. A única sensação que temos é a de ficarmos insuperáveis quando investimos uma grana pesada em velocidade e direção, e isso pode acabar diminuindo um pouco o desafio para alguns jogadores mais experientes.

O Grand Tour te leva para uma disputa contra cinco rivais. Ao final de cada trecho, devemos escolher se tomaremos o caminho da direita ou da esquerda, sempre superando o nosso desafiante. Como as pistas estão dispostas em um esquema de pirâmide, existem 16 possibilidades distintas. Por um lado, é algo bastante criativo; por outro, pode se tornar um pouco cansativo tentar fazer todos sem se confundir ou repetir alguma rota feita anteriormente. 

Vale citar que os rivais que aparecem no Grand Tour são muito mais astutos que os demais corredores das corridas regulares, mas também cometem erros e capotam. Portanto, o jogador precisa estar sempre atento para levar vantagem em cada momento, pois a vitória pode escapar ou vir em um piscar de olhos.

O Cannonball segue a mesma pegada, mas o jogador escolhe quantas etapas serão jogadas. Se quiser, é possível incluir todas as pistas, o que cria a experiência única de ver a passagem de tempo por cada ambiente de uma maneira que não fica tão arrastada, como pode acontecer no Grand Tour. Nesse modo também é necessário superar rivais a cada troca de circuito.

O último modo é o Battle Royale, que traz uma dificuldade um pouco mais elevada. Os rivais estão de volta e largam na nossa frente com uma ampla vantagem. Sempre que a transição para um novo local é feita, o último colocado é eliminado. É o bom e velho Eliminator, mas com o charme da troca de locais, realizada de maneira aleatória. O número de etapas pode variar entre 4 e 16.

Por fim, um detalhe bastante pontual e que sempre fez falta para quem quer saber o seu progresso é a inclusão de um placar na tela inicial. Ele mostra quantos caminhos fizemos no Grand Tour, quantos rivais foram derrotados, quais Copas ganhamos, quantos carros usamos, entre outras informações. Ele pode não incluir todos os dados, como quais foram os rivais superados ou rotas encontradas, mas ainda assim é ótimo ter uma ideia do seu progresso no jogo de maneira visual.

Brilhante como um diamante

Slipstream usou da mistura bem equilibrada entre jogabilidade dinâmica e estilo “retrô HD” para criar uma experiência bastante competente. É um deleite escolher um carro e simplesmente acelerar pelas pistas, como se estivéssemos em uma grande viagem, escutando nossa fita cassete favorita, com algum biruta nos chamando para a corrida e dando o que ele merece. Se você gosta de um bom arcade, irá se sentir em casa com este título.

Prós

  • Visual muito bonito, com excelentes modelos;
  • Ótima trilha sonora;
  • A jogabilidade é a alma da diversão e funciona muito bem;
  • Diversos modos de jogo;
  • A transição entre as pistas é um show à parte.

Contras

  • De início, um mapa das pistas faz falta;
  • Descobrir todos os caminhos do modo Grand Tour pode ser um pouco cansativo;
  • Em alguns momentos, o tráfego é bem irritante;
  • A diferença de pilotagem entre os carros praticamente inexiste.
Slipstream — PC/PS4/Switch/XBO — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Davi Sousa
Análise feita com cópia digital cedida pela Blitworks

é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no seu twitter @carlos_duskman
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