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Análise: Mortal Shell (Multi) apresenta uma cativante experiência soulslike

Domine o corpo de um guerreiro caído e desvende os mistérios em busca de sua redenção.


A série Souls definitivamente revolucionou a indústria dos games ao apresentar uma proposta voltada a combates mais realistas no sentido de movimentação e peso, além de uma alta dose de desafios que instigaram muitos jogadores a se aventurar nesse ciclo vicioso de erro e repetição até atingir os objetivos. Essa fórmula rapidamente virou uma febre, servindo como inspiração para outros jogos. Sabemos que bons exemplos devem ser utilizados, mas estamos falando de uma indústria que exige um nível de criatividade e inovação cada vez maior.


Mortal Shell surgiu como um título iniciante na indústria baseando-se no modelo de sucesso da From Software, mas com a missão de imprimir uma identidade própria. Descubra na nossa análise se eles foram bem-sucedidos no desafio.

Alcançando a eternidade

Assim como em sua fonte inspiradora, Mortal Shell escolhe o modelo de narrativa subliminar, que apresenta os fatos como peças de um grande mosaico, cabendo ao jogador tirar suas próprias conclusões. O início da jornada acontece com o despertar de um ser peculiar, de origem desconhecida. Tudo o que sabemos é que não fazemos parte daquele plano e devemos buscar por respostas. Dali em diante seguimos nosso caminho até nos depararmos com Hadern, um guerreiro misterioso que a princípio serve como tutorial para as mecânicas do jogo.

Terminado o treinamento, somos presenteados com a Espada Sagrada, arma utilizada em nosso processo de aprendizado. Em seguida somos transportados para Fallgrim, um mundo aparentemente desolado, repleto de restos e escombros que representam uma grande civilização passada. A partir daí encontraremos pedras que nos causam visões do passado, indicando locais de interesse. Em uma delas, por exemplo, vemos um poderoso guerreiro com uma gigantesca espada caminhando em direção a um local específico do mapa.


Fora isso, encontramos NPCs que irão nos auxiliar durante a jornada, como o Velho Prisioneiro, uma misteriosa figura que nos presenteia com o Selo Manchado, objeto que o aprisionava por anos, sob a promessa de utilizar o poder do artefato na busca por Glândulas Sagradas das entidades que dominam a região. Segundo ele, esses órgãos são a chave para sua liberdade e do nosso protagonista.

Além dele, temos Vlas, o vendedor de mercadorias disposto a fazer qualquer barganha em troca de uma generosa quantia de Tar, moeda principal do jogo e que se assemelha em parte aos Ecos de Sangue em Bloodborne; e a Irmã Genessa, um ser que já vivenciou diversas eras daquele plano existencial e também serve como guia e guardiã de nossas carcaças. Sim, esse é um dos grandes diferenciais de Mortal Shell: ao invés de escolher uma classe específica, tomamos posse do cadáver de guerreiros caídos. Cada um traz consigo características do passado, vantagens e desvantagens no combate.

O jogo não explica, mas a Irmã Genessa também funcionam como ponto de salvamento


Eredrim, o meu preferido, é um verdadeiro tanque de guerra. Ele possui a maior energia e resistência do jogo, além de ter habilidades que aumentam seu dano. Em compensação, seu vigor deixa muito a desejar, dando margem para poucas sequências de golpes. Já Tiel é exatamente o oposto, compensando sua baixa defesa com um vigor impressionante e a capacidade de se transformar em névoa durante a esquiva.

Na prática, foi divertido pegar todas as carcaças, descobrir mais sobre seus passados e me adequar à jogabilidade de cada uma. A princípio não sabemos nem o nome do guerreiro que possuímos, mas graças à presença da Irmã Genessa, que aqui ocupa o papel da fogueira e da Guardiã do Fogo em Dark Souls 3, podemos salvar o nosso progresso, recuperar as energias (sob pena de ressuscitar os inimigos) e desbloquear novas técnicas através de memórias passadas da carcaça que ocupamos. Isso é feito à medida que gastamos Vislumbres, um segundo recurso mais raro do jogo que é utilizado primariamente com esse fim. A nível de exemplo, com Eredrim descobrimos mais sobre seu passado como principal cruzado de uma antiga ordem religiosa e como se deu a sua trágica decaída.



Conforme avançamos e descobrimos mais sobre o passado e sobre a presença dessas entidades e seus guardiões que atuam como chefes, naturalmente aumenta o nosso ímpeto por ficar mais forte e buscar as respostas sobre o nosso destino em Fallgrim e a nossa relação com cada figura secundária. Ao meu ver, a trama de Mortal Shell tem uma compreensão mais fácil que jogos como Dark Souls, por exemplo. É importante ficar atento aos textos encontrados e aos diálogos com os personagens, a fim de ligar todos os pontos e descobrir o papel de cada indivíduo ali presente.

Combate mais ameno, porém divertido

Os combates em Mortal Shell não fogem à regra de um característico soulslike. Eles prezam por movimentos planejados, pois suas ações são limitadas a uma barra de vigor. As armas realmente dão a noção de peso e dificuldade de manuseamento, aumentando ainda mais a necessidade tática de fazer movimentos calculados. E fazendo jus ao desafio que o gênero carrega, cada oponente representa um grau de periculosidade suficiente para acabar com a vida de seu guerreiro, independentemente do nível de poder. Prepare-se para enfrentar grupos de bandidos, monstros, seres gigantes e os temíveis chefes que fazem muitos jogadores tremer.



Para estarmos aptos ao desafio, podemos realizar esquivas, ataques leves e pesados. Somado a isso, temos o endurecimento que nos transforma em pedra, capaz de defender diversos ataques por um curto período de tempo. Ainda podemos usar o Selo Manchado para rebater ataques inimigos e deixá-los expostos a um contra-ataque letal. Na tentativa de dar mais diversidade ao jogador, espalhadas pelo mapa teremos novas armas a serem descobertas além da Espada do começo do tutorial.

