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Análise: Final Fantasy VII Remake (PS4) é uma excelente modernização de um clássico indiscutível

Versão atualizada do título original de 97 é um excelente ponto de partida para novatos e veteranos.


Final Fantasy VII Remake (PS4) é a versão moderna e atual do título homônimo de 1997. Um dos grandes lançamentos de 2020, o jogo dirigido por Tetsuya Nomura vem para atrair tanto novatos quanto veteranos, atualizando seu sistema de combate e elementos de sua história, ao mesmo tempo que mantém grande parte do que tornou o Final Fantasy VII original memorável.

Avalanche em Midgar

Final Fantasy VII Remake traz como protagonista Cloud Strife, um mercenário contratado pelo grupo rebelde Avalanche com o intuito de auxiliar em uma missão para destruir um reator que suga a energia vital do planeta, conhecida como Mako. A dona deste reator é a Companhia de Energia Elétrica Shinra. Sendo um ex-SOLDIER, soldado de elite da própria Shinra, Cloud oferece não apenas sua força e habilidades aumentadas para os rebeldes, mas também seu conhecimento acerca das instalações e tropas Shinra.

Neste primeiro título, FF7R aborda toda a parte de Midgar do original, aprofundando bastante na relação entre o protagonista, os membros da Avalanche e seus eventuais companheiros de batalha. O desenvolvimento dos personagens é bem conduzido graças às suas interações durante a aventura, e a evolução de cada um deles é notável, especialmente Cloud. Membros secundários do grupo rebelde também ganham mais tempo de tela, como Jessie, Biggs e Wedge, e o título toma muito cuidado ao estabelecer a motivação de cada um para acreditar nos objetivos do grupo e de seu líder, Barret.



A interação entre personagens é o ponto mais forte do jogo. As conversas sagazes e ácidas entre Cloud e Barret, a amizade fortalecida entre o mercenário e Tifa, sua única amiga de infância, e a doçura dos diálogos entre Aerith e o ex-SOLDIER enaltecem bem as personalidades de cada um. Os diálogos fortalecem os laços de amizade e companheirismo entre este grupo de pessoas outrora desconhecidas.

Do lado dos vilões, os membros da Shinra, liderados pelo Presidente da companhia, se colocam como legítima ameaça ao grupo de heróis em embates físicos e ideológicos. Mesmo com personalidades distintas entre si e com motivações fúteis, eles acabam tendo o mesmo objetivo: a busca pelo poder e a capacidade de tomar para si o que querem e quando bem entendem, sem pensar nas consequências de suas ações para Midgar e sua população, especialmente a parte mais empobrecida que vive nas favelas debaixo da cidade-alta.


Sephiroth, um dos vilões mais icônicos dos jogos eletrônicos, é mostrado desde o começo da jornada, diferentemente do título de 97, em que sua presença era apenas como um fantasma à espreita. Sua relação com Cloud é bem estabelecida, embora pouco seja de fato explicado. Ainda assim, o antagonismo ante o mercenário é construído de maneira competente, com Cloud sendo levado ao limite de sua própria sanidade nos eventuais encontros com Sephiroth. São interações assim que deixam o jogador instigado a descobrir mais sobre o conflito existente entre os ex-SOLDIERS.

Final Fantasy VII Remake faz bom uso de suas aproximadamente 35  horas de campanha, estabelecendo bem os heróis e vilões e criando uma base sólida para uma mitologia rica. Ainda assim, algumas informações cruciais para o entendimento de certos aspectos da trama e de seus personagens acabaram ficando para uma futura segunda parte. Para veteranos do jogo original, isso não será visto como um problema, mas para os novatos, as dúvidas podem ser bastante pertinentes.

Para aumentar as horas de jogatina, algumas missões secundárias estão presentes. A grande maioria delas é dispensável, embora alguma ajudam a mostrar mais da personalidade de alguns personagens, principalmente Aerith. Há também mini-jogos, como disputa de dardos e competições de agachamentos, e disputas contra inimigos em arenas.

Fluidez no combate

FFVII Remake abandona o combate clássico por turnos e adota um sistema de batalhas em tempo real. Tal alteração é muito bem executada. Cada personagem que o jogador pode controlar possui um estilo de batalha único, com proficiências e deficiências claras e que exigem do jogador atenção, coordenação e domínio para sucesso nas batalhas. Embora os combates tenham um ritmo acelerado e sejam bastante fluidos, este não é um título hack’n slash cujo a vitória vem apenas por esmagar o mesmo botão.

Há uma boa variedade de armas para Cloud e companhia. Novos armamentos podem ser obtidas ao concluir missões, abrir baús e compradas nos diversos vendedores de Midgar. Essas armas possuem habilidades especiais únicas vinculadas a elas, e são eficientes e potentes de diversas maneiras. Para desbloquear o uso das técnicas em outros equipamentos, basta que o jogador aumente seu nível de proficiência com a habilidade em questão ao utilizá-la repetidas vezes.

Para usar técnicas especiais, itens e magias, o jogador deve preencher a barra de BTA (Active Time Battle, ou ATB, no original). Para tal, basta atacar os inimigos e defender-se de ataques. Quando preenchidas, é possível ativar as habilidades tanto pelo menu de comandos, que desacelera o tempo para se ter um melhor entendimento do campo de batalha e sua situação atual, ou através de atalhos (L1 + O/X/Quadrado/Triângulo).

A barra de atordoamento é preenchida conforme o jogador ataca o inimigo, e o dano é aumentado quando ele está atordoado.


Derrotar inimigos concede pontos de experiência. Subir de nível aumenta levemente as características principais dos personagens, como pontos de vida e pontos de magia (PM). O mais importante, entretanto, são os pontos de habilidade (PH) concedidos a cada nível. Estes pontos são utilizados para melhorar as armas. Cada uma delas possui sua própria quantia de PH e são melhoradas de forma independente.

