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Análise: Fallen Knight (Multi) traz uma bela aventura inspirada em clássicos de aventura e plataforma

Assuma o controle de um lendário cavaleiro na luta contra o mal em uma divertida aventura side-scrolling.



Em Fallen Knight nos deparamos com um mundo futurista em que os descendentes dos Cavaleiros da Távola Redonda atuam como os defensores de elite de um mundo que, embora avançado em tecnologia, ainda sofre com conflitos e guerras de diferentes povos. Lançado originalmente para mobile, é a vez de os consoles receberem uma versão que, apesar de sofrer com alguns problemas de adaptação, entrega uma experiência divertida com uma inovação ao gênero de aventura e plataforma.

A luta infindável do lendário cavaleiro

Um dos pontos-chave para a garantia de um futuro próspero para a humanidade sempre foi a busca por uma fonte segura de energia. Em Fallen Knight, esse dilema é resolvido quando uma antiga organização chamada Catedral consegue localizar o Santo Graal, uma relíquia capaz de conceder poder ilimitado. Agindo como detentores do poder, o grupo ordena que as nações se unam em uma só, causando uma grande guerra entre países favoráveis e aqueles que eram contra a proposta.




Os lendários descendentes dos Cavaleiros da Távola Redonda são o fator decisivo na vitória para o lado da Neo-ONU, a aliança mundial das nações. Esse fato, embora tenha proporcionado uma paz momentânea, não foi suficiente para impedir que um grupo separatista conhecido como a Resistência ressurgisse, causando o caos na maior metrópole, conhecida como Neo-Utopia. 

Em meio à ameaça iminente, conhecemos Lancelot, um dos cavaleiros lendários do Rei Arthur e detentor do título de Ira de Deus, graças a seus feitos durante a Última Guerra. Auxiliado por seus companheiros, dentre eles o seu amigo e também cavaleiro Galahad, ambos representarão a principal linha de defesa da honorável organização Catedral e dos cidadãos de Neo-Utopia.




A história do título é contada majoritariamente por meio de diálogos de texto e algumas poucas cutscenes. Entretanto, ela ganha maior profundidade nos arquivos de texto que vão sendo liberados conforme realizamos feitos específicos no jogo, como derrotar determinado chefe. Fiquei impressionado com o quanto os desenvolvedores foram capazes de desenvolvê-la a partir de uma motivação simples para justificar a ação, para algo mais denso e repleto de figuras principais e secundárias, cada uma com um pequeno plano de fundo e uma motivação no conflito.

É uma pena que boa parte dessa expansão não tenha sido incorporada em forma de conteúdo jogável na obra, ficando claras as limitações de um título desenvolvido primariamente para celulares. Ainda assim, é divertido acompanhar a jornada de Lancelot na luta contra a Resistência e os chefões conhecidos como Expurgadores. Conforme avançamos, o título demonstra bem que no âmbito do clássico conflito entre bem e mal existem entrelinhas obscuras que nos levam a questionar o papel de cada lado da guerra.




Além da campanha clássica com Lancelot que nos coloca em confronto contra cinco Expurgadores espalhados por fases com diferentes biomas, há a presença do modo Trajeto de Galahad, que nos apresenta uma rota alternativa no enredo de acordo com o ponto de vista de nosso aliado, e o modo Chefão na Mira, que remete à clássica arena, colocando-nos em confronto direto contra os perigosos vilões. Fora isso, a campanha ainda traz o benefício de conter dois finais: um regular e um chamado verdadeiro, que exige feitos mais desafiadores, como derrotar os inimigos de uma forma específica.

Todos esses detalhes ajudam a mitigar o fato de a obra sofrer de uma curta duração, podendo ser concluída em pouco mais de seis horas, no caso de jogadores que não ligam para conclusão de desafios adicionais. Mesmo com tantos extras, é predominante o desejo por mais conteúdo que aprofunde a narrativa e os personagens nela presentes.



O mais forte de todos

Lancelot, embora seja o mais jovem de todos os cavaleiros, é o mais renomado dentre eles. E ele demonstra isso muito bem no campo de batalha. O defensor da Catedral traz em seu arsenal diversas habilidades com a espada e de movimentação, como pulos duplos e investidas. Grosso modo, são movimentações características do gênero e que serão de rápida assimilação para veteranos em jogos como Mega Man X.

