Jogamos

Análise: Doraemon Story of Seasons (Multi) é uma aventura rural que demanda muita dedicação

Ajude Doraemon a recuperar suas bugigangas enquanto administra uma fazenda em um mundo carismático e cheio de histórias.

Lançado em outubro de 2019 para PC e Switch, em setembro deste ano a aventura estrelada pelo famoso gato robô azul do século XXII chegou ao PS4, cheia de carisma em uma historinha divertida neste crossover com a clássica franquia de simulador de fazendas. Em Doraemon Story of Seasons, temos uma experiência que, como veremos na análise de hoje, não foi feita para todo mundo, mas quem é veterano do gênero vai saborear um título com as peculiaridades que só podem ser proporcionadas pelo carismático personagem nipônico.

Tudo começou num verão


O dorminhoco Noby está preocupado com o projeto que deve realizar durante o verão e mais uma vez pede ajuda a seu amigo azul para se livrar de outro problema que ele mesmo causou. Em busca de uma solução, o garoto encontra uma semente estranha e decide que seu projeto para o verão será plantá-la. Junto com seus amigos Big G, Sneech e Sue, Noby e Doraemon plantam a semente, que rapidamente faz crescer uma gigantesca árvore. A planta invoca uma enorme tempestade que abre um buraco espaço-temporal, sugando o grupo e lançando-os sem rumo no vórtice.


Ao acordar em um local desconhecido, as crianças pedem a Doraemon que ele use de suas bugigangas para tentar levá-los de volta para casa, mas o gato então percebe que todos os apetrechos que normalmente carrega em seu bolso sumiram.

Explorando o local, o grupo conhece um garoto chamado Harmon, que os leva para seu vilarejo, Natura. Lá eles conhecem a avó do garoto, que os recepciona amavelmente e oferece ajuda aos forasteiros. Sem saber o que fazer, Noby e seus amigos deverão ficar por tempo indeterminado no local até conseguirem recuperar todos os apetrechos de Doraemon e serem capazes de fazer algo para voltar para casa.


Em Natura, é lei que todos os moradores devem trabalhar, inclusive as crianças. Todos os amigos de Noby, incluindo Doraemon, conseguem uma ocupação em algum lugar do vilarejo, com exceção do azarado protagonista. Harmon então oferece ao garoto uma oportunidade em um terreno de sua família: uma fazenda que está abandonada por não haver ninguém com tempo para cuidar do local. Noby aceita de pronto o ofício como administrador da propriedade da família de Harmon e finalmente, depois de quase uma hora de história, damos início à nossa aventura.

A doce, porém puxada vida no campo


Em Doraemon Story of Seasons temos dois objetivos: cuidar da fazenda e encontrar os apetrechos de Doraemon que estão perdidos pelo mundo. Para quem já está habituado com as mecânicas de simulação e gerenciamento de Harvest Moon/Story of Seasons, não haverá problemas para entender como as coisas funcionam por aqui.

No decorrer de vários anos, divididos em quatro meses distintos representando cada uma das estações, devemos administrar a propriedade cuidando da lavoura, dos animais, vendendo sua produção para obter dinheiro, usado na compra de mantimentos, ferramentas e melhorias para que a fazenda prospere.

O relacionamento com os moradores de Natura é outro ponto importante no jogo, pois à medida que aumentamos nosso vínculo com cada um deles, recompensas são obtidas. Conforme você vai fortalecendo esses laços, eventos relacionados à história do game vão sendo liberados, proporcionando o progresso na narrativa.


Cada estação é propícia para a produção de lavouras específicas. O jogador deve estar sempre atento ao que pretende produzir, sempre de olho no tempo que levará para semear, cultivar e colher para vender ou presentear moradores. Na mudança da estação, tudo que não for compatível com o novo clima, mesmo que já esteja germinando, será perdido, pois não é propício para aquela época do ano. É um erro clássico de quem é novato nesse gênero.

O jogador pode comprar animais para produzir leite, ovos e lã, capturar abelhas para produzir mel, criar um cavalo para ajudar na locomoção pelo mapa, cortar árvores para obter madeira e minerar para juntar recursos usados para fazer melhorias nas construções da fazenda e em suas ferramentas. As possibilidades são muitas, e o jogo te dá uma liberdade enorme para que tudo seja descoberto naturalmente.



Quem já jogou Animal Crossing tem uma ideia do nível de liberdade a que estou me referindo aqui. Algumas mecânicas são até parecidas, como na hora de caçar insetos ou pescar. Isso é bom, mas pode ser problemático se o jogador não for organizado. Falaremos sobre isso daqui a pouco.

O comércio local tem horários e dias específicos para funcionar, então é sempre bom ficar atento e se organizar para não acabar dando com a cara na porta de um estabelecimento que não está aberto no dia que você resolveu ir lá e perder tempo que poderia ser usado para outra atividade.

Temos à nossa disposição armazéns para compra de mantimentos, restaurantes para obter utensílios de cozinha e pratos prontos, e um médico para melhorar seus pontos de stamina, além de um ferreiro para fazer melhorias em suas ferramentas para otimizar o trabalho. Os dias em que um evento ocorre na praça da cidade são como um feriado: nenhuma loja abre, pois todos estão celebrando.


Como temos Doraemon na equação, o destaque fica para as bugigangas que, conforme são encontradas, podem ser usadas na fazenda de Noby para deixar seu trabalho mais fácil e divertido. Algumas delas permitem que você faça viagens rápidas pelo mapa, reveja eventos passados, transforme produtos colhidos em sementes e muito mais. Encontrá-las é um dos grandes desafios do game.

Organização é essencial


Até aqui vimos que Doraemon Story of Seasons parece ser um jogo bem legal. E isso é verdade. Mas alguns pontos o deixam confuso, principalmente para quem nunca teve contato com esse gênero. Alguns poucos títulos dentro da franquia Story of Seasons são amigáveis com o jogador, mostrando como algumas das principais mecânicas funcionam. Aqui não é tão diferente. Sempre que somos apresentados a uma nova ferramenta ou compramos um animal para nossa fazenda, temos a opção de permitir que o morador nos ensine a nova dinâmica em cima disso.

Isso não se aplica sobre como devemos agir para fazer a história progredir. Se o jogador estiver prestando atenção na história, sabe que o objetivo principal é ajudar Doraemon a encontrar seus apetrechos para que o grupo volte para casa. Porém, o jogo não fornece algum tipo de guia ou instrução sobre como fazer isso. Como mencionei ali em cima, conforme vamos reforçando nosso relacionamento com os moradores de Natura, eventos na forma de cutscenes são liberados para contar um pouco mais da história de cada habitante do vilarejo enquanto acontecimentos relacionados à trama principal surgem.


Para criarmos amizades mais fortes com cada morador, três ações básicas devem ser tomadas: conversar e cumprimentá-los com frequência, e presenteá-los com itens. É conversando com cada um que descobrimos seus gostos e desejos: Sandy é a dona da lojinha de pesca e gosta de sair à noite para passear e pescar; Cooper é o filho da dona da granja e adora insetos; Taurus é marido da dona do curral e só quer dormir; e Ryam é o rabugento prefeito que não gosta de ver ninguém à toa. Esses são alguns dos muitos moradores que conhecemos em Natura e ter em mente a personalidade de cada um é uma tarefa complicada para quem não tem muita atenção.

Além disso, mesmo que disponhamos de uma aba de quests no menu, ela não dá informações sobre quais suas próximas atividades, como tarefas principais ou secundárias. Ela serve apenas para coisas mais simples, como indicar que item determinado morador te solicitou e até quando você pode providenciá-lo. Também temos um mapa que ajuda a mostrar onde cada morador está durante o dia. O tempo no jogo é curto e devemos constantemente priorizar nossas atividades para tirar o máximo de proveito de cada dia.


Cada hora tem duração de um minuto em tempo real. Seu dia começa às seis da manhã e as principais atividades vão até as seis da tarde. Isso dá 12 minutos de tempo útil para seu dia. O que você puder fazer depois desse horário é lucro.

As ações de Noby custam stamina, que pode ser recuperada consumindo alimentos ou tirando sonecas durante o dia. Isso força o jogador a organizar uma rotina para que possa tirar o máximo de proveito das atividades durante cada estação. Após a meia-noite, o garoto não pode cochilar e deve voltar pra casa para dormir e se preparar para o dia seguinte. Se ele exaustar, ou seja, consumir além dos pontos de stamina que possui, será levado ao médico da cidade, fazendo-o perder metade do dia seguinte por precisar descansar mais que o necessário por ter se excedido demais.

A impressão que eu tive é que mesmo tendo dois objetivos principais (encontrar as bugigangas de Doraemon e criar uma fazenda), e devido à falta de algum mecanismo para me guiar, não fiz um bom aproveitamento das minhas atividades durante as primeiras horas de jogatina, e isso prejudicou minha percepção sobre qual atividade eu deveria me dedicar para ter progresso real. Não adianta muito ser um exímio administrador da fazenda se a campanha não anda, ou ser o melhor cidadão de Natura se a fazenda não prospera. A sensação de progresso acaba sendo extremamente lenta, e dependendo do perfil do jogador, isso pode ser determinante para que ele abandone ou não o jogo.


E mais uma vez, mesmo sabendo como esse gênero funciona, não deixar claro se as ações do jogador realmente estão gerando algum progresso real deixa a experiência no mínimo confusa. É como se você estivesse jogando errado e só se desse conta disso depois de muito tempo. Essa foi minha sensação quando já estava com cerca de 10 horas de jogo e senti que ele não andava. Revi algumas das coisas que eu estava fazendo e precisei me reorganizar para ter algum progresso real nas horas seguintes. Funcionou!

O apoio de materiais de ajuda externos, como fóruns ou vídeos guiados no YouTube, também fez muita diferença. Aprendi uma ou duas coisas que eu estava fazendo certo, e outras duas ou três que eu poderia ter feito bem mais cedo e facilitar minha vida. Descobrir as coisas sozinho passa uma sensação ótima, mas tem horas que uma ajuda externa é muito bem-vinda. Esse é um daqueles jogos em que mais cedo ou mais tarde você vai precisar de uma mãozinha.

Um bom jogo, mas que não é para todos


Joguei bastante para criar uma opinião sólida e bem embasada sobre a experiência que Doraemon Story of Seasons quer passar. Não queria simplesmente achar que era apenas um “Harvest Moon com skin de Doraemon” e mecânicas que lembram até títulos como Animal Crossing, da Nintendo. Me empenhei em identificar o que essa aventura de Noby e seus amigos tinha de diferente para valer o imenso investimento de tempo que ele exige para aproveitá-lo ao máximo.

A melhor e mais sincera opinião que posso dar é que se trata de um jogo ótimo para veteranos do gênero “fazendinha”, em especial os que vêm de outros títulos da série Harvest Moon/Story of Seasons. Jogadores que gostam de se desafiar para encontrar formas melhores e mais eficientes de administrar sua fazenda vão se divertir muito aqui, ainda mais com o advento dos apetrechos peculiares de Doraemon, e a direção de arte e trilha sonora deixam essa tarefa muito prazerosa. Mas se você está chegando agora no gênero, ou se ficou interessado por causa do carismático gato robô azul, esteja disposto a se entregar bastante e ter humildade na hora de aceitar erros e corrigi-los para aproveitar sua estadia em Natura.

Prós

  • A direção de arte e a trilha sonora são acolhedoras;
  • A melhoria das ferramentas e as bugigangas de Doraemon deixam a jogabilidade extremamente ágil e divertida;
  • Os moradores de Natura são carismáticos e com personalidades bem distintas, tornando a convivência com eles muito agradável;
  • Grande sensação de liberdade para realizar as atividades propostas da forma que acharmos melhor.

Contras

  • Campanha com período muito extenso de duração, prejudicada pela falta de uma forma eficiente de guiar o jogador pela história;
  • O uso de guias externos se faz extremamente necessário em algumas ocasiões;
  • Um jogador desorganizado, devido em parte à liberdade excessiva que o jogo proporciona, pode cair num ciclo de repetitividade longo e desmotivador;
  • A sensação de progresso lento é inevitável.
Doraemon Story of Seasons – PC/PS4/Switch – Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Davi Sousa
Análise feita com cópia digital cedida pela Bandai Namco Entertainment

Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google