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Análise: Scarlet Nexus (Multi) traz ação estilosa em um vibrante universo anime

Ótimos combates e uma atmosfera bem trabalhada são os maiores destaques da nova aposta da Bandai Namco.


Em Scarlet Nexus, criaturas bizarras ameaçam o mundo e somente pessoas com poderes psíquicos são capazes de derrotá-las. No controle de dois diferentes heróis, participamos de combates em que elementos dos cenários podem ser lançados nos inimigos, resultando em embates ágeis e variados. O jogo utiliza conceitos de animes para criar um mundo único e com personagens carismáticos, e há vários sistemas de RPG para deixar a aventura mais elaborada. O título é ambicioso e tenta fazer muita coisa ao mesmo tempo, acertando principalmente na ação ágil, mas escorrega em sua narrativa e na superficialidade de certos aspectos.

Em um mundo brainpunk

Em um futuro distante, a humanidade mudou completamente com a descoberta de um hormônio no cérebro que dá habilidades psíquicas às pessoas, como lançar chamas, teletransportar-se ou comunicar-se telepaticamente. Depois de um estranho evento na atmosfera, apareceram as Criaturas, monstros agressivos que se alimentam de cérebros humanos. Para combater essa ameaça, foi criada a Força de Supressão de Criaturas (FSC), cujos membros usam seus poderes psíquicos para lutar.

Nesse contexto, acompanhamos as histórias de dois cadetes. Yuito Sumeragi é membro de uma importante família que tem grande influência sobre a FSC e a política. Já Kasane Randall é uma orfã com passado enigmático e habilidades excepcionais. Mesmo com caminhos diferentes, o destino dos dois está entrelaçado em tramas complexas que exploram diferentes aspectos desse mundo. Cada um dos personagens conta com uma campanha própria e é importante terminar ambas para entender todos os detalhes.


Usando os poderes da mente para lutar

Scarlet Nexus é estruturado em diferentes capítulos cujo foco é completar missões repletas de combates. Cada um dos protagonistas tem um estilo de luta distinto: Yuito utiliza uma espada para golpes de curto alcance, já Kasane lança facas a média distância. Além disso, os dois contam com Psicocinese, um poder que permite lançar objetos nos inimigos. Usar essa habilidade consome um pouco da barra mental, que é recuperada com ataques físicos. Sendo assim, precisamos alternar entre os tipos de ofensivas para aproveitar ao máximo esses poderes.

Durante as tarefas, os heróis contam com a ajuda de companheiros de pelotão, que são capazes de emprestar seus poderes por meio de uma conexão mental. Ao se ligar a Hanabi, a arma é imbuída de fogo, o que permite incendiar inimigos. A clarividência de Tsugumi é essencial para enxergar monstros camuflados. Já o teleporte de Luka nos permite atravessar certos obstáculos e surpreender oponentes. Muitos inimigos apresentam vulnerabilidades a certos poderes, logo precisamos observar com cuidado para agir de acordo.


Pelo caminho, os heróis se fortalecem de diversas maneiras com equipamentos e experiência. Ao subir de nível, é possível gastar pontos em uma árvore com habilidades passivas ou novas técnicas, como mais opções de combo. Depois de certo ponto na história, é habilitado o Campo Cerebral, uma técnica extremamente poderosa na qual o protagonista utiliza livremente seus poderes psiônicos lançando inúmeros objetos nos inimigos. Só é necessário cuidado: a habilidade exige demais do cérebro e mata o personagem caso o tempo limite seja alcançado, logo é importante desativá-la no momento certo.

Há conteúdo opcional fora da trama principal, mas ele não é muito interessante. As várias missões paralelas consistem em derrotar monstros de maneiras específicas ou coletar certos itens. A recompensa dessas tarefas é tão insignificante que simplesmente as ignorei. Outra atividade é reforçar os laços com os companheiros de pelotão por meio de presentes ou passando tempo livre com eles. Essas cenas exploram as personalidades desses personagens secundários e aumentar o nível de relacionamento libera habilidades úteis. Mesmo que simples, apreciei conhecer melhor os vários companheiros.
 


Quebrando tudo em batalhas visualmente impressionantes

Sabe aquela sensação empolgante das lutas de animes de ação? Scarlet Nexus oferece justamente isso com seu combate ágil e repleto de possibilidades. Durante os embates, faço inúmeras sequências estilosas: começo com um combo simples com a espada, uso a psicocinese para lançar uma caixa no inimigo enquanto salto para trás evitando um ataque e, em seguida, uso uma investida para me aproximar novamente com um golpe giratório no ar. Depois disso, executo um finalizador especial para acabar com o monstro de forma estilosa em animações repletas de ângulos dramáticos.

Os comandos são simples e responsivos, mas agir de qualquer jeito não é opção, pois é fácil ser cercado e derrotado. Cada inimigo exige estratégias e poderes específicos, exigindo destreza, adaptação e pensamento rápido. Foram inúmeras as vezes em que fui derrotado por ser afobado ou impulsivo, mas isso nunca chegou a ser frustrante, pois os pontos de salvamento automático são frequentes.

Fiquei surpreso com a diversidade de opções proporcionada pelos poderes e por objetos especiais espalhados pelos cenários. Em um confronto, lancei um barril de óleo em um monstro com armadura, em seguida utilizei habilidades de fogo para incinerá-lo. Em um metrô abandonado, usei o poder da mente para mover um trem e atropelar inimigos. Já em um hospital abandonado, derrubei um lustre do teto e o fiz girar como um pião para acertar os oponentes de longe. É muito divertido explorar essas várias interações com os poderes.


