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Análise: New World (PC) é um expansivo MMORPG que ainda tem muito a oferecer

A maior e mais recente aposta da Amazon Games acerta em vários aspectos e possui potencial para ir longe no mercado


Viver em um mundo virtual onde você pode lutar contra monstros, negociar itens com outras pessoas e aprender novas habilidades é uma experiência que fascina jogadores do mundo inteiro desde, pelo menos, a década de 90, quando os primeiros MMORPGs (massive multiplayer online role-playing game) foram criados. Naquela época, devido às limitações gráficas e de rede, as interfaces eram mais simples e os servidores não tinham capacidade para manter muitas pessoas online ao mesmo tempo.

Com o lançamento de Tibia em 1997, o gênero começou a se tornar mais popular e, posteriormente, explodiu com a estreia de World of Warcraft em 2004. Atualmente, há diversos jogos do tipo que disputam espaço no mercado com suas enormes bases de jogadores ativos, como Final Fantasy XIV e The Elder Scrolls Online. New World, o novo título da Amazon Games, chega com personalidade própria para alterar o equilíbrio de poder e se colocar como um dos grandes expoentes dos MMORPGs.

Um novo e misterioso mundo

New World se passa em Aeternum, uma misteriosa terra que atrai aventureiros de diversos lugares do mundo, mas de onde quase ninguém volta. A cena de abertura — que, felizmente, está dublada e legendada em português, assim como todo o restante do jogo — introduz brevemente a história desse local lendário. Após isso, somos levados para a tela de criação de personagem, que oferece uma quantidade razoável de customização de aparência, como a possibilidade de colocar cicatrizes, pintas e tatuagens pré-definidas no rosto do seu avatar. No geral, temos opções sólidas nessa área, mas nada muito vasto e complexo. É importante destacar, também, que todas as escolhas aqui são finais, ou seja, uma vez concluída a criação, não podemos alterar a aparência e o nome do personagem. É possível ter, no máximo, dois por região.

Quando terminamos de fazer nosso avatar, o navio que está nos levando para Aeternum começa a balançar violentamente e naufraga na costa do nosso destino. Ao despertar, vemos nosso capitão em seus últimos momentos de vida e somos atacados por um Corrompido, uma criatura semelhante a um zumbi. Nessa parte, o jogo entra no modo tutorial e ensina de maneira rápida e eficiente os comandos básicos para sobrevivermos aos perigos dessa terra. Munido de espada e escudo, nosso personagem deve derrotar alguns inimigos pelo caminho até chegar a uma pequena colina, onde teremos um vislumbre da grandeza daquele local.

 Antes de prosseguir em nossa aventura, porém, devemos enfrentar um chefe inesperado: nosso ex-capitão, que ressuscitou como um Corrompido graças ao poder misterioso daquele lugar. Antes que possamos derrotá-lo totalmente, ele nos acerta com um raio e, na sequência, vamos parar em uma praia repleta de outros jogadores. É aqui que nossa nova vida verdadeiramente começa.


A abertura de New World é simples, rápida e intuitiva. É possível completar o tutorial em menos de dez minutos, o que já é o suficiente para entender e pegar o jeito dos controles, ao menos, para sobreviver às áreas iniciais. Vale ressaltar que, no momento, o jogo não conta com suporte para gamepad e ainda não há planos para adicionar a função em um futuro próximo, então, só é possível jogar utilizando o teclado do PC.

Na praia, avistamos um NPC que passará as primeiras missões de New World, as quais fornecerão armaduras básicas para você se proteger dos inimigos mais fracos da região. Após essa pequena série de tarefas que podem ser realizadas nos arredores, somos enviados ao nosso primeiro assentamento, uma pequena vila onde os NPCs habitam e os jogadores podem descansar. Esses lugares funcionam como uma base de operação, na qual podemos fabricar armas e materiais, preparar poções e alimentos e até mesmo comprar uma casa.

