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Análise: The Plane Effect (Multi) é uma bizarra e frustrante experiência sem muito sentido

Um homem precisa retornar para casa após seu último dia de trabalho, mas isso não será tarefa fácil.


Há duas gerações houve uma explosão de jogos indies, principalmente aqueles que deixam o enredo sob interpretação do jogador ou abordam certos assuntos por meio de analogias ou metáforas. Ótimos exemplos são Journey, Limbo e Inside.


Por gostar muito de jogos como esses citados, The Plane Effect chamou minha atenção quando foi anunciado, mas, ao finalmente jogá-lo, logo percebi que seria uma experiência bastante diferente do esperado, por conta de seu enredo e sua jogabilidade bizarros que chegam a frustrar.

Deveria ter ficado no escritório

Em The Plane Effect, controlamos um homem comum que vive sua monótona rotina de trabalhador de escritório. Em seu último dia de serviço, a volta para casa vira uma aventura distópica e cheia de estranhos obstáculos e desafios. Ajude o homem a retornar ao aconchego de seu lar e à companhia de sua família resolvendo diversos quebra-cabeças e fugindo das mais bizarras ameaças.

No trajeto entre o escritório e seu lar, o protagonista passa por diversos e surreais desafios que vão muito além de um metrô lotado. São monstros, robôs, criaturas gigantes e alienígenas que, por algum estranho motivo, atrapalham nossa viagem para casa. Não bastassem os confusos perigos e os mais aleatórios locais pelos quais passamos, diversos puzzles aparecem para que possamos liberar o caminho e prosseguir com a jornada.


Sem qualquer texto ou narração que nos ajudem a entender o contexto, o enredo acaba ficando totalmente aberto à interpretação do jogador. Apesar de muitos jogos fazerem isso muito bem, The Plane Effect não tem uma boa execução e nos deixa perdidos do começo ao fim, sendo bastante difícil até criar teorias por trás da longa e difícil volta pra casa. Cada novo ambiente visitado, desde um set de filmagem até o fundo do mar, acompanhado da pouquíssima evolução da história, deixa o enredo cada vez mais inexplicável e desinteressante.

Diversas especulações sobre o contexto do game passaram pela minha cabeça durante a jogatina. Seria sobre depressão? Luto? Ansiedade? Um mundo imaginário criado pelo protagonista na volta para casa em seu último dia de trabalho? Ou tudo isso junto? A quantidade de informação que recebemos é quase nula e não demora para o jogo ficar entediante. Há cutscenes ao final de alguns capítulos, mas nada que ajude na compreensão.

Há certos momentos em que glitches propositais acontecem e nos fazem voltar para o escritório todo desconfigurado, no qual devemos resolver alguma tarefa específica para voltar à “realidade”. Quando os glitches aparecem, até nos dão alguma esperança de progressão ou explicação do enredo, mas no final são apenas mais um elemento que não agrega quase nada à experiência.

Jogabilidade que frustra!

Ao descobrirmos que o enredo é estranho e apresenta um mundo bizarro sem nenhuma justificativa, esperamos que a jogabilidade sustente o interesse no jogo, mas isso também passa longe de acontecer. O walking simulator limita o personagem a poucos tipos de ações e comandos que, mesmo assim, não funcionam bem.

O protagonista pode, basicamente, correr, pular e pegar e interagir com objetos. Entre o menor dos problemas está a movimentação do personagem, que é extremamente lenta, até quando corre. O pulo falhou incontáveis vezes em diversos momentos do jogo, o que pode ser bastante frustrante nas partes de plataforma. Além da câmera quase 100% fixa atrapalhar em momentos em que precisamos de melhores ângulos, as partes de pulos em plataformas, principalmente ao final do jogo, se tornam uma tarefa estressante por termos pouca noção de profundidade, sem contar o falho comando de pulo.


O jogo oferece três tipos de experiência, com foco em níveis de jogador diferentes: Normal, que não fornece qualquer dica ao jogador de como proceder e resolver quebra-cabeças; Narrativo, que mostra, com o apertar de um botão, uma dica do objeto a ser interagido; e o Guiado, que mostra uma linha que nos leva até a próxima interação ou caminho correto. 

A confusão e a limitação que alguns puzzles podem gerar, ainda por cima quando há objetos que já estão disponíveis e que não podemos pegar por ter uma ordem pré-estabelecida, fazem com que nos rendamos aos modos Narrativo ou Guiado para prosseguir após algumas dores de cabeça. Sem isso, a relativamente curta experiência pode se tornar algo bem mais extenso e entediante do que de fato é.

Vale a pena?

The Plane Effect tem uma péssima execução e pode afastar o jogador em pouco tempo. A bizarra história fica totalmente aberta à interpretação de quem joga, mas, mesmo assim, é difícil fazer qualquer analogia ou metáfora dos surreais acontecimentos, sendo que diversos outros jogos fizeram isso de forma muito mais simples.

A parte técnica também não agrada e torna a experiência bem mais frustrante e extensa do que deveria, nos forçando a ligar o modo Guiado apenas para concluir o jogo, se ainda tivermos paciência. Eu mesmo, que adoro jogos cheios de metáforas e que nos permitem ter nossas próprias conclusões, me forcei a chegar no final para presenciar algo nada satisfatório.

Prós

  • Modo Narrativo e Guiado para quem quer (ao menos tentar) apreciar a experiência.

Contras

  • Poucos detalhes de enredo, deixando o entendimento à total interpretação do jogador;
  • Jogabilidade frustrante e com muitas falhas, principalmente de pulo;
  • A câmera fixa atrapalha em certos momentos, principalmente em relação a profundidade e a bloqueio da visão.

The Plane Effect — PS5/XBX/PC/Switch — Nota: 3.0
Versão utilizada para análise: PS5

Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela PQube


Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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