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Análise: RiMS Racing (Multi) exalta a paixão pela motovelocidade nos mínimos detalhes

O simulador da RaceWard Studio traz uma experiência que limita seu público aos verdadeiros fãs da adrenalina sobre duas rodas.


A paixão pelas duas rodas é um sentimento que não pode ser descrito. Para saber o que é isso, é necessário já ter sentido o prazer, a adrenalina, de rodar em uma motocicleta e sentir o vento da liberdade e atitude no rosto. Motivados por essa sensação, os desenvolvedores italianos da RaceWard Studio criaram o que consideram como o simulador definitivo para os fãs da motovelocidade.


RiMS Racing traz, nos mínimos detalhes, a experiência de se pilotar icônicas e poderosas máquinas em conhecidas localizações e circuitos profissionais, além de adicionar uma experiência única de engenharia e mecânica ao pacote. Pensando em transmitir essa paixão aos jogadores, temos um simulador que peca pelo excesso para trazer uma vivência de pilotagem que só vai agradar quem é muito fã de motos, deixando a experiência pouco agradável para quem é mais casual ou só curte dar uma voltinha.



Aprendendo a pilotar uma moto

“Existe um estigma que paira os jogos de simulação de corrida que é a dificuldade em se adaptar.” Foi a frase que usei para começar minha análise de F1 2020 (Multi) no ano passado. Gosto de lembrar disso pois, mesmo não sendo muito adepto de simulação, e curtir esportes de um modo geral, acho importante que um jogo desse estilo seja amigável com quem pretende começar e não pode, ou mesmo tem condições, de investir tempo e acessórios para ter uma experiência satisfatória nesse mundo. Foi graças a isso que aprendi a apreciar mais os títulos deste gênero.


Em RiMS Racing tive uma experiência pouco agradável ao montar em uma motocicleta pela primeira vez. Por padrão, eu gosto de deixar o máximo de assistências ativas e ir ajustando conforme vou me adaptando aos controles. Em outros jogos do gênero, como os da série Gran Turismo e o já citado F1, pude adaptar os controles para não deixar a experiência tão inclinada para algo mais arcade, mas nem tão complicada e realista como a sua proposta original. Procuro sempre o meio termo, priorizando o lado da simulação, para sentir a experiência como realmente deve ser aproveitada.

Aqui, por conta da minha dificuldade em me adaptar a um estilo de pilotagem o qual não estou acostumado — gosto de brincar dizendo que não tenho habilitação para dirigir motos nos videogames — por ser mais familiarizado com carros, levei um bom tempo para ajustar os controles para que eu conseguisse jogar. No fim das contas — e depois de cair muito — eu não me senti muito confortável em deixar boa parte das assistências desativadas e optei por deixar o game jogável para mim. Passada esta etapa, é chegada a hora de ver o conteúdo que RiMS Racing tinha para mim.

Investindo em uma carreira

RiMS Racing conta com um modo tutorial para ensinar o básico da pilotagem, um individual onde você pode ajustar detalhes de clima e situação do asfalto para pilotar com qualquer uma das motos disponíveis que, diga-se de passagem, estão mais sedutoras do que nunca. BMW, Ducati, Kawasaki, Suzuki e outros icônicos bólidos sobre duas rodas. Há também um modo multiplayer local, online e o principal do jogo: a Carreira. 


Aqui o jogador gerencia suas atividades no decorrer de uma temporada composta por 70 eventos. Estas atividades variam entre etapas de competições regionais, provas individuais e corridas patrocinadas. Triunfar nestes eventos premiam o jogador com dinheiro para a compra de peças e pontos usados para investir em seu escritório, contratando e aprimorando setores de engenharia, desenvolvimento e comercial.

O que deixa o andamento da temporada lento e desinteressante são as atividades que se passam entre uma etapa e outra. Um ponto crucial nesta experiência é a manutenção constante da moto. O jogador precisa aprender a criar uma rotina de manutenção da máquina para que ela não perca nos quesitos performance e desempenho. A forma como isso é feito no jogo agrega muito à experiência, mas pode espantar quem não está disposto a sujar as mãos de graxa, quase que literalmente.

A atenção dada a esta característica do jogo é impressionante. Chega até a assustar por conta da quantidade de detalhes. Se em um outro jogo qualquer você precisar, digamos, trocar os pneus do veículo, basta selecionar esta opção e confirmar, correto? Aqui essa mesma atividade exige que os pneus sejam trocados individualmente pelo jogador. Você deve desmontar a peça e substituir pela nova seguindo uma série de comandos que emulam a tarefa de usar as ferramentas para tal.


Nas primeiras vezes isso é até divertido, mas lá pela quinta ou sexta vez que você precisa desmontar algo para fazer a reposição, se torna bem chato e repetitivo. É interessante ver, a nível de detalhes, cada etapa da montagem e manutenção da motocicleta, mas o excesso de trabalho exigido para essa atividade tira um pouco o elemento diversão. O gerenciamento destas peças, como compra e venda, também carecem de uma interface e navegação mais simplificadas para deixar essa etapa mais dinâmica.

