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Análise: Overcooked! All You Can Eat (Multi) é um prato cheio no quesito diversão

Coletânea reúne dois dos melhores jogos multiplayer da geração passada em um pacote definitivo e imperdível.

Se você é fã de jogos multiplayer, há uma grande chance de já ter ouvido falar da franquia Overcooked!. Desde a sua estreia em 2016, a série da Ghost Town Games tem angariado apreciadores mundo afora por sua proposta simples, mas divertida: gerenciar uma cozinha e satisfazer os clientes em fases cada vez mais elaboradas e difíceis.


Tamanho sucesso de crítica e público permitiu o desenvolvimento de expansões, uma sequência em 2018, e uma coletânea remasterizada intitulada Overcooked! All You Can Eat, lançada ano passado exclusivamente para PS5 e Xbox Series X/S. Agora, tal versão surpreendentemente chega também às outras plataformas principais do mercado — PS4, Xbox One, Switch e PC —, mas será que a espera valeu a pena para quem ainda não tem um console da nova geração? Prepare seus dotes culinários, caro leitor, e confira conosco em nossa análise a seguir.

Separando os ingredientes

Antes de começar a crítica propriamente dita desta remasterização, devo confessar que particularmente sou fã de carteirinha da franquia da Ghost Town Games. Tive a felicidade de zerar tanto o primeiro Overcooked! (Multi) quanto sua sequência Overcooked! 2 (Multi) ao lado da minha namorada, e, como tantos outros redatores de games, considero ambos recomendações fáceis para entusiastas de jogos multiplayer e de obras mais leves, com uma pitada de arcade.

Há aproximadamente três anos, inclusive, eu estava realizando a pré-venda do segundo título para o Xbox One. À época, eu nem sonhava em escrever para o GameBlast sobre minhas experiências como felizmente estou fazendo agora, mas recordo-me com clareza de ter gostado muito das novidades da sequência, como as novas receitas e a possibilidade quase que revolucionária de arremessar (!) ingredientes.

Por todos esses aspectos, desde o anúncio da coletânea All You Can Eat ano passado, fiquei ansioso para experimentar aquela que supostamente seria a versão definitiva da saga, reunindo todo o conteúdo já lançado até então em um único e coeso pacote. E, tendo enfim jogado a versão de PlayStation 4, é com felicidade que relato que o pacote atendeu minhas expectativas, se mostrando um prato cheio capaz de agradar tanto aos novatos na franquia como aos veteranos de cozinha.

A entrada, por favor!

A primeira novidade de All You Can Eat em relação aos títulos anteriores é a organização do menu inicial, que se dá até por necessidade, tendo em vista a quantidade de conteúdo aqui presente — somente no quesito níveis jogáveis, são mais de 190 possibilidades, que podem ser encaradas em uma equipe de até quatro jogadores. Assim, já na tela inicial é possível ao jogador facilmente escolher a campanha ou expansão que deseja experimentar, bem como o chef que quer controlar dos mais de 70 possíveis (nada de ficar olhando um por um como era antes).

Com todas as opções liberadas desde o início e sendo Overcooked! 2 uma sequência direta do primeiro, o ideal é que novos jogadores iniciem de fato pelo título de 2016, até para se acostumar com as mecânicas culinárias. Apesar de tecnicamente o segundo jogo ser melhor, ambas as campanhas são divertidas nos dias atuais, e o melhor a se fazer é aproveitar cada uma na ordem cronológica, pois desse modo a evolução do level design da franquia fica ainda mais notória.

Independentemente de qual for o jogo ou expansão escolhida, a missão do jogador será satisfazer os clientes famintos em cenários cada vez mais desafiadores. Se as coisas começam simples, com uma salada de alface aqui e outra ali e pratos limpos à vontade, logo logo você terá que manusear várias receitas ao mesmo tempo e se preocupar com variáveis como terremotos, labaredas e até uma horda de carismáticos ratinhos ladrões de comida.