A Espada Bastarda, por exemplo, tem um alcance e dano muito maiores, sendo prejudicada por uma velocidade reduzida. Cada armamento pode receber o aprimoramento de itens especiais encontrados durante a exploração; eles conferem um poder especial devastador que consome nossa barra de determinação, sendo essa preenchida conforme eliminamos novas presas.



Assim como nos jogos do tipo, aqui também encontramos itens com a finalidade de aumentar o dano do equipamentos. Eles são chamados de Ácido de Têmpera e conferem o status de +1, +2 e assim sucessivamente. As bigornas são os locais para esse tipo de trabalho e costumam ser encontradas em cada nova região de Fallgrim.

E por falar em itens, Mortal Shell trabalha com um sistema de familiaridade. Toda vez que encontramos um item novo, teremos pouquíssima descrição sobre o seu uso ou até mesmo nenhuma informação. À medida que o utilizamos, um medidor vai sendo preenchido até um valor máximo. Conforme isso é feito, novas informações vão sendo liberadas e efeitos adicionais podem ser desbloqueados. O cogumelo Tarporo é um ótimo exemplo disso; ao consumí-lo ficamos envenenados, mas caso o nível de familiaridade chegue ao máximo, ele passa a nos conceder imunidade contra veneno.



É impossível não comparar a mecânica de combate com os jogos da From Software e identificar seus prós e contras. Em Mortal Shell, não temos a presença dos frascos de Estus para encher a vida. O principal item de cura são os cogumelos vermelhos coletados pelo mapa ou comidas encontradas nos corpos dos bandidos executados. Sua frequência é muito menor e menos eficiente do que visto na série Souls ou em Bloodborne.

Em contrapartida, o endurecimento é um recurso muito fácil de utilizar e eficiente contra todos os tipos de inimigos e ainda podemos realizá-lo durante qualquer ação. Digamos que você realizou um ataque mal calculado e o seu adversário está prestes a contra-atacá-lo. Você pode endurecer durante o ataque e evitar o dano que seria recebido.

O jogo ainda oferece uma chance extra ao morrer, pois na primeira vez que nossa vida chega a zero, caso estejamos portando a casca de um guerreiro, nossa verdadeira forma é arremessada para fora e o tempo é paralisado, nos dando a chance de correr para nossa carcaça e voltar na mesma hora recuperados e com todos os pontos acumulados.

Temos ainda a clássica mecânica de, ao morrer definitivamente, podermos voltar ao local para recuperar os pontos perdidos. Ao meu ver, isso diminuiu a dificuldade, apesar de se enquadrar muito bem com a temática de jogarmos com um ser que invade outros corpos. No caso dos chefes, achei o nível de desafio relativamente baixo. O movimento da maioria deles é fácil de gravar e evitar, principalmente se estivermos familiarizados com as manobras de esquiva e endurecimento.


Visualmente perigoso e impactante

Os gráficos em Mortal Shell não são os melhores da geração, mas os desenvolvedores souberam criar uma atmosfera sombria, misteriosa e inusitada. É fácil se ver admirado com as gigantescas árvores do pântano nos Arredores de Fallgrim ou os palácios fragmentados no Trono do Infinito e todos os perigos que neles se escondem. Um detalhe digno de menção fica por conta da vastidão dos mapas; no começo é muito fácil se perder, principalmente na região pantanosa no começo da campanha. Levei tempo para identificar os locais que se interligavam e aprender todos os atalhos.



Os seres que encontramos representam outro ponto positivo. Dos NPCs às criaturas que enfrentamos, todos possuem trejeitos e comportamentos relacionados à região que estamos explorando. Os que mais me chamaram a atenção ficam na Cripta do Mártir, repleta de monstros que outrora foram escravizados e torturados, trazendo em seu corpo o resultado desse processo.

 A trilha sonora encaixa muito bem com os diversos momentos da campanha, dando tons de melancolia enquanto descobrimos novas localidades ou passando a adrenalina necessária capaz de aumentar a imersão do jogador durante um combate decisivo. Para um título de baixo orçamento, fiquei muito impressionado com a qualidade de ambos os aspectos do jogo.


Uma casca longe de ser vazia

Mortal Shell é mais uma grata surpresa que tenho ao escolher um título aleatório. Não cheguei a testar sua versão beta no período de avaliação, o que me deixou ainda mais surpreso com o resultado do produto final, que  pega demasiada inspiração na série Souls, mas sem deixar de inserir sua própria identidade tanto na jogabilidade quanto no enredo. Ele pode não ser tão desafiador quanto sua fonte inspiradora, mas isso não diminuiu em nada o meu entretenimento com a obra. Inclusive, isso o torna uma excelente porta de entrada para aqueles que desejam experimentar o gênero soulslike.


Jogadores iniciantes terão um desafio considerável e uma bela mecânica a ser descoberta, enquanto os veteranos encontrarão um ambiente familiar com horas de diversão em um mundo completamente novo e bem construído. A tão bem-vinda opção de reiniciar a campanha no NG+ está presente, o que obviamente aumenta consideravelmente sua dificuldade, além de liberar novos itens a serem descobertos.

Prós

  • Sistema de combate diferenciado;
  • Ambientes e criaturas visualmente impressionantes;
  • Maior longevidade através do NG+;
  • Alta versatilidade na jogabilidade através da troca de carcaças e armamentos.

Contras

  • Os chefes não são tão desafiadores quanto os grupos de inimigos regulares;
Mortal Shell — PC/PS4/XBO/ — Nota: 8.5

Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Playstack


Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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