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Análise: Cookie Clicker (PC) é uma bolacha saborosa para paladares peculiares

A proposta básica é interessante, mas poderia ser melhor mesmo para o seu nicho de jogadores.


Ah, os jogos para computadores: nenhuma plataforma reúne mais pérolas diferentes no mundo dos games. Na minha análise de hoje, vamos conferir o curioso Cookie Clicker, um título cuja proposta está no seu próprio nome: para avançar, o jogador precisa clicar em biscoitos para produzir mais biscoitos. Uma ideia que inicia simples, mas que progride para uma verdadeira indústria confeiteira. Pegue a farinha, pré-aqueça o fogão e não esqueça dos pedaços de chocolate, pois a matéria vai começar!

O “preguiçoso” gênero incremental

Um jogo incremental ou ocioso (do inglês, idle game) consiste em uma experiência em que o progresso é obtido de forma gradual, normalmente, sem uma intervenção complexa por parte do jogador. Lançado originalmente em 2013 para navegadores de internet, Cookie Clicker é considerado por muitos como o primeiro título do gênero a alcançar popularidade e qualidade consideráveis. Até hoje me lembro de quando fui apresentado a ele na faculdade, e de como a ideia parecia interessante.
Toda jornada começa com o primeiro passo... ou cookie
O game adquiriu uma comunidade fiel e é continuamente melhorado desde o lançamento original. A versão oficial chegou  à Steam no dia primeiro de setembro de 2021, trazendo suas crocância e doçura, embora com alguns pequenos amargos, da sua proposta incremental. Como dito anteriormente, tudo começa com um biscoito na tela, que deve ser clicado para gerar mais biscoitos. O início é um processo lento e deixa clara a proposta de um idle game.
 
Conforme o jogador obtém mais desse delicioso recurso, novas opções começam a aparecer na forma de construções. Fazendas, vovós (!), fábricas e até portais interdimensionais para o Cookieverso são alguns exemplos de novas fontes de biscoitos, cada uma delas com características e custos próprios. Acumular propriedades e biscoitos libera melhorias que podem ser compradas e fornecem toda sorte de efeitos, como construções mais eficientes e cliques mais poderosos.
Depois de algum tempo, a tela vira uma verdadeira festa
O começo de Cookie Clicker é muito empolgante, pois temos muitas novidades e coisas a obter. Os chamados Cookies Dourados são uma delas e consistem em uma das mecânicas mais importantes do game. Eles aparecem eventualmente em algum lugar da tela e, ao serem clicados, acionam algum benefício temporário. Os efeitos são aleatórios, mas todos são benéficos, como aumentar a produção das construções ou multiplicar a taxa de bolachas por clique.

Uma bolacha doce para alguns...

A grande atração do game é ver o contador de cookies crescer gradativamente, permitindo ao jogador adquirir mais construções que liberam novas melhorias, aumentam a produção de biscoitos, e assim por diante. Tudo é cuidadosamente calculado e mostrado ao jogador, que sabe exatamente as taxas de bolachas por segundo, quanto cada clique gera de recursos, a fortuna acumulada até então, etc.
São muitas informações, mas todas bem interessantes
Tudo isso fica ainda melhor graças à interface agradável de Cookie Clicker, que é limpa, organizada e bonita. Tudo pode ser facilmente encontrado e acessado, o que torna a interação orgânica e divertida. Não existe exatamente um jeito certo de jogar, seja em como gastar os açucarados recursos, seja no tempo que deve ser investido na jogatina. Essas facilidades tornam o game bem receptivo, não importando se o jogador vai aproveitá-lo de forma viciante ou esporádica.
 
Os chamados torrões de açúcar são outro exemplo de mecânica interessante. Eles se acumulam de acordo com a quantidade total de bolachas produzidas e podem ser usadas de várias formas, com destaque para a possibilidade de subir o nível das construções. Além de produzirem mais, algumas delas liberam pequenos minigames, como a Bolsa de Valores, para negociação de produtos diversos (mas sempre buscando mais biscoitos), e o Grimório, que permite a realização de magias que podem conceder efeitos positivos (ou negativos).
A Bolsa de Valores é um divertido minigame financeiro
Para compensar a jogatina de natureza preguiçosa, frases engraçadas surgem a todo o momento para situar o jogador sobre o que acontece no mundo que, vagarosamente como o game, muda de acordo com a prospecção de biscoitos. Alguns exemplos: “os cookies lentamente seguem o caminho para se tornarem competidores de moedas tradicionais” e “doutores recomendam o consumo de cookies frescos duas vezes ao dia”. Nada muito elaborado, mas é legal no contexto geral.