Nesse povoado inicial, devemos conversar com alguns personagens para nos familiarizarmos com a dinâmica do local e escolhermos nossa facção. Ao todo, temos três opções: a Aliança (amarelo), os Saqueadores (verde) e o Sindicato (roxo). Ao contrário da aparência do seu avatar, essa escolha não é definitiva e você pode mudar de facção a cada 120 dias. Cumprir missões da sua facção concederá experiência, tokens (uma moeda que você pode trocar por itens na loja da sua facção) e reputação. Ao juntar reputação o bastante, você poderá fazer uma missão para aumentar seu nível junto à sua facção, o que irá desbloquear novos produtos que podem ser adquiridos com tokens.

Também é possível entrar em Guildas, chamadas de “Companhias”, que são fundadas por outros jogadores e que lutam por determinada facção, de acordo com a escolha do líder. Assim, para fazer parte de uma Companhia, o jogador deverá estar alinhado à mesma facção.














Sobrevivendo ao desconhecido

Depois de concluídas as missões iniciais, chegamos ao momento ideal de explorar quase que livremente esse novo mundo. É possível ignorar algumas das tarefas anteriores e já andar pelo mapa, mas é recomendável que se concluam todas as missões até esse momento para que seu personagem esteja equipado de maneira minimamente adequada para enfrentar os perigos à espreita. A partir daí, ficamos livres para escolher nosso próximo passo: continuar completando as missões principais ou secundárias, descobrir pontos de interesse, encontrar papéis que revelam mais sobre a lore do jogo, aprimorar algumas habilidades, participar de batalhas PvP ou simplesmente coletar matérias-primas na natureza, entre outras opções.

O sistema de combate é relativamente simples e divertido, com inspirações derivadas de títulos como The Witcher 3 e Dark Souls. Temos 11 tipos de armas à disposição: espada (a única peça que pode ser usada em conjunto com o escudo), lança, machadinha, rapieira, mosquete, arco, martelo de guerra, grande machado, cajado de fogo, cajado de vida e manopla de gelo. É possível equipar duas armas ao mesmo tempo e alternar entre elas rapidamente no meio do combate utilizando a roda do mouse. Isso deixa o ritmo das lutas mais dinâmico e proporciona incontáveis combos e combinações. Tanto as armas quanto as armaduras possuem uma durabilidade que se esvai conforme você as utiliza, mas é fácil e prático repará-las quando necessário.

















Cada arma possui uma pequena árvore de habilidade dividida em duas partes, cada uma focada em um estilo de jogo distinto e com habilidades ativas e passivas próprias. Não é necessário focar em apenas um estilo, sendo possível misturar ambos. Por exemplo, na rapieira o lado “sangue” é orientado para uma jogabilidade mais ofensiva, enquanto o lado “graça” aprimora a mobilidade e esquiva do avatar. Apesar de não oferecer tantas opções quanto outros jogos, esse sistema de habilidades é fácil de entender e proporciona uma boa quantidade de combinações, as quais os jogadores podem passar horas testando, caso queiram otimizar suas builds.

Derrotar inimigos não ajuda muito seu personagem a subir de nível, mas fornece maestria de arma, o que é necessário para desbloquear novas habilidades. Completar missões é a maior fonte de experiência para o seu avatar e cada nível ganho concede pontos para você distribuir em alguns atributos, cada um associado a diferentes tipos de armas. Melhorar sua Força, por exemplo, aumenta o dano das espadas, enquanto colocar pontos em Inteligência deixará seus cajados mágicos mais fortes. Alcançar certos níveis também desbloqueia algumas recompensas, como mais espaço para equipamentos, a possibilidade de comprar uma casa, participar de certas atividades, entre outras. Até o momento, o nível máximo é 60.

















A esquiva e o bloqueio do seu personagem estão atreladas a uma barra de energia, que é consumida conforme você se defende ou desvia de ataques. A animação da esquiva varia dependendo do peso atual do seu equipamento. Armaduras mais leves reduzem menos o dano recebido, mas permitem que você role rapidamente para os lados para evitar ataques, enquanto armaduras mais pesadas absorvem melhor o dano, mas impedem que você se esquive com facilidade. Cada pessoa poderá se equipar de acordo com o estilo de jogo que mais a favorece.