Apreciei a inclusão progressiva de novos recursos e ferramentas de combate. No começo Yuito e Kasane focam em atacar com suas armas e psicocinese, mas logo aparecem outras possibilidades. Depois de avançar nos relacionamentos, os parceiros oferecem ataques que, se utilizados no momento certo, permitem montar sequências devastadoras. Equipamentos e melhorias também expandem as opções e permitem customizar sensivelmente o estilo de jogo. Nos capítulos finais, os vários recursos transformam os combates em empolgantes lutas coreografadas e estilosas.

Mesmo com um ótimo sistema de combate, Scarlet Nexus sofre em certos aspectos. A variedade de inimigos é limitada e boa parte deles é derrotada sempre do mesmo jeito (principalmente aqueles que exigem um poder específico). Por causa disso, há uma sensação de repetição durante os embates, por mais que os objetos especiais e as combinações de monstros ajudem a trazer dinamismo. Acredito que inimigos ganhando novos movimentos ajudariam a trazer maior dinamismo.

A outra questão é o desenho dos mapas: a maioria das áreas é simples, linear e com estruturas parecidas. Particularmente não achei isso tão ruim, afinal o foco é claramente o combate e é ótimo mover rapidamente de uma arena para outra. No entanto, durante a trama e as missões paralelas, somos forçados a revisitar as mesmas áreas, o que evidencia ainda mais a simplicidade geral delas e traz sensação de cansaço. As campanhas dos dois personagens utilizam os mesmos cenários e inimigos, tornando o incômodo ainda maior. É uma pena também que os temas dos locais sejam bem básicos (uma estação de metrô abandonada, um hospital desativado, um campo de obras vazio) em comparação com a atmosfera geral do jogo.

Dentro de um anime jogável

Scarlet Nexus utiliza animes, ficção científica e muita tecnologia para criar seu universo futurista brainpunk em que a mente é o centro de tudo. O mundo impressiona com hologramas, comunicação via pensamentos e também elementos tradicionais da cultura oriental, sendo constante o contraste entre cidades tecnológicas e locais abandonados.


O visual usa uma mistura de cel shading e arte tradicional para criar uma ambientação única que transita entre dois estilos. A ação tem uma fluidez impressionante e transborda estilo, lembrando bastante animes repletos de lutas frenéticas. O design dos personagens é agradável, mesmo que não fuja muito do tradicional de animações japonesas; já as Criaturas impressionam com sua mescla bizarra de objetos com animais. A maioria das cenas não interativas é estática, mas as poucas animadas são bem produzidas e empolgantes, e é uma boa opção ativar a dublagem japonesa para reforçar a ambientação.

A temática de anime também está forte nos personagens e na trama. O elenco do jogo explora estereótipos conhecidos, como o protagonista estoico, a garota tímida, o rival irritadiço, aquele que esconde segredos ao fazer brincadeiras constantemente, entre outros. Mesmo que explorados de maneira superficial, eu gostei dos personagens, pois eles são divertidos e carismáticos.


Já a história, para mim, é um dos maiores defeitos de Scarlet Nexus. Tudo começa como uma simples luta de indivíduos com poderes contra monstros, mas a situação se complica constantemente e alcança níveis que desafiam a sensatez. O jogo tenta chocar com revelações atrás de revelações, porém são tantas coisas absurdas acontecendo que foi difícil me impressionar ou me importar — rapidamente ficou fácil saber que os próximos eventos seriam ainda mais grandiosos. Fiquei perplexo também com algumas cenas incoerentes em que rivais que acabaram de tentar se matar saem juntos para tomar um café e conversar.

Faltou também foco: a história explora inúmeros temas de forma superficial, como sociedades totalitárias, preconceito, as consequências da vigilância e do avanço tecnológico, revelações mirabolantes, poderes excepcionais, e muito mais. Particularmente, acredito que seria melhor uma história mais centrada, mas aqueles que gostam de tramas megalomaníacas de anime vão apreciar o que foi feito aqui.
 


Frenético, estiloso e divertido

Scarlet Nexus empolga com seus combates ágeis e atmosfera brainpunk. É extasiante usar poderes psíquicos para lançar objetos nos inimigos, desferir combos elaborados e fazer finalizações estilosas — é como estar no centro de um anime de ação. A diversidade de habilidades e recursos oferece diversas opções nas batalhas, sendo bastante recompensador combinar os poderes de aliados com o uso de objetos especiais para derrotar as criaturas. A estrutura linear da aventura e o foco em combates são acertados, mas é uma pena que a variedade de inimigos e cenários seja limitada. A ambientação inspirada em animações japonesas é ótima, mas a trama repleta de recursos narrativos absurdos e clichês é uma decepção. No mais, Scarlet Nexus oferece uma experiência de ação impressionante, a despeito de seus problemas.

Prós

  • Combate ágil e fácil de dominar;
  • Grande diversidade de habilidades e recursos trazem dinamismo aos embates;
  • Ambientação inspirada em animes com ótimo visual e personagens cativantes.

Contras

  • História sem foco que usa vários recursos narrativos de forma rasa ou absurda;
  • Cenários e mapas simples demais;
  • Variedade reduzida de inimigos traz sensação de repetição.
Scarlet Nexus — PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela Bandai Namco

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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