Blast from the Past

Devil May Cry (PS2): 20 anos da Divina Comédia de Dante, o filho de Sparda

O jogo que trouxe ação frenética, com muito Rock and Roll e demônios para matar.

Há 20 anos, ninguém imaginaria que criar uma sátira da Divina Comédia de Dante Alighieri ao misturar elementos clássicos de filmes de ação dos anos 80 e 90, uma trilha sonora agitada e colocar uma pitada a mais de absurdo, resultaria no jogo que foi um marco para o gênero hack and slash. E sim, estamos falando de Devil May Cry, o início de uma franquia de sucesso que criou um dos protagonistas mais famosos e amados por cosplayers de todo o mundo, Dante.

Abrindo as portas do inferno

Hideki Kamiya trabalhou por anos no desenvolvimento de Resident Evil e Resident Evil 2, e quando estava escrevendo o roteiro de um possível Resident Evil 4, percebeu que estava se distanciando muito da ideia geral dos jogos da franquia. A Capcom também concordou com esse ponto de vista e deu liberdade criativa para Kamiya transformar o roteiro em um projeto independente, dando origem ao primeiro jogo da franquia Devil May Cry. Ambientado em um cenário gótico sombrio e com uma jogabilidade dinâmica, com velocidade e liberdade de movimentação, o jogo se transformou em um clássico recomendado até hoje. 

A clássica cena do escritório

A marca registrada de muitos filmes famosos de investigação é uma cena, logo no início do filme, com uma distinta dama entrando no escritório do investigador, trazendo suspense e um mistério para resolver. E é assim que Devil May Cry começa. Bem… não exatamente assim, afinal estamos falando de Devil May Cry, não é mesmo? No lugar de uma distinta dama, a história começa com Trish, uma mulher com óculos escuros e roupas apertadas de couro, no melhor estilo Matrix, que chega dirigindo uma moto esportiva. Seu destino é um escritório chamado “Devil May Cry”, um lugar tranquilo com várias cabeças de demônio empaladas na parede, cujo dono é um homem de cabelos brancos chamado Dante.
 
O diálogo entre os dois se desenvolve para uma luta e descobrimos coisas importantes sobre Dante: ele não morre após ser atravessado por uma espada na barriga e consegue impedir que uma moto caia sobre ele dando tiros nela. Além disso, ele não é um humano comum, mas um meio-demônio filho de Sparda, lendário demônio que se revoltou contra sua espécie e selou Mundus, o imperador do submundo.
 
Amor à primeira bica.

Descobrimos também que Dante está à procura de vingança pela morte de sua mãe e de seu irmão, mas Trish precisa de sua ajuda. Mundus pretende abrir os portões do submundo na ilha de Mallet para libertar os demônios e, assim, conseguir controlar o mundo dos humanos. 
 
Dante não é o típico herói que se lança em uma jornada para salvar a humanidade sem motivo algum, mas, nesse caso, ele foi motivado pela semelhança de Trish com sua falecida mãe e pela possibilidade de matar muitos demônios. Essa cena inicial no escritório se tornaria uma das marcas registradas da franquia Devil May Cry, sendo repetida na apresentação de Dante em outros jogos da franquia.

Dante

A ambientação de Devil May Cry é baseada em uma obra religiosa, então é fácil imaginar que os antagonistas serão demônios. O design de alguns desses inimigos é bastante inspirado nos clássicos tokusatsu e remetem a humanóides com partes que lembram a anatomia de insetos, inclusive o próprio Sparda e a transformação de Dante possuem essas características bem evidenciadas.

E para enfrentar os demônios, nada melhor que um protagonista correto, imaculado, com um inabalável senso de justiça, certo? Claro que não! Dante na verdade é um anti-herói meio preguiçoso que só se empolga quando vai lutar e foi inspirado no pirata espacial Cobra, o protagonista de uma série de mangás publicados na Weekly Shonen Jump (1978-1984).

Sua característica mais marcante e que o faz ser amado por seus fãs é o seu senso de humor: mesmo diante de criaturas gigantes e grotescas, ele sempre faz uma zoeira com a cara do vilão e em seguida parte para a porradaria bruta. Isso acontece porque Dante é um personagem realmente forte dentro do jogo, e esse poder permite que ele seja mais tranquilo em relação aos conflitos e favorece a personalidade cômica, muito parecido com o que acontece com o personagem Saitama, de One Punch-man.
 


Ganhe orbes e seja feliz, Jackpot!

Se você já jogou God of War e ficou feliz por ganhar pontos matando inimigos e achando itens de aumento de vida ou mana, agradeça a Devil May Cry, que popularizou esse sistema de pontos e evolução. O jogo utiliza orbes de diferentes cores com rostos distorcidos (que lembram o Behelit do mangá Berserk) para várias funções. Dependendo de sua cor, os orbes podem ser usados como moedas de troca para comprar itens ou habilidades, ressuscitar após morrer, aumentar a barra de HP e de Devil Trigger (transformação em demônio) e outras funções.

Combate frenético, mas com estratégia

A movimentação de Dante é bem fluida (para a época) e permite que o jogador lute com vários inimigos ao mesmo tempo. Esse é um dos fatores de destaque do jogo, então se posicione bem antes de começar a lutar para não morrer tão facilmente. Outro ponto importante é a variedade de armas que estão à disposição e podemos dividi-las em: armas de combate próximo e à distância.

