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Análise: Samurai Shodown (Multi) traz a tensão dos duelos entre samurais também para o PC

Apesar de um online que deixa um pouco a desejar, o título tem a honra de representar muito bem o espírito da série.


Quando se pensa em jogo de luta da SNK, o primeiro que vem à cabeça da maioria das pessoas é The King of Fighters. No entanto, a empresa tem um grande arsenal de títulos do estilo. Iniciada em 1993, a série Samurai Shodown (usualmente abreviada como “SamSho”) coloca os jogadores em lutas ferozes e ágeis entre usuários de espadas e outras armas.

É perceptível o quanto a série bebeu de outras obras de samurais e existe um nível de detalhe em sua ambientação de tom bastante particular. Os jogos se passam por volta do período do xogunato Tokugawa e os elementos imagéticos utilizados em sua representação têm clara inspiração na história da arte japonesa. Em todos os aspectos mencionados, o espírito da série está claramente presente no novo título.

En Garde


Um aspecto importante de um jogo de luta são os personagens disponíveis para o combate. Sem considerar os DLCs, são ao todo 16 personagens, incluindo três novatos (Yashamaru, Darli Dagger e Wu-Ruixiang) e figuras tradicionais da série como Haohmaru, Nakoruru, Galford e Charlotte. Cada um deles tem suas características, oferecendo movesets diferenciados.

De fato, existe bastante diversidade para que os jogadores explorem e descubram aqueles que melhor se encaixam com o seu estilo pessoal. Por exemplo, apesar de usualmente preferir personagens ágeis, acabei me sentindo mais confortável usando Darli Dagger, que dá preferência para golpes mais fortes e concentrados.

Isso se deve também ao estilo da série. Samurai Shodown é um jogo inspirado em lutas de samurais, o que vai muito além de simplesmente colocar lutadores japoneses com katanas brigando de qualquer forma. Lutas entre samurais precisam envolver golpes rápidos e letais, uma sensação constante de perigo extremo em que, se qualquer um dos lados bobear, será punido por isso.


O novo Samurai Shodown não é diferente, sendo até mesmo o ataque forte básico devastador. Para lidar com isso e com os ataques especiais dos adversários, o jogo conta com um sistema de esquivas e guardas cujo funcionamento chega a fazer uma diferença gritante e são fundamentais nas lutas. Há até mesmo golpes que podem retirar a espada do inimigo, tornando-o consideravelmente mais fraco.


Para compensar seu sistema altamente punitivo, vale destacar que existe um sistema de fúria. Quanto mais apanha, mais o personagem preenche essa barra. Com ela cheia, os golpes ficam mais fortes. A qualquer momento, também é possível ativar Rage Explosion, descartando completamente a barra em prol de um período de tempo com habilidade aprimorada em que é possível ativar um Issen. Quanto mais tempo de Rage Explosion sobrando, mais forte fica esse golpe especial, uma verdadeira carta na manga para reverter situações complicadas.

Um mergulho na arte japonesa

Como já mencionado, outro aspecto muito importante de Samurai Shodown são suas raízes japonesas, visíveis a partir de suas escolhas estilísticas. Não é apenas uma roupa tradicional ou um fundo que remete ao Japão, mas uma atmosfera de época riquíssima, mergulhada em estilos de arte típicos da cultura nipônica.

Um estágio que reflete bem isso é o palco de Kabuki, um teatro tradicional japonês em que os artistas utilizam maquiagens bastante elaboradas com uma variedade de símbolos. Esse fundo em particular segue um estilo próprio que deixa clara a sua artificialidade, com camadas de objetos sobrepostos da mesma forma que um palco desse tipo de teatro. Até mesmo os padrões e cores representam muito bem esse contexto.


Esse é apenas um exemplo, mas todos os cenários têm elementos muito bem escolhidos para tanto representar a época quanto para dar variedade e um senso de estética muito específico. Essa ambientação também é muito bem trabalhada no aspecto sonoro. Assim como no gráfico, os detalhes fazem toda a diferença: os efeitos sonoros, o uso de instrumentos tradicionais japoneses e até mesmo a voz do narrador foram muito bem escolhidos.
As linhas pretas no braço de Haohmaru chamam a atenção.

Porém, vale destacar que alguns personagens têm uma aparência um pouco estranha, como se desse para ver os blocos que os constituem. Isso é especialmente nítido para aqueles que têm braços mais largos, e fortalecido graças às linhas pretas mais grossas do traço dos lutadores. Apesar de ter sido uma escolha estilística que parece remeter ao tradicional estilo artístico ukiyo-e, o fato de que essas linhas acabam “entrando no braço dos personagens” acaba se tornando um contra.

Felizmente, o jogo conta com opção para remover efeitos como sombra para deixar a aparência mais limpa. No entanto, essa é uma das poucas configurações gráficas do jogo, junto com a resolução. Tal falta também afeta as configurações de controle no teclado: é possível mudar os botões para a batalha, mas não são alteráveis os controles do menu, como o skip de texto (mapeado na tecla 7). Em ambos os casos, não são problemas muito graves, mas espera-se mais de um jogo de PC.

Vale destacar também os modos de jogo, cuja variedade é boa. Primeiramente, temos o modo História, que apresenta nove batalhas, tendo cada personagem o seu próprio final e dois pequenos trechos de fala especial. Dentro da área de prática, existem opções de treinamento livre e de seguir um tutorial que cobre toda a base do gameplay, mas não entra em particularidades das habilidades dos personagens.


O online é composto de modos ranqueado e casual (com salas para combate e conversa). Com um netcode baseado em delay, as batalhas podem variar grosseiramente entre “perfeitas” e “abomináveis”, sendo comum que haja uma boa dose de lag. No entanto, a pior parte fica em encontrar adversários. Apenas consegui participar de uma sala do casual uma vez e no ranqueado pode se preparar para esperas de vários e vários minutos antes de conseguir uma partida.



Como não há nenhuma restrição no número de rematches, em todas as vezes que encontrei alguém no online, ficamos infinitamente jogando um contra o outro até um dos lados ter que sair. Honestamente, essa questão do online é o único problema real do jogo porque em todos os outros aspectos ele é simplesmente fenomenal.

Também há um dojô para batalhas contra “fantasmas”. Ou seja, o jogador pode utilizar dados de adversários reais para criar uma réplica e testar suas habilidades. É um modo interessante, mas boa parte dos fantasmas que enfrentei eram bem estúpidos.

Por fim, há também as batalhas offline que vão desde o tradicional versus a um modo gauntlet (com todos os personagens como oponentes), survival (focado em derrotar o máximo de inimigos) e time attack (focado em bater os inimigos o mais rápido possível). Eles oferecem bons desafios extras para o jogador.

De forma geral, Samurai Shodown é uma excelente pedida para fãs de jogos de luta. É perceptível o carinho utilizado para fazer com que o título seja um excelente representante do que a série tem de melhor. Infelizmente, o online no PC deixa a desejar, mas continua valendo muito a pena e oferecendo uma experiência especial.

Prós

  • Respeita o estilo tradicional da série com duelos empolgantes e tensos;
  • Visualmente estiloso, especialmente quando usa referências visuais;
  • Variedade de modos de jogo.

Contras

  • Modo online baseado em delay e com dificuldade em encontrar oponentes;
  • Personagens têm modelos “blocados”;
  • Pouca possibilidade de configuração gráfica e de controle.
Samurai Shodown — PC/PS4/XBO/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Análise produzida com cópia digital cedida pela SNK
Revisão: João Pedro Boaventura

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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