A melhoria de armas permite que o jogador aprimore as características básicas delas, como seu ataque e defesa físicos, força e resistência mágicas, velocidade de preenchimento da barra de ações, novos espaços de Matérias, e mais. Há aqui uma boa dose de estratégia, pois os aprimoramentos são de características ofensivas ou defensivas. É preciso pensar com cautela e escolher bem quais atributos aprimorar para tornar o personagem balanceado, de forma que ele seja capaz de sobreviver em combates solo ao mesmo tempo que complementa e potencializa os membros do grupo em combates de time. O custo de PH aumenta a cada grupo de melhorias. Desta forma, o jogador deverá escolher quais opções de melhorias são ideais para tal personagem e arma.

O uso de Matérias

Matérias são cristais de energia Mako que permitem que seu portador utilize magias elementais e de invocação de entidades poderosas. Além das clássicas de fogo, gelo, vento  e eletricidade, o jogo conta com uma série de opções de Matérias que concedem habilidades ativas e passivas para os personagens nas quais estão equipadas. É possível alocar os cristais em armas e equipamentos de defesa, e a quantidade permitida é determinada pelas características dos itens equipados.

Após cada batalha, o jogador ganha pontos de PA, que nada mais são do que os pontos de experiência das Matérias. Ao acumular um determinado valor, a Matéria sobe de nível e tem sua habilidade/efeito aprimorado.

A grande variedade de Matérias é um dos pontos fortes do jogo, especialmente pela presença de opções de melhorias passivas, como aumento de Pontos de Vida, PM e Sorte. É mais um aspecto a ser levado em conta na hora de fortalecer os personagens. As Matérias podem ajudar a suprir necessidades que armas e itens de defesa não conseguiram de maneira satisfatória.

Tecnicamente (quase) impecável

Final Fantasy VII Remake é um dos títulos mais bonitos da atual geração e utiliza todo o poder gráfico do PS4, especialmente o PS4 Pro. A modelagem dos personagens principais, como Cloud, Tifa, Aerith, Barret e Sephiroth, beira a perfeição, sendo extremamente ricos em detalhes. Há de se dar grande destaque para as expressões faciais de cada um, que enriquecem a experiência visual e enaltecem de forma brilhante suas personalidades e sentimentos em cada cena.

Os cenários são lindos, ricos e imersivos, e representam bem a o aspecto industrial do mundo de Midgar, ao mesmo tempo que servem como espaço para elementos fantasiosos e místicos na forma de monstros e criaturas mecânicas bem malucas.

Os combates são visualmente empolgantes, pois utilizam efeitos de luz elaborados, ângulos de câmera ousados e ação estilosa, seja nos movimentos mais básicos de Cloud e sua Espada Destruidora, seja na invocação de divindades como Ifrit, o demônio do fogo, ou Sheva, a rainha do gelo.

É preciso dizer, no entanto, que o título da Square-Enix peca ao contar com texturas de qualidade duvidosa em diversos elementos dos cenários e modelagem de NPCs que deixa bastante a desejar em diversas situações. Não é incomum encontrar objetos e outros elementos com texturas de baixíssima qualidade. Particularmente, eu não esperava encontrar texturas 4K ou coisa do tipo em portas, no chão ou em muros nos locais que visitei no jogo. Mas, em várias situações, as texturas são tão feias e borradas que parecem mais um bug ou atraso de carregamento. Quanto aos NPCs, muitos deles são pouco expressivos e isso é bastante visível em áreas bem iluminadas no game.


Outro ponto negativo para o título fica por conta de sua câmera. É possível utilizar uma trava de mira nos inimigos durante as batalhas. Entretanto, essa trava faz com que a câmera se coloque em posições que são praticamente uma ofensa, tirando o personagem do campo de visão e trazendo bastante confusão para o jogador. Isso acontece especialmente em locais mais fechados e o único jeito de mitigar esse problema é não usar a trava de mira.

Um começo de jornada empolgante

Final Fantasy VII Remake (PS4) é um dos melhores jogos da franquia. Moderniza diversos aspectos e toma liberdades com relação à história ao mesmo tempo que respeita o legado deixado pelo clássico de 1997. A trama é interessante, a relação dos personagens é bem desenvolvida e a evolução de cada um deles é construída de forma primorosa. Seu sistema de combate é um deleite, tanto pela fluidez quanto pela variedade de armas, habilidades especiais e Matérias. A dificuldade das batalhas é bastante acentuada, com cada inimigo oferecendo desafios pertinentes e divertidos, especialmente nas batalhas contra chefes, o que exige habilidade do jogador. É um título extremamente lindo, ainda que conte com alguns detalhes que destoam da apresentação visual geral. Recomendado.

Prós

  • Trama, apresentação e desenvolvimento de personagens e suas relações;
  • Sistema de combate fluido e variado;
  • Boa dose de estratégia na hora de evoluir armas e equipar Matérias;
  • Grande variedade de inimigos;
  • Batalhas oferecem desafio suficientemente acentuado, principalmente contra chefes;
  • Visual dos personagens principais e dos cenários (em geral) é primoroso.

Contras

  • Missões secundárias são, em sua maioria, dispensáveis;
  • A câmera do jogo mais atrapalha do que ajuda em algumas situações de batalha;
  • Texturas de baixíssima qualidade são bem visíveis em alguns elementos dos cenários.
Final Fantasy VII Remake — PS4 — Nota: 9.0

Revisão: Farley Santos
Análise produzida com cópia digital gentilmente cedida pela Square Enix 

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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