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Análise: King of Seas (Multi) navega nas águas da diversão, mas naufraga horas depois de zarpar

Mesmo com combates divertidos e um sistema de progressão RPG atraente, o título da Team17 se perde na repetição de um mundo aberto sem vida.

Desenvolvido pelo estúdio italiano 3DClouds, King of Seas é um RPG de ação ambientado na Época Dourada da Pirataria, no qual você deve controlar uma embarcação e navegar por um grande oceano azul, enquanto busca por respostas sobre o assassinato do Rei dos Sete Mares.

Por meio de uma narrativa baseada em missões de entregas marítimas e de combates navais, o título publicado pela Team17 para PC, PlayStation 4, Xbox One e Nintendo Switch consegue entreter por algumas horas, mas logo se vê preso em uma jogabilidade repetitiva e em um mundo aberto vago e sem vida. Talvez essa não seja a aventura pirata que estávamos esperando!

O assassinato do Rei dos Sete Mares

Ao iniciar King of Seas pela primeira vez, você terá que decidir se deseja jogar com a Princesa Marylou ou o Príncipe Luky, os filhos do Rei dos Sete Mares. Embora cada um dos personagens tenha características próprias, elas são apenas estéticas e não influenciam de maneira nenhuma no desenvolvimento da narrativa ou no gameplay.

Após sua primeira decisão importante, uma breve história sobre uma grande batalha que ocorreu em alto-mar entre navegadores e piratas há muito tempo é contada. Foi nessa ocasião que um rei foi escolhido para governar os Sete Mares, fazendo com que a maioria dos piratas se estabelecesse em ilhas nos cantos mais longínquos do oceano, a fim de evitar confrontos.

Alguns anos se passam e finalmente os filhos do rei atingem a maioridade. Agora podem integrar a marinha monárquica, além, é claro, de estarem aptos a assumir o trono real. No entanto, para provar a lealdade do personagem escolhido pelo jogador, o reino insiste que é preciso passar por um teste.

Sua primeira missão serve como um tutorial de introdução dos comandos de navegação e seu objetivo é levar uma carga de pólvora até a ilha vizinha. Porém, durante sua viagem, o rei é misteriosamente assassinado em seus aposentos e, visto que você não estava no local no momento da ação, alguns oficiais do reinado o acusam de estar envolvido e o expulsam da fortaleza.

A marinha real então o persegue momentaneamente e bombardeia seu navio em alto-mar, mas você sobrevive e, antes que os destroços naufraguem totalmente, o personagem é resgatado por dois piratas, Morgan e Leeroy. Eles o levam até uma ilha afastada chamada Toca da Águia, onde lhe explicam sobre a vida pirata e prometem ajudar a descobrir quem realmente assassinou o seu pai.

Para resolver o mistério, você terá que realizar várias atividades como entregar cargas e correspondências, entrar em combate com navios e encontrar um jeito de se infiltrar no reino. No entanto, como você é o principal suspeito do caso, ainda será perseguido freneticamente em alto-mar pela marinha real.

A narrativa é contada por meio de diálogos no mesmo estilo de uma visual novel, ou seja, não há cutscenes animadas, mas somente o personagem jogável e os NPCs falando em um balão de conversa na parte inferior da tela. Esses personagens são encontrados em diversas ilhas e cidades, e cada um acrescenta uma nova ideia que vai moldando a história principal. Infelizmente, a experiência não está localizada em português do Brasil, então pessoas que não têm conhecimento de línguas estrangeiras, como o inglês ou o espanhol, terão maiores dificuldades para entender o jogo.

Avante, navegante pirata!

A jogabilidade de King of Seas se concentra totalmente na navegação pela água. Dessa forma, não é possível explorar locais em terra firme. Você pode atracar nos portos das ilhas, mas ao fazer isso uma nova tela lhe é apresentada, em que se pode acessar menus da marcenaria, do mercado, do banco e da taberna. Cada um desses atalhos tem suas próprias funções: na marcenaria, você reforma seu barco e compra melhorias para ele; no mercado você pode comprar itens variados ou vendê-los; o banco serve como um inventário para guardar itens; na taberna você acessa missões secundárias e principais.

A movimentação do barco é feita por meio do analógico e o controle de velocidade é representado por três velas localizadas no lado superior direito, na mesma posição da bússola. Quanto mais velas você ativar, mais rápido sua embarcação irá se mover pelo mundo aberto. No começo do jogo, fiquei levemente incomodado com esses controles, porque era difícil controlar o barco e a direção parecia desajustada, mas no decorrer do jogo fui me adaptando. Isso já era de se esperar, porque a 3DClouds desenvolveu o título com ênfase em experiências de pilotagem reais, o que exige paciência e calma.

Além de pilotar e controlar a velocidade, você também terá que ativar canhões e habilidades especiais para agir durante confrontos. Para isso, no lado inferior direito da tela existe um layout com as barras de saúde, o nível do jogador e opções de ataque.

Por ser um RPG, o título conta com um sistema de níveis que pode ser aumentado por meio de experiência que é obtida ao concluir tarefas, afundar outras embarcações, saquear navios ou ainda coletar baús de tesouro boiando na superfície. Assim como o seu, os barcos inimigos também possuem level e, quanto mais alto ele for, mais difíceis de serem afundados.

Cada navio possui três barras de saúde que podem ser zeradas acionando os canhões laterais; no entanto, no decorrer da jornada, você poderá adquirir outras habilidades especiais para tornar esse processo mais rápido. Por exemplo: você pode equipar um lança-chamas na proa ou até mesmo invocar um tubarão para atacar o inimigo. Todas essas combinações tornam as batalhas navais divertidas demais e, conforme você derrota adversários, mais notoriedade irá ter e mais recompensas irá receber.

Outra característica de RPG louvável do título é o sistema de upgrades e as customizações de barcos. King of Seas tem um sistema de progressão robusto e muito interessante, e há muitas possibilidades de melhorar sua embarcação, seja comprando itens nas cidades, seja até mesmo adquirindo uma totalmente nova. 

Em uma missão específica, o jogador precisa juntar 20 mil de ouro para comprar um novo modelo, por exemplo. Outra maneira de evoluir e ficar mais forte é desbloqueando talentos que podem ser adquiridos com pontos ao subir de nível. Alguns deles incluem melhorar a força dos canhões, aumentar a velocidade e assim por diante.

Outro destaque fica por conta do visual cartunesco atraente e vibrante e da trilha sonora inspirada em momentos incessantes de aventura. É tudo bem colorido, com cores frias do mar se misturando com as quentes das ilhas para trazer uma harmonia visual levemente inspiradora, enquanto a trilha sonora deixa o mundo mais alegre e divertido.

Naufragando cedo demais

Para descobrir quem assassinou seu pai, você terá que achar um jeito de se infiltrar na fortaleza do rei sem ser reconhecido. Dessa forma, será necessário velejar pelo mundo aberto do jogo e realizar missões principais e secundárias obtidas por meio de vários NPCs. Entre as tarefas estão entregar cargas, afundar ou escoltar navios, entre outras. É basicamente ir de um ponto A até um ponto B. Eventualmente, essas ações se tornam cansativas demais.

Embora as missões de combate navais sejam divertidas, elas não suportam a sensação de repetição do restante. Para piorar a situação, o título ainda conta com dois outros entraves que o tornam desinteressante. O primeiro é a ausência de um minimapa e de marcadores, obrigando o jogador a abrir toda hora uma interface para localizar o objetivo ou a posição em que se está. Quando os locais são fixos é relativamente fácil, mas alguns são móveis, então você precisa ficar abrindo quase incessantemente essa interface para saber aonde ir.

Em jogos de aventura de mundo aberto, minimapas sempre são incluídos nas laterais, porque melhora a navegação e torna a exploração mais agradável e envolvente. King of Seas carece desse recurso e deixa o jogador perdido no gigante mar azul no qual se encontra.

O segundo problema que encontrei está relacionado ao próprio mundo aberto do jogo: ele é vazio na maior parte do tempo. Existem missões em que você terá que afundar navios específicos, então é necessário encontrá-los pelo mapa, porém houve situações em que eu navegava e navegava e não existia qualquer resquício de vida no ambiente. Tive que velejar por longos minutos para conseguir localizar um navio que, muitas vezes, nem era aquele que estava procurando. Isso é frustrante, desanimador e quebra toda a imersão.

Durante minha experiência, também presenciei travamentos e erros frequentes, alguns que deixavam o jogo inoperante, forçando uma reinicialização. Breves efeitos de slowdown também foram sentidos, deixando tudo bem menos interessante.

No final das contas, King of Seas tem algumas boas qualidades, mas poucas delas conseguem superar seus defeitos. Lembro-me de analisar Cloudpunk (Multi) no ano passado, um jogo de mundo semiaberto focado em narrativas, no qual o objetivo era ir de um ponto A até um ponto B levando entregas. Na época, critiquei o jogo da ION Lands por apresentar uma jogabilidade extremamente repetitiva e por conter muitas telas de carregamento que quebravam totalmente a magia de se jogar. O título da 3DClouds não contém exatamente os mesmos problemas de Cloudpunk, mas agrega outros que também o deixam desinteressante e cansativo com o tempo.

As momentâneas ondas da diversão

King of Seas é um jogo de mundo aberto momentaneamente atraente, por conta de seus vários aspectos relacionados à jogabilidade, ao sistema de progressão RPG e aos combates navais. Entretanto, suas qualidades não conseguem enfrentar as fortes ondas do oceano que afundam a diversão em instantes. Com um mundo aberto genérico, missões principais e secundárias repetitivas e travamentos frequentes, o título da 3DClouds é uma aventura pirata razoavelmente interessante.

Prós

  • Navegação e controles satisfatórios;
  • Combates marítimos simples e divertidos;
  • Sistema RPG robusto e interessante;
  • Visual cartunesco atraente e vibrante;
  • Ótima trilha sonora.

Contras

  • Travamentos e erros frequentes;
  • Mundo aberto genérico e muitas vezes vazio;
  • Missões principais e secundárias repetitivas e tediosas;
  • Ausência de minimapa;
  • Ausência de localização em português.
King of Seas - PC/PS4/XBO/Switch - Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela Team17

é entusiasta e apreciador de jogos com conceito artístico minimalista e narrativas de significado profundo. Acredita na potencialidade de cada experiência interativa e tenta extrair delas sentimentos humanos e existenciais. No GameBlast também escreve notícias, análises e especiais; no tempo livre produz roteiros autorais de séries e filmes. Criatividade, imaginação e curiosidade são algumas de suas características marcantes.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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