Peças sem uso podem ser vendidas enquanto estão em boas condições para não perderem muito valor de revenda, enquanto outras podem ser compradas com desconto em momentos oportunos. Só não dá pra estocar muita coisa, pois o espaço no inventário é limitado, e a grana também precisa ser usada para outros objetivos, como o vestuário do piloto e melhorias no galpão.

Até aqui parece que só estou reclamando, mas vamos lembrar que estamos jogando um videogame, e não praticando para uma prova do Detran. Desativar esta atividade ou minimizar o número de passos dela poderia ser uma opção para deixar nosso progresso pela campanha mais ágil. No fim das contas, eu quero me divertir.

Esses quick time events se estendem até mesmo aos trabalhos de pit stop durante as provas. Quando parei pela primeira vez e os comandos apareceram na tela, não economizei ao soltar um “Eu que tenho que trocar esse pneu?”. Foi engraçado, admito, mas também foi uma forçada de barra.


Durante a pilotagem o jogador pode acessar uma interface interessante, chamada de Verificação de Status da Motocicleta (VSM). Ao acionar essa função, o jogo é pausado e você pode analisar detalhadamente cada componente da moto. Alguns são mostrados o tempo todo no HUD como situação dos pneus, nível de combustível e situação do amortecedor e discos de freios. Outros como a parte elétrica, molas e pastilhas só podem ser vistos nesta tela. Por aí já é possível ver o que você vai precisar mexer na moto quando voltar para a garagem.

Sobra potência nos visuais, enquanto falta na performance

Um ponto que realmente me deixou impressionado em RiMS Racing diz respeito ao departamento visual. Mesmo jogando em um console da geração anterior, ciente de que o que estava sendo mostrado na minha tela pode ser bem mais bonito do que deveria, a riqueza de detalhes, principalmente na iluminação e no design das motos foi algo que chamou minha atenção. Nada que supere grandes nomes do gênero como Gran Turismo ou Forza Motorsport nesse quesito, mas tem seus méritos.

O design de som também favorece muito a jogatina, com uma reprodução fiel dos motores das motos, mas ofuscado por uma trilha sonora, a meu ver, desnecessária, com músicas eletrônicas deixando as sessões de pilotagem barulhentas demais. Nesse caso, achei melhor jogar com a música desligada mesmo.


O modo foto foi bem aproveitado enquanto brincava de fotógrafo mais uma vez para registrar algumas imagens. Entretanto, toda essa beleza pesou na hora de renderizá-lo no PlayStation 4 base, onde joguei.

Nas etapas das quais eu pilotava sozinho ou competindo contra um oponente, não tive muitos problemas de performance. O problema ficou escancarado nos circuitos onde dez pilotos estavam presentes, principalmente em circuitos mais detalhados.


Tive uma etapa em Laguna Seca (EUA) em que minha tarefa de não cair da moto se tornou quase hercúlea quando a taxa de quadros, que já é baixa, teimava em cair, aliás, despencar! Houve mais de um momento em que ela chegou a zero, congelando a tela. O que realmente me impressionou foi o console não ter fechado o jogo. Meu PS4 foi mais guerreiro do que eu nessas horas.

Essa otimização ruim comprometeu em parte minha experiência, visto que já sabia bem as situações que isso iria acontecer. Ainda consegui pilotar por mais alguns eventos até cair no marasmo da falta de variedade. Muitos deles acabam sendo repetidos e a experiência como um todo ficou na casa da mediocridade, pelo menos para mim.

É pra quem realmente gosta de motos

RiMS Racing é o tipo de produto que segue à risca aquela regra dos simuladores: é um jogo de nicho. A falta de opções para deixá-lo atraente para um público mais casual limita quem vai realmente apreciar o game. Minha experiência não foi das melhores, mas tive meus momentos nos quais realmente curti a experiência de pilotar uma super moto, algo que jamais faria na vida real.

Se está em busca de uma alternativa a jogos como Ride, MXGP ou similares, RiMS Racing pode não ser uma opção para você. Este é o tipo de jogo feito para quem realmente gosta, vive e respira motovelocidade. Dirija com cuidado!

Prós

  • Simulação altamente realista;
  • Características de mecânica e engenharia inéditas para o gênero;
  • A direção de arte chama a atenção com o cuidado aos detalhes.

Contras

  • Pouco convidativo para o público mais casual, não habituado com simuladores;
  • Modo carreira com progresso lento e atividades pouco variadas;
  • As etapas de manutenção da motocicleta ficam cansativas com o tempo;
  • Menus com interface pouco funcional;
  • Otimização ruim no PS4 base, com quedas frequentes na taxa de quadros;
  • A trilha sonora durante as corridas é dispensável.
RiMS Racing – PC/PS5/PS4/XSX/XBO – Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: PlayStation 4
Revisão: Felipe Franco
Análise feita com cópia digital cedida pela Nacon

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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