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Análise: Resident Evil Resistance (Multi) é promissor, mas ainda requer muitas melhorias

Junte-se ao grupo de sobreviventes e fuja das garras da Umbrella ou banque o próprio carrasco da corporação e brinque com as vidas dos quatro jogadores.


Resident Evil Resistance foi divulgado sob o codinome Project Resistance. A ideia era que um novo título da franquia estaria em desenvolvimento, e acredito que a intenção fosse realmente essa. Contudo, a Capcom fez diversos testes com membros selecionados da mídia e algumas sessões fechadas com versão beta que possivelmente levaram os desenvolvedores a crerem que o título não se sustentaria por conta própria.

Em 2019, durante uma das apresentações de Resident Evil 3, ele foi anunciado como um bônus para quem adquirisse o próximo remake da série de zumbis. A proposta levantou as expectativas, pois, se por um lado era improvável obter sucesso vendendo separado, adquiri-lo junto com um sequência tão esperada quanto RE3 poderia alavancar ainda mais as vendas e a satisfação dos fãs. A intenção foi boa, mas será que foi convertida em resultado positivo?

Ratos de laboratório

A premissa de Resident Evil Resistance parte de jovens aleatórios, sem ligação alguma, que foram aprisionados pela Umbrella a fim de servirem como cobaias em seus experimentos. Até o momento, temos seis sobreviventes disponíveis, cada um com pequeno relato contando como foi parar nas garras da corporação maligna. Tyrone, por exemplo, é um bombeiro de Raccoon City que, após atender a um chamado de incêndio em uma das filiais da Umbrella, foi dado como morto em ação.



Por se tratar de um jogo 100% multiplayer, sem nenhum foco em experiência narrativa, o histórico dos sobreviventes é suficientemente satisfatório. Você tem explicações que justificam a especialidade de cada um deles. Devido ao treinamento dos bombeiros, Tyrone é o tanque do time, podendo levantar a defesa do grupo. Já Valeria, por suas pesquisas na universidade Umbrella, desenvolveu a capacidade de aplicar cura em área para seus aliados. Os personagens utilizados recebem experiência conforme são usados e, ao subirem de nível, novas habilidades ficam disponíveis.



Na prática, cada um possui uma técnica especial chamada de Habilidade Febril, que tem um tempo de recarga maior, mas seu efeito pode ser decisivo para virar a partida. Ainda temos uma técnica mais simples ativada com o R1/RB que possui um tempo de recarga menor. No caso de Becca Wollett, a atiradora do grupo assume uma postura de sentinela, permanecendo imóvel com o benefício de melhorar sua mira e poder de fogo. Já a sua habilidade febril é a Chuva de Balas, deixando-a com munição ilimitada por um curto período de tempo.



Esses “poderes” são interessantes e são o segredo para o sucesso. Às vezes é melhor deixar as preferências de lado e compor um time de forma que ele fique bem construído: personagens de suporte e sabotagem como Valorie e January, respectivamente, são fundamentais para a sobrevivência. Meu preferido do lado dos sobreviventes é o Tyrone. Além de poder aumentar a defesa do time com sua Habilidade Febril, sua técnica no R1 é um chute frontal nos moldes de 300 de Esparta, excelente para abrir passagem em meio às hordas de infectados.



Controlando as marionetes

Do lado vilanesco, assumimos a alcunha de Mastermind, o algoz dos sobreviventes e responsável por conduzir o teste prático com os participantes. Até o momento, são quatro figuras conhecidas disponíveis para seleção: Annette Birkin, Daniel Fabron, Alex Wesker e Oswell Spencer. Cada um deles vem com um baralho de monstros, armadilhas e efeitos especiais que podem ser customizados à medida que evoluímos o vilão. As cartas possuem um custo para uso que é abatido de uma barra recarregável com o tempo, mas que aumenta ainda mais ao realizarmos ações contra o time rival.



Dentre as cartas vistas até agora, temos os zumbis rastejantes, comuns, os fortes, blindados e a versão feminina que é mais veloz e capaz de saltar nos sobreviventes. Fora esses devoradores, temos cachorros, Lickers e Ivy, a versão zumbi que aparece coberta de musgos e espinhos em RE2. Do lado das armadilhas, até o momento, vi versões explosivas e uma outra que prende o pé dos sobreviventes, deixando-os completamente vulneráveis por um tempo. Algumas cartas consistem em efeitos especiais como descontos para usar outras cartas ou embaralhar seu deck e tirar uma nova mão. Ainda é possível usar algumas cartas que acoplam armas de fogo nas câmeras que utilizamos para monitorar os cenários, adicionando uma mira na tela e permitindo reduzir os pontos de vida do grupo.

