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Análise: The Medium (XSX/PC) é um jogo de terror à moda antiga com muitas idéias novas

O espiritual e o material se dividem no primeiro exclusivo da geração Xbox Series.


Em The Medium, a mais nova aventura de horror psicológico da Bloober Team, vivemos a história de Marianne, uma garota com poderes mediúnicos que ajuda almas aflitas a encontrarem descanso. O jogo começa com a protagonista preparando o funeral de seu pai adotivo, quando recebe o telefonema misterioso de um homem chamado Thomas, que não só sabe de seus poderes, como também parece ter uma explicação para os pesadelos que a atormentam. Thomas pede a Marianne que o encontre em Niwa, um antigo resort abandonado, pois lá ela achará as respostas que procura.

Horror à moda antiga

The Medium é um jogo de horror single player em terceira pessoa que homenageia clássicos como Silent Hill e os primeiros Resident Evil. Como o ângulo das câmeras é fixo, os enquadramentos se passam exatamente como planejados pelo time de desenvolvimento, o que resulta numa experiência imersiva e cinematográfica. Por outro lado, esse sistema é um tanto travado, especialmente na movimentação da personagem. Às vezes Marianne fica andando sem sair do lugar, no estilo Moonwalk do Michael Jackson, travada por causa de um objeto no chão ou andando contra uma parede.




As características de câmera e movimentação fazem parecer que The Medium é simplesmente um título nos moldes dos jogos de horror antigos, mas é muito mais do que isso. Os poderes de Marianne permitem que ela transite entre os mundos, o que no jogo é representado como uma divisão da tela onde você vê simultaneamente o mundo material e o mundo espiritual.

Este recurso é seu grande diferencial, permitindo não somente uma mecânica bastante inovadora em jogabilidade, mas um meio interessante e imersivo para se contar uma história. Por exemplo, se alguém está conversando com Marianne em uma das telas mas não aparece na outra, significa que algo está muito errado…




O gameplay é bastante simples e ainda assim brilhante. Existem dois botões de interação: o botão X permite agir no mundo material, enquanto o botão A atua no mundo espiritual. A brilhância deste sistema é que ele realmente simula o que seria a visão de mundo e a atuação de um médium, que enxerga os objetos nos dois mundos. Frequentemente eu me peguei andando nos ambientes prestando atenção às duas telas simultaneamente, o que com alguma prática permite que você explore detalhes de uma forma bastante original, como se tivesse os poderes da protagonista.

Marianne também consegue localizar itens ocultos e restaurar memórias a partir de objetos, além de acalmar espíritos atormentados. Em nenhum momento o jogo subestima a inteligência do jogador e a trama vai sendo contada de forma sutil através de fotografias, bilhetes e diálogos. A história é montada aos poucos na sua cabeça, como um bom filme de investigação. 




Outro poder importante é a capacidade de fazer uma projeção astral, onde sua mente se descola do seu corpo e você pode explorar o mundo espiritual enquanto sua versão física fica parada no plano material. Esta experiência de jogo traz uma mecânica nova, pois te permite acessar locais em que seu corpo material não poderia chegar. Entretanto, o tempo que seu corpo e mente podem ficar separados é limitado e você não poderá interagir com nada físico durante esta exploração.

Atmosfera tensa

Uma das coisas que mais gostei em The Medium é a absoluta sensação de opressão, angústia e medo que permeiam o jogo todo. A Bloober Team fez um excelente trabalho na construção do ambiente, criando uma atmosfera tensa em uma Polônia posterior ao regime comunista. Os cenários são perturbadores, muito bem construídos e é bastante interessante comparar objetos do mundo real com suas versões bizarras do mundo espiritual.




Se você puder, jogue com fones de ouvido, luzes apagadas e controle com vibração. Foi assim que eu joguei e foi uma experiência bastante imersiva. Os excelentes trabalhos de Akadiusz Reikowski, compositor das trilhas sonoras de Blair Witch e Layers of Fear, e Akira Yamaoka, compositor da trilha sonora de Silent Hill, contribuem demais para a ambientação. A engenharia de som com rangidos, sussurros, ecos distantes e vozes infantis sinistras faz os pelos do braço arrepiarem enquanto você explora os ambientes.




Eu levei aproximadamente onze horas para concluir o jogo porque fiz questão de parar para ler cada bilhete e fuçar cada item que encontrei pela frente. Na minha opinião, a duração foi satisfatória, não sendo nem cansativa nem curta demais. Os puzzles são abundantes, bastante variados e com dificuldade equilibrada; não precisei recorrer à internet para desempacar de nenhum deles, ao mesmo tempo que nenhum desafio ou enigma foi muito óbvio.

Um dos pontos negativos é que o jogador não pode fazer saves por conta própria. Eles acontecem automaticamente em certos pontos do jogo, que salva as últimas sete instâncias. É uma pena, pois isso nos impede de revisitar trechos mais antigos. Outro ponto é que o jogo não tem muito fator replay, pois uma vez desvendada a história, não há muito mais o que explorar. A história é legal e tem várias reviravoltas, mas acredito que revisitá-la tiraria um pouco da graça, já que você já sabe o que irá acontecer.




Outro detalhe que chama a atenção para este jogo é que ele é o primeiro exclusivo de nova geração para o Xbox Series. Os gráficos são bonitos, com belos efeitos de luz e uma linda direção de fotografia, mas definitivamente não são de nova geração.

Então, por que The Medium não está disponível para consoles Xbox One? Isso acontece porque nos momentos em que jogamos com os dois mundos em simultâneo, a placa de vídeo tem que renderizar dois ambientes em tempo real, o que sobrecarregaria demais o hardware da geração anterior. Restringir o jogo para PCs potentes e consoles da nova geração foi uma decisão que considerei acertada, ainda mais à luz dos problemas que Cyberpunk 2077 enfrentou recentemente.




The Medium é um jogo que faz referências aos clássicos de horror, mas acrescenta diversas mecânicas novas, fazendo dele uma experiência única na categoria. Apesar da baixa rejogabilidade e de alguns problemas técnicos pontuais, as ambientações muito bem construídas, a trilha sonora de arrepiar e a trama instigante fazem desse jogo um dos mais interessantes e originais do gênero.

Prós:

  • Sistema de dois mundos inovador em jogabilidade e narrativa;
  • Ambientação sombria e perturbadora que deixa o jogador tenso o tempo todo;
  • História instigante, com várias reviravoltas;
  • Boa direção de arte, com destaque para fotografia e trilha sonora.

Contras:

  • Eventuais bugs de travamento na movimentação da personagem;
  • Pouca rejogabilidade;
  • Sem possibilidade de saves definidos pelo jogador.
The Medium - XSX/PC - Nota 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital adquirida pelo redator

é engenheiro eletrônico e tem uma filha fofinha que tenta morder os controles do papai. Curte jogos de luta, corrida e ação.
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