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Análise: Carto (Multi) — manipulando o mundo em uma criativa aventura

Este título indie utiliza uma mecânica principal única em uma carismática jornada com puzzles e exploração.

Carto chama a atenção com seu conceito peculiar. No controle de uma garotinha, precisamos manipular o mundo por meio de partes do mapa para avançar em uma aventura com inúmeros puzzles criativos. Além de contar com uma mecânica principal interessante, o jogo cativa com um universo colorido e de atmosfera suave, resultando em uma experiência relaxante.

Em uma inusitada jornada cartográfica

Uma garotinha chamada Carto está viajando tranquilamente no dirigível de sua avó. A jornada começa quando a menina mexe em alguns cartões perto de um mapa, o que faz uma tempestade atingir o veículo. No meio da confusão, Carto é lançada pelos ares e vai parar em uma ilha. Logo ela descobre que o mapa tem um poder especial: reorganizar partes dele muda também a configuração do mundo. Com a ajuda desse item, a garota vai tentar se reunir com sua avó.


Toda progressão de Carto é focada na mecânica de manipulação do mundo. A qualquer momento podemos abrir o mapa e reorganizá-lo ao mover e rotacionar suas peças, bastando que as extremidades das partes sejam idênticas para criar áreas adjacentes. As alterações são refletidas nos cenários e, com isso, descobrimos novas regiões e ajudamos pessoas e resolvemos puzzles. Pelo caminho a garota encontra novas peças que permitem expandir cada vez mais o mundo.

Esse conceito é utilizado de várias maneiras pela aventura. Logo no início, por exemplo, precisamos encontrar uma garota para obter um item importante. Conversando com habitantes locais, descobrimos que ela mora em uma floresta. Sendo assim, para encontrar a cabana da personagem, basta cercar uma área vazia com blocos de floresta — a residência surge ao fazer isso. Em outro ponto, uma pessoa diz que há uma estrada ao norte onde a praia e a planície se encontram, e o caminho aparece ao organizar o mapa de acordo com essas instruções.
 


Puzzles inventivos em um universo charmoso

A criatividade de Carto me surpreendeu e me conquistou. Sua mecânica de manipular o mapa é explorada em diferentes desafios de puzzle e exploração bastante inventivos. Alguns enigmas são simples, como colocar blocos em posições específicas; já outros exigem interpretar informações e elementos dos cenários. As regiões também introduzem mecânicas: dunas no deserto mudam de configuração frequentemente, já numa região gelada os blocos apresentam formatos diferentes, mais complicados de organizar. Aos poucos a complexidade aumenta e até tive trabalho em alguns trechos, mas no geral não é muito difícil.


Um detalhe interessante é que um aspecto complementa o outro, exigindo alternar entre manipulação do mapa e investigação para prosseguir. Para exemplificar, em um ponto precisei juntar quatro espaços de uma maneira específica para criar uma pedra com um desenho estranho. Em seguida, foi necessário organizar as estradas para representar a ilustração da rocha para fazer aparecer o próximo objetivo. Há também um pouco de metalinguagem, como em uma parte em que precisamos girar um bloco em direções específicas para abrir um cofre. O jogo está repleto de momentos assim e é muito recompensador encontrar as soluções.

Mesmo com foco na simplicidade e com progressão tranquila na maior parte do tempo, foram vários os momentos em que fiquei completamente preso em algum ponto da aventura. A origem desse problema está em algumas informações e objetivos que são vagos demais ou então em alguma solução obtusa ou estranha. Além disso, é fácil se perder e não saber exatamente qual é o próximo objetivo, afinal não há uma lista de tarefas ou coisa parecida. Com um pouco de insistência eu consegui superar os pontos de bloqueio, mas não deixaram de ser um pouco frustrantes.


Fora isso, Carto conta com uma atmosfera relaxante e suave, em uma aventura sem traços de violência. O mundo é representado com belos gráficos desenhados à mão que lembram um livro infantil ilustrado, e cada região tem um tema visual específico, trazendo variedade aos ambientes. A trama em si explora temas como amizade, família, amadurecimento e descoberta, e ela é apoiada por muitos personagens carismáticos e texto leve e bem humorado. Destaque em especial para a protagonista Carto: ela só se comunica com emojis e, mesmo assim, esbanja personalidade.
 


Uma exploração encantadora

Carto cativa com sua mistura entre puzzles inventivos e ambientação relaxante. O conceito principal de manipular o mapa para resolver enigmas e tarefas é bastante interessante, e variadas situações o exploram de maneiras criativas. Os desafios são acessíveis, mas existem trechos com soluções ou passos obscuros que atrapalham um pouco o andamento. O tom suave é reforçado com um universo colorido que lembra um livro ilustrado, texto simples e temas diversos abordados com humor, tornando a exploração um deleite. No mais, Carto é uma aventura charmosa e diferente que vale a pena ser conferida.

Prós

  • Exploração criativa focada em manipular a disposição dos cenários;
  • Muitos puzzles bem pensados que combinam a disposição dos elementos do mapa e outras informações;
  • Ambientação carismática com belo visual desenhado e personagens charmosos.

Contras

  • É fácil se perder ou não saber qual é o próximo passo;
  • Algumas informações, dicas e soluções são obtusas demais.
Carto — PC/PS4/XBO/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: José Carlos Alves
Análise produzida com cópia digital cedida pela Humble Games

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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