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Análise: Doukyuusei: Bangin’ Summer (PC) é a primeira vez de um clássico dos dating sims no Ocidente

Remake do título de 1992 da Elf foi lançado hoje pela Shiravune.

Doukyuusei: Banging’ Summer
é um remake do título clássico da Elf que é conhecido como o grande pioneiro do gênero dating sim, definindo o formato do gênero. Enquanto o título original foi lançado no Japão em 1992 e vários relançamentos foram feitos ao longo dos anos, trata-se da primeira vez que o jogo chega ao Ocidente.

As últimas férias de verão

Doukyuusei conta a história de um jovem rapaz que está no último ano do ensino médio. Após juntar um pouco de dinheiro com vários trabalhos de meio período, ele decide usar suas últimas férias de verão para sair por aí pegando garotas. Conhecido na região por ser bastante mulherengo, essa será a sua última oportunidade de conseguir uma namorada antes da formatura.

Basicamente, o jogo funciona como um simulador em que o seu personagem precisa sair pela cidade encontrando garotas e interagindo com elas o máximo possível. Caso o jogador queira se relacionar com uma delas, será necessário fazer vários de seus eventos de história. Algumas das personagens têm histórias mais curtas, como a vizinha da esquina que está carente, pois seu marido não lhe dá atenção há anos, enquanto outras são mais complicadas.

Porém, o jogo apela em especial para o conceito de ter várias namoradinhas ao mesmo tempo. Dessa forma, o método ideal de jogar é tentar se aproximar ao máximo de todas ao mesmo tempo e apenas selecionar uma delas ao final. Como um retrato da época do jogo, o protagonista de Doukyuusei tem um comportamento marcado por um machismo problemático, que ocasionalmente vem à tona na narrativa. Isso pode ser incômodo para alguns jogadores, especialmente quem tem uma perspectiva mais crítica quanto a esse tipo de estrutura e mesmo assim aproveita jogos modernos de relacionamento.

Vale destacar que a tradução é marcada por gírias e diálogos cotidianos que ajudam na construção dessa atmosfera de curtir a adolescência sem tanta noção das consequências. É também por isso que o período de fim dessa etapa da vida é tão importante. Trata-se de uma das últimas oportunidades que esse garoto com os hormônios à flor da pele vai ter de aproveitar antes de precisar assumir as responsabilidades da vida adulta.

Apesar desses elementos, os personagens são bastante carismáticos e é interessante conhecê-los a fundo. Todos eles possuem dramas pessoais curiosos e envolventes. Não é difícil empatizar com os seus anseios, angústias e frustrações.

A cidade é o meu quintal

O conceito de dating sim é o de um simulador cujo foco é no desenvolvimento de relacionamentos com personagens. Apesar de ser corriqueiramente associado a visual novels e jogos de aventura textual em geral que possuem romance, o gênero é baseado na estratégia e no gerenciamento de recursos em prol da conquista. Dependendo do jogo, pode ser necessário explorar estatísticas variadas para tornar o protagonista mais atraente para as personagens, por exemplo.

Doukyuusei é um título focado prioritariamente em gerenciamento de tempo. Com três semanas para o fim das férias, o seu personagem tem tempo limitado para ir às localidades e flertar com as garotas. Determinados eventos de história só podem ser acessados em um determinado período, sendo negativo não comparecer a um encontro previamente marcado, por exemplo.

É possível ir à escola ver as garotas que fazem parte de clubes esportivos, visitar a farmácia e a floricultura ou dar uma volta pelo centro e áreas mais afastadas. Além da cidade em que o protagonista mora, é possível pegar o trem para o município vizinho, uma área mais moderna com cinema, parque de diversões e outras formas de entretenimento.

Com opções variadas de onde ir, é possível até mesmo ir nas casas das heroínas e de alguns colegas conversar com suas mães, pais ou empregadas. Através desses diálogos, é possível obter dicas sobre como proceder. Porém, infelizmente, essa variedade é superficial, se tratando apenas de eventos supérfluos. Na prática, apenas os encontros com as garotas tem algum valor.

O resultado é um jogo de simulação muito simples em que o jogador deve se preocupar apenas em fazer as escolhas corretas e não perder o timing dos eventos relevantes. Há inclusive porções largas de tempo em que não há nenhuma ação significativa e só resta andar a esmo ou dormir.

Refazendo memórias da juventude

Porém, vale destacar que o remake adiciona certas funcionalidades que ajudam a tornar a experiência em algo bem agradável para novatos. A primeira delas é o “modo fácil” que é habilitado por padrão. Com ele, o jogador tem indicadores de onde as personagens estão no mapa, simplificando encontrá-las. Além disso, com esse modo ligado, as escolhas que aumentam a afeição são marcadas com corações rosas enquanto as que terão impacto negativo possuem corações azuis.

Outro recurso importante é o calendário de flags, ou seja, uma listagem de eventos importantes para garantir o final bom com a personagem desejada. Além de ver os seus pré-requisitos e saber quando e onde eles ocorrerão, a lista permite pular imediatamente de um trecho do jogo a outro. Isso ajuda a minimizar o peso dos períodos longos em que o jogador pode ficar sem nada para fazer.

Outra conveniência importante é a presença de auto, skip, log e visualização das ilustrações. Esses recursos são fundamentais em obras com grandes volumes de texto e todos os jogos nesse estilo deveriam ter. Poder passar rapidamente por trechos já lidos, revisar eventos recentes e até mesmo escolher voltar para um ponto da história e trocar a sua escolha rapidamente adicionam muita qualidade de vida à experiência. Também há vários espaços para save, save automático para o último momento de escolhas e quick save.

Em termos da apresentação visual, as lindas ilustrações são de autoria de Sumeragi Kohaku, que também trabalhou em obras como Nanairo Reincarnation (PC), Bustafellows (PC/Switch) e Musicus! (Multi). Apesar de não ter exatamente o mesmo charme do original, as artes são vibrantes e bastante expressivas. Os personagens piscam, mas não há outro tipo de animação.

As ilustrações de fundo são bem ricas em detalhes e o jogo oferece um sistema de point-and-click para observar os objetos presentes nas áreas. Porém, há uma forte sensação de que as figuras humanas de NPCs aleatórios são de menor qualidade por serem borradas. A exploração da cidade é feita com um boneco chibi e é possível ver versões chibi das heroínas acompanhando o rapaz em algumas ocasiões.

Um clássico com valor histórico

Doukyuusei: Bangin’ Summer é um jogo clássico interessante, especialmente por seu valor histórico. Apesar da história ter elementos machistas que podem incomodar alguns jogadores e do gerenciamento ser muito restrito, ainda vale a pena conhecer a obra. Ela é especialmente recomendada para quem quer conhecer um pouco mais de um gênero de forte influência no Japão.

Prós

  • Personagens carismáticos cujos dramas não são triviais;
  • Arte HD bela e bastante expressiva;
  • Pular para a próxima cena e modo fácil ajudam a tornar a obra mais convidativa a novatos;
  • Conveniências modernas de jogos textuais estão todas presentes.

Contras

  • Muitos momentos sem ações significativas disponíveis;
  • Gerenciamento simples demais e restrito ao tempo;
  • Alguns comportamentos machistas problemáticos.

Doukyuusei: Bangin’ Summer - PC - Nota: 8.0

Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Shiravune


é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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