Jogamos

Análise: Omno (Multi) é uma aventura pacífica e imaginativa, um autêntico momento de escapismo

Controle um pequeno ser mágico e cheio de luz para descobrir os mistérios de um mundo surreal.

Omno foi desenvolvido por uma única pessoa depois de uma campanha de financiamento coletivo bem sucedida no Kickstarter. Jonas Manke largou seu emprego em tempo integral como animador e decidiu criar o Studio Inkyfox na Alemanha, onde passou os últimos cinco anos trabalhando no desenvolvimento deste título independente, que foi lançado no PC, PlayStation 4 e Xbox One pela Future Friends Games.

Quando conheci o jogo em 2018, me apaixonei imediatamente pelo seu majestoso mundo, mas como não havia nenhuma outra pessoa envolvida no projeto, a sensação que tive foi de insegurança. Estava com medo de que minha expectativa virasse decepção como muitas outras obras que foram alimentadas pelo hype.

Tive o privilégio de experimentar o título em antecipado graças ao GameBlast e hoje publico esta análise, em que me permito dizer que Manke fez um ótimo trabalho. Omno não é perfeito, mas levando em consideração o tamanho do time de desenvolvimento, eu estou muito feliz com o resultado.

Nesta aventura atmosférica de plataforma e quebra-cabeça ambientada em um mundo surreal onde a magia persiste em forma de luz, você deve desvendar segredos, resolver enigmas e encontrar o seu propósito. É uma jornada de puro escapismo depois dos horrores que estamos acostumados em ver no mundo real, principalmente durante essa era pandêmica.

Uma jornada de autoconhecimento e propósito

Você é um pequeno indivíduo com características humanas portador de um cajado mágico que acorda em um mundo estranho e majestoso. Não há nada nele a não ser estruturas antigas de pedra, feixes de luz, glifos e criaturas vivas que preenchem esse ecossistema de maneira muito específica e atraente. Mas, por que você acordou em um lugar como esse? Para onde você está indo? Qual é o seu propósito?

No decorrer de cinco capítulos, você poderá interagir com alguns glifos e notas com texto que tentam responder a essas perguntas por meio de observações filosóficas. No entanto, as explicações nem sempre são suficientes para revelar o objetivo que você está perseguindo. O que se descobre por meio dessas antigas escrituras é que tudo naquele mundo é feito de luz e que você deve procurá-la além das paisagens, porque foi isso que seus antepassados fizeram.

Nosso herói possui um companheiro gracioso, uma criatura voadora muito semelhante a um cachorro que busca trazer um impacto emocional para a trama. Nos primeiros momentos do jogo ele é hostil e não consente que nos aproximemos, mas, ao longo da jornada, o pequeno bichinho começa a se familiarizar com nossa presença e permite que façamos interações adoráveis. Essas pequenas ações são como abraços quentinhos que nos deixam imersos de sentimentos reconfortantes, porém não necessariamente trazem alguma informação adicional sobre a narrativa.

No contexto geral, o título da Inkyfox parece ser uma história sobre buscar um propósito, embora não tenha ficado muito claro para mim. No entanto, ao passar alguns minutos explorando e resolvendo quebra-cabeças, entendi que Manke não estava interessado em criar uma trama absurda, mas apenas entregar um mundo vibrante e pacífico para você fugir de quaisquer coisas irrelevantes do mundo real. Ele quer que você viaje e descubra as belezas dos lugares criados da maneira mais agradável possível enquanto auxilia o jovem personagem a entender seu destino.

Use a luz para explorar e solucionar enigmas

Cada capítulo de Omno possui dois ou mais cenários abertos para explorar que vão de pântanos e planícies a desertos e áreas congeladas. No começo é possível somente correr e pular, mas conforme você avança no jogo novas habilidades são desbloqueadas, como surfar, planar e se teletransportar, o que garante uma movimentação mais ágil pelos locais.

No início da aventura, a capacidade de locomoção do herói é limitada. Sendo assim, os primeiros biomas são relativamente menores que os últimos a fim de tornar a exploração mais agradável. Quando comecei a jogar, fiquei levemente frustrado com o tamanho do mapa e com a velocidade de averiguá-lo, que levava poucos minutos. Mais tarde descobri que isso muda de acordo com a técnica de deslocamento que você possui. Por exemplo: quando você adquire a habilidade de surfe, os mapas ficam maiores, porque a movimentação é mais veloz do que simplesmente caminhar.



As habilidades também são essenciais para atravessar os vários elementos de plataforma e resolver diferentes e divertidos quebra-cabeças. Nos cenários você terá que encontrar três orbes de luz espalhados pelo mapa que ativam uma estrutura milenar responsável por guardar um puzzle final. Ao resolvê-lo, um portão de acesso a outra parte do mundo é aberto. Esses desafios não são inovadores ou extraordinários, mas trazem um bom equilíbrio de dificuldade dependendo de quanto você domina certas habilidades.

Encontrar esses orbes de luz no mapa aberto também exige que você realize algumas atividades, como coletar fragmentos de luz que caem de criaturas e plantas dos biomas, para ativar estruturas de pedra, fazer parkours e algumas outras. A variedade dessas tarefas é mínima e particularmente achei todas fáceis demais.

Obrigatoriamente você precisará de três orbes para ativar a estrutura principal dos cenários, mas há sempre alguns a mais para que você possa chegar a 100%. Eu zerei essas áreas coletando absolutamente tudo e gostei bastante de fazer isso, mas me decepcionei ao descobrir que nenhuma recompensa nos é oferecida.

Também senti falta de mais colecionáveis ou uma construção de mundo mais avançada para que o apelo à exploração fosse maior. Por exemplo: você não conseguirá voltar a uma área anterior e usar a habilidade de planar, porque essa técnica só é permitida a partir de um certo ponto. Porém, é compreensível que ele não seja tão profundo e não tenha tanta abundância de conteúdo, já que foi construído por uma única pessoa.

O cajado do protagonista é a ferramenta mais importante do jogo. O objeto armazena luz e serve para resolver diferentes enigmas, como empurrar blocos ou acender pequenas estruturas com luz para ativar trampolins. Ele também funciona como uma alavanca que se encaixa em suportes de resolução de puzzles, um skateboard para surfar e um planador para voar. Essas duas últimas fazem parte das principais habilidades do herói. Porém, o mais interessante desse instrumento é que ao pressionar triângulo (no PlayStation 4), um minimapa de luz abre, mostrando todas as localizações de orbes e estruturas, deixando a navegação mais intuitiva.


Em relação aos controles, Omno é fluido e mover o personagem de um lado para o outro nos cenários é sempre satisfatório. Presenciei apenas alguns problemas com a vegetação e estruturas no chão que a princípio acreditei que pudessem ser atravessadas normalmente sem pular, mas o personagem parece estar diante de uma parede invisível e fica travado ali. Nesses casos, tive que saltar em cima do elemento para conseguir atravessar, mas não foi algo que me frustrasse o tempo todo.

Por se tratar de um jogo de aventura atmosférica e plataforma, não encontrei nenhum problema quando realizei saltos, nem mesmo bugs. Há muitos desses desafios em que você deve pular por estruturas e chegar até o outro lado, mas nenhum foi perdido por conta dos comandos ou da física de jogo. E quando você cai, ele nunca te pune por isso e você retorna no último dos muitos checkpoints existentes.

O único impasse mais frustrante que tive foi com o save do jogo. Ao finalizar a experiência, quis retornar a um cenário anterior, mas ao fazer isso o meu catálogo de criaturas e glifos (que vou falar mais adiante) foi totalmente apagado. Pouco antes do lançamento do game, fomos comunicados que um patch seria disponibilizado no PlayStation 4 e que corrigiria essa questão. Essa atualização realmente foi lançada, mas o problema persiste e infelizmente continuo sem minhas anotações.

Biomas pacíficos para uma experiência quase inigualável

A atividade que eu mais gostei de fazer em Omno foi explorar cada um dos biomas de estilo minimalista e totalmente distintos uns dos outros. Os cenários são deslumbrantes e visualmente charmosos com uma paleta de cores bem definida: as árvores são coloridas e altas, as nuvens fofas e a vegetação se move vagarosamente enquanto o vento sopra. Ao adentrar em uma nova área, uma breve cena animada nos apresenta a um horizonte extraordinário e cheio de vida que nos fará querer viver ali mesmo e esquecer que o nosso mundo real é um completo temor.

As paisagens, cores e o design de mundo são um espetáculo à parte do início ao fim da aventura, e surfar por essas áreas encobertas de gelo e de areia ou planar pelas nuvens é algo silenciosamente adorável. Além disso, a trilha sonora é um acompanhamento perfeito para a jogabilidade com emoção e maravilha, principalmente quando o personagem faz belas manobras de surfe pelo vasto mundo a qual foi introduzido. O design de som também é excepcional e traduz bem os movimentos do protagonista e suas habilidades.

Dentro de cada área também existem diferentes criaturas amigáveis que podem ser catalogadas em um diário com uma breve descrição de cada um. Nenhum desses seres são hostis e você pode interagir com eles para que forneçam fragmentos de luz para suas atividades de coleta de orbes ou distrações. Cada um deles possui uma forma e uma personalidade, que torna o mundo à nossa volta ainda mais vivo.

Existem dinossauros, pássaros, águas-vivas e outras criaturas de pequeno porte que interagem com você de maneiras muito curiosas. Há uma espécie de lagarta de gelo que desliza com você quando se aproxima surfando com o cajado. Esses breves momentos são radiantes e você encontrará outras criaturas gentis que te levarão por aí em uma viagem de tirar o fôlego.

Omno é desprovido de qualquer tipo de combate e eu realmente senti que ele não precisava disso. Finalizar a experiência levou em torno de cinco horas, mas desejei que fosse mais longo para me tornar um explorador de mundos mágicos melhor, porque Manke fez algo brilhante que nos coloca em um universo calmo, uma utopia onde a imaginação cria momentos únicos e fantásticos.

Reluzente e puro

Omno é uma aventura atmosférica ligeiramente atraente, com quebra-cabeças e sessões de plataforma satisfatórios e ambientes fabulosos repletos de criaturas gentis que farão o seu dia ficar mais agradável. Não é uma experiência original e perfeita, mas oferece um autêntico momento de escapismo diante da nossa apressada vida cotidiana.

Seus defeitos incluem a maneira inconsistente de como tenta contar a sua história e a ausência de mais atividades que fomentem a exploração, mas isso pode ser ajustado no próximo jogo de Jonas Manke, que se mostrou um excelente artista e desenvolvedor.

Prós

  • Quebra-cabeças divertidos e com bom equilíbrio de dificuldade;
  • Sessões de plataforma bem construídas;
  • Comandos e jogabilidade satisfatórios;
  • Visuais de tirar o fôlego;
  • Trilha sonora excepcional que reage à jogabilidade;
  • Ótimo design de mundo e de criaturas.

Contras

  • A história é um pouco obtusa;
  • Pouca variedade de colecionáveis e conteúdo extra que fomentem mais a exploração;
  • Problema no save do jogo exclui parte do progresso.
Omno - PC/PS4/XBO - Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Farley Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Future Friends Games

é entusiasta e apreciador de jogos com conceito artístico minimalista e narrativas de significado profundo. Acredita na potencialidade de cada experiência interativa e tenta extrair delas sentimentos humanos e existenciais. No GameBlast também escreve notícias, análises e especiais; no tempo livre produz roteiros autorais de séries e filmes. Criatividade, imaginação e curiosidade são algumas de suas características marcantes.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google