Achou muito? Calma que ainda haverá cozinhas no gelo, na lava e até suspensas. A variação temática ocorre regularmente ao longo dos jogos de modo bem agradável, e com diversas pequenas modificações de um nível para outro, é praticamente impossível enjoar mesmo em uma sessão mais longa. Só é preciso ficar atento à praticamente onipresente pilha de pratos sujos — quem foi mesmo que disse que a vida na cozinha era fácil?

Várias variáveis

Devo aproveitar a deixa e tecer um elogio, pois em diversos pontos Overcooked! dá uma aula de progressão: além das mecânicas serem introduzidas pouco a pouco, juntamente com receitas mais complexas (sushis são naturalmente mais difíceis e variados que hambúrgueres, por exemplo), é possível obter até três estrelas em cada fase, a depender da sua pontuação ao final do tempo pré-estabelecido para cada cenário. Basicamente, o número de pontos é determinado por quão rápido você consegue entregar os pedidos e o quão fiel você é à ordem de aparição deles.

É possível avançar de estágio ao obter somente uma estrela, mas, para desbloquear novos níveis, você eventualmente precisará de um número crescente do recurso. Apesar de não ser inédito no mundo dos games, esse é um sistema que funciona muito bem aqui, pois se por um lado não é necessário perder horas e horas tentando alcançar a pontuação máxima na mesma fase, por outro é necessário manter uma certa regularidade conforme se progride, e isso acaba tornando a curva de dificuldade muito mais natural para o jogador ao longo de toda a experiência de campanha.

É uma medida que facilita inclusive a adaptação de pessoas que não tenham muita experiência com videogames. Como no fundo todos os elementos aqui apontam para a cooperação — até mesmo no modo para um jogador você controlará dois chefs —, no fim das contas tais artifícios são muito bem-vindos. Em uma outra nota positiva, esta versão remasterizada também conta com um novo recurso chamado Assist Mode, que pode habilitar, entre outras coisas, um maior tempo para as fases ou um bônus maior para os pratos. 

Como alguns dos níveis mais avançados podem ser realmente desafiadores, apesar deste modo desabilitar a obtenção de certos achievements, trata-se de uma ótima pedida para jogadores mais jovens ou casuais, garantindo que todos conseguirão se divertir sem maiores problemas.

Além do modo campanha, que se dá em sequências de fases e um desafio final em cada “mundo”, que pode incluir ou não um chefe, Overcooked! All You Can Eat inclui o modo Arcade, voltado para partidas rápidas locais e online para vários jogadores. Caso você queira uma partida rápida e relativamente casual, é aqui que deve buscar.

Mais "Tompero" aqui e ali

Considerando que não houve alterações na jogabilidade ou algo do tipo, de longe a maior novidade de All You Can Eat é a remasterização do primeiro Overcooked na engine gráfica de sua sequência. É um benefício visível, especialmente quando se compara as duas versões lado a lado, mas, sendo bem honesto, apesar do bem-vindo suporte à resolução 4K em plataformas como Xbox One X e PS4 Pro, o produto final não chega a se tornar algo de outro mundo em comparação com o original. Há diferença, claro, mas houve um carinho de preservar o estilo original do jogo. 


Com isso em mente, na minha opinião o grande diferencial desta versão (além da massiva quantidade de conteúdo incluída) passa na verdade a ser a adição de multiplayer online para o primeiro título da saga, bem como o suporte ao sempre bem-vindo cross-play em todos os modos. Ao iniciar o jogo, você poderá criar uma Team17 ID, que será usada para encontrar seus amigos que estejam em outras plataformas.

A democratização que tal recurso promove é algo que eu nunca vou me cansar de elogiar, e felizmente aqui há suporte até entre gerações de consoles: é possível jogar com um ou três amigos que estejam no PS5 caso você esteja no PS4, por exemplo, desde que todos possuam o game.

Tendo em vista a vocação natural da franquia ao multiplayer, o universo online era o próximo passo lógico, e fico muito feliz que ele tenha sido bem implementado. De todo modo, é importante ressaltar que, caso você não seja fã da ideia no geral, é possível desabilitar a conexão com diferentes plataformas nas configurações.

