Análise: Resident Evil 3 (Multi) reimagina o clima de tensão e sobrevivência do clássico de forma incrível

O remake coloca o jogador em ritmo constante de fuga regado a altas doses de ação.

em 30/03/2020

O remake de Resident Evil 2 fez um sucesso estrondoso e, apesar de retratar uma história querida e muito conhecida entre o público, conseguiu modernizar as mecânicas para a nova geração dentro de um contexto capaz de criar uma experiência quase que inédita. E era de se esperar que o mesmo seria aplicado em Resident Evil 3 por conter um enredo e personagens tão marcantes quanto o seu antecessor.

A Capcom não perdeu tempo e tratou de anunciar, ainda em 2019, o remake de Resident Evil 3, que conta com a presença de Jill e seu algoz, o Nemesis. Confira o que achamos da jornada de sobrevivência da última membra do S.T.A.R.S. em Raccoon City.


Manhã de 28 de setembro

Seguindo a cronologia da série, os sobreviventes da tragédia ocorrida na mansão Spencer fizeram o possível para expor os planos da Umbrella para o chefe da polícia de Raccoon City, Brian Irons. Contudo, o relato do grupo é tido como infundado por falta de evidências e o S.T.A.R.S. é dissolvido, deixando clara a influência da corporação farmacêutica em toda a cidade. A partir daqui, cada um dos agentes decidem seguir um caminho separado com o único objetivo em comum de levar a luta para as portas da Umbrella. Jill permanece na cidade a fim de vasculhar as últimas pistas sobre o T-Vírus. Brad Vickens é o único que decide não se envolver e vira as costas para seus companheiros em troca de um posto como policial na delegacia local.



A jornada tem início mostrando detalhes adicionais que ficaram obscuros na versão clássica. Jill começa em seu apartamento confinada em uma espécie de isolamento que ela acredita ser imposto pela Umbrella. A partir daí presenciamos o momento em que a grande metrópole é tomada pelo caos e, antes que pudesse se preparar para a situação, Jill é surpreendida por acontecimentos inesperados que explicam a explosão que vemos no começo da campanha no original de 1999. Esse é um dos pontos fortes desse remake, ele se encaixa perfeitamente ao roteiro de RE2 por se passar antes e depois aos acontecimentos narrados na jornada de Leon e Claire, e se aprofunda em questões que ficaram superficiais no seu roteiro original. Os veteranos de Resident Evil identificarão esses momentos logo de cara enquanto os iniciantes terão uma experiência completa e inesquecível.



Ao chegarmos nas ruas, damos de cara com o caos instaurado: estabelecimentos e carros destruídos, população desesperada e uma infestação crescente de zumbis dão o tom e ritmo de jogo que iremos encontrar dali em diante. Se a delegacia de Resident Evil 2 prezava por ambientes tomados pela escuridão e a surpresa dos protagonistas ao serem apresentados pelos efeitos do vírus, nas ruas de Raccoon City teremos um ritmo muito mais agitado, já que não há local seguro para ficar por muito tempo, as ruas estão tomadas por ameaças e um grande perseguidor está no encalço da heroína. A única saída é fugir e para isso contaremos com a experiência de combate de Jill, que está muito mais aguçada após vivenciar os eventos do primeiro jogo nas montanhas Arklay.


Elenco de peso

Resident Evil 3 Remake traz de volta os personagens que marcaram a série, alguns até virando ícones dos jogos, como Jill e Nemesis, que fizeram participações em outros títulos da Capcom. A protagonista da vez está muito bem representada pela atriz Sasha Zotova, que fez um trabalho de expressão facial impressionante junto de todo o elenco. Todos tiveram não só o visual recriado, mas também a personalidade incrementada. Jill está muito mais confiante e passa a sensação de ser uma soldada de elite veterana, capacitada para lidar com qualquer situação. Carlos e os demais membros da U.B.C.S. também receberam o mesmo cuidado. A dupla de Jill é muito mais que um personagem masculino para fazer par e demonstra muito mais atitude e participação durante a campanha. Sem deixar de lado, é claro, suas piadas sobre a beleza da companheira.



Mikhail e Nicholai estão mais engajados na trama. O líder dos mercenários enviados pela Umbrella esbanja maturidade e um sotaque russo afiado, enquanto Nicholai tem seu caráter duvidoso ainda mais acentuado, nos deixando sempre desconfiados acerca de seu papel durante a crise. Até mesmo o ex-piloto do Alpha Team tem uma atenção maior, com documentos que mostram mais de suas intenções ao negligenciar a ação de seu time, além de detalhes durante a campanha que envolvem até mesmo personagens do segundo remake.



E o que falar da evolução de Mr. X? Nemesis rouba a atenção em todas as cenas em que aparece, impondo uma espécie de terror desesperador que não dá trégua para o jogador. Tudo relacionado à criatura impressiona: seu visual grotesco, os grunhidos de fúria que nos deixam atordoados, os passos pesados e acelerados que ficam ainda mais assustadores com sua trilha sonora característica que dá todo o tom dramático que a situação precisa. Ele faz jus ao apelido de Perseguidor ao qual foi batizado inicialmente pelos desenvolvedores, e a criatura não dá descanso para Jill, tornando nossa vida um inferno durante nossa estadia em Raccoon City.



