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Análise: Quake (Multi) continua vivo, mas ainda é datado e agrada apenas aos saudosistas

Um dos jogos que definiu o gênero de tiro em primeira pessoa agora está disponível, com melhorias, para todas as plataformas da atualidade.


Os jogos de tiro em primeira pessoa começaram a cair no gosto dos jogadores durante a década de 1990, principalmente no PC. Vários títulos surgiram nesse período e se tornaram referências do gênero, com alguns se eternizando como clássicos: Wolfenstein 3D, Duke Nukem, Doom, Heretic... a lista é grande. Entre esses, também temos Quake. O título que mistura ficção científica com dark fantasy foi um dos que surgiram nessa época e se tornou um marco dos games de FPS.


Em 2021 a id Software trouxe de volta uma de suas "jóias da coroa” devidamente otimizada e atualizada para todas as plataformas atuais. Dentre as principais novidades deste relançamento, estão o suporte para resolução 4K e 120fps em dispositivos compatíveis, como o PC, e uma versão inédita em um console portátil, no Switch. Outras novidades também estão presentes, mas vamos falar um pouco mais delas enquanto analisamos este veterano de guerra.

25 anos de um antigo clássico

Em junho de 1996, Quake debutou nos PCs  em uma época em que o 3D era considerado o principal salto tecnológico até então. O jogo foi criado por John Carmack,  programador responsável por desenvolver o motor gráfico que também foi usado em Wolfenstein 3D em 1992 e em Doom no ano seguinte. John aprimorou o motor para ser implementado em Quake, sendo o primeiro game da id totalmente modelado em 3D. Ao lado você confere a capa original, da época em que os jogos para PC vinham naquelas caixas enormes.

O jogo se passa em um cenário que mistura elementos futuristas e industriais com locais de temática medieval. Os inimigos seguem essa mesma tendência, variando de soldados armados com fuzis tecnológicos a criaturas abomináveis e grotescas com visual ameaçador e comportamento extremamente agressivo.
John Carmack, fundador da id Software, foi chefe de tecnologia da Oculus até 2019 e atualmente se dedica ao trabalho com inteligência artificial
O gameplay deixa evidente a necessidade de não vacilar enquanto andamos pelos corredores e salas das fases. Ao longo do caminho, descobrimos passagens secretas e ampliamos nosso arsenal com armamentos como escopetas, armas de pregos, lançadores de granadas e bazucas, para responder de igual para igual à ferocidade dos adversários.

Ao longo de trinta e duas fases, o jogador deve recuperar quatro runas mágicas para acessar a área final e enfrentar aquele que chamam de “Quake”: a horrenda e tenebrosa figura de Shub-Niggurath. Essa tarefa pode ser fácil ou beirar o impossível, deixando a escolha por conta do jogador. Os que optarem pelo desafio supremo devem encontrar a passagem secreta para jogar a campanha nesse nível de dificuldade — um detalhe que a equipe de desenvolvimento deixou de propósito para que desavisados não tropecem e caiam de boca no inferno.

Novidades para uma nova audiência

O relançamento de Quake para as plataformas atuais trouxe não só a experiência original de 1996, mas também algumas novidades para adequá-la a um público acostumado com diversos modos de jogo. Já citei que ele está devidamente otimizado para as altíssimas resoluções que são padrão hoje em dia, mas graficamente ele continua bastante datado, com modelos poligonais que deixam boa parte dos ‘bonecos’ com aquele aspecto quadrado da época do primeiro PlayStation. Os novinhos com certeza vão torcer o nariz para esse visual.
O relançamento traz o jogo original com quatro expansões, sendo uma delas inédita
As expansões de história Scourge of Armagon e Dissolution of Eternity, originalmente lançadas em mídia física, foram integradas à campanha principal e agora vêm inclusas em Quake. Um terceiro DLC, chamado de Dimension of the Past, que foi criado pela Machine Games em homenagem aos 20 anos da série, também está incluso como padrão juntamente com um quarto pacote, esse sim inédito, chamado de Dimension of the Machine, criado para celebrar o 25º aniversário. Em resumo, agora tem fase pra chuchu, sendo possível ainda selecionar qualquer uma delas a qualquer momento no menu inicial.

