Jogamos

Análise: Curse of the Dead Gods (Multi) é um exemplar e mortal roguelite de ação

Explore ruínas perigosas e supere armadilhas fatais enquanto busca por riquezas.

Desenvolvido pela Passtech Games e publicado pela Focus Home Interactive para PC, PlayStation 4, Xbox One e Nintendo Switch, Curse of the Dead Gods é um roguelite de ação/aventura que acompanha um caçador de tesouros por um templo antigo em busca de grandes riquezas.

Contendo influências de inúmeros roguelites disponíveis no mercado, o título da Passtech se destaca do gênero ao incluir algumas ideias originais e mecânicas próprias que adicionam um nível de desafio a mais na experiência. Se você procura por algo exemplar e não tem medo de morrer inúmeras vezes, aqui está o candidato ideal.

Preso em um labirinto repleto de perigos

Você é um explorador com sede de poder que resolve entrar em uma ruína misteriosa para encontrar tesouros inestimáveis. Porém, ao adentrar o local, a única saída disponível é selada e sua alma é corrompida. Visto que não há outra forma de sair e reverter a maldição que o assola, o seu objetivo é continuar explorando esses templos, que são apresentados por meio de uma estrutura de progressão ramificada em forma de diagrama.

Existem três caminhos para seguir e cada um apresenta desafios diferentes. O templo do Jaguar possui armadilhas com espinhos e que liberam fogo, além de inimigos com foco em combate de curta distância; as catacumbas da Serpente apresentam inimigos tóxicos e plantas; e por fim, a torre da Águia introduz armadilhas elétricas.

Ao iniciar um determinado templo, uma série de salas são geradas aleatoriamente contendo armadilhas e inimigos mortais. Como estamos explorando uma caverna, naturalmente a iluminação é importante; por isso, você leva consigo uma tocha que lhe mostra os perigos à sua frente. Em combate, você não poderá carregar o círio e as armas simultaneamente, por isso terá que alternar entre as ferramentas para derrotar inimigos. As salas possuem braseiros que permitem iluminar o local, mas os monstros apagam o fogo, o que torna tudo mais mortal.
Tocha acesa.
Tocha apagada.
À medida que for prosseguindo, elas apresentarão um maior grau de dificuldade e em algum momento você chegará a uma câmera final onde está o chefe. A entrada do primeiro templo serve como uma espécie de tutorial, onde aprendemos a executar os movimentos de ataque e defesa com equipamentos diversos como facas, espadas, arcos e muitos outros que nos levam a realizar combinações de golpes devastadores. Entretanto, ao morrer você volta ao início do labirinto e perde todos os equipamentos coletados, algo comum se tratando de um roguelite.

Durante essa jornada brutal, você poderá coletar relíquias, ganhar poderes e recuperar a saúde em santuários espalhados por diversas salas. Curse of the Dead Gods também conta com alguns elementos de progressão entre tentativas. Em vez de tentar vencer o templo inteiro desesperadamente desde o início, ele oferece uma curva de dificuldade acentuada e natural, que permite que suas vitórias em determinadas salas signifiquem algo, oferecendo ao jogador recompensas como caveiras brilhantes e anéis de jade.

A primeira desbloqueia relíquias para uso em combate e altares que podem ser usados para começar uma partida com armas melhores. O segundo item, por sua vez, serve para liberar novas armas que aparecerão em partidas subsequentes. Embora ofereça vantagens, a vitória depende muito mais das habilidades e estratégias do jogador, pois o título da Passtech é extremamente complicado, visto que sua dificuldade vai aumentando progressivamente.

Infelizmente, o desenvolvimento da narrativa não é aprofundado o suficiente para ampliar o mundo do jogo e acaba ficando em segundo plano. Você não tem muita noção de quem é o homem e por que ele está em busca de riquezas. Existem algumas escrituras que tentam explicar um pouco desse universo, mas tudo de maneira muito limitada.

A direção artística de Curse of the Dead Gods apresenta um visual cartunesco com contrastes bem-detalhados entre os efeitos de luz e de escuridão. A atmosfera sombria faz bem o seu papel de surpreender e alertar o jogador ao andar no escuro, pois inimigos e armadilhas estão para todo lado. Em relação à música, o título também acerta ao trazer efeitos sonoros relativos aos momentos de combate e de extrema solidão, o que garante uma imersão bem sólida.

As consequências de uma maldição

O elemento que mais diferencia Curse of the Dead Gods de outros roguelites é uma mecânica original de maldições que afeta o estado do personagem, tornando as partidas ainda mais desafiadoras e difíceis. Ao eliminar inimigos, coletar tesouros ou simplesmente abrir portas para atravessar diferentes salas, o estado de corrupção sobe e ao atingir 100 na barra lateral direita, uma maldição é ativada. Até cinco maldições podem ser ativadas, o que resulta em um acréscimo de dificuldade brutal.

O sistema de maldições torna cada partida verdadeiramente emocionante, pois elas assumem diferentes efeitos, na maior parte do tempo, negativos. Algumas dão mais resistência a inimigos ou ativam armadilhas. Isso muda de acordo com a natureza do templo, então você sempre pode esperar por algo inusitado, tornando a jornada ainda mais rica. Às vezes, elas oferecem benefícios ao jogador, como prejudicar inimigos na mesma área, já que algumas delas afetam todo o espaço à sua volta.