O maior trunfo de cada Mastermind está na sua carta especial: uma criatura super poderosa que fica disponível após um determinado número de ações e tem potencial para acabar com o jogo de oponentes despreparados. Annette Birkin é capaz de invocar a primeira forma transformada de seu marido, William Birkin. Já Daniel Fabron convoca o incansável Mr. X. No caso de infectados comuns, somos capazes de espalhá-los pelo mapa, conforme disponibilidade, e deixar o controle deles a cargo da inteligência artificial ou assumi-lo por determinado tempo. Ao assumirmos o controle, a criatura fica com os olhos avermelhados e sua lista de golpes fica disponível na tela para usarmos.



Criaturas comuns possuem dois golpes: um básico, que geralmente é um ataque físico, e outro mais poderoso, porém, com tempo de recarga. No caso dos monstros especiais, é obrigatório assumirmos o controle deles durante todo o tempo em que estiverem no jogo. Sua lista de golpes é maior, contendo pelo menos um golpe de morte instantânea (no caso do Tyrant pálido de RE2, ele ergue sua presa e explode sua cabeça com a mão). Evidentemente, esses golpes têm um tempo de espera maior para serem utilizados e são mais fáceis de evitar.


Controlar o Mastermind me pareceu ser a parte mais divertida do título. Bolar planos, combinar as cartas entre si e com o cenário é uma experiência satisfatória e divertida. Ao utilizar os recursos de maneira bem pensada é possível anular a jogada do time adversário já na primeira fase do mapa e garantir uma bela vitória com rank máximo.

Que comecem os jogos!

A partida tem início com os quatro sobreviventes acordando no início do cenário. Cada um inicia com equipamentos básicos como pedaço de pau, pistola comum e uma erva para recuperação da vida. A partir daí temos um tempo limite para realizar tarefas divididas em três fases diferentes:
  • A primeira fase consiste em encontrar três peças espalhadas pelo mapa para montar um objeto perto da porta de saída;
  • Na segunda teremos que encontrar um zumbi blindado portando uma chave. Ao eliminar esse zumbi, devemos ativar três terminais separados que liberam a passagem do segundo portão;
  • A terceira e última etapa exige a destruição de três Bionúcleos, uma espécie de cápsula que contém um experimento da Umbrella. Ao concluir a destruição, a tranca final é liberada e ao acioná-la é preciso aguardar um tempo de ativação antes de deixar o local rumo à liberdade. Com o último portão aberto, os jogadores podem fugir em grupo ou sozinhos caso não haja esperanças para os demais.
No início de cada etapa, os sobreviventes têm acesso a um baú para compras de suprimentos (armas, granadas etc.) usando Créditos Umbrella como moeda. Esses créditos são encontrados pelo mapa e são divididos entre os jogadores. Esse mesmo baú pode ser encontrado na sala segura localizada em pontos específicos de cada mapa: ela é identificada por uma porta reforçada entreaberta pela qual somente o sobrevivente é capaz de passar. É importante conhecer bem o estilo do personagem escolhido para comprar o equipamento mais apropriado: não adianta escolher a Becca e querer seguir a jogada usando armas de combate corpo-a-corpo.



Na missão de impedir a fuga, estará um jogador adversário no comando do Mastermind. Toda a movimentação do grupo é monitorada por câmeras espalhadas pelas salas e corredores, podendo alternar entre elas de forma livre, desde que não tenham sofrido dano ou sido sabotadas pelos sobreviventes. Além de poder infestar o lugar com monstros, podemos apagar as luzes, trancar portas e mover plataformas a fim de atrasar ainda mais o grupo.



A equipe de sobreviventes tem 5 minutos para concluir todo o trajeto e esse tempo pode ser aumentado ao pegar itens-chave, ajudar companheiros e eliminar criaturas. Ao concluir cada etapa do mapa, é dado um acréscimo de cerca de 2 minutos no tempo total. Em contrapartida, quem estiver controlando o Mastermind pode reduzir esse tempo – causar qualquer tipo de dano no grupo e atacá-los pessoalmente ao controlar zumbis possuídos são as melhores formas para isso. Matar o alvo faz com que ele reinicie no começo do mapa e desconta um total de 2 minutos do tempo da equipe.



