Blast from the Past

Saturn Bomberman (Saturn): explodindo tudo com (muito mais) amigos no console da Sega

A divertida série de robôs que explodem blocos aterrissou em quase todos os consoles ao longo dos anos e não seria diferente com o Sega Saturn.

Saturn Bomberman (Saturn), desenvolvido, publicado pela Hudson Soft e lançado em 1996 no Japão, manteve muitos dos padrões estabelecidos na franquia, desde Bomberman '93 (PC Engine) e Super Bomberman (SNES), além de expandir as possibilidades quanto à jogatina multiplayer de um modo nunca antes visto, sendo o primeiro de três jogos desenvolvidos pelo console da Sega.

Não era exatamente mau, mas apenas um prisioneiro

Ainda estou para conhecer quem quer que tenha colocado as mãos em um joystick com um mínimo de afinco que desconheça algum jogo da série Bomberman. No entanto, muitos jogadores (e fãs da série) ignoram a verdadeira origem do personagem.

A aparição inicial de Bomberman (ou “Bomber Man”, no original japonês) não se deu no jogo homônimo lançado originalmente para o NES, mas sim, no sucesso comercial do Quebra-Cabeças de Plataforma Lode Runner, que estreou no Aplle II, Atari 8-bit, Commodore 64 e outros dispositivos, desenvolvido por Douglas E. Smith e publicado pela Brøderbund em 1983.


O enredo simples nos apresenta o Galactic Commando, conhecido como “Lode Runner” (posteriormente alterado para Jake Peril quando outros “Lode Runners” foram introduzidos na série), que possui a missão de recuperar o ouro roubado pelos guardas do Império Bungeling.

No port do game para o NES, realizado pela Hudson Soft, o design dos guardas foi alterado e se aproxima muito da estrutura física básica do que é visto no protagonista de Bomberman.


Inclusive, o enredo original de Bomberman (desenvolvido e publicado pela Hudson Soft, com lançamento em 1985), conforme o manual japonês, menciona Lode Runner e informa que ele já foi um robô chamado “Bomberman”, utilizado pelas forças do mal para a fabricação de bombas em um labirinto subterrâneo, mas que fugiu para a superfície e se tornou um humano. Com esse ideal em mente, o protagonista de Bomberman tentará a mesma sorte, sendo o conceito para o título lançado no NES.

Do design adulto para aquele que cativa

Muita coisa mudou para a franquia desde então: a capa do jogo para NES possuía linhas muito bem feitas, porém adultas. O mesmo conceito foi acolhido em Bomberman: Act Zero, lançado para Xbox 360. Somado ao fato de que a estrutura de jogo foi alterada para uma disputa em arenas realistas, em contraste ao charme cartunesco e “fofinho” apresentado desde Bomberman '93 (PC Engine), Act Zero foi muito criticado e praticamente ignorado.

Pra que isso?


Felizmente, o design adotado pela Hudson Soft em Saturn Bomberman manteve os padrões empregados em Bomberman ’93 (eles ficaram visualmente menos “cheinhos” ao longo dos anos) e, diante da alta capacidade do console da Sega para jogos em duas dimensões, a desenvolvedora entregou para os jogadores o que melhor havia para o título.

Enfim, ao jogo…

Saturn Bomberman, assim como a grande maioria dos jogos convencionais da série, possui um enredo simplista: enquanto patrulhava o espaço em sua aeronave em busca de possíveis ameaças à paz, Bomberman percebeu um brilho que saía de dentro de uma floresta tropical, surgindo a Crystal Tower, responsável pelo aprisionamento do terrível Crator, uma criatura que possui o formato de um meteorito.

O herói percebeu que alguns dos cristais e o próprio Crator tinham desaparecido, quando recebeu um chamado de voz de Dr. Ein (novo personagem, inaugurado no título e assim permaneceria ao longo dos anos), informando que um tal Sr. Meanie (Sr. Mujoe, no original japonês) e sua gangue haviam libertado a criatura e estava utilizando seus poderes para dominar o mundo. Além disso, sua base estava instalada no parque de diversões MeanieLand. 

Dr. Ein na animação "Bomberman Jetters.

Com essas informações, White Bomberman e Black Bomberman partem para MeanieLand, onde deverão atravessar cinco estágios (ou mundos): Amusement World, Samurai World, Western World, Dino World e Mr. Meanie's Future World. Para que possa prosseguir ao longo das arenas, é necessário que o jogador elimine todos os inimigos em campo e destrua o Core Mechanism correspondente, que destrancará a porta que dá acesso à próxima área.

Como é recorrente na série, cada estágio possui sua própria temática e se subdivide em seis níveis, seguido de uma batalha contra o chefe — essa dinâmica foi alterada em Super Bomberman 4 (SNES), com a inclusão dos “Four Bomber Kings” como subchefes antes do embate com os bosses convencionais.

Com a implementação da tecnologia em discos compactos na maioria dos consoles da 5ª geração, Saturn Bomberman recebeu uma linda abertura animada para apresentar o novo título aos jogadores. Contudo, algo que não agradou tanto foram as canções, consideravelmente inferiores e nada marcantes, mesmo se comparadas às utilizadas em Bomberman ‘93.

Uma reinserção muito interessante em Saturn Bomberman foram as “montarias”, inaugurada em Super Bomberman 3 (SNES). No lugar dos “Louies” (os coelhos), em Saturn Bomberman estreiam os “Tirras”, dinossauros que se dividem em cores que definem habilidades próprias, tais como ondas ultrassônicas que explodem bombas e revelam itens em blocos que podem ser destruídos (roxo) ou rugidos que paralisam inimigos (amarelo).

Outro aspecto dos mapas é o fato de que não são estáticos como na maioria dos jogos anteriores, tornando-os mais dinâmicos conforme o jogador caminha por ele. Contudo, essa dinâmica foi inserida ainda em Bomberman ‘93, perdida em Super Bomberman (SNES).

O trem transporta os Bomberman para outras áreas.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 Os power-ups clássicos, tais como Invincible Suit, Power Glove, Power Bomb e Kick, dentre outros, estão presentes e servirão para auxiliar o jogador, como sempre, a desbravar todos os mundos até o embate final contra o Sr. Meanie/Mujoe.

Em outras palavras, é o bom e velho Bomberman com os quais todos nos acostumamos desde a era 16-bit, logo, a jogabilidade de Saturn Bomberman não será qualquer mistério para quem queira desbravá-lo, mesmo para jogadores novatos na franquia, considerando que a curva de aprendizado destes jogos foi muito bem desenvolvida.

O charme de Saturn Bomberman, além de ser o primeiro jogo da saga para o Saturn, está também em um dos modos de jogo mais querido dos fãs e algo inédito para a franquia: a possibilidade em se jogar com até dez pessoas, mesmo à distância.

O poder do multitap

O modo História de qualquer jogo da série Bomberman, desde que inseriu o multiplayer coop, sempre foi muito divertido. Apenas a título de curiosidade, Bomberman II (NES) foi o título a inaugurar essa possibilidade, além do modo Battle Mode para até três jogadores.

Desde então, o Battle Mode (modalidade em que amigos tentam explodir uns aos outros para serem declarados campeões) se tornou um dos favoritos dos jogadores — este redator, inclusive, foi vice-campeão em um torneio local de Super Bomberman 4 (SNES) realizado em uma feira de games local.

O Sega Saturn, no entanto, levou tudo para outro nível, antes mesmo que jogatinas online e conexões à Internet se tornassem populares: dez jogadores poderiam disputar localmente entre si no Battle Mode, caso utilizassem dois multitaps (um dispositivo possui entrada para “apenas” seis controles) — sete com apenas um multitap. Mais de dez personagens (dois deles secretos), distribuídos entre aqueles presentes ao longo da franquia, além de mascotes de empresas e de desenhos japoneses.

No entanto, se o número de participantes no Battle Mode for maior do que oito jogadores, a tela do jogo será em widescreen, o que reduzirá o tamanho dos personagens, assim como dos blocos, permitindo que a arena seja enorme. No entanto, apenas uma estará disponível: Wide Stage. Além disso, muitos power-ups serão desativados, incluindo os Tirras.

Não contente com isso, dois meses após o lançamento do jogo, uma nova edição foi lançada exclusivamente no Japão, chamada “XBAND Edition”, que utilizava o modem Sega Saturn XBAND e o serviço SegaNet para partidas. Neste caso, os jogadores serão divididos em duas equipes, compostas por dois personagens cada. Aqueles que não forem controlados por humanos, serão moderados pelo próprio console. As arenas, no entanto, serão escolhidas aleatoriamente pelo jogo.

Uma curiosidade: embora o serviço Sega Net Link esteja atualmente desativado, jogadores no mundo todo utilizam métodos de conexão diretamente com VOIP, logo, qualquer jogador que possua o Saturn XBAND (no japão) ou o Sega Net Link (nos Estados Unidos), acesso à Internet e, obviamente, Saturn Bomberman e o próprio console, seguindo as dicas de entusiastas mundo afora, poderão experimentar o modo online do título.

25 anos depois… vale a pena?

O Sega Saturn é um excelente console, especialmente no que se refere a jogos em duas dimensões, sendo destrinchado em um de nossos artigos. Bomberman, por sua vez, é uma das franquias mais queridas no mundo dos games e ainda repousa em consoles das últimas gerações.

Saturn Bomberman é o primeiro jogo da saga a ser lançado para o console da Sega e, ao ser comparado com Bomberman Wars (um RPG de estratégia, lançado também para o PlayStation) e Saturn Bomberman Fight!! (que introduziu o mundo dos robôs astronautas em 3D no Saturn), ainda é a melhor escolha, pois mantém o visual 2D (convenhamos, sempre melhor caracterizado e desenvolvido), e foi o único que veio para o console fora das terras nipônicas.

Também é fato que não traz muitas inovações à franquia, senão a grandiosa possibilidade de dez jogadores simultâneos em partidas locais e, com um pouco de “gambiarra”, as partidas online para até quatro participantes. Mesmo a introdução do modo Master Game não é algo inovador, já que permite apenas um jogador ao longo dos 20 andares para enfrentar inimigos comandados pelos Bomber Instructors.

A grande sacada do título é ser aquilo que a franquia propôs desde o início: um jogo divertido, seja no single ou multiplayer e, considerando ser o único da franquia lançado para o Saturn a manter os padrões que todos amamos, Saturn Bomberman é a melhor pedida para os fãs do console.

Revisão: Felipe Fina Franco


Mineiro, apaixonado por livros, música, filmes, discussões, Magic: The Gathering e, claro, jogos eletrônicos.
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