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Análise: Road 96 (Multi) é uma sucessão de viagens únicas rumo a uma aventura divertida e emocionante

Prepare-se para botar o pé na estrada, conhecer personagens interessantes e quem sabe mudar o destino de um país.


Quem nunca assistiu a um filme ou jogou algum videogame e pensou em tomar diferentes escolhas para avançar na história? Em Road 96, temos uma aventura inteiramente dedicada a essa premissa: viajando por uma longa estrada, o jogador precisa conhecer pessoas e tomar decisões para tentar chegar ao seu destino. Curioso? Então pegue algum dinheiro e não se esqueça do lanche, pois a análise vai começar!

Viajando estrada afora

O jogo se passa em um país fictício chamado Petria. Vítima de um governo autoritário e opressor, a nação está passando por diversos conflitos e situações críticas. Uma delas é a emigração de jovens, que tentam cruzar a fronteira, por meio da rodovia (road) 96, em busca de liberdade e uma vida melhor. As razões por trás dessa atmosfera, sem maiores spoilers, são reveladas conforme avançamos na história.
Um mapa repleto de lugares e pessoas incríveis para descobrir e interagir
Aliás, tentarei seguir essa política durante toda a análise. Sendo um jogo majoritariamente narrativo, qualquer spoiler pode prejudicar bastante a experiência. Continuando, a campanha acompanha um jovem por vez, sendo que o objetivo é levá-lo de um ponto inicial até cruzar a fronteira em segurança. A história se passa no ano de 1996 — ou seja, nada de smartphones com Google Maps e cia — e em plena época eleitoral.
O jogo reserva algumas paisagens bem interessantes
Para cumprir a jornada, o jogador encontra todo tipo de situações e pessoas diferentes. Sete delas (que falarei mais adiante) serão recorrentes e terão papel de destaque na forma como a história progride. Para avançar, respostas em diálogos e decisões práticas ditarão os caminhos do enredo. Mais do que o destino dos jovens, as escolhas podem mudar até mesmo os rumos de Petria e sua população.
Pontuais, mas muito divertidos, os minigames são uma bela atração
Com exceção dos divertidos minigames, como Lig 4 e Air Hockey, o game se desenvolve no estilo apontar e clicar. Ou seja, temos um cursor que deve ser movido pela tela para que possamos interagir com elementos ou conversar com outras pessoas. Algumas situações têm limites de tempo, mas em geral podemos decidir com calma a melhor forma de agir.

A gente já chegou?

Além de diálogos e interações, a outra mecânica básica de Road 96 é o gerenciamento de recursos. Centrado principalmente em energia e dinheiro, ele limita as ações do jogador e exige atenção nas possíveis decisões. Por exemplo, pedir carona cansa menos do que sair andando pela estrada. Já chamar um táxi é mais caro que pegar um ônibus. E assim por diante.
Perguntas e respostas diferentes geram reações distintas das pessoas
Cada jovem tem sua jornada dividida em episódios, que são gerados de forma randômica. Portanto, quando a aventura começa, somos colocados em algum lugar do mapa com certa quantidade de energia e dinheiro. A partir daí, as nossas escolhas dentro de cada situação do episódio definem o desfecho dela e como serão as próximas etapas a serem encaradas (inclusive para os próximos jovens em fuga).
 
Tanto as mecânicas de decisão quanto as de gerenciamento de recursos são ótimas. Sempre me senti no comando sobre como prosseguir e com liberdade para agir da forma que julgava melhor (exceto uma vez que comecei com tão pouca energia que desfaleci e fui preso logo após o primeiro episódio). Lutar para chegar à fronteira e conseguir atravessar com certeza foi uma conquista.
Escolher o seu próximo personagem é um momento importante
Depois de terminar a história do primeiro jovem, fugindo com sucesso ou não, três opções surgem para começarmos uma nova aventura. Várias das decisões que tomamos anteriormente, seja através de diálogos ou de interações com locais, voltarão de alguma forma, seja positiva ou negativamente. O destino de Petria, inclusive, é justamente resultado da maneira com que agimos ao longo de todas as jornadas.

O destino de um país...

Alguns diálogos e ações tomadas têm marcadores que deixam claras as intenções das opções, como revolução, indiferença ou mobilização. Enquanto a primeira irá incentivar ações mais radicais ao longo da campanha, a última dará suporte para a ascensão de um novo governo através de eleições. A segunda foca tão somente na fuga, de certa forma como se o jovem tivesse interesse somente em deixar o país e seus problemas.
Algumas escolhas dependem unicamente da sorte
Não espere uma discussão política pesada sobre autoritarismo, importância do voto ou validade de protestos. Embora Road 96 traga esses assuntos, todos eles são abordados de forma mais leve em uma pegada relativamente “preto no branco”. Alguém certamente verá essa “leveza” como “falta de profundidade” ou mesmo “de coragem” em tratar de assuntos sérios. Particularmente, creio que o equilíbrio foi adequado para um videogame, cujo propósito maior é divertir.
Pichar os candidatos é um exemplo de como interferir no futuro político
Pichar cartazes de um candidato à presidência e fazer doações pelo telefone são alguns exemplos de como agir politicamente, além de interagir com grupos terroristas (dependendo do ponto de vista) ou mesmo com policiais. De maneira geral, é possível se divertir bastante e, ao mesmo tempo, pensar um pouco sobre como Petria e sua população têm problemas parecidos com o que encontramos na vida real.