... e um pouco amarga para outros

Apesar de todas essas qualidades, o título pode ser uma bolacha dura de mastigar para alguns. A empolgação inicial oriunda do ineditismo do game, como a sua própria jogabilidade e as conquistas obtidas, é lentamente modificada para uma situação relativamente travada. As construções e melhorias se tornam caríssimas, ainda que a produção aumente bastante durante o processo.
Após algumas horas divertidas, o game começa a ficar mais tedioso
Embora ter paciência seja uma premissa do gênero, ela é exacerbada em alguns momentos. Deixar o jogo funcionando em segundo plano, por exemplo, é quase uma obrigatoriedade para avançar de forma razoável. Com isso, a dependência dos Cookies Dourados se torna cada vez maior no longo prazo devido às altas cifras exigidas. Mesmo com uma atenção constante, a aleatoriedade pode ser ingrata e oferecer biscoitos com efeitos menos poderosos, tornando o esforço pouco recompensado.
 
A persistência é recompensada depois de uma certa (e enorme) quantidade de cookies produzidos, quando podemos acessar a mecânica chamada Ascensão. Considero que Cookie Clicker realmente começa a partir dela: ao abrir mão de todos os biscoitos produzidos até aquele momento, o jogador ascende a uma espécie de plano sobrenatural onde é possível adquirir melhorias divinas poderosíssimas. As escolhas são dispostas em uma árvore complexa e podem ser compradas com Gotas Divinas que, por sua vez, são obtidas de acordo com uma pequena fração dos cookies “descartados”.
As habilidades obtidas com a Ascensão são muito úteis
Feitas as compras, o jogador volta à estaca zero, com exceção das melhorias divinas, dos torrões de açúcar, dos níveis das construções e das conquistas. Logo, o ciclo de clicar em biscoitos, adquirir as primeiras propriedades, melhorias, e assim por diante, recomeça mais uma vez. A diferença agora são as poucas reminiscências, que agilizam um pouco o processo. Um exemplo é a melhoria chamada Portões Duplos da Transcendência, que mantém uma parte da produção de biscoitos funcionando mesmo quando fechamos o jogo.
 
Apesar das opções divinas estarem entre as coisas mais legais do game, como a possibilidade de criar um dragão ou mudar o papel de parede da tela de jogo, infelizmente, nem todos irão conhecê-las. Admito que, enquanto me interessei pelo processo, ele é lento e tem momentos pouquíssimo atrativos. Mesmo a boa trilha sonora do artista C418 pode não ajudar o suficiente para manter uma boa parte dos jogadores engajados, ainda que eles tenham se interessado pelo gênero de forma geral.

Faltou leite para acompanhar as bolachas

Conheci o título no seu boom inicial, lá em 2013, como um título curioso para rir com os amigos. Oito anos depois, a impressão inicial continuou a mesma: clicar em biscoitos para obter mais biscoitos é uma coisa meio maluca, mas simples e divertida, sobretudo graças às várias mecânicas disponíveis para aumentar a produção. O visual agradável e a extensa, mas entendível, quantidade de informações tornam a experiência ainda mais imersiva e viciante.
Vai mais uma bolachinha aí?
A questão é que, a partir daí, Cookie Clicker pode se tornar um game pouco atrativo. Existem períodos morosos em que o título não se decide se o jogador deve ficar atento ou deixar o tempo passar. Em qualquer dos casos, a paciência deverá ser uma virtude obrigatória e generosa, pois só depois de algum tempo ela renderá bons frutos, digo, bolachas. Se você gostar da primeira mordida e conseguir suportar os amargos sazonais, então os biscoitos irão te fornecer uma infinita e saborosa diversão; senão, melhor tentar alguma coisa mais saudável.

Prós

  • Proposta inusitada, interessante e bastante acessível;
  • Visual bonito e interface organizada com informações bem detalhadas;
  • Mecânicas de jogo viciantes (pelo menos no início);
  • Trilha sonora de qualidade;
  • Flexibilidade para aproveitar o game de várias formas.

Contras

  • Ideia pode não ser atraente para muitos jogadores;
  • Mesmo alguém interessado precisa de (muita) paciência para conhecer tudo que o game tem a oferecer.
Cookie Clicker — PC — Nota: 7.0
Revisão: Thais Santos
Análise produzida com cópia cedida pela Playsaurus


é produtor de conteúdo sobre games desde 2016 e um grande fã da décima arte, embora não tenha muito tempo disponível para ela. Seus games favoritos (que formam uma longa lista) incluem: KH, Borderlands, Guitar Hero, Zelda, Crash, FIFA, CoD, Pokémon, MvC, Yu-Gi-Oh, Resident Evil, Bayonetta, Persona, Burnout e Ratchet & Clank.
Também encontra-se no Twitter @MatheusSO02 e no OpenCritic.
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