Crônica

Days Gone — revisitando o exclusivo do PS4 sem o hype do lançamento

Depois de tantos dias passados, e com os descontos recentes, o título da desenvolvedora Bend Studio é uma boa pedida no console da Sony.

Comprei Days Gone em pré-venda, meses antes do seu lançamento que foi em abril de 2019. Não sei por que cargas d´água eu nutria boas esperanças de o título da desenvolvedora Bend Studio me surpreender positivamente. Talvez tenha sido o histórico recente da Sony com seus jogos first-party para o PS4, não sei.


Quando finalmente botei as mãos no disquinho e guardei um final de semana para aproveitá-lo, o hype já estava devidamente controlado. Joguei por cerca de dez horas sem muito entusiasmo, o que me fez perceber que eu recém havia arranhado a superfície deste exageradamente longo jogo de ação.


É exatamente neste ponto que mora um dos maiores problemas do título da Sony: ele “estica” sua linha até quase rebentar. Eu, percebendo o comprido caminho que ainda havia pela frente, acabei decidindo por vender o jogo e segui adiante sem olhar para trás, esquecendo de Days Gone por mais de um ano.

Recolocando as mãos no guidão

Meses se passaram e só fui relembrar do dito-cujo recentemente, em uma das últimas promoções de jogos first-party da Sony. Por apenas algumas dezenas de reais me pareceu uma ótima ideia dar uma segunda chance ao título, retomando meu progresso de onde parei. Mas essa novela me reservava mais uma surpresa: por uma questão de bloqueio de região dos saves (sim, isso existe), tive de reiniciar do zero minha campanha.  Condição que não ajudou em nada na minha “segunda impressão” do jogo.


Depois do repeteco do início, mas principalmente depois de dezenas de horas de missões quase idênticas, Days Gone deixa em mim um gosto agridoce. O título da Bend Studios tem diversos méritos, é verdade, mas permanece recheado de defeitos irritantes que desvalorizam consideravelmente a experiência total.

A começar pelos problemas técnicos: mesmo depois de mais de um ano de seu lançamento, o título ainda apresenta uma infinidade de bugs bizarros e problemas de desempenho. Em uma ocasião, por exemplo, precisei recorrer a um guia para descobrir como terminar uma missão, pois o game havia “apagado” um marcador do mapa. Haja paciência!
Texturas são um problema no apocalipse zumbi

Gastando gasolina à toa

Um ponto negativo que não tem jeito de mudar nem com reza braba é o ritmo de lesma da trama principal. Days Gone leva tempo demais para apresentar personagens e narrativas interessantes, investindo um tempo precioso (praticamente toda a primeira metade) em personagens detestáveis e que não fazem a história progredir.

Personagens razoavelmente carismáticos só aparecem da metade para o final da campanha. Acredite, há conflitos muito mais interessantes do que aqueles apresentados pelos dois primeiros assentamentos de sobreviventes. A própria “missão principal” do jogo — Deacon tentando lidar com os fantasmas de seu passado — não é lá muito inspirada, e fica espalhada nas dezenas de horas de gameplay.


Não me leve a mal, Deacon St. John até é um protagonista bacana, mas quando eu estava realmente envolvido na história e interessado em saber mais sobre ele e sobre seu passado/futuro, o jogo me obrigava a fazer mais um punhado de missões chatas antes de me deixar progredir. Essas amarras são um fardo para a diversão.

Isso tudo sem contar a bisonha fragmentação dos capítulos. Sério, não consigo imaginar como misturar as porcentagens dos progressos das missões pode ter parecido uma boa ideia! É desnecessariamente confuso tentar entender como funciona o entrelaçamento das histórias. E, por conta disso, é quase impossível administrar o desenvolvimento da narrativa principal de forma isolada.

Turbo e tiro

Dito tudo isso, a ação em Days Gone é extremamente competente e divertida! As várias armas para o diversificado combate (furtivo e direto), a pilotagem de uma moto personalizável por belas paisagens e a sobrevivência sempre por um triz às hordas gigantes de zumbis (digo, freakers) são, sem dúvidas, os pontos altos do jogo.

Na maioria das missões mais repetitivas me dei ao luxo de brincar de matar as hordas de freakers enquanto ouvia um podcast, música, ou batia um papo com a minha esposa. Ou seja, apesar da temática barra pesada, Days Gone foi constantemente um passatempo divertido e sem compromisso para mim. E acho que é melhor assim.

O título vem acompanhado de todas aquelas mecânicas batidas de jogos open world, como pontos de evolução, craftting, administração de inventário, viagens rápidas, missões repetidas etc. Se por um lado é estafante para quem quer apenas imergir na história, por outro é o paraíso para quem gosta de dar aquele “check” na lista de tarefas.

Dias se passaram

Days Gone está muito mais leve nas lojas e prateleiras. Eu explico: depois de mais de um ano, o jogo perdeu aquele peso de ser um “sucessor de The Last of Us” ou “o novo grande first-party da Sony”. Agora, não há mais expectativas. Além disso, o título está consideravelmente mais barato, pesando muito menos no bolso do que qualquer lançamento atual.

Portanto, tirando todo o peso de jogar pagando caro na estreia para ficar por dentro, ou mesmo a pressa para trocar ou vender logo pelo preço que pagou (quem nunca?), Days Gone é um bom jogo. Com o “hype gone” (desculpem, foi inevitável) ele se mostra um competente título de ação em mundo aberto, que merece uma segunda chance.


Se eu pudesse, retiraria umas 20 horas de gordura, transformaria muita coisa em conteúdo de pós-jogo, com menos idas e vindas e missões desnecessárias na campanha principal. Como isso não é possível, o meu conselho para quem quer se aventurar nesse mundo agora é apreciar o game sem grandes expectativas, com parcimônia e sem pressa — eu mesmo alternei entre este e outros joguinhos no Nintendo Switch, para não enjoar.

Depois de todas essas considerações, acredito que valha a pena aproveitar alguma promoção da PSN — ou do disco em mídia física — para investir boas horas curtindo as belas paisagens de Days Gone. É bem verdade que este não é um review, já tivemos uma excelente análise do jogo no ano passado, mas se me pedissem para dizer um número aleatório entre 0 e 10, eu diria “7.5”.
Vem cá Days Gone, tá na hora. 
Revisão: Emanoelly Rozas

Comunicador e colecionador. Já foi Sega kid e Nintendo kid, agora é retro "kid". Está no Twitter em @carloscirne e faz vídeos no YouTube no canal CirneStuff.
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