Você também pode obter upgrades ao custo de corrupção, mas fazer isso pode ser perigoso, porque quanto melhor for o item, maior será o preço. Em algumas partidas comprei itens com preço de sangue ao invés de usar ouro, mas isso acabou sendo terrível. Depois da quinta maldição, a saúde cai rapidamente e a morte é quase inevitável. 

É preciso ser consciente, pois cada nível de Curse of the Dead Gods possui uma recompensa específica, seja ouro, relíquias para aumento de ataques, recuperação de vida e outros atributos. Tudo tem um preço, por isso é necessário ficar atento ao tipo de estratégia de compra.

A menos que não sejam removidas, as maldições ficarão ativas durante toda a experiência, tornando tudo mais complicado. Uma das possibilidades é derrotar o chefe final que remove uma delas, mas ainda assim o jogo não irá descomplicar a jornada.

Uma jogabilidade frenética e estratégica

Curse of the Dead Gods é um jogo de ação e exploração com visão isométrica que combina as armadilhas, o sistema de maldição e o combate direto para criar uma experiência memorável, mas fatal. Enquanto você luta para sobreviver, terá uma ampla variedade de armas e equipamentos, o que inclui recursos primários, secundários, de longo alcance e mais. O protagonista também conta com movimentos defensivos como esquiva e bloqueio, mas tudo ao custo de resistência, o que faz necessário agir com cautela durante os combates.

Quando estiver sem energia, você terá que esperar cerca de um segundo até recarregar a barra, o que pode ser tenebroso, já que os inimigos são extremamente agressivos. Porém, existe a possibilidade de restaurar esses pontos no próprio combate, como ao realizar uma esquiva perfeita. A movimentação do personagem é rápida e a alternância entre armas e movimentos de defesa é ótima, o que garante uma melhor dinâmica de gameplay.

Cada batalha é única e cada elemento nela funciona de uma forma imprevisível. O sistema de combate é extremamente simples, mas os inimigos e as armadilhas conseguem aprofundar esse conceito com excelência. Conforme você avança no templo, adversários mais poderosos aparecem, com mais saúde e estatísticas de ataque, defesa e cada um deles oferecendo um perigo a mais. É muito mais indicado agir com inteligência e elaborar estratégias do que simplesmente sair atacando.

Junte uma variedade de ambientes que podem ser usados a seu favor ou vice-versa, a mecânica de iluminação e o sistema de maldições para criar uma experiência mortal. Você também pode combinar ataques e criar maneiras poderosas e estratégicas de abordar o perigo, o que garante algo mais recompensador.

Curse of the Dead Gods também conta com desafios diários que oferecem recompensas inéditas, mas eles podem ser feitos apenas uma vez por dia. Em um deles, a interface some e o visual muda, deixando a experiência mais perigosa, pois não há como distinguir os inimigos à sua frente. Outro desafio faz com que as armadilhas sejam acionadas automaticamente e assim por diante.

Todos esses elementos desafiadores e viciantes fazem o título da Focus Home Interactive ser atrativo e exemplar em sua jogabilidade. No entanto, à medida que progredimos pelo templo, mesmo com a criação de salas aleatoriamente e a introdução de novos elementos, elas começam a ficar repetitivas, porque a quantidade não é tão exuberante. Talvez essa repetição não venha a atrapalhar sua experiência de imediato, mas pode decepcionar um pouco, visto que é tudo muito bem-projetado.

Outra questão específica que quero criticar é a dificuldade na aquisição de recursos. Para que você consiga desbloquear certas habilidades precisa encontrar caveiras brilhantes, mas o item é um tanto difícil e demorado de ser coletado, exigindo que o jogador repita os desafios. Essa repetição e a dificuldade de obter novos recursos pode comprometer a experiência e torná-la cansativa em pouco tempo. Por fim, a ausência de opções de dificuldade também pode afastar alguns jogadores. Como qualquer roguelite, sua dificuldade banal já era esperada, mas a implementação desse recurso poderia auxiliar jogadores menos habilidosos.

Um roguelite exemplar

Curse of the Dead Gods ignora seu escopo narrativo e não aprofunda sua história, mas é por meio de uma série de mecânicas interessantes e estáveis, um level design e uma atmosfera bem-construída que ele surpreende e se torna verdadeiramente recompensador.

O título da Focus Home Interactive deseja ser visto como um roguelite de ação de dificuldade elevada que se destaca ao apresentar características jogáveis profundas, mesmo que isso signifique afastar uma parcela de jogadores que não são tão habilidosos. Apesar de suas falhas, Curse of the Dead Gods merece sua atenção e prestígio.

Prós

  • Jogabilidade fluida e ágil;
  • Sistema de batalha excelente, com uma variedade de armas e equipamentos;
  • Sistema de maldições original e interessante;
  • Design de níveis bem-detalhado, repleto de armadilhas e inimigos;
  • Atmosfera elegante e sombria.

Contras

  • Ausência de opções de acessibilidade;
  • Dificuldade de aquisição de novos recursos;
  • Narrativa sem aprofundamento devido;
  • Pode se tornar repetitivo depois de um tempo.
Curse of the Dead Gods - PC/PS4/XBO/Switch - Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Focus Home Interactive

é entusiasta e apreciador de jogos com conceito artístico minimalista e narrativas de significado profundo. Acredita na potencialidade de cada experiência interativa e tenta extrair delas sentimentos humanos e existenciais. No GameBlast também escreve notícias, análises e especiais; no tempo livre produz roteiros autorais de séries e filmes. Criatividade, imaginação e curiosidade são algumas de suas características marcantes.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google