Por falar em plataformas e gerações, é preciso deixar claro que não há conexão online entre esta versão e os títulos anteriores de 2016 e 2018, algo que talvez possa gerar confusão ao público. Ainda assim, em uma medida pró-consumidor, os desenvolvedores confirmaram suporte ao Smart Delivery no caso dos consoles da Microsoft e cross-buy no caso da Sony. 

Essencialmente, você comprará o jogo uma vez e automaticamente ganhará automaticamente acesso à melhor versão se decidir fazer o upgrade. Infelizmente, no PC e no Switch essa opção não existe. Embora com certeza isso seja uma frustração para os donos dessas plataformas, acredito ser o caso da particularidade de cada sistema, tendo em vista que ambos não possuem sucessores diretos. É preciso notar também que não há suporte a 60 quadros por segundo no Switch e nem a ultrawide no PC, então caso esses recursos sejam prioridade para você, esteja avisado.

Ainda sobre as mudanças, é só uma pena que o recurso de jogar ingredientes para os companheiros não tenha sido adaptado no primeiro título — uma oportunidade perdida, ao meu ver. Porém, os recursos de New Game Plus e a quarta estrela secreta, que estrearam na sequência, foram implementados no primeiro jogo, trazendo uma novidade mais palpável para os jogadores veteranos que apreciam um desafio. Entusiastas de conquistas e troféus também podem se alegrar, pois terão toda uma lista nova para completar.

Por fim, sem entrar no ramo de spoilers, há sete níveis novos exclusivos desta versão, na forma de uma pequena, mas divertida expansão. Apesar de despretensiosas, as fases bônus podem ser encaradas como a cereja do bolo mais completo que podemos consumir da saga enquanto não recebemos o possível e já aguardado Overcooked! 3.

Banquete à vista

O grande questionamento que paira em torno de coletâneas e remasterizações frequentemente é um só: vale a pena? Basicamente, essa questão pode ser respondida de duas formas: olhando a qualidade do material que está incluído no pacote, e analisando se há relevância e conteúdo suficiente para justificar um lançamento extra. Este último é um tópico sempre delicado, pois é comumente difícil agradar os fãs que já possuam os produtos contemplados no relançamento.

Mas, neste caso em particular, não há para onde correr: Overcooked! All You Can Eat é a versão completa e definitiva de dois dos melhores jogos multiplayer da geração passada. Considerando as duas campanhas base e a inclusão de todas as expansões, jogadores novatos na série terão bastante conteúdo para explorar, e a adição certeira de recursos como cross-play e New Game Plus para o primeiro Overcooked! garante que veteranos também encontrarão aqui motivos para retornar ao delicioso caos culinário da franquia.

Prós

  • Bastante conteúdo entre os dois jogos;
  • Diversão multiplayer garantida para jogadores de todos os níveis e idades;
  • O Assist Mode favorece a inclusão;
  • New Game Plus para o primeiro título;
  • Cross-play (com chat por voz!);
  • Suporte a 4K e 60/120 fps onde aplicável;
  • Suporte ao cross-buy e Smart Delivery (versões de PS4-PS5 e Xbox One-Xbox Series);
  • Nova lista de conquistas/troféus;
  • Sete níveis novos (possível aperitivo enquanto não recebemos o terceiro jogo da franquia);
  • Versão definitiva de dois dos melhores jogos independentes da geração passada.

Contras

  • O update gráfico poderia ter ido além;
  • Apesar de adições relevantes, poderia conter mais novidades para veteranos da franquia;
  • Não é tão divertido quando se está sozinho;
  • Sem suporte ao português brasileiro (versão de PS4).
Overcooked! All You Can Eat — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 9.0 
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Team17

é bacharel em Produção Cultural pela UFF e estudante de Comunicação Social pela FSMA. Na infância, ganhou um Super Nintendo dos pais e, desde então, nunca mais deixou o mundo dos games. Ainda sonha em ser um Mestre Pokémon.
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