As armas de Devil May Cry são um diferencial do jogo, pois elas possuem características próprias, quase como se tivessem personalidade. E toda essa variedade de armas fornece ao jogador diversas possibilidades, tanto de combos quanto de estratégias, deixando o jogo mais dinâmico e divertido. As armas à distância são basicamente armas de fogo (revólveres, bazucas e etc) e, assim como as armas de combate próximo, têm diferentes tipos de dano, velocidade e alcance, ficando por conta do jogador decidir a melhor forma de usá-las. Mas nem tudo é maravilhoso em Devil May Cry: a mecânica de movimentação de Dante enquanto está atacando não permite mudar de direção enquanto a ação está sendo executada, e isso causa certa irritação em alguns momentos do jogo.

O Devil Trigger é uma habilidade em que Dante se transforma temporariamente em demônio, deixando-o mais forte, melhorando atributos como força e velocidade. Essa habilidade também recupera um pouco de HP durante o tempo que permanece ativada. A transformação não é infinita e possui uma barra que precisa ser carregada para utilizá-la novamente, então use-a com sabedoria.
Ela não faz ideia de quantas vezes eu morri.



Devil May Cry está longe de ser um jogo fácil e é necessário um pouco de estratégia e não apenas sair apertando todos os botões. Os inimigos possuem características próprias e a combinação entre as diferentes armas de Dante facilita muito a matança. Se não for cuidadoso, é bem provável que morra para inimigos comuns e isso pode fazer com que você tenha que recomeçar a fase, pois os checkpoints são limitados ao número de orbes amarelos que você encontra pelo mapa ou que consegue comprar. Se gastar com mortes bobas, depois irá se arrepender.

Os chefes também devem ser estudados com cuidado: analise seus padrões de movimento, os pontos fracos, racione itens e saiba a hora certa de se transformar em demônio. Se os jogadores mais novos acham que passar raiva morrendo começou nos jogos da saga Souls, não jogaram Devil May Cry ainda. Aqui fica uma dica: quando chegar no último chefe, tenha muita paciência, evite quebrar o controle por raiva e, se possível, saia para tomar um ar e um copo de água antes de voltar para morrer novamente.

Violência com estilo

Em Devil May Cry, zerar o jogo não é suficiente, é preciso zerar com estilo! Você começa inocente e quando percebe seus dedos já estão pegando fogo e cheios de calos, seu controle não é mais o mesmo (descanse em paz) e tudo o que importa é fazer combos cada vez melhores. O foco é fazer combos elaborados e não ser atingido para receber pontos de estilo, que aumentam a quantidade de orbes vermelhos adquiridos por inimigo abatido e contribuem para o seu rank ao final da missão.
Não vale só ficar de longe atirando com as pistolinhas!
Vale ressaltar que a câmera muitas vezes nos prega peças e dificulta algumas lutas. Sustos são inevitáveis, herança da câmera fixa dos jogos de Resident Evil que, além disso, também serviu de inspiração para os moldes de exploração, tornando partes do mapa acessíveis apenas com o desenvolvimento da história, resolução de quebra-cabeças e itens específicos.

Uma inspiração para futuros jogos

Durante muito tempo, os jogos hack and slash ficaram saturados pela falta de dinâmica na movimentação dos personagens e no combate. Devil May Cry resolveu esse problema e se tornou inspiração para tantos outros jogos famosos que vieram depois, como por exemplo: Bayonetta, God of War, Dante’s Inferno e Castlevania: Lords of Shadows.

Inspirar nomes de peso já seria um grande feito, mas a franquia Devil May Cry segue firme até os dias de hoje. Devil May Cry (2001), Devil May Cry 2 (2003), Devil May Cry 3 (2005), Devil May Cry 4 (2008) e Devil May Cry 5 (2019) compõem o cânone da franquia. Uma tentativa de reboot também foi feita com DmC: Devil May Cry (2013), mas acabou não funcionando pelas mudanças drásticas em algumas características de Dante, que perdeu sua coloração branca dos cabelos junto com um pouco de seu porte físico e músculos, e isso não agradou os fãs.

Além disso, Devil May Cry possui representação em outras mídias, com um anime, HQ’s e light novels, em uma cronologia tão complicada quanto a dos X-Men nos cinemas.
Com tudo isso, Devil May Cry se firmou como um marco nos jogos hack and slash e pavimentou a estrada para que outros jogos do gênero fizessem sucesso. É sem dúvidas um clássico que figura até hoje em listas de jogos obrigatórios para se jogar.

Devil May Cry foi lançado inicialmente para PlayStation 2, mas os três primeiros jogos foram remasterizados em Devil May Cry: HD Collection, que chegou ao PlayStation 3, Xbox 360 e PC.

Revisão: Farley Santos

Biólogo que vive em jogatinas há muitos anos, passou por alguns consoles, mas segue por mais tempo na dinastia Playstation. Curte franquias como Metal Gear, Silent Hill, God of War e outros tantos jogos. Fala de tudo um pouco em @afogadosnodeserto
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