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Análise: UnMetal (Multi): uma mistura de desafio e bom humor com um resultado excelente

Esta paródia de Metal Gear cativa com doses de personalidade e referências ao universo dos games, cinema e televisão.


Quando vi o trailer de UnMetal pela primeira vez, fiquei muito intrigado com a audácia de terem feito uma paródia de um jogo tão clássico e icônico como Metal Gear. Isso me deixou muito interessado em saber qual seria o resultado e, para minha surpresa, a experiência foi muito além do que esperava com um dos jogos mais divertidos que joguei em 2021. Vamos ver os detalhes na análise a seguir.

A fuga mais improvável da história

Jesse Fox é um homem que foi preso por um crime que não cometeu. Capturado por um grupo terrorista, consegue escapar de sua cela e inicia uma desesperada fuga do complexo militar inimigo para sobreviver. Fazendo uso de sua inteligência, ou a falta dela, Jesse deve passar pelas situações mais inacreditáveis que a imaginação humana pode criar em busca da tão cobiçada liberdade.
Viram? Eu disse!
Durante sua fuga, Jesse descobre que os terroristas estão tramando um massivo ataque com armas nucleares e acaba sendo obrigado a agir para também salvar o mundo. O rapaz contará ainda com improváveis aliados surgem para dar uma mão ao rapaz, como o Coronel Alan Harris, notório oficial de guerra que foi dado como morto pelo governo americano; um fotógrafo que também também foi preso por um crime que não cometeu; e um cientista nuclear que é refém dos bandidos e forçado a colaborar para que sua filha não seja morta. Realmente não está sendo um bom dia para nosso amigo e nossa função é ajudá-lo a dar no pé.

Qualquer semelhança é propositalmente uma coincidência

UnMetal é uma aventura 2D de ação e stealth inspirado — Não gente! Copiado mesmo! Na cara dura! — do clássico Metal Gear, originalmente lançado para o MSX em 1987. A estética e a jogabilidade é bastante chupinhada do título de Hideo Kojima em praticamente tudo, tomando as devidas liberdades com sutis toques de modernidade, como a versatilidade de usar um controle com vários botões e funções para deixar a jogabilidade mais fluida, com controles mais responsivos e atalhos para seleção de itens.

As semelhanças são várias e não se limitam apenas ao primeiro jogo de Hideo Kojima. Elas vão se mostrando durante a campanha principalmente na interpretação dos personagens, com destaque para o papel do protagonista Jesse Fox, em que o ator imita a voz rouca de Solid Snake.
Fox tem um auxílio do insuportável Coronel Alan Harris
Assim como o game da Konami, todos os diálogos são dublados (em inglês ou espanhol), tanto nas conversas durante o jogo quanto nas cutscenes, o que dá uma interatividade maior no jogo e transmitindo de forma muito competente a ideia de que estamos assistindo a um desenho animado, já que ele está em pixel art. Os textos, que contam com tradução para nosso idioma, não tiveram o mesmo zelo, com diversos erros de tradução literal, como se tivessem passado por uma versão mais rudimentar do Google Tradutor.

Jesse tem à sua disposição qualquer coisa, literalmente falando, que conseguir encontrar em seu caminho, e a forma como esses itens são utilizados são um dos alicerces da experiência de UnMetal. A grande maioria dos objetos que o rapaz coleta no jogo precisam ser combinados para se tornarem ferramentas úteis em sua jornada. Em dado momento, você encontra algo que aparenta ser lixo, mas acredite, ele terá sua utilidade e poderá salvar sua vida quando você menos esperar.
Jesse Fox vai arrumar muita encrenca e se meter em altas confusões!
Algumas armas também são encontradas, mas seu uso é melhor recomendado apenas nas batalhas contra os chefes. O motivo é que Jesse não quer matar ninguém. Ok, são bandidos, terroristas, aberrações, mas ninguém merece morrer nas mãos de um cara que só quer voltar para casa. No caso de algum inimigo realmente precisar tomar um tiro, pelo menos use seus kits médicos para não deixar o sujeito morrer.

Sempre que Jesse incapacita um inimigo de forma não letal, ou seja, nocauteando-o com socos ou dopando-o com clorofórmio, e de forma sorrateira, pontos de experiência são obtidos. Cada vez que subimos de nível, podemos escolher uma de duas melhorias aleatórias para as habilidades do nosso herói que irão ajudá-lo em sua fuga, como aumento nos pontos de vida, capacidade maior de munição ou melhor camuflagem.
Jesse só ganha pontos de experiência neutralizando os inimigos na surdina
O combate propriamente dito é satisfatório, mas um detalhe acaba deixando-o um pouco desbalanceado. Ao contrário dos inimigos, Jesse não é capaz de atacar em um ângulo diagonal, o que torna as trocas de tiros contra os inimigos um tanto injustas por não contarmos com esse detalhe que claramente daria um equilíbrio nas lutas. Isso sem falar que cada embate contra os principais inimigos do jogo possui uma estratégia única e desafiante, que pode render algumas dezenas de telas de Game Over até pegar o jeito.

A espetacular fuga de Fox é recheada de momentos de tirar o fôlego, seja pela ação dos embates contra os chefes ou de tanto rir com as situações mais hilárias jamais vistas em um videogame. Sério! A comédia rouba a cena todas as vezes em que o foco do roteiro necessita de graça.
É... errado não tá!
As piadas escritas para o jogo não estão jogadas ao acaso, apenas para criarem momentos engraçados. Todas estão devidamente contextualizadas para fazer sentido com o momento da história. O humor é um ponto forte até a última cena.

Como a narrativa ocorre durante o depoimento de Jesse ao ser preso pelo governo após sua fuga, — sim, a história começa no final, depois da fuga, e o jogo se dá com os detalhes da aventura do rapaz — em determinados momentos temos que ajudá-lo a lembrar de algum detalhe, e isso pode adicionar algum perrengue extra no caminho do nosso intrépido herói caso escolhamos alguma resposta “errada”.
Perrengues de ser um personagem em 2D
Novamente citando Metal Gear, as piadas fazem uma sátira com o game e também com diversas situações e referências, passando pela cultura pop por meio de letras de músicas e cenas ou frases de famosos filmes de Hollywood. Um pouco de humor mais ácido também faz parte do pacote, principalmente com palavrões, o que deixa o jogo com uma classificação mais elevada e pouco recomendada para a audiência mais jovem.

Câmbio e desligo!

Com a mesma audácia dos desenvolvedores que mandaram um “copia, mas não faz igual”, digo que UnMetal é, de longe, um dos melhores jogos que tive o prazer de experimentar em 2021: divertido de sobra, desafiante na medida certa e com o melhor roteiro que jamais será exibido em um filme ou série de TV. Uma medalha de honra para este verdadeiro herói de guerra.
UnMetal é a melhor sequência não oficial de Metal Gear que existe!

Prós

  • Arte em pixel art muito bem animada e apresentada, principalmente nas cutscenes;
  • Roteiro traz uma excelente narrativa com destaque para o bom humor;
  • A mecânica de combinações de itens tem execução interessante e inteligente;
  • Características de stealth muito bem implementadas e utilizadas;
  • Embates contra os chefes com ótima curva de desafio.

Contras

  • Impossibilidade de atacar na diagonal cria situações de desvantagem nos combates;
  • Excesso de itens sem uso durante boa parte da campanha causa desconforto na gestão do inventário;
  • Textos em português com erros grosseiros de tradução.
UnMetal — PC/PS4/XBO/Switch — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PlayStation 4
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise feita com cópia digital cedida pela Versus Evil

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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