... mas também o destino de seu povo

Apesar de esse componente político ser importante na história geral, o maior destaque de Road 96 são as interações mais pessoais. Em particular, os sete personagens principais do game (além do jogador, que assume o papel de vários jovens ao longo da campanha) são excelentes e proporcionam momentos memoráveis, por vezes até emocionantes.
Zoe é uma das engrenagens fundamentais de Road 96
Prepare-se para rir com os ladrões Stan e Mitch, ficar com medo do misterioso Jarod e se surpreender com a falante Sonya. John, Fanny e Alex também são ótimos personagens, assim como a protagonista Zoe. Ela é a mais crítica para a história e que pode afetar mais decisivamente o(s) destino(s) do jogador e de Petria; claro que sempre de acordo com as nossas próprias escolhas e ações ao longo da campanha.
 
Todos os personagens têm algum tipo de relação entre si, algumas delas bastante originais e com boa dose de surpresa. As dublagens (em inglês) são ótimas e trazem vida a cada conversa e acontecimento pelos caminhos de Road 96. Ver a evolução da trama de cada um deles é muito legal, independentemente das nossas escolhas, assim como interagir com eles de forma “inédita” a cada jovem diferente.
Nada como dormir sobre as estrelas (e economizar uns pilas)
Por fim, é importante falar do único elemento adquirido que é mantido quando assumimos o papel de outro viajante: existem seis habilidades que podem ser obtidas, incluindo a capacidade de arrombar fechaduras e acessar opções de diálogo secretas. Para ter acesso a elas, é preciso cumprir algumas tarefas específicas ao longo do game, como vencer disputas e tomar decisões espertas.

Uma boa produção com ótimas idéias

Um mostrador no menu principal nos dá uma ideia de quão distantes estamos do final da história, quantos jovens já ajudamos (ou tentamos ajudar) a chegar à fronteira e seus resultados. Concluída a campanha, Road 96 apresenta um modo Novo Jogo+. Por meio dele, podemos recomeçar o game explorando situações inéditas e tomando novas decisões, mas mantendo as habilidades obtidas anteriormente.
Embora bonito e importante, esse é um dos cenários mais repetitivos do jogo
Embora interessante, na prática somente quem gostou muito do game (como eu) irá aproveitar essa oportunidade. Nesse caso, será possível conhecer mais sobre personagens menos explorados, tentar outras abordagens ao agir com o novo grupo de jovens ou mesmo coletar fitas cassetes colecionáveis. O fato é que o impacto final da primeira jornada completa torna as jogatinas subsequentes menos instigantes.

Assim como a dublagem, a trilha sonora é de primeira. Mesmo não sendo muito numerosas, cada música é bem utilizada para entregar ótimas experiências. Os visuais, por outro lado, não estão no mesmo nível. Enquanto o estilo gráfico é agradável, remetendo a uma história em quadrinhos tridimensional, animações e algumas texturas ficaram devendo. Além de ser um indie, a presença em múltiplas plataformas certamente contribuiu para essa produção mais modesta.Felizmente, o design geral, incluindo cenários — como desertos, florestas e acampamentos —, foi bem pensado e conta com charme próprio, compensando problemas como animações por vezes bastante robóticas. O real problema (que pode ser visto mais como um desperdício) é a falta de conteúdo. Ter acesso aos minigames ou então uma linha do tempo completa para jogar momentos específicos teriam sido adições valiosas para aumentar a vida útil do game.

Pronto para uma grande viagem?

Não deixe os visuais um tanto simplistas te enganarem: Road 96 é uma bela aventura repleta de surpresas. A premissa inicial de levar jovens para fora de um país em plena ebulição se torna uma narrativa repleta de personagens interessantes e, quem sabe, uma mudança profunda no governo e sua população. Após muitas escolhas e diálogos, observar os resultados da jornada completa é uma satisfação única. Se você curte jogos com uma boa história, este é um item obrigatório para a sua biblioteca.
Prepare-se para viver uma verdadeira odisseia até a Rodovia 96

Prós

  • Jogo mistura aventura narrativa com apontar e clicar de forma única e divertida;
  • Enredo muito bem planejado e executado, sempre oferecendo opções interessantes ao jogador;
  • Bom equilíbrio ao tratar de assuntos polêmicos, bem-humorados e complexos;
  • Trilha sonora e dublagem de boa qualidade;
  • Minigames espalhados pela campanha são bem divertidos.

Contras

  • Visuais por vezes são simples demais, sobretudo texturas e animações;
  • Pouco incentivo para continuar jogando após terminar a história pela primeira vez.
Road 96 — PC/PS5/XSX/PS4/XBO/Switch — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia cedida pela DigixArt

é produtor de conteúdo sobre games desde 2016 e um grande fã da décima arte, embora não tenha muito tempo disponível para ela. Seus games favoritos (que formam uma longa lista) incluem: KH, Borderlands, Guitar Hero, Zelda, Crash, FIFA, CoD, Pokémon, MvC, Yu-Gi-Oh, Resident Evil, Bayonetta, Persona, Burnout e Ratchet & Clank.
Também encontra-se no Twitter @MatheusSO02 e no OpenCritic.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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