As fases seguem o mesmo padrão de sua inspiração, apresentando biomas de acordo com as características do vilão local. Durante o trajeto encontramos diversos obstáculos como locais elevados, abismos e diversos inimigos. Esses últimos apresentam uma variação muito baixa, trazendo sempre o mesmo padrão visual e mudando apenas o tipo de seu armamento: rifles, lança-foguetes e armas de combate corpo a corpo. No caso dos chefões, a coisa melhora completamente, pois, além de todos agregarem um pequeno contexto à trama, ainda contam com visual, animações e poderes marcantes. E esse capricho se estende, em alguns casos, ao cenário em que acontece o confronto.

Um dos que mais me marcaram foi a Whisper, uma mortífera sniper que não só tenta nos alvejar durante toda a fase, como no momento da batalha nos leva a um local repleto de  áreas remotas, excelentes para que ela troque sua posição com frequência e efetue muitos disparos em segurança. É notória a referência aos duelos de rifles na série Metal Gear, em que o papel de caça e caçador se inverte a todo o momento. Em todas as contendas, prevalece sempre a regra máxima de manter a leitura dos movimentos inimigos afiados a fim de antecipar suas ações.

Ao término de cada mapa, somos levados de volta para a base, onde podemos selecionar nosso próximo alvo, aprofundar-se mais na história de Fallen Knight através dos textos presentes no Arquivo e comprar novos poderes e vantagens com os Pontos de Honra obtidos na conclusão das fases.




Dentre as perícias de Lancelot, a mais evidente e que destaca a inovação da jogabilidade do título é a habilidade de aparar e contra-atacar nossos oponentes. Ao acionar o comando de ataque no momento do ataque adversário, nosso cavaleiro realiza uma rápida aparada com a espada, seguida de um letal contra-ataque. A animação do movimento é repleta de estilo e, mesmo que para dominá-la seja preciso aprender a movimentação inimiga, seu tempo de execução não é algo penoso de ser alcançado. Para aqueles que curtem um desafio, fica aqui o convite para derrotar todos os chefes apenas com essa técnica.

Na questão do level design, o único aspecto do qual eu senti falta foi a presença de locais secretos, algo muito comum em jogos desse tipo. O único item a ser resgatado em cada incursão é um importante coração azul que não só recarrega toda a sua vida, como também amplia sua capacidade máxima. Ainda assim, a maioria encontra-se em locais de fácil localização.




Pane no sistema

A chegada de Fallen Knight às plataformas convencionais de jogos, infelizmente, veio acompanhada de muitos problemas técnicos. Ficou claro que muitos aspectos pensados na interface de um jogo mobile não foram bem adaptados para os controles e teclados. Fora isso, o jogo trouxe muitos bugs de desempenho que, em alguns casos, eram capazes de desestimular o jogador. 

Por sorte, os desenvolvedores da Fair Play Studios foram ágeis em soltar a atualização 1.01, que consertou a maioria desses inconvenientes e aperfeiçoou mecânicas na jogabilidade. Atualmente, a única coisa que me incomodou de maneira mais expressiva foram os controles no momento em que estamos na base caso você esteja utilizando um gamepad no PC. Ficou a impressão de que nem todos os comandos foram devidamente mapeados e precisei recorrer à tecla Enter do teclado para confirmar a compra de habilidades na loja e confirmar a próxima fase. É algo que não chega a comprometer a experiência, requerendo apenas uma certa adaptação por parte do jogador.




No aspecto visual não tivemos nenhum salto significativo entre as versões de celular e a atual. Contudo, já em 2019, quando foi disponibilizado na Apple Arcade, o jogo já apresentava gráficos 2D com efeitos que simulam o 3D muito caprichados, que se aproximam da última edição do Blue Bomber, Mega Man 11.

Pela honra e pela glória dos cavaleiros

Mesmo com os problemas iniciais, que atualmente foram majoritariamente sanados, Fallen Knight pode ser considerado um “sucessor espiritual” de respeito da franquia Mega Man X. O título consegue reunir combates velozes e emocionantes, chefes icônicos e uma história bem elaborada, aspectos muito apreciados no gênero de aventura e plataforma. A experiência não só foi satisfatória, como também deixou o desejo por mais do universo de Lancelot e seus companheiros. Resta-nos então torcer para que a Fair Play Studios consiga dar andamento à história, de preferência com um orçamento adequado a um jogo pensado para plataformas convencionais.



Prós

  • Combates velozes e com boa dose de desafio;
  • Enredo e personagens bem construídos e explorados em arquivos de texto;
  • Campanha com finais diferentes;
  • Modos de jogo extras que complementam a história.

Contras

  • Curta duração da campanha principal;
  • Uma parte interessante da narrativa está restrita ao Arquivo;
  • Comandos no menu de seleção de fase mal adaptados para o gamepad na versão PC.
Fallen Knight — PC/PS4/XBO — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela PQube

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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