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Análise: Blastful (PS4/Switch) acerta em elementos secundários, mas erra nos principais

Pegando onda em um gênero consagrado, o jogo não consegue articular bem as suas inspirações e falha em trazer dinamismo e diversão para os jogadores.

2021 foi um ano bem generoso com os "jogos de navinha". Os fãs puderam se deleitar com ports, remasters, remakes e títulos originais, cada um com suas características únicas. Entretanto, há também aqueles que infelizmente falham em cativar o público, mesmo com boas intenções. É nesse último grupo que se encontra Blastful.

Balas para quê?

Blastful é nu e cru. Sem história ou introduções, apenas escolhemos uma das 20 fases para começar a desbravar o espaço. Ele traz a consagrada progressão vertical, com os inimigos aparecendo tanto da parte de cima da tela quanto de baixo, o que lembra um pouco o clássico Asteroids, do Atari. Podemos pilotar nossa nave livremente com o analógico esquerdo, e a parte boa é que podemos rotacioná-la para qualquer direção com o analógico direito, assim evitando ficar de costas para quem possa vir de um local oposto. 

A ideia é ótima e seria mega divertida se o jogo não tivesse um ritmo tão arrastado a ponto de parecer que todo mundo está em um confronto pós-feijoada de domingo. Para se ter uma noção, é possível cruzar a fase toda sem efetuar um disparo até a chegada do chefe e ainda assim desbloquear o troféu relativo àquela fase. 

Aparentemente, as conquistas estão atreladas apenas à conclusão de cada etapa,mas isso não fica claro pela descrição de cada uma. Sim, um shooter em que não há tanta necessidade de disparar. Irônico, não? Pelo menos já garante mais uma platina fácil para a coleção do jogador.

Existe um mapa no canto inferior esquerdo da tela para mostrar o posicionamento dos inimigos, mas como a ação acontece de maneira em que todos vêm ao nosso encontro, ele se torna meio desnecessário, servindo apenas para poluir a tela. Vale ressaltar também que, em diversos momentos, os nossos caçadores apareciam e desapareciam “do nada” na tela, como se tivessem se teletransportado.  

Com a chegada do chefe de cada área, imagina-se que a ação deve aumentar, certo? Errado de novo! Todos eles, que por acaso são bastante parecidos tanto em padrão ofensivo quanto visual, demandam a mesma estratégia: exploda seus canhões e fique ao lado do enorme cargueiro espacial que ele irá estacionar e ficar ali, esperando ser dizimado pelos seus projéteis.

O jogo ainda conta com alguns power-ups bacanas, como novas armas de munição variada e escudos temporários. Entretanto, é bem normal usá-las só quando lembramos que temos outra alternativa de equipamento, pois realmente é muito fácil desviar de tudo sem precisar revidar.

Vermelho, vermelhaço, vermelhusco, vermelhante, vermelhão

Já citamos que Blastful possui 20 fases distintas, cada uma com sua composição visual, o que cria uma atmosfera única para cada planeta. O jogo ainda propõe que a ambientação de um estágio pode ser usado em outro, o que seria bacana se não fosse aleatório. Fazendo a devida justiça, existem padrões de cores bem bonitos, que misturam muito bem diversos tons, mas também existem os que fazem os olhos sangrarem.

Os que usam somente cores quentes, em especial laranja e vermelho, chegam a incomodar bastante e parece que fica mais difícil de ver as outras naves e, para o desespero dos jogadores, essas duas colorações estão presentes na maioria das composições. A sorte é que as fases são curtas, assim evita que os globos oculares derretam.

Pois é, assim que desbloqueamos uma nova área, sua paleta de cores pode reaparecer em qualquer outro lugar que revisitarmos do nada. Se pelo menos tivéssemos a oportunidade de escolher, seria bom para evitar os padrões saturados de uma cor só, principalmente os mais quentes.

A estranheza visual não se limita ao ambiente. Em alguns casos, sabe-se lá por que, os bólidos espaciais rivais ganham estranhos contornos neon, geralmente em azul. Isso faz com que eles destoem do restante de uma maneira bizarra. Em alguns outros jogos, oponentes com esse tipo de destaque rendem algum tipo de pontuação ou item especial, mas não é o caso aqui. Trata-se apenas de um contraste mal planejado.

A trilha sonora surpreende bastante, conseguindo se destacar positivamente com sua mistura de batidas eletrônicas, sintetizadores e até pianos. Infelizmente, ela não acompanha em nada o ritmo do que acontece na tela. Não seria uma má ideia disponibilizar essas faixas em alguma plataforma digital de reprodução, pois elas realmente são muito boas e vale mais a pena apreciá-las sem precisar do jogo em si.

Por fim, existe um último ponto a ser considerado mais cômico do que um contra de fato, mas que só vale para os donos de PS4: há a opção de comprar o jogo sozinho ou um pacote, que contém mais dois temas. Ambos não têm nada a ver com o jogo e sequer retratam a sua narrativa, até porque não existe uma. Pelo menos o preço é o mesmo para qualquer uma das duas opções.

Jornada indigesta

Blastful tentou ser fiel às raízes dos lendários arcades, mas realmente é um produto muito mal executado. Por mais que seus power-ups até sejam bacanas e sua trilha sonora realmente surpreenda pela qualidade, todo o resto é bem bagunçado. Quem quiser se aventurar apenas para conseguir uma platina de baixo custo, fique à vontade, mas os fãs do gênero não irão se empolgar muito com a experiência oferecida aqui.

Prós

  • Power-ups bacanas;
  • Algumas composições visuais são legais;
  • Trilha sonora empolgante e agradável;
  • Platina bem fácil.

Contras

  • Movimentação dos inimigos é lenta;
  • Algumas naves aparecem e desaparecem do nada;
  • O mapa mais atrapalha do que ajuda;
  • Os chefes simplesmente não oferecem desafio;
  • É possível cruzar todas as fases sem efetuar um único disparo (e essa não é a proposta);
  • Planetas com a paleta de cores voltada para o vermelho têm uma visibilidade horrorosa;
  • A escolha da coloração de cada área é aleatória.
Blastful  — PS4/Switch — Nota: 4.5
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise feita com cópia digital adquirida pelo redator


é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no seu twitter @carlos_duskman
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