Como visto na demo, ele é capaz de infectar outros zumbis, saltar em nossa frente para bloquear o caminho e até mesmo nos puxar com seus tentáculos. E não se engane se ele sumir por um tempo, pois quando menos se esperar o monstro irá pular na sua direção. E se não fosse suficiente, ele ainda é capaz de se adaptar à situações desfavoráveis e operar armas pesadas. A única certeza que temos é que fugir do monstro imparável criado pela Umbrella é a única saída. Ele certamente não é o único antagonista da história e isso vocês descobrirão no desenrolar da trama, mas ele cumpre muito bem o papel de grande exterminador, posto antes ocupado por Mr. X, e divide muito bem os holofotes com nossa heroína.


Ação no comando

Se na versão original os desenvolvedores já conseguiam imprimir um ritmo de jogo repleto de ação, aqui as possibilidades são mais acentuadas graças à mecânica difundida em seu antecessor. A câmera permanece acima dos ombros, contudo a movimentação foi incrementada através da possibilidade de esquivar os ataques. Executá-lo no tempo certo garante um rolamento veloz para longe do perigo, deixando a ação em câmera lenta, o que permite desferir alguns ataques certeiros.




No controle de Carlos esse movimento deixa de ser uma esquiva e dá lugar a um empurrão que interrompe a ação inimiga. Quando executado perfeitamente, o soldado finaliza com um poderoso soco que joga o alvo no chão. Dominar essa manobra não é uma tarefa fácil, principalmente quando se trata de zumbis e sua movimentação irregular, porém ela é fundamental para poupar itens de cura e até mesmo munição já que é possível passar por alguns locais evitando confronto.



Os armamentos são semelhantes aos do segundo remake e podem ser aprimorados, assim como o inventário, com a ajuda de itens especiais espalhados pelo mapa e como recompensas por abater Nemesis nos muitos encontros que teremos. Não houve grandes mudanças nesse quesito, com exceção das facas que agora não possuem mais durabilidade limitada, podendo serem utilizadas à vontade para eliminar zumbis caídos e até mesmo confirmar se eles realmente morreram. Em compensação, não temos mais o mecanismo de defesa que impedia ser atingido ao custo dessas armas (facas e granadas).



No geral, a dificuldade do jogo é equilibrada. Ele traz três níveis de dificuldade, sendo a mais baixa ideal para quem deseja focar totalmente na experiência narrativa, já que ele compensa a jogabilidade com inimigos mais fracos, regeneração da vida, maior espaço de inventário, entre outras facilidades. A dificuldade mais elevada traz o oposto dessa experiência com oponentes mais resistentes, recursos escassos e um menor aproveitamento na confecção das munições. Existem mais dois níveis de dificuldade a serem desbloqueados e que devem agravar ainda mais essas desvantagens. Em minha jogatina, optei pela dificuldade padrão e a minha experiência foi literalmente equilibrada. Alguns inimigos exigiram maior perícia para serem exterminados e os duelos contra o Nemesis foram um desafio moderado que me trouxeram uma curva de aprendizado revigorante e divertida. A disposição de recursos foi bem generosas, encontrando o suficiente para eliminar quantos alvos eu quisesse, deixando ainda uma boa sobra no meu baú.


Errando o tiro?

É compreensível que Resident Evil 3 não tenha o mesmo impacto no público geral que se espantou com o grande salto dado no remake de Resident Evil 2. Além de ser mais curto que seu antecessor, ele não traz um elemento que considero positivo na versão original: a opção de escolher múltiplos caminhos, principalmente quando se trata dos encontros com Nemesis. Isso deixou a experiência totalmente linear, o que pode diminuir o interesse daqueles que pretendem jogar a história repetidas vezes. Calma, antes que você desanime, há o atrativo de termos múltiplos finais o que, definitivamente, irá reacender sua vontade de vivenciar novamente todo o processo.



Aqui temos novamente a presença da loja, liberada ao completarmos a história pela primeira vez. Assim como em seu antecessor, é possível desbloquear trajes diferentes, novas armas (algumas com munição ilimitada) e itens especiais para utilizar durante a campanha. Os recursos podem ser obtidos por meio  de pontos que são recebidos ao completar desafios durante o jogo (como, por exemplo, eliminar 20 zumbis com a pistola) e ao terminar a história — o desempenho determina a pontuação adquirida. Completar esses desafios também liberam artes conceituais de cenários e personagens, além do modelo 3D de todos eles, incluindo as criaturas.



S.T.A.R.S. para sempre

Embora tenha um tempo de duração reduzido se compararmos às duas campanhas do remake do segundo episódio da série, Resident Evil 3 se sobressai com personagens que esbanjam carisma e a presença marcante de Nemesis. Apesar do intuito de deslocar o contexto de suspense para algo mais focado na ação, senti um maior equilíbrio nessa versão, principalmente em momentos de exploração em estabelecimentos de espaço confinado, como a delegacia e o hospital.



O remake de Resident Evil 3 certamente veio para abalar as estruturas dos fãs por meio de mais um grande acerto por parte da Capcom e toda sua equipe de desenvolvedores, o que o torna um item obrigatório na biblioteca de todo o fã da série e uma excelente pedida para amantes do gênero.

Prós

  • Personagens carismáticos;
  • Enredo que cativa e surpreende ao ser contado de uma forma diferenciada, conectando-se com eventos dos jogos anteriores;
  • Jogabilidade mais fluída com a presença do recurso da esquiva;
  • Belo trabalho na captura de feições dos atores.

Contras

  • Maior linearidade no roteiro em comparação ao original.

Resident Evil 3 Remake — PS4/XBO/PC — Nota: 9.5
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Farley Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Capcom.

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