O multiplayer online com suporte ao cross-play é outra novidade. Agora é possível organizar partidas cooperativas ou competitivas com jogadores em qualquer uma das plataformas em que Quake está disponível. Se jogar pela internet não for sua praia, você pode deixar o saudosismo falar mais alto e jogar junto a três amigos em tela dividida. Só não vale ficar olhando pra tela do colega, hein!
Eita bicho feio!
O suporte oficial a mods também foi implementado nesta nova versão. Sob curadoria da própria id Software, no menu de add-ons será possível baixar pacotes que modificam o jogo, adicionando mais variedade às suas sessões de jogatina. Na ocasião do lançamento, um pacote que já está disponível para download é o do Quake 64, que inclui a trilha sonora alternativa original, criada pelo compositor Aubrey Hodges.

A nostalgia ajuda um pouco

Ver Quake oficialmente disponível e integrando as principais comunidades de games da atualidade é algo reconfortante — pelo menos para mim, que tive o privilégio de jogar a versão original, ainda que fosse em shareware, como eram chamadas as versões de demonstração naquela época. Poder curti-la novamente em meu televisor de 40 polegadas é algo que eu não me imaginaria fazendo nem nas mais otimistas das situações.

Acontece que essa nostalgia escorrega da mesma forma que a movimentação do protagonista. A versão que recebemos foi a do PS4, e jogar Quake no controle é bem estranho, desconfortável até. A discrepância da jogabilidade em um controle em comparação com o combo teclado e mouse é gritante. Alguns jogos, como Doom (2016) foram bem adaptados para ser mais amigáveis ao jogar com um controle, mas nesse caso eles foram refeitos, e traçar esse tipo de comparação soa até injusto.
A nova roda de seleção agiliza a troca de armas
Jogar no controle, além de não apresentar a mesma precisão e agilidade necessárias para sentir a real experiência do game, parece até meio errado. É o tipo de jogo que foi feito para ser jogado no PC mesmo. Se for jogar o multiplayer, desative o cross-play, pois ali a diferença na jogabilidade fica muito evidente. O suporte a teclado e mouse poderia ser uma opção válida aqui.

Os modelos 3D datados, como já mencionei, também ajudam a frear a nostalgia. Apesar de gostar muito de Quake, depois de algumas horas os cenários já ficam desinteressantes e tediosos. Fiquei mal-acostumado com a beleza e realismo dos games atuais. É o tipo de jogo que te ganha mais pelo saudosismo do que pelo restante do pacote, diferentemente de títulos que se inspiram nessa estética. Aqui o que era feio continua feio mesmo.

Eterno clássico

Mesmo com tantos detalhes que nos deixam com aquela sensação de "podiam ter feito isso/aquilo" para dar um fôlego extra, a id Software optou pelo certo em manter a experiência original como prioridade neste relançamento. É sempre bom ver velhos rostos de volta ao rolê, mesmo que estejam todos surrados e sangrando. Regozijem-se, noventistas! Quake está de volta e continua autêntico.

Prós

  • Ótimo custo-benefício em relação ao seu lançamento original, contendo todos os pacotes de expansão;
  • Suporte oficial a mods;
  • Multiplayer local e online com suporte ao cross-play;

Contras

  • A jogabilidade no controle não é tão boa quanto outros jogos atuais do gênero FPS;
  • Pouco interessante graficamente para chamar a atenção de novos jogadores.
Quake – PC/PS5/PS4/XSX/XBO/Switch – Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PlayStation 4
Revisão: Davi Sousa
Análise feita com cópia digital cedida pela Bethesda

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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