Jogamos

Análise: Mafia: Definitive Edition (Multi) resgata a essência de um clássico neste ótimo remake

A Hangar 13 apresenta um dos melhores remakes dos últimos tempos no melhor jogo da clássica trilogia Mafia.

A máfia sempre foi um tema com destaque em diversas mídias, sendo a clássica obra literária de Mario Puzo, O Poderoso Chefão, como um dos mais conhecidos trabalhos sobre o assunto. A, digamos, mitologia envolta na máfia sempre despertou o interesse de muitos e é continuamente explorada e adaptada de diversas maneiras até hoje, seja na literatura, no cinema, na televisão e nos videogames.




Na análise de hoje visitaremos um clássico em Mafia: Definitive Edition, um dos melhores jogos sobre o tema já feitos, e que me atrevo a dizer que é o melhor da trilogia, agora totalmente refeito para a atual geração de consoles e PC. Uma prazerosa viagem no tempo até a década de 1930 com aroma de bebida, boa música e personagens cativantes.

Mais uma noite em Lost Heaven

Estamos em 1930 e Tommy Angelo é um taxista que, como todo cidadão, busca realizar o tão desejado Sonho Americano. Sua rotina se resume apenas a dirigir seu táxi pela cidade de Lost Heaven, transportando passageiros pela metrópole. Sua preferência é dirigir durante a noite, pois as gorjetas costumam ser mais generosas. Em mais uma noite de trabalho, Tommy é abordado por uma dupla de passageiros nada convencional, dois homens em meio a uma fuga da polícia.


Ao ser abordado, o taxista não hesita, apesar das circunstâncias, em fazer uma corrida para ajudar os dois a escaparem das garras da lei. Bem-sucedido em sua fuga, Angelo leva os dois até um pequeno restaurante em Little Italy, conhecido por ser o escritório de Don Salieri, um dos chefes da máfia italiana que luta para ser o mais influente de Lost Heaven. Sendo generosamente pago por seus serviços, Tommy cai na graça do Don, que se despede oferecendo ajuda caso precise futuramente.

Não demora muito para Tommy e os homens de Salieri se encontrarem novamente. Na manhã seguinte, Tom é atacado por capangas de Don Morello, o violento rival de Salieri, por ter ajudado os seus inimigos e se vê forçado a fugir para salvar sua vida. O destino faz Angelo se encontrar novamente com os homens de Salieri em seu estabelecimento, mas, desta vez, com o intuito de aceitar ajuda do Don para lidar com os agressores que destruíram seu táxi no ataque daquela manhã.


Sam e Paulie, os passageiros da noite anterior, o acompanham para ajudá-lo a se vingar dos agressores enviados por Morello e, ao verem que o taxista leva jeito pra coisa, o recomendam para Salieri, que o convida formalmente para se juntar à família. Vendo que seus ganhos trabalhando com a máfia serão bem mais vantajosos do que continuar como um reles taxista, Tommy aceita o convite e começa sua carreira, que culminará na solidificação de seu nome como um dos mais importantes membros da máfia de Lost Heaven durante os próximos oito anos.

O charme único dos anos 1930

Mafia foi originalmente lançado em 2002. É um jogo de mundo aberto, “estilo GTA”, no qual o foco está na mobilidade pela cidade utilizando-se de carros para realizar diversas missões, divididas em capítulos. Os objetivos são variados, como realizar coletas de pagamentos de comerciantes pela proteção dos homens do Don, contrabando de bebidas – a primeira metade da história se passa nos últimos anos da Lei Seca nos Estados Unidos, fazendo desta uma das atividades ilícitas mais comuns e lucrativas da época – assassinatos, sabotagens, dentre vários outros tipos de atividades comumente associadas à máfia.


No remake, temos uma belíssima apresentação da cidade de Lost Heaven, retratando muito bem diversos locais da cidade, com seus prédios mais imponentes e luxuosos localizados nas áreas mais centrais, passando pelas periferias sujas e com ar de abandono, chegando às áreas rurais, mais afastadas. A música, os sons, as cores, o comportamento das pessoas pela cidade facilmente nos transportam para a época, nos deixando mais à vontade enquanto acompanhamos Tommy em seus trabalhos pela metrópole, nos imergindo cada vez mais na década de 1930.

Diferente de outros jogos do gênero, a liberdade não é tão explorada aqui. As conhecidas sidequests (tarefas extras) para serem realizadas na cidade não compõem a lista de atividades que podemos fazer. Jogando a campanha, as missões são realizadas ininterruptamente, não deixando brechas para uma escapadinha para explorar o mapa.


