A febre dos consoles mini, uma mania na palma da sua mão

Como um produto destinado a colecionadores se tornou uma verdadeira mania, inaugurando um novo mercado e cativando fãs pelo mundo todo

em 24/04/2020

Lançado no mês passado, o novo PC-Engine Mini virou febre entre os colecionadores e retrogamers e é um dos assuntos mais comentados em diversos canais de youtube. Apesar de não ser tão acessível assim para nós brasileiros, o retorno do saudoso console da NEC, agora pelas mãos da Konami, marca o ápice de uma mania fomentada pela Nintendo lá em 2016 — a febre dos consoles mini. Mas por que algo que foi planejado para agradar apenas colecionadores se tornou um objeto de desejo dos gamers?


As origens de uma febre

Apesar do que muitos acreditam, não foi a Nintendo a pioneira no mercado dos consoles mini. A Sega, por incrível que parece, já trabalhava com esse conceito no seu Mega Drive no Japão, apesar de ter entregue produtos, digamos, duvidáveis. Porém, foi com a Nintendo que o fenômeno se popularizou, muito graças à visibilidade que a marca da gigante nipônica carrega. O seu Nintendo Classic Edition, inicialmente produzido em cópias limitadas, logo se esgotou e tornou-se artigo de luxo.

O pequeno e simpático console da empresa japonesa de jogos, se transformou em um dos itens de maior faturamento e ela foi obrigada a voltar atrás e disponibilizar mais cópias do produto. No ano seguinte, saia o Super Nintendo Classic Edition, novamente sob os holofotes e entusiasmo da mídia e do público. Nem preciso dizer que foi um sucesso estrondoso e, desta vez, a Nintendo disponibilizou muitas unidades do produto para lojas no mundo inteiro.

A próxima a entrar na onda foi ninguém menos que a Sony, e novamente criou-se grande expectativa em torno da miniatura de um dos consoles mais marcantes de todos os tempos. Contudo, ao contrário de sua antecessora, a Sony não conseguiu agradar ao público com seu pequeno aparelho de emulação. Lançado em dezembro de 2018, o PlayStation Classic não trouxe um bom repertório de jogos, além de apresentar alguns problemas de emulação. Foi um banho de água fria nos fãs de consoles mini, até que...

Sega does, what Nintendid...

No ano seguinte foi a vez da outrora grande concorrente da Nintendo entrar na onda dos Classic Edition, desta vez em grande estilo. Não que ela nunca tivesse produzido uma miniatura do seu console mais famoso, o Mega Drive. Como dito acima, a Sega já produzia versões mini há algum tempo, porém a maioria dessas versões era de qualidade ruim. O primeiro passo da Sega foi apagar seu passado sombrio com a At Games.

Essa empresa já vinha produzindo réplicas retrô do Mega Drive há algum tempo, porém sempre recebia críticas do público. Para entrar de cabeça na onda dos minis, era preciso seguir a mesma qualidade das concorrentes — e aprender com os seus erros. E ao contrário do PlayStation, a Sega caprichou bastante nos jogos que acompanham o console, inclusive sabatinando a lista antes do lançamento. Isso já criou um certo alvoroço e se mostrou uma decisão acertada.

O Mega Drive Mini, ou Genesis Mini nos EUA, foi sucesso de críticas e público. clamado como um dos melhores, senão o melhor, representante da categoria. Da mesma forma que seu bem sucedido concorrente, o console da Sega acompanhava dois controles, porém, a biblioteca de jogos que acompanhava o “consolinho” mudava de acordo com a região. Além disso, os valiosos controles de seis botões vinham apenas nas versões vendidas na Ásia, o que atiçou os colecionadores.

Luxo baseado em nostalgia ou inovação?

Muito se tem discutido em fóruns e redes sociais sobre o significado e a “utilidade” dos consoles mini. Apesar de alguns argumentarem tratar-se de um fetiche para colecionadores, a verdade é que os consoles mini são um sucesso. E grande parte desse sucesso tem um nome — nostalgia. Essa nostalgia até criou uma tribo própria de jogadores, os retrogamers.

A maioria dos fãs de vídeo game que hoje são adultos, cresceram na era dos 8 e 16 bits, e a saudade de passar tardes inteiras na frente da TV de tubo é algo muito presente na memória emocional dessas pessoas. Contudo, não são todos que tem os recursos e a paciência necessários para adquirir os equipamentos originais.

Preços proibitivos de colecionadores e dificuldades técnicas e circunstanciais são só alguns problemas que encontramos quando queremos reviver essas experiências. Apesar dos famosos emuladores e a pirataria tornar acessível e praticamente com custo zero a posse de toda biblioteca de games das gerações passadas, não é, nem de longe, a mesma coisa.

Um aplicativo de android com todas as roms de Super Nintendo nunca vai nos trazer a sensação de sentar a frente da televisão e com aquele controle roxinho na mão e explorar todas as fases do Super Mario World. E a forma mais fácil de chegar perto dessa sensação, sem gastar rios de dinheiro, são os consoles mini. Não é apenas o software, mas todo o contexto de sensações e sentimentos, que nos envolvem nessa experiência.

Um mercado com infinitas possibilidades.

Uma das questões que podemos levantar é: por que a indústria de games demorou tanto tempo para explorar esse segmento dos retrogamers? Uma das possíveis respostas pode ser o foco em inovação que sempre permeou esse mercado, enquanto um nicho ia se formando e tornando-se cada vez mais relevante, e por fim, lucrativo.

Outra possível resposta, e bastante óbvia, é o custo. Com produções cada vez mais caras e demoradas, investir em “emuladores” é uma aposta certa e bastante lucrativa. Apesar de todo fetichismo do produto, os consoles minis não passam de emuladores que rodam softwares já prontos e consagrados pelo mercado a muito tempo. Portanto, é um investimento praticamente certeiro, do ponto de vista de negócios.

Com todas as opções oficiais e não oficiais para acessarmos essa nostálgica biblioteca retro, com todas essas coletâneas, relançamentos e remasterização, será que realmente precisamos dos consoles mini? Logicamente que não, mas se a pergunta for outra? Queremos os consoles mini? Sim, queremos eles e queremos que venham mais deles ainda. O mercado é feito de opções, e é muito satisfatório quando vemos as empresas apostando em diversificar o acesso a jogos antigos.

Eu, particularmente, sou apaixonado pelos consoles mini e tenho minha coleção bem guardada em minha estante. Quase não uso eles, é verdade. Porém, jogar Sonic 2 com o controle original com o logo da Sega, ou Super Mario World com o saudoso controle roxinho, é um toque de elevação quase celestial para a experiência gamer. E o vídeo game, como forma de arte, deve sempre inovar, mas sem nunca esquecer seu glorioso passado.

Revisão: Mariana Mussi

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Apaixonado por JRPG, fanboy de Final Fantasy, gosta de um bom papo de boteco com cerveja e Rock'n Roll. Escreve para a Game Blast pois sonha em ser escritor.
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