Esse tipo de esquema 4x1 é popular em franquias como Evolve e Dead by Daylight. Aqui, a experiência tem muito potencial, mas carece de mais polimento. Nos primeiros betas, o jogo estava completamente desbalanceado em favor do Mastermind. Ajustes foram feitos, mas a vantagem do vilão ainda é notória. Contudo, não é nada que não possa ser sobrepujado com uma boa estratégia e jogadores experientes. Em jogos desse tipo, é fundamental a comunicação em grupo. Quando ela é ausente, algumas dicas são válidas de se ter em mente:
  • É preciso distinguir os momentos de andar em grupo e de se separar. Na fase inicial, andar em grupo quando o objetivo é encontrar itens espalhados só favorece o trabalho do Mastermind em concentrar criaturas e armadilhas em um único ponto. Da mesma forma, não adianta separar todo o grupo na última etapa já que apenas um Bionúcleo fica ativo por vez;
  • Tenha pelo menos dois sobreviventes bem evoluídos e de classes distintas. Assim você consegue mais versatilidade na hora de se enquadrar em diferentes times;
  • Pense no time na hora de decidir coletar itens de cura. Se você estiver bem abastecido, não há motivos para lotar o inventário e deixar um companheiro desprovido;
  • Armas de fogo nem sempre são o melhor ataque. A marreta tem capacidade de derrubar a maioria dos infectados regulares e é a mais indicada para destruir os resistentes Bionúcleos da última etapa;
  • Procure levar sempre uma granada a partir da segunda fase. Aqui o Mastermind provavelmente estará com cartas mais poderosas. Esses itens são ótimos para eliminar grupos (granada de fragmentação) ou abrir caminho em locais estreitos (granada de atordoamento).

O terror das microtransações

É possível customizar a roupa dos sobreviventes, o visual das armas e até das criaturas. Não ficou claro aqui se esses itens virão nos baús presentes na loja do jogo, pois não consegui partidas suficientes para desbloquear os três níveis de baús disponíveis. Tudo indica que é por aí que obteremos esse tipo de extra. Fora isso, temos itens equipáveis que concedem bônus de performance para os heróis e para o vilão. Alguns melhoram o dano físico ou com armas de fogo, a resistência contra armadilhas, entre outras opções.



Embora não seja possível utilizar dinheiro real para comprar os baús diretamente, é possível adquirir os chamados Impulsos de PR (ponto de resultado). Cada impulso desse confere um percentual maior na taxa dos pontos recebidos no final da jogada. O detalhe é que parte desse percentual é cumulativo com o time: se cada membro da equipe estiver usando esses Impulsos, é possível gerar um bônus adicional de até 40% ao resultado do grupo. O que não parece algo muito justo, visto que existem acessórios que concedem melhorias de performance.


Diamante a ser lapidado

Resident Evil Resistance definitivamente não se sustentaria caso fosse vendido separadamente. O jogo ainda carece de muitas melhorias. A estabilidade dos servidores parece ser um problema generalizado na Capcom. Mesmo com uma conexão adequada, as partidas ainda sofrem quedas por conta do lag. Sem contar a demora evidente para encontrar jogadores suficientes – meu recorde até agora foi de 15 minutos esperando, quando antes não desistia de jogar.

Ter um grupo pré-estabelecido para jogar é a melhor maneira de evitar as longas filas de espera


As partidas ainda carecem de um equilíbrio melhor entre os sobreviventes e o Mastermind, o que deve ocorrer em vista do feedback da comunidade. A ideia de que esse jogo tenha dividido recursos com Resident Evil 3, que tem problemas sérios na longevidade da campanha, me deixa aborrecido. Entretanto, já que ele se encontra entre nós, que a Capcom consiga melhorar o desempenho antes que seja tarde demais. São muitos os exemplos de jogos online que tiveram um lançamento ruim, mas que foram melhorando com o tempo.



Uma excelente pedida seria o adendo de sobreviventes do enredo oficial. Tragam os mercenários da U.B.C.S. e, quem sabe, o modo Mercenários em grupo – semelhante ao que vimos nos modos multiplayer de Resident Evil 6. Por se tratar de jogo inteiramente online, atualizações dão toda a margem que os jogadores precisam para ter uma experiência divertida.


Prós

  • Excelente fan service de personagens da franquia;
  • Customização de sobreviventes, armas e criaturas que aumentam o interesse no jogo.

Contras

  • Instabilidade dos servidores, gerando travamentos durante a partida;
  • Dificuldade para encontrar jogadores;
  • Objetivos repetitivos;
  • Microtransações que aumentam o resultado da pontuação.

Resident Evil Resistance – PS4/XBO/PC – Nota: 6.5
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela Capcom.


Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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