Mas, pensando nisso, a equipe da Hangar 13 disponibilizou no remake o modo Direção Livre, que permite andar livremente pela cidade para conhecer cada pedaço de Lost Heaven que puder ser alcançado pelo jogador, possibilitando ainda que os colecionáveis disponíveis no game sejam coletados e tirando a responsabilidade do jogador em se preocupar com o progresso da campanha principal.

Corpinho de 2020, rostinho de 2002

A equipe da Hangar 13 traz aqui um trabalho excepcional ao recriar praticamente tudo do jogo original. A cinematografia é muito bem aproveitada, graças ao trabalho de captura de movimentos realizado com atores que recriaram todas cenas da história de Angelo. O departamento musical, mesmo com as complicações por conta da pandemia, conseguiu realizar um magistral trabalho de recriação das músicas originais, incluindo o tema principal que, modéstia a parte, é uma das melhores trilhas de abertura dos videogames da história, e já no início do jogo nos suga para dentro deste mundo.


Durante a campanha, é difícil não querer andar um pouco mais pela cidade até chegar em seu próximo objetivo, simplesmente para apreciar um pouco da paisagem numa bela manhã de sol, ou reparar nos detalhes de iluminação dos faróis num fim de tarde chuvoso. Sempre há algum detalhe que nos chama a atenção para o trabalho que foi realizado ao recriar Lost Heaven.


Apesar de todo o glamour visual que o jogo apresenta, o mesmo não pode ser dito do gameplay, que ainda conta com os clássicos problemas de, como posso dizer, limitação da época do jogo original. A inteligência artificial dos inimigos, mesmo jogando nos níveis de dificuldade mais elevados, é bem limitada. Em áreas onde enfrentamos muitos inimigos, em quase todas as ocasiões é possível passar sem muitos problemas apenas aprendendo seus padrões de ação, como esperar darem uma certa quantidade de tiros, ou tantos segundos até saírem de uma cobertura para atacar.

O combate corpo a corpo, mesmo com a adição do comando de esquiva, continua sendo desengonçado e lerdo, tornando-o a última opção, que você prefere não tomar a não ser que seja realmente necessário.


O nível de dificuldade clássico, inserido no remake, não resolve tanto o problema, fazendo apenas com que o dano recebido seja maior e o que pode ser recuperado seja menor. Neste nível de dificuldade, a polícia se torna intolerante quanto ao que você faz pela cidade. Nos níveis mais baixos, a polícia faz vista grossa quando você avança um sinal vermelho ou excede a velocidade máxima em determinada via. Com a dificuldade clássica ativada, se um policial ver você fazendo qualquer coisa errada, prepare-se para uma possível perseguição, tendo que despistá-los para então seguir para seu próximo objetivo.

Neste nível também não é possível ajustar a dirigibilidade do carro, deixando-o com uma pegada mais voltada para a simulação, algo menos arcade como nos jogos da série GTA, onde todo carro é fácil de dirigir. É possível até ativar o câmbio manual caso você goste de sentir o carro bem mais realista na sua mão. Jogar com motocicletas, outra novidade neste remake, também fica bem mais desafiador e interessante. Os pontos de interesse no minimapa também são desativados, dificultando um pouco mais a vida do jogador para encontrar colecionáveis, itens de cura e a posição dos inimigos.


Fora isso, em questão de performance encontrei apenas alguns pouquíssimos bugs pontuais, como a demora ou erro de carregamento de texturas e NPCs ou erros na execução de algumas animações. Tive a felicidade de registar alguns para você conferir a seguir.





Um remake indispensável

De todos os remakes que já passaram nas mãos de nossa equipe, tenho o prazer de confirmar que Mafia: Definitive Edition é facilmente um dos melhores já lançados e continua sendo o melhor da trilogia. Uma ótima pedida para quem prefere uma narrativa bem construída e amarrada, somada a uma jogabilidade que, mesmo não sendo perfeita, não tira o brilho renovado deste clássico.

Novamente ressalto o quão boa a história do game é, podendo facilmente ser adaptada para uma série de TV, por exemplo. Cada uma ou duas missões da campanha já possuem um ótimo roteiro para um episódio que eu acompanharia com o maior prazer. O melhor membro da família está de volta em grande estilo, bambinos!

Prós

  • Ótima narrativa, favorecida por personagens marcantes e uma ambientação muito bem apresentada;
  • Jogabilidade customizável dos veículos;
  • Dificuldade clássica proporciona um nível de desafio alto, mas ainda justo;
  • Colecionáveis estendem a vida do jogo além da campanha.

Contras

  • Campanha totalmente linear, sem missões secundárias ou atividades extras;
  • Inimigos com inteligência artificial limitada, mesmo nos níveis de dificuldade mais altos;
  • Combate corpo a corpo desengonçado.
Mafia: Definitive Edition – PC/PS4/XBO – Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: José Carlos Alves
Análise feita com cópia digital cedida pela 2K Games

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google