A exploração é um fator importante em New World, sendo fundamental para adquirir itens, obter matéria-prima e descobrir NPCs com alguma missão. No entanto, na prática, essa parte deixa um pouco a desejar e pode se tornar uma experiência ligeiramente entediante. Não é possível correr e não existem formas de se locomover de maneira mais rápida, devido à ausência de montarias no jogo. Somado a uma mecânica de viagem rápida extremamente limitada, temos uma exploração que se resume a andar em velocidade constante em direção à próxima tarefa ou a alguma zona ainda desconhecida.

Além disso, não é possível escalar, salvo por algumas bordas e pequenos muros, e nem mesmo nadar. A ausência de uma animação de nado transforma o ato de cruzar um rio em uma experiência extremamente enfadonha e até mesmo perigosa, já que sua velocidade de movimento é muito reduzida na água e seu avatar possui um fôlego minúsculo que se esgota rapidamente.

















O mapa, à primeira vista, pode parecer grande com suas 14 zonas distintas. No entanto, esse tamanho acaba sendo artificialmente criado por conta da dificuldade de locomoção. É compreensível que existam algumas limitações nessa área, justamente para criar o desafio de sobreviver às adversidades e explorar um terreno hostil. Há, porém, um limite entre a dificuldade que requer adaptação para ser superada e o desafio simplesmente frustrante.

Nesse ponto, é importante comentar acerca das viagens rápidas, que só podem ser feitas nas seguintes situações: de qualquer lugar do mapa até o último povoado no qual você tenha dado entrada na estalagem (esse tipo de viagem só pode ser feita a cada uma hora); de um Santuário Espiritual até outro ao custo de Azoth (um dos recursos do jogo); ou de qualquer lugar do mapa até uma das suas casas que esteja com os impostos em dia, com intervalos que variam de acordo com o nível da sua propriedade. Inerentemente, essas limitações não constituem problema algum e é um modo de fazer os jogadores pensarem estrategicamente em quando usar essa função. Por outro lado, isso acaba acentuando ainda mais as dificuldades de locomoção, já que somos forçados a andar mais para cada lugar.

Dominando a natureza selvagem

A exploração possui alguns defeitos, mas o jogo consegue compensar, em parte, com o sistema de coleta e confecção de itens. É satisfatório encontrar plantas, minérios e animais raros pelo mapa e coletar seus espólios, além do fato de alguns inimigos terem chance de derrubar itens raros. Apesar disso, ainda existe uma variedade limitada de monstros e animais hostis no mapa, mas isso deve ser resolvido ao longo das atualizações.

Para poder coletar certas matérias-primas, será necessário, primeiro, subir o nível da sua habilidade mercante associada a ela. Por exemplo, é possível encontrar um filão de ouro relativamente cedo na sua aventura, mas você só poderá coletá-lo se seu nível de mineração estiver acima de 45. O mais interessante é que não é necessário melhorar todas as suas habilidades mercantes ao máximo: basta comprar os materiais que precisa nos entrepostos comerciais de cada assentamento, que são colocados à venda por outros jogadores. Isso permite que cada pessoa se especialize em algumas atividades (mineiro, caçador, lenhador, etc), o que facilita a obtenção de itens e aumenta o fator role-play do título, tendo em vista que ela pode exercer uma determinada “profissão”, sobretudo se estiver em uma Companhia, caso assim deseje.


















Os próprios assentamentos podem ser melhorados pelos jogadores por meio de projetos e missões, além de também serem controlados por alguma Companhia. Pessoas que fizerem parte da Companhia governante do local ou da facção associada a ela recebem pequenos bônus, como mais sorte ao espoliar e mais dano contra alguns tipos de inimigos. Para se manter no poder, os governantes devem manter sua influência alta realizando missões de PvP, enquanto seus rivais também devem completar missões PvP para diminuir a influência da Companhia dominante do local. Caso fique baixa o suficiente, será possível declarar guerra e tentar tomar o poder dos atuais governantes.

Todo o conteúdo PvP é totalmente opcional e pode ser ignorado sem que haja prejuízo à apreciação do jogo. É possível se beneficiar dos bônus concedidos em cada local mesmo se você não for um jogador ativo ou engajado nesse aspecto de New World. A sinalização para PvP, que permite lutar a qualquer momento contra pessoas de facções diferentes, pode ser ativada somente nos assentamentos e não é necessária para nada, caso o jogador decida focar apenas no conteúdo PvE.

Outro ponto relevante dos assentamentos são os depósitos de itens. O inventário de New World funciona por um sistema de peso, então é preciso estar sempre atento a isso. Inicialmente, o máximo que você consegue carregar é um peso equivalente a 200 de carga, valor que pode ser aumentado ao longo do tempo com alguns equipamentos. Ficar acima da sua carga máxima deixará o personagem em um estado “sobrecarregado”, tornando-o lento e incapaz de usar habilidades, esquivar, etc. Desse modo, é recomendável guardar seus itens mais pesados ou menos importantes nas despensas dos assentamentos. No entanto, cada povoado possui um armazém independente e só é possível mover seus artigos entre os depósitos se eles estiverem sob controle da sua facção, o que pode tornar o gerenciamento do inventário ligeiramente frustrante às vezes.

















New World também conta com um sistema de expedições, no qual um grupo de jogadores pode se aventurar em uma espécie de dungeon, derrotar chefes e recuperar equipamentos raros. Para embarcar nessas aventuras, é necessário avançar razoavelmente na história e alcançar certos níveis, sendo um conteúdo mais orientado ao endgame. Isso deixa o título mais interessante até para os jogadores mais experientes e mantém as pessoas engajadas nas mecânicas do jogo.

Por fim, é necessário comentar sobre o modelo de monetização adotado pela Amazon. Diferente de títulos como World of Warcraft e Final Fantasy XIV, que oferecem um período de teste gratuito e cobram uma mensalidade para você continuar jogando, New World só precisa ser pago no ato da compra para que se tenha acesso a todo o conteúdo atual. Dentro do menu do jogo, você poderá adquirir “marcas da sorte” com dinheiro real. Essa moeda é utilizada para comprar skins e acessórios puramente estéticos, os quais não possuem influência alguma na jogabilidade. Dessa maneira, New World cria um ambiente livre do injusto pay-to-win e das temíveis loot boxes. Nenhum jogador poderá obter vantagens sobre os outros apenas por gastar mais dinheiro.


















Começa uma grande aventura

New World tem tudo para ser um dos grandes MMOs dessa geração, caso a Amazon continue dando um bom suporte ao jogo ao longo dos anos. As filas de espera e os servidores lotados na estreia indicam um sucesso inicial promissor do título. Os belos gráficos feitos na engine Amazon Lumberyard, a trilha sonora sóbria e a mixagem de som excelente, aliadas a uma jogabilidade fluida, combate interessante e mecânicas de fácil entendimento, criam uma experiência imersiva e duradoura, apesar da deficiência no quesito de locomoção e deslocamento. Se a média de jogadores se mantiver alta, é muito provável que diversas atualizações e expansões sejam lançadas no futuro.

Prós

  • Mecânicas fáceis de entender, mas difíceis de dominar;
  • Liberdade para jogar como quiser;
  • Monetização leve e não-intrusiva;
  • Mixagem de som extremamente imersiva;
  • Dublado e legendado em português brasileiro.

Contras

  • Não há suporte para gamepad;
  • Dificuldade de locomoção pelos mapas;
  • Servidores ainda podem ficar lotados e criar filas grandes
New World ― PC ― Nota: 8.5
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Amazon Games


Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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