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Análise: Deathloop (PS5/PC) apresenta uma boa premissa, mas fica desinteressante rapidamente

Quebre o ciclo ou morra tentando diversas vezes neste shooter que anda dividindo opiniões.


Logo de cara, Deathloop se mostra uma típica experiência da Arkane Studios pelas similaridades com alguns de seus sucessos, como Dishonored e Prey. Agora apostando no conceito de loop temporal, a desenvolvedora tenta emplacar outro sucesso com diversas promessas de grande jogabilidade e multiplayer. Será que o novo jogo do estúdio, publicado pela Bethesda, promete o que cumpre?

Morrer, quantas vezes for necessário!

Na história de Deathloop, controlamos Colt Vahn, um homem que acorda em uma ilha sem nenhuma lembrança, inclusive quem ele é. Conforme o protagonista explora a Ilha Blackreef e suas instalações, mensagens flutuantes deixadas por versões antigas do personagem aparecem e o orientam durante a exploração. Por meio de diálogos, via comunicadores, com Julianna, a principal inimiga de Colt na história, descobrimos que Blackreef está em um loop temporal que reinicia todos os dias ou sempre que o desmemoriado assassino morre.


Para quebrar o ciclo em que está preso e escapar da ilha, Colt deve eliminar, no período de 24 horas, os oito Visionários, um grupo contratado pelo Programa AEON para proteger o loop temporal em Blackreef — entre eles, Julianna. Caso ele não consiga cumprir seu objetivo dentro de um ciclo, ou morrer tentando, o loop é reiniciado, “ressuscitando” os visionários já mortos, e nosso protagonista deve começar tudo de novo.

Particularmente, achei o enredo um dos maiores pontos fortes de Deathloop. Nos primeiros momentos, estamos tão perdidos quanto Colt sobre quem ele é, o que está fazendo ali e para onde deve ir. Aos poucos, conforme escutamos as interações entre o personagem e Julianna, e pelos diversos arquivos que podemos encontrar, entendemos melhor a história de Blackreef, a motivação por trás do ciclo e do Programa AEON e a ligação que Colt tem com a anomalia. A trama é repleta de momentos marcantes sobre os quais não vou entrar em detalhes porque obviamente seriam grandes spoilers.

Um grande promessa, mas com execução já conhecida

Deathloop conta com uma jogabilidade e alguns recursos que acabaram dividindo um pouco a opinião de jogadores, inclusive a minha. Começando pelo básico, Colt tem à disposição um facão para eliminações furtivas, um aparelho que hackeia dispositivos que possam detectá-lo e uma série de armas caso você prefira uma abordagem mais explosiva.

Após um longo tutorial, que dura praticamente todo o primeiro capítulo, o personagem ganha a habilidade de voltar um pouco no tempo duas vezes, dentro de um ciclo, antes de ser morto definitivamente, nos dando a vantagem de ler melhor o ambiente e descobrir como passar pela série de inimigos.


Colocando em prática o conceito do loop temporal, como já explicado, Colt tem o tempo de todo um ciclo para quebrar o loop eliminando todos os seus oito alvos. Um ciclo completo é dividido em quatro períodos do dia: manhã, meio-dia, tarde e noite. Em cada período do dia, cada visionário estará em uma das quatro regiões de Blackreef, e cabe ao jogador descobrir onde eles estarão em qual período.

Para isso, devemos ler anotações e escutar conversas de NPCs espalhados pelos ambientes para saber onde encontrar determinado visionário, para então montar uma estratégia de como aproveitar melhor o ciclo para eliminar todos os alvos em um único dia. Suponhamos que você tenha eliminado, por exemplo, quatro visionários e no caminho do quinto você tenha uma morte definitiva. O ciclo é inteiramente reiniciado e será necessário matar todos os alvos novamente.

Além disso, nas primeiras horas do jogo, só o que Colt guarda do ciclo anterior é seu conhecimento adquirido sobre os visionários e Blackreef. Armas e berloques, que são melhorias tanto para o arsenal quanto para o personagem, são perdidos. Porém, a partir de certo ponto da história, ganhamos a habilidade de coletar Residuum, um tipo de energia do loop temporal que nos permite realizar melhorias em nossas armas e berloques, permitindo que eles sejam mantidos para um próximo loop.


São tantas regras e detalhes de jogabilidade a se lembrar que é completamente normal ficar perdido nas primeiras horas após os tutoriais. O menu que acessamos entre períodos de tempo, após nos assegurarmos na base do Colt, é cheio de detalhes e confunde por um bom tempo. 

Mesmo com diversas coisas que o protagonista pode fazer conforme as melhorias que encontra, além de utilizar diferentes armas e aparelhos nas duas mãos, não é difícil pegar o jeito dos comandos. A jogabilidade, fácil de se aprender, mistura recursos que já vimos em vários outros jogos, até mesmo nos clássicos da Arkane, e não traz tanta inovação quanto venderam.

Algo que me chamou atenção nos trailers de Deathloop foi a ação frenética que gosto muito em jogos de tiro, mas infelizmente minha experiência foi bem diferente da que prometeram. Por um bom tempo, me vi eliminando adversários apenas na furtividade e procurando por arquivos, gravações, textos e diálogos de NPCs para conseguir mais informações sobre os visionários e montar uma estratégia para eliminá-los dentro de um ciclo. Para um jogo de ação, ele se manteve calmo por um tempo; por vezes eu até mesmo “metia o louco” chamando a atenção de todo mundo para ter um pouco mais de emoção.


Um problema grave está na inteligência artificial, ou na falta dela. Os Eternalistas, que são os inimigos comuns encontrados pelos cenários, muitas vezes demoram a te identificar e, até mesmo, para atirar. Nas horas que eu saía atirando e depois me afastava, era questão de segundos para eles pararem de me procurar e voltar à rotineira movimentação pelo mapa. Isso torna o jogo extremamente fácil, sendo possível passar a maior parte do tempo na furtividade e indo atrás apenas dos Visionários.

No final, Deathloop não fornece uma experiência de ação que muitos esperavam, ainda mais pelo o que os trailer indicavam. Apesar de não apresentar falhas, a jogabilidade é um aglomerado de muitas coisas que já vimos por aí, diria até mesmo que um pouco datada.

Quebrar ou proteger o ciclo? Eis a questão!

O modo online, um dos destaques do título, também está presente e é incorporado de forma criativa. Nele, nós pulamos para o outro lado da moeda e controlamos Julianna. A grande inimiga de Colt tem o dever de caçá-lo pelo mapa e eliminá-lo para que ele não quebre o ciclo. Ao assumir o controle da personagem, podemos optar por invadir o jogo de um amigo ou de pessoas aleatórias, caso elas tenham a opção de invasão de Juliannas habilitada.

A vilã tem à disposição um vasto arsenal de poderosas armas e habilidades, como permanecer invisível por um tempo ou se camuflar como um Eternalista para passar despercebida por Colt e eliminá-lo desprevenido. Diferentemente do outro personagem, que deve garantir armas novas eliminando adversários e garantindo que fique com elas no próximo ciclo ao gastar o Residuum, Julianna conta com um sistema de ranking que lhe concede novas habilidades, melhorias, armas e visuais conforme ela sobe de nível.


Alguém que saiba jogar bem de Julianna acaba tendo uma vantagem enorme sobre um jogador de Colt que está experimentando Deathloop há pouco tempo, devido ao seu arsenal e habilidades superiores em comparação aos que a contraparte masculina tem acesso por um tempo. Esse multiplayer é mais voltado a amigos que querem se enfrentar e, com a vitória de um dos dois, o que estiver de Colt abandonar o período e começar um novo confronto. Alguém que está focado em terminar a campanha pela primeira vez irá desabilitar a opção de invasão aleatória, senão será difícil concluir a campanha com jogadores experientes na outra personagem invadindo seu jogo.

Com isso, o modo online acaba por ficar um tanto quanto limitado, principalmente para quem estiver de Julianna, que só precisa eliminar algum Colt e partir para o mundo de outro jogador. Algo que seria bastante interessante de adicionar seria a opção de criarmos nosso próprio Eternalista e competir em desafios e confrontos contra outras pessoas espalhadas pelo mapa. Já que os dois rivais vivem presos em um ciclo, que diferença faria morrer por diversão? Com certeza é algo que manteria o jogo vivo por mais tempo e com maior frequência de jogadores ao longo prazo.

Os gráficos são bons, mas nada que grite “nova geração”. O design dos mapas é bastante interessante e marcante, mas as quatro regiões são consideravelmente pequenas e não demora muitos loops para aprendermos os caminhos e locais importantes de cada um. A trilha sonora é muito boa, com um ótimo toque de filmes do James Bond. A dublagem brasileira está excelente e é um dos pontos que mais surpreende durante a jogatina, tanto pelos personagens principais quanto pelos NPCs.

Vale a pena?

Deathloop teve um grande marketing envolvido e trailers surpreendentes, mas entrega uma experiência que dividiu fortemente a opinião de entusiastas na internet. O enredo prende a atenção e, apesar do marasmo em certos momentos, motiva a continuar a campanha para descobrirmos toda a verdade sobre Blackreef. A ideia de ciclo temporal é interessante nas primeiras horas, mas torna-se uma experiência cansativa, ou até entediante, depois de algumas horas.

Apesar da fácil aprendizagem do controle do personagem, e do manuseio das armas, há diversas regras e detalhes aos quais devemos nos atentar, que tiram um pouco da “ação frenética” que deveria estar presente no título.

Prós

  • Ótimo enredo;
  • Excelente dublagem;
  • Bons gráficos e level design;
  • Premissa criativa de multiplayer, mesmo que limitada e com espaço para novos modos

Contras

  • IA fraca, tornando o título pouco desafiador;
  • Mapas pequenos;
  • Diversos detalhes e regrinhas com que devemos nos preocupar, algo não tão atrativo em um shooter;
  • A mecânica de funcionamento da Julianna é muito desbalanceada, o que nos incentiva a desabilitar a opção de invasão por outros jogadores aleatórios para prosseguir na história.

Deathloop - PS5/PC - Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PS5

Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Bethesda


Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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