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Análise: Judgment (PS5/XSX) é um ótimo jogo de ação com novas mecânicas de investigação.

A versão remasterizada do "Yakuza de detetive" traz gráficos melhorados, 60 fps e todos os DLC.

Judgment
é uma aventura spinoff da série Yakuza, trazendo boa parte da ação, cenários e mecânicas que consagraram a série, mas com a adição de elementos de investigação. Em poucas palavras, poderia ser definido como uma aventura de detetive e ação, no qual você não é um ex-criminoso, mas sim um civil com ligações bastante estreitas com a organização criminosa japonesa.

“Doutor advogado”

O protagonista é Takayuki Yagami, um ex-advogado que, anos atrás, conseguiu vencer um caso de defesa praticamente impossível, em que seu cliente foi acusado por homicídio. Alguns meses após ser absolvido, o cliente foi preso por assassinar sua própria namorada. A sociedade rapidamente apontou Yagami como co-responsável por esta morte pois, se o assassino não tivesse sido absolvido no primeiro caso, a garota ainda estaria viva.


Desiludido com esse acontecimento, Yagami deixou de lado a profissão de advogado e passou a trabalhar como detetive em Kamurocho. Três anos depois, um serial killer está atacando membros da Yakuza, com o requinte cruel de arrancar os olhos de suas vítimas.

Neste contexto, o protagonista é chamado para investigar um caso envolvendo o capitão do clã Matsugane, suspeito de matar um membro do clã Kyorei usando os mesmos métodos do serial killer. O detetive precisa reunir provas para inocentar o capitão, embora ele tenha um claro envolvimento com o assassinato. Ao investigar o caso, Yagami desconfia que tem muito mais caroço nesse angu, e que talvez forças ainda maiores e mais sinistras que o crime organizado estejam envolvidas.

Yakuza de detetive

Judgment tem um roteiro totalmente independente com um elenco inédito e pode ser apreciado até mesmo por quem nunca teve contato com Yakuza, podendo ser um bom ponto de partida para conhecer a série (embora minha recomendação pessoal nesse caso seja que você comece por Yakuza 0).


O spin-off traz diversas inovações, a começar pelo ofício do protagonista. Yagami é um ex-advogado e detetive que, apesar de suas relações bastante estreitas com a Yakuza, não é um criminoso. Por ser um civil e ter uma profissão legalizada, o jogo introduz uma série de mecânicas relacionadas às suas atividades na forma de minigames.

Dentre estas atividades está a coleta de informações, debate e apresentação de provas, que são basicamente diálogos com escolhas e exposição de evidências, que se assemelham à Phoenix Wright: Ace Attorney (Multi).




Outra atividade de detetive consiste em vasculhar um local através de pistas. Esta ação acontece em primeira pessoa, às vezes como você mesmo e, em outras, usando um drone de espionagem. Nos dois casos, a mecânica é a mesma: investigar o cenário por detalhes e destacá-los com o botão para coletar informações. É exatamente a mecânica de um adventure point and click, em que você deve varrer o cenário todo até achar a pista.

Para algumas tarefas, Yagami pode usar disfarces, algo que é bem legal e combina totalmente com a atividade de detetive, mas infelizmente só pode ser feito em momentos muito específicos da trama. O protagonista também é perito em destrancar fechaduras usando técnicas especiais, embora eu não tenha certeza se detetives possuem habilidades de chaveiro na vida real.


Existem também missões de “seguir o suspeito” (tailing), nas quais você deve seguir uma pessoa sem ser percebido. É necessário se esconder atrás de paredes e objetos grandes para não ser descoberto, mas não pode ficar longe demais para não perder a pessoa de vista. Na prática é uma tarefa bem tediosa, em que qualquer falha resulta em game over. Infelizmente essas missões são bastante frequentes e muitas vezes obrigatórias para o andamento da trama.

Curiosamente, o ponto fraco do jogo está nas mecânicas novas, que são lentas e pouco divertidas, quebrando o ritmo da jogabilidade. De forma irônica, a melhor parte de Judgment está no que é tradicional da série Yakuza: roteiro bem escrito, personagens envolventes, combates divertidos e exploração da cidade.


O roteiro é bem legal, com muitas surpresas e reviravoltas. O que pode estar por trás de um serial killer que ataca membros da yakuza e ainda arranca seus olhos? Quais suas motivações? Enquanto investiga o assunto, o detetive descobre que a motivação pode ser muito mais sinistra do que parece e que isso pode estar diretamente relacionado a seu próprio passado.

O ponto alto de Judgment são os combates. Yagami não é tão forte quanto Kazuma (o protagonista principal da série Yakuza), mas é extremamente ágil e competente como lutador - os próprios NPCs comentam que não esperavam que um advogado fosse tão bom em sentar a pancada. Os combates são rápidos, intensos e bastante divertidos.


Às vezes o jogo comporta-se como um musou, no qual o protagonista sozinho derrota uma horda inteira de inimigos. Em outras, comporta-se como um jogo de luta 3D quando se enfrenta um NPC mais forte em lutas mano a mano. As batalhas contra os chefes de fase são memoráveis e cheias de cutscenes cinematográficas. Yagami possui duas posturas de combate: a garça, mais acrobática e boa para enfrentar grupos de inimigos, e o tigre, mais forte e eficaz contra inimigos individuais.

A versão remastered

Judgment foi originalmente lançado para PS4 em dezembro de 2018 e a versão remasterizada que analisamos aqui foi lançada em 23 de abril de 2021, exclusiva para consoles de nova geração PS5 e Xbox Series. Esta análise trata especificamente da versão remasterizada. Caso queira um detalhamento da versão para PS4 pode também conferir a excelente análise do meu colega João Pedro aqui no GameBlast.


Na versão original o jogo rodava a 30 quadros por segundo, enquanto nesta remasterização ele está com gráficos rodando perfeitamente a 60 fps, deixando os combates e a movimentação dos personagens pela cidade muito mais fluidos e naturais. A iluminação também foi retrabalhada neste jogo, oferecendo gráficos extremamente bonitos, embora o original também não deixe a desejar mesmo nos dias de hoje.

A versão remastered vem acompanhada de todos os DLC lançados para a versão de PS4, incluindo 10 entradas para jogar o minigame VR Paradise’s Dice, itens decorativos e gatos para personalizar seu escritório, acessórios para customizar seu drone, roupas para presentear suas namoradas e um pacote com diversos “extracts”, que são são como poções de uso infinito que garantem grandes vantagens em combate.

Outra característica que melhora bastante a qualidade de vida em jogo são os tempos de carregamento ultra-rápidos dos consoles de nova geração. No caso de Judgment, podemos dizer que o carregamento é praticamente instantâneo, o que significa muito menos tempo esperando e mais tempo jogando.

Embora a remasterização tenha várias vantagens, a versão de PS4 ainda me parece muito boa nos dias atuais. Se você já possui a versão original, não vejo motivos para você comprar Judgment novamente, visto que as melhorias são muito sutis. Porém, se você ainda não jogou, não hesite em optar pela versão de nova geração, pois a diferença de preços entre as versões é compensada pelo acréscimo de todos os DLC.

Quantidade massiva de conteúdo

Eu levei 30 horas para completar a campanha, focando quase exclusivamente na história principal e deixando de lado as missões secundárias. Se você decidir fazer os casos paralelos e explorar a cidade, o jogo lhe proporcionará centenas de horas de atividade.

Se você pensar em Yakuza como “o GTA da Sega” e decidir se divertir livremente pela cidade sem a preocupação de resolver o caso principal, há uma quantidade massiva de atividades para se fazer. É possível jogar dardos, baseball, pôquer, mahjong, blackjack, Koi-koi e Oicho-kabu. Também é possível jogar arcades clássicos da Sega em suas versões integrais (Fighting Vipers, OutRun, Puyo Puyo, Fantasy Zone, Virtua Fighter 5 FS, Space Harrier, Kamuro of the Dead, Motor Raid ou tentar pegar pelúcias no UFO Catcher). Também há corrida de drones, jogar um jogo de tabuleiro virtual no Paradise VR. ou resolver os casos de detetive paralelos.


Os casos de detetive paralelos são opcionais e, embora adicionem mais conteúdo, me pareceram muito fora do contexto. Não faz sentido você dedicar tempo procurando gatos perdidos ou investigando casos de infidelidade conjugal quando se está numa corrida para se salvar de assassinos psicopatas que arrancam os olhos das vítimas. Ainda assim, são interessantes e acrescentam bastante conteúdo adicional, e nada impede que você faça esses casos após terminar a campanha, quando você fica livre para explorar a cidade a vontade sem as demandas da trama principal.

É possível fazer amizade com os habitantes da cidade para ganhar presentes, obter benefícios e até ajuda em alguns combates. Também é possível conhecer e namorar quatro garotas ao completar histórias paralelas pela cidade. Curiosamente, não há penalidade caso você deseje namorar mais de uma delas, simultaneamente. Isso mesmo, você pode namorar até quatro garotas, numa espécie de simulador de romance, no qual você compra presentes e faz escolhas dentro de árvores de diálogo para aumentar o seu nível de afinidade.



Judgment possui uma quantidade enorme de diálogos essenciais para o entendimento do enredo principal. Por demanda dos jogadores foi incluída a opção de dublagem em inglês, além da original japonesa, e legendas em sete idiomas. Não há nenhuma localização para português, portanto se você não tem familiaridade com inglês ou algum dos idiomas oferecidos, perderá boa parte da diversão.


Não notei nenhum bug durante toda jogatina, o que é bastante impressionante para um jogo deste tamanho. O nível de polimento é digno de louvor.

Por outro lado, apesar de ser um jogo moderno e remasterizado para a nova geração de consoles, possui algumas mecânicas bem ultrapassadas. Por exemplo, é muito frequente que a sua liberdade de movimentação seja impedida por paredes invisíveis, recurso que poderia ser substituído por outras mecânicas. Outra coisa que, por vezes é irritante, é o encontro aleatório de inimigos pela cidade, que, em determinados momentos chega a ser cansativo. Existe até um item que diminui a chance de encontros aleatórios, ao melhor estilo “repelente” de Pokémon.



O veredicto é...

Judgment é um excelente spinoff, com um roteiro intrigante, personagens marcantes, um divertido sistema de combate e quantidade imensa de conteúdo, como tradicional na série Yakuza. Além disso, introduz novas mecânicas que, apesar de não brilharem tanto, diferenciam-no dos outros jogos da série. O jogo é divertido e pode lhe proporcionar centenas de horas de entretenimento, sendo que minhas ressalvas estão na falta de localização para o português e algumas mecânicas que poderiam ser revistas. Tecnicamente o jogo é muito bem polido e a versão remasterizada, apesar de ser visualmente muito similar à original, é vantajosa pelos DLC que a acompanham.

Prós

  • Sistema de combate muito divertido e com efeitos cinematográficos;
  • Trama envolvente e independente, que pode ser apreciada sem nenhum conhecimento prévio da série Yakuza;
  • Quantidade massiva de conteúdo;
  • Mecânicas novas para você se ambientar na atividade de advogado/detetive;
  • A versão remastered vem acompanhada de todos os DLC, 60 fps, iluminação reformulada e tempos de carregamento praticamente instantâneos.

Contras

  • Missões de “seguir suspeito” são chatas e muito frequentes;
  • Possui mecânicas ultrapassadas, como encontros aleatórios e paredes invisíveis;
  • O entendimento dos diálogos é fundamental para acompanhar a trama e não existe nenhuma localização para português.
Judgment - PS5/XSX/Stadia - Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: Xbox Series X
Revisão: Felipe Fina Franco
Análise produzida com cópia digital cedida pela Sega

é engenheiro eletrônico e tem uma filha fofinha que tenta morder os controles do papai. Curte jogos